Bom Senso publicou carta aberta aos candidatos à presidência (Foto: Arquivo Lance!)
Falta menos de uma semana para a população brasileira escolher o próximo presidente da república. No próximo domingo o segundo turno será disputado entre os candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff e a eleição será decidida. Aproveitando o momento, o Bom Senso FC publicou uma carta pedindo que os candidatos apoiem as demandas pedidas para melhorar o futebol brasileiro.
O comunicado reforça os princípios do movimento que "conta com mais de mil atletas" e entre outros assuntos, cita como a humilhante eliminação para a Alemanha na Copa do Mundo (Seleção foi goleada por 7 a 1 na semifinal) foi tratada como uma "fatalidade".
"Os 7 gols da Alemanha pintaram o retrato das décadas de autoengano que vive o nosso futebol" diz um trecho da carta que também pede esclarecimentos sobre todo o dinheiro investido no esporte que é tratado como paixão nacional. "Embora o negócio movimente cerca de R$ 11 bilhões por ano, não se sabe para onde vai boa parte dos recursos."
A carta também cita como a realidade é bem diferente do que muitos conhecem, e lembra que mais da metade dos jogadores passam meses desempregados durante o ano: "Em nenhuma outra categoria profissional, aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada".
Por fim, o Bom Senso pede que os candidatos à presidência se comprometam com "as bandeiras de reforma e democratização das entidades que administram o futebol brasileiro".
CONFIRA NA ÍNTEGRA A CARTA ABERTA DO BOM SENSO FC AOS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
"Exma. Sra. Dilma Rousseff e Exmo. Sr. Aécio Neves,
No ano em que o país recebeu a 20ª Copa do Mundo do Futebol, os 7 gols da Alemanha pintaram o retrato das décadas de autoengano que vive o nosso futebol. Na nossa própria casa, o visitante veio nos escancarar a enorme fragilidade daquele que, apesar de tudo, ainda é um dos nossos maiores patrimônios culturais.
Temos um ativo econômico, esportivo e cultural que, mesmo mal aproveitado, é altamente consumido. Aquilo que é sonho para tantas modalidades esportivas, é realidade para o futebol: temos tempo de exposição na TV e no rádio, patrocinadores nacionais e estrangeiros e, sobretudo, milhões de apaixonados que consomem diariamente esse produto. No entanto, paradoxalmente, essa alta demanda não resulta em desenvolvimento para as várias dimensões do futebol brasileiro.
Sabe-se que há muito tempo o futebol virou negócio, mas, no Brasil, um negócio bastante peculiar e cheio de contradições mal resolvidas. Vivemos aqui o amadorismo de carteira assinada.
Embora o negócio movimente cerca de R$ 11 bilhões por ano, não se sabe para onde vai boa parte dos recursos. O que se sabe é que a gestão amadora não tem sido capaz de financiar o desenvolvimento desse esporte no país.
As contradições não param por aí. Mesmo em um cenário de aumento significativo de receitas, os principais clubes brasileiros foram capazes de aumentar em quase 100% suas dívidas nos últimos 5 anos, sendo que, apenas ao governo, eles devem cerca de R$ 4 bilhões.
Outro sinal desta situação esdrúxula e inaceitável - mas nem sempre evidente - é o futebol ter se tornado um problema social no país. Isso mesmo!
Em nenhuma outra categoria profissional, aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada ou subempregada sistematicamente por 6 ou 7 meses ao longo do ano, sem que nenhuma atitude das autoridades públicas seja tomada. É inadmissível que isso ocorra em um país que se orgulha de ser a 7ª economia do mundo.
O que se observa hoje é consequência do acúmulo de descasos. Não podemos investir mais de R$ 50 bilhões do dinheiro público em Copa do Mundo e Olimpíadas para, em seguida, não nos comprometermos com um plano de política pública para o esporte.
Ativa ou passivamente, o desenvolvimento do futebol passa pelas mãos do Poder Público. E a legislação esportiva tem grande influência sobre o atual estágio desse esporte.
A autonomia conferida às entidades que administram o esporte tem se mostrado contraproducente, criando um panorama engessado, dentro do qual a mera suspeita de renovação soa como desvario.
Hoje, o futebol brasileiro é refém de um conjunto de estruturas arcaicas sem qualquer comprometimento com transparência, eficiência e participação democrática. São entidades que trabalham exclusivamente em favor da manutenção de seu poder.
Não podemos aceitar estruturas fechadas, autoritárias e sem nenhuma legitimidade à frente do Esporte Brasileiro no século XXI.
A despeito da estranha tranquilidade dos responsáveis, a vergonhosa derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo é sim o resultado de anos de negligência com esse esporte. Deixando aqui registrado que, apesar do grande alvoroço diante da derrota histórica, até o presente momento nenhum responsável se incomodou ao ponto de apresentar uma solução, considerando o episódio uma mera fatalidade.
É preciso que o Estado assuma o seu papel no desenvolvimento do esporte.
Por isso que nós do Bom Senso Futebol Clube, movimento que reúne mais de mil atletas profissionais em luta por um futebol melhor e que já conta com o apoio de inúmeros setores da sociedade, pedimos, através desta carta aberta, o compromisso explícito dos senhores, atuais candidatos à Presidência da República, com as bandeiras de reforma e democratização das entidades que administram o futebol brasileiro.
