Foto da Copa do Brasil de 1991, em que Felipão (quinto da direita para esquerda) era o treinador (Foto: Reprodução)
A careca se desenhava, mas os fios de cabelo e do bigode ainda não eram grisalhos. O porte era outro, mais acanhado, condizente a de um técnico que ainda buscava seu espaço. Assim era Luiz Felipe Scolari em 1991, quando treinava o Criciúma. No clube do Sul de Santa Catarina conquistaria seu primeiro título nacional que o alavancaria a grandes clubes e triunfos maiores. Felipão o deve ao Tigre e também aos jogadores que compunham o time campeão da Copa do Brasil naquele ano. Não fosse pelos atletas, pode-se refletir se teria o status e troféus que tem. Por um triz que o atual comandante do Grêmio, tetracampeão mundial com a seleção rasileira, fica sem colocar a mão na taça que o alçou ao futebol brasileiro.
- Para ver como é futebol. Ele ia ser demitido depois de uma derrota no Campeonato Brasileiro, não ia ser o técnico campeão da Copa do Brasil de 1991 e poderia não estar onde está hoje. Foi um título de expressão e que fez com que seu início de carreira fosse diferente, não seria campeão. Uma situação que pode ter influenciado no restante da vida dele inteira – descreve o ex-zagueiro Wilson, hoje auxiliar técnico do Criciúma.
Felipão nem era conhecido por este apelido quando foi contratado para comandar o Criciúma naquele ano. O treinador tinha girado pelo futebol do Sul do país e por equipes árabes quando desembarcou na capital do carvão para 1991. Naquele ano, a equipe disputava o Campeonato Brasileiro e a Copa da Brasil, na condição de campeão catarinense da temporada anterior. O Tigre ia mal no Brasileirão e tinha avançado nas primeiras fase da competição mata-mata, eliminando Ubiratan-MS e pelo Atlético-MG. Porém, a derrota por 2 a 1 em Caxias do Sul (RS), para o Juventude, em 14 de abril, indicaria que o Criciúma iria disputar uma divisão nacional inferior – o que nunca ocorreu por causa de uma de tantas mudanças no regulamento do Campeonato Brasileiro na época.
Diante do fato, Scolari botou o cargo à disposição e a diretoria iria demiti-lo, mas foi salvo pelo gongo. A CBF comunicou no dia seguinte que o Criciúma jogaria a partida de ida da terceira fase da Copa do Brasil, contra o Goiás e fora de casa, quatro dias depois do revés no Rio Grande do Sul. O curto intervalo somado ao telegrama que informava do compromisso foi o argumento para que representantes do grupo de jogadores intercedessem pela manutenção do treinador. Mas não foi só isso.
Itá foi um dos três jogadores que intercederam em favor de Scolari (Foto: João Lucas Cardoso)
- Caímos de divisão em Caxias e o presidente ia demitir o Felipão por causa disso. Então, o Vanderlei, o Sarandí e eu, que éramos lideranças da equipe, fomos ao Moacir Fernandes para dizer que não adiantava demitir, que trazendo um ou outro não mudaria nada, porque a gente tinha um time certinho e bem montado pelo Levir Culpi (hoje no Atlético-MG) no ano anterior. Não havia o que fazer, nossa equipe jogava por música. Não adiantaria mandar embora naquele momento. Aconteceu que o Felipão ficou, foi campeão e começou o que aconteceu com ele – relembra o capitão que levantou a taça da Copa do Brasil de 1991, Itá.
O ex-atacante Vanderlei endossa:
- Botou o cargo à disposição e conversamos com o Moacir para que não o mandasse embora, porque tinha o jogo contra o Goiás logo em seguida.
Ainda na cidade gaúcha, Scolari colocou o cargo à disposição e a decisão da diretoria seria dada em Criciúma. Na capital do carvão, havia chegado a mensagem da CBF que indicava a partida no Serra Dourada, pelas quartas da Copa do Brasil. O elenco, que havia recebido folga, foi chamado às pressas para um treinamento rápido antes da viagem para Goiânia. No meio disso, houve a conversa dos líderes do elenco pela manutenção do treinador.
Estavam todos dispensados e de repente foi marcado o jogo contra o Goiás. No meio da pressa para chamar todos para a reapresentação, o Luiz Felipe estava sendo demitido. Pela circunstância, não sei se a diretoria tinha muita opção senão mantê-lo. Alguns jogadores falaram com o presidente e nós fizemos um treinamento rápido em Criciúma, viajamos e empatamos o jogo em Goiânia. Depois ganhamos em casa e avançamos para a semifinal – descreve Wilson.
Passada as quartas, o Tigre eliminou o Remo e foi campeão com duplo empate sobre o Grêmio – 1 a 1 no Olímpico e 0 a 0 no Heriberto Hülse. Felipão colocou nome na história do clube e na cidade do Sul de Santa Catarina, onde é cidadão honorário desde 2002, após a conquista da Copa do Mundo com o Brasil. Neste intervalo de mais de uma década, Scolari ainda seria campeão da Copa do Brasil mais duas vezes, de duas Libertadores da América e um Campeonato Brasileiro, no comando de Grêmio e Palmeiras. O troféu de 1991 fez do Criciúma conhecido no Brasil tanto quanto o treinador daquele time. Transformou ambos.
