Muricy Ramalho passou pela base do São Paulo, mas atualmente é criticado por não usar muitos garotos no clube (Foto: site do São Paulo)
Em um momento no qual a formação do jogador brasileiro é colocada em discussão e foi criticada pelo ex-coordenador técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira, os profissionais de base apontam um problema recorrente nos clubes: a falta de integração entre departamentos de base e profissionais. Um número ajuda a ilustrar um pouco o panorama. Dos 20 técnicos da Série A do Campeonato Brasileiro neste momento, apenas sete (35%) tiveram passagens por divisões de base.
- Há treinadores que criticam a base. Mas eles conversam com a base? Vão ver os treinos? Às vezes há clubes com dois, três auxiliares, e nenhum vai ver o que a base faz. E depois reclamam que o trabalho é mal feito. Mas eles fazem parte desse processo também - analisa Erasmo Damiani, coordenador da base do Palmeiras.
Damiani, que trabalhou no Figueirense e no Atlético-PR, elogia a postura do argentino Ricardo Gareca no comando técnico do Palmeiras, sobretudo em relação à garotada.
- Nossa experiência com o Gareca é bem interessante, ele conversa com o Diogo, fala sobre posicionamento. Dificilmente a gente tem isso.
Parreira, após a goleada por 7 a 1 para a Alemanha, elogiou a formação do adversário e disse que no Brasil o processo deve passar pelos clubes, e não pela CBF, que apenas seleciona os melhores para disputar competições.
A falta de integração é uma queixa recorrente de profissionais de base. Há relatos que vão desde a ausência de diálogo entre os dois departamentos, até a proibição de jogadores e técnicos da base de assistir a treinos atrás do alambrado. A autonomia dada aos treinadores dos profissionais é vista como excessiva, e as concessões feitas em nome do resultado muitas vezes respingam em jovens jogadores.
A constante rotatividade entre os treinadores é apontada pelos profissionais da área como mais uma dificuldade para que essa integração aconteça. Há clubes que trocam de técnico três, quatro vezes por ano, e cada comissão nova chega com uma filosofia de trabalho diferente, uma preferência por jogadores com um determinado estilo ou outro. Isso condiciona a viabilidade do planejamento inicial ao resultado em curto prazo.
- Enquanto o técnico estiver vulnerável às emoções, a ações intempestivas, não haverá trabalho. Não se faz trabalho com essa ciranda de treinadores - avalia Ricardo Drubscky, atualmente no comando do Goiás, um dos sete que passaram por divisões de base antes de chegar aos profissionais.
Claudinei Oliveira, atualmente no Paraná Clube, não está na Série A, mas sentiu na pele a dificuldade da falta de respaldo. Ficou sete anos na base do Santos e um nos profissionais. Promoveu jogadores como Leandrinho, Geuvânio e Gustavo Henrique ao time titular, ficou na sétima colocação no Campeonato Brasileiro de 2013, mas não renovou contrato. Ele não vê a passagem pela base como algo primordial para a carreira, mas reforça essa necessidade de integração entre os departamentos.
- O técnico que chega ao clube não tem a obrigação de confiar em quem é da base, que teoricamente tem interesse em ver todo mundo subir. Mas às vezes alguns profissionais vêm com três, quatro auxiliares, e um deles poderia fazer essa função, de trocar informações com o pessoal da base, para poder lançar jogadores com critério, e não apenas por necessidade.
Números maiores em Espanha e Alemanha
O Brasil perde na comparação com os países que são referência na formação de jogadores atualmente. A Alemanha, atual campeã do mundo, tem dez técnicos com passagens pela base entre os 18 dos times da primeira divisão (55,5%). Entre eles, estão Guardiola (do Bayern de Munique) e Robin Dutt (do Werder Bremen e ex-diretor técnico da Federação Alemã). A Espanha soma dez técnicos em 20 times (50%). Dois exemplos são Luis Enrique (Barcelona) e Marcelino (Villarreal).
O dado não surpreende Mário André Mazzuco, superintendente de futebol do Coritiba. Ex-coordenador da base, ele critica a cultura de resultados imediatos e a falta de percepção de alguns profissionais em relação ao processo de formação do jogador brasileiro.
- Esse número deveria ser o contrário e ilustra o atraso que temos no Brasil em relação ao trabalho de formação. É importante que o treinador tenha a percepção do todo, de que o jogador da base é um ativo do clube, que precisa se fortalecer como instituição, criar políticas próprias, cumprir o que promete, implantar uma filosofia de trabalho e fazer com que o treinador compre a ideia, e não o contrário. Futebol é imprevisível, mas, se houver organização, a possibilidade de dar certo é maior.
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- Há treinadores que criticam a base. Mas eles conversam com a base? Vão ver os treinos? Às vezes há clubes com dois, três auxiliares, e nenhum vai ver o que a base faz. E depois reclamam que o trabalho é mal feito. Mas eles fazem parte desse processo também - analisa Erasmo Damiani, coordenador da base do Palmeiras.
Damiani, que trabalhou no Figueirense e no Atlético-PR, elogia a postura do argentino Ricardo Gareca no comando técnico do Palmeiras, sobretudo em relação à garotada.
- Nossa experiência com o Gareca é bem interessante, ele conversa com o Diogo, fala sobre posicionamento. Dificilmente a gente tem isso.
Parreira, após a goleada por 7 a 1 para a Alemanha, elogiou a formação do adversário e disse que no Brasil o processo deve passar pelos clubes, e não pela CBF, que apenas seleciona os melhores para disputar competições.
A falta de integração é uma queixa recorrente de profissionais de base. Há relatos que vão desde a ausência de diálogo entre os dois departamentos, até a proibição de jogadores e técnicos da base de assistir a treinos atrás do alambrado. A autonomia dada aos treinadores dos profissionais é vista como excessiva, e as concessões feitas em nome do resultado muitas vezes respingam em jovens jogadores.
A constante rotatividade entre os treinadores é apontada pelos profissionais da área como mais uma dificuldade para que essa integração aconteça. Há clubes que trocam de técnico três, quatro vezes por ano, e cada comissão nova chega com uma filosofia de trabalho diferente, uma preferência por jogadores com um determinado estilo ou outro. Isso condiciona a viabilidade do planejamento inicial ao resultado em curto prazo.
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Claudinei Oliveira, atualmente no Paraná Clube, não está na Série A, mas sentiu na pele a dificuldade da falta de respaldo. Ficou sete anos na base do Santos e um nos profissionais. Promoveu jogadores como Leandrinho, Geuvânio e Gustavo Henrique ao time titular, ficou na sétima colocação no Campeonato Brasileiro de 2013, mas não renovou contrato. Ele não vê a passagem pela base como algo primordial para a carreira, mas reforça essa necessidade de integração entre os departamentos.
- O técnico que chega ao clube não tem a obrigação de confiar em quem é da base, que teoricamente tem interesse em ver todo mundo subir. Mas às vezes alguns profissionais vêm com três, quatro auxiliares, e um deles poderia fazer essa função, de trocar informações com o pessoal da base, para poder lançar jogadores com critério, e não apenas por necessidade.
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- Esse número deveria ser o contrário e ilustra o atraso que temos no Brasil em relação ao trabalho de formação. É importante que o treinador tenha a percepção do todo, de que o jogador da base é um ativo do clube, que precisa se fortalecer como instituição, criar políticas próprias, cumprir o que promete, implantar uma filosofia de trabalho e fazer com que o treinador compre a ideia, e não o contrário. Futebol é imprevisível, mas, se houver organização, a possibilidade de dar certo é maior.
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