Ficamos no aguardo de vossos posicionamentos, na convicção de que este apoio ao futebol e ao esporte brasileiro significa também a esperança para a democracia em toda a nossa sociedade."
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Falta menos de uma semana para a população brasileira escolher o próximo presidente da república. No próximo domingo o segundo turno será disputado entre os candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff e a eleição será decidida. Aproveitando o momento, o Bom Senso FC publicou uma carta pedindo que os candidatos apoiem as demandas pedidas para melhorar o futebol brasileiro.
O comunicado reforça os princípios do movimento que "conta com mais de mil atletas" e entre outros assuntos, cita como a humilhante eliminação para a Alemanha na Copa do Mundo (Seleção foi goleada por 7 a 1 na semifinal) foi tratada como uma "fatalidade".
"Os 7 gols da Alemanha pintaram o retrato das décadas de autoengano que vive o nosso futebol" diz um trecho da carta que também pede esclarecimentos sobre todo o dinheiro investido no esporte que é tratado como paixão nacional. "Embora o negócio movimente cerca de R$ 11 bilhões por ano, não se sabe para onde vai boa parte dos recursos."
A carta também cita como a realidade é bem diferente do que muitos conhecem, e lembra que mais da metade dos jogadores passam meses desempregados durante o ano: "Em nenhuma outra categoria profissional, aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada".
Por fim, o Bom Senso pede que os candidatos à presidência se comprometam com "as bandeiras de reforma e democratização das entidades que administram o futebol brasileiro".
CONFIRA NA ÍNTEGRA A CARTA ABERTA DO BOM SENSO FC AOS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
"Exma. Sra. Dilma Rousseff e Exmo. Sr. Aécio Neves,
No ano em que o país recebeu a 20ª Copa do Mundo do Futebol, os 7 gols da Alemanha pintaram o retrato das décadas de autoengano que vive o nosso futebol. Na nossa própria casa, o visitante veio nos escancarar a enorme fragilidade daquele que, apesar de tudo, ainda é um dos nossos maiores patrimônios culturais.
Temos um ativo econômico, esportivo e cultural que, mesmo mal aproveitado, é altamente consumido. Aquilo que é sonho para tantas modalidades esportivas, é realidade para o futebol: temos tempo de exposição na TV e no rádio, patrocinadores nacionais e estrangeiros e, sobretudo, milhões de apaixonados que consomem diariamente esse produto. No entanto, paradoxalmente, essa alta demanda não resulta em desenvolvimento para as várias dimensões do futebol brasileiro.
Sabe-se que há muito tempo o futebol virou negócio, mas, no Brasil, um negócio bastante peculiar e cheio de contradições mal resolvidas. Vivemos aqui o amadorismo de carteira assinada.
Embora o negócio movimente cerca de R$ 11 bilhões por ano, não se sabe para onde vai boa parte dos recursos. O que se sabe é que a gestão amadora não tem sido capaz de financiar o desenvolvimento desse esporte no país.
As contradições não param por aí. Mesmo em um cenário de aumento significativo de receitas, os principais clubes brasileiros foram capazes de aumentar em quase 100% suas dívidas nos últimos 5 anos, sendo que, apenas ao governo, eles devem cerca de R$ 4 bilhões.
Outro sinal desta situação esdrúxula e inaceitável - mas nem sempre evidente - é o futebol ter se tornado um problema social no país. Isso mesmo!
Em nenhuma outra categoria profissional, aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada ou subempregada sistematicamente por 6 ou 7 meses ao longo do ano, sem que nenhuma atitude das autoridades públicas seja tomada. É inadmissível que isso ocorra em um país que se orgulha de ser a 7ª economia do mundo.
O que se observa hoje é consequência do acúmulo de descasos. Não podemos investir mais de R$ 50 bilhões do dinheiro público em Copa do Mundo e Olimpíadas para, em seguida, não nos comprometermos com um plano de política pública para o esporte.
Ativa ou passivamente, o desenvolvimento do futebol passa pelas mãos do Poder Público. E a legislação esportiva tem grande influência sobre o atual estágio desse esporte.
A autonomia conferida às entidades que administram o esporte tem se mostrado contraproducente, criando um panorama engessado, dentro do qual a mera suspeita de renovação soa como desvario.
Hoje, o futebol brasileiro é refém de um conjunto de estruturas arcaicas sem qualquer comprometimento com transparência, eficiência e participação democrática. São entidades que trabalham exclusivamente em favor da manutenção de seu poder.
Não podemos aceitar estruturas fechadas, autoritárias e sem nenhuma legitimidade à frente do Esporte Brasileiro no século XXI.
A despeito da estranha tranquilidade dos responsáveis, a vergonhosa derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo é sim o resultado de anos de negligência com esse esporte. Deixando aqui registrado que, apesar do grande alvoroço diante da derrota histórica, até o presente momento nenhum responsável se incomodou ao ponto de apresentar uma solução, considerando o episódio uma mera fatalidade.
É preciso que o Estado assuma o seu papel no desenvolvimento do esporte.
Por isso que nós do Bom Senso Futebol Clube, movimento que reúne mais de mil atletas profissionais em luta por um futebol melhor e que já conta com o apoio de inúmeros setores da sociedade, pedimos, através desta carta aberta, o compromisso explícito dos senhores, atuais candidatos à Presidência da República, com as bandeiras de reforma e democratização das entidades que administram o futebol brasileiro.
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