- Na vida além de competência tem que ter sorte, independente do setor em que se trabalha, mas principalmente no futebol. Tem muita coisa no futebol que não tem como explicar como acontece, como foi o 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo. O Felipão sempre teve sorte, pegou um time bom que havia sido eliminado nas semifinais da Copa do Brasil em 1990 e foi campeão no ano seguinte. No Criciúma começou a trajetória vencedora da carreira, saiu para ser campeão no Grêmio, Palmeiras e pela Seleção. Isso por causa da felicidade que teve em Criciúma, onde pegou um time tecnicamente e taticamente qualificado. Não tinha nenhum jogador de nome nacional, mas todos cumpriam seu papel e jogavam um pelos outros, uma característica de time vencedor – aponta Itá, que era o lateral-esquerdo.
REENCONTRO ENTRE CLUBE E TÉCNICO
A partida entre Criciúma e Grêmio, neste domingo, pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro, vai recolocar o Tigre no caminho do técnico de seu maior triunfo nacional. Esta será a sexta vez que Felipão vai confrontar o time catarinense após a conquista de 1991. Scolari levanta vantagem de três vitórias contra duas derrotas. Todos os triunfos ocorreram quando o treinador estava no próprio Grêmio – um dos reveses foi quando estava no Palmeiras.
Comandando por Felipão, ex-zagueiro e hoje auxiliar técnico do Carvoeiro, Wilson Vaterkemper vai ser rival do ex-comandante pela quarta vez, a primeira na atual função. Motivo de euforia? Nem tanto. Para o assistente do técnico Wagner Lopes trata-se de uma situação corriqueira do futebol.
- Há um respeito por ter trabalhado com ele e depois enfrenta-lo, e acredito que da parte dele o sentimento é semelhante. Mas depois que a bola rola é cada um defendendo o seu, algo natural, se esquece disso. Para mim foi estranho enfrentar o Criciúma (em que atuou profissionalmente por quase 10 anos) quando jogava pelo Goiás e o pelo Avaí. Acho mais “normal” enfrentar um ex-treinador.
Wilson Vaterkemper enfrenta ex-técnico pela quarta vez, agora como auxiliar de treinador
(Foto: João Lucas Cardoso)
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- Para ver como é futebol. Ele ia ser demitido depois de uma derrota no Campeonato Brasileiro, não ia ser o técnico campeão da Copa do Brasil de 1991 e poderia não estar onde está hoje. Foi um título de expressão e que fez com que seu início de carreira fosse diferente, não seria campeão. Uma situação que pode ter influenciado no restante da vida dele inteira – descreve o ex-zagueiro Wilson, hoje auxiliar técnico do Criciúma.
Felipão nem era conhecido por este apelido quando foi contratado para comandar o Criciúma naquele ano. O treinador tinha girado pelo futebol do Sul do país e por equipes árabes quando desembarcou na capital do carvão para 1991. Naquele ano, a equipe disputava o Campeonato Brasileiro e a Copa da Brasil, na condição de campeão catarinense da temporada anterior. O Tigre ia mal no Brasileirão e tinha avançado nas primeiras fase da competição mata-mata, eliminando Ubiratan-MS e pelo Atlético-MG. Porém, a derrota por 2 a 1 em Caxias do Sul (RS), para o Juventude, em 14 de abril, indicaria que o Criciúma iria disputar uma divisão nacional inferior – o que nunca ocorreu por causa de uma de tantas mudanças no regulamento do Campeonato Brasileiro na época.
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- Caímos de divisão em Caxias e o presidente ia demitir o Felipão por causa disso. Então, o Vanderlei, o Sarandí e eu, que éramos lideranças da equipe, fomos ao Moacir Fernandes para dizer que não adiantava demitir, que trazendo um ou outro não mudaria nada, porque a gente tinha um time certinho e bem montado pelo Levir Culpi (hoje no Atlético-MG) no ano anterior. Não havia o que fazer, nossa equipe jogava por música. Não adiantaria mandar embora naquele momento. Aconteceu que o Felipão ficou, foi campeão e começou o que aconteceu com ele – relembra o capitão que levantou a taça da Copa do Brasil de 1991, Itá.
O ex-atacante Vanderlei endossa:
- Botou o cargo à disposição e conversamos com o Moacir para que não o mandasse embora, porque tinha o jogo contra o Goiás logo em seguida.
Ainda na cidade gaúcha, Scolari colocou o cargo à disposição e a decisão da diretoria seria dada em Criciúma. Na capital do carvão, havia chegado a mensagem da CBF que indicava a partida no Serra Dourada, pelas quartas da Copa do Brasil. O elenco, que havia recebido folga, foi chamado às pressas para um treinamento rápido antes da viagem para Goiânia. No meio disso, houve a conversa dos líderes do elenco pela manutenção do treinador.
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Comandando por Felipão, ex-zagueiro e hoje auxiliar técnico do Carvoeiro, Wilson Vaterkemper vai ser rival do ex-comandante pela quarta vez, a primeira na atual função. Motivo de euforia? Nem tanto. Para o assistente do técnico Wagner Lopes trata-se de uma situação corriqueira do futebol.
- Há um respeito por ter trabalhado com ele e depois enfrenta-lo, e acredito que da parte dele o sentimento é semelhante. Mas depois que a bola rola é cada um defendendo o seu, algo natural, se esquece disso. Para mim foi estranho enfrentar o Criciúma (em que atuou profissionalmente por quase 10 anos) quando jogava pelo Goiás e o pelo Avaí. Acho mais “normal” enfrentar um ex-treinador.
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