Foto: Mauro Vieira/Arquivo/Grêmio
Depois de quase 20 anos de bola, Rodrigo Fabiano Mendes olha para trás e vê as cores azul, preto e branco darem o tom de sua carreira. Mineiro da cidade de Uberaba, o ex-atacante se profissionalizou em 1993 pelo Flamengo, mas foi atuando no Grêmio que ganhou projeção no cenário nacional e teve oportunidades em jogar fora do Brasil. Ao todo, foram quatro passagens pelo tricolor gaúcho, mas, no que dependesse dele mesmo, teria sido ainda mais.
Rodrigo Mendes gentilmente atendeu a reportagem do Torcedores.com e falou abertamente sobre a sua relação com o Grêmio. Comemorou as passagens de 1996, 1998 e a de 2000 a 2002 – segundo ele, um dos melhores elencos que jogou -, mas não escondeu a mágoa pelo desfecho de sua última participação no clube. Em 2007, o atacante retornou ao Olímpico após uma passagem de dois anos no Al-Gharafa, do Catar. Lesionou-se gravemente no joelho e só conseguiu atuar no ano seguinte, quando teve bom início no Brasileirão de 2008, em que o Grêmio sagraria-se vice-campeão.
No entanto, uma negociação frustrada com o Al Sharjah, dos Emirados Árabes, abreviou a quarta e última passagem de Rodrigo pelo Grêmio. Ele aceitou a proposta do clube do exterior, mas, chegando lá, o sonho das cifras milionárias e do conforto à família ruiu: no último momento, as partes não se acertaram e o jogador ficou disponível para voltar ao Brasil – e, claro, ao Grêmio. Mas, segundo ele, o presidente gremista da época Paulo Odone não cumpriu sua palavra e o obrigou a ficar parado o resto do ano.
“Eu me arrependo da decisão de ter saído e de confiar na palavra do Odone, que disse que as portas estariam abertas caso ocorresse qualquer problema. A minha negociação com o Al Sharjah não deu certo. Três dias depois de sair, liguei para o Grêmio e não me deixaram voltar. Como eu já havia jogado 7 partidas no Brasileirão, não poderia me transferir para outro clube. Tive que ficar parado o resto do ano, ou seja, 6 meses, só conseguindo em janeiro de 2009 ir para o Fortaleza. Eu poderia ter tido mais alguns meses ou até mesmo ter encerrado minha carreira no Grêmio, que era o meu desejo. Todos sabiam disso”, revela Rodrigo Mendes com exclusividade ao Torcedores.com.
Quase gol na antiga casa e desconforto
Já em uma etapa final da sua carreira, Rodrigo Mendes aceitou o convite de jogar o Gauchão de 2010 pelo Novo Hamburgo, time da região metropolitana de Porto Alegre. Com um elenco repleto de jogadores experientes, tais como Gustavo Papa e Márcio Hahn, o Nóia surpreendeu ao chegar na final do primeiro turno do estadual de 2010 contra o Grêmio. Na grande decisão no Olímpico, o favorito até venceu por 1×0. Mas Rodrigo Mendes teve boa participação no jogo e por pouco não fez um gol no seu antigo clube.
O lance gerou um tremendo desconforto semanas depois. Já pelo segundo turno, Mendes voltou a ter uma grave lesão no joelho em um jogo entre Novo Hamburgo e Porto Alegre. Passou por nova cirurgia e projetou fazer o seu processo de fisioterapia na estrutura do Grêmio. Só não contava com o veto da diretoria gremista, que fez com que o jogador procurasse o maior rival.
“Me lesionei e precisei fazer a reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho. Fiz a cirurgia com o Márcio Bolzoni (médico do Grêmio), que já havia me operado antes. Quando ele perguntou no clube se eu poderia realizar minha reabilitação ali, um dirigente disse: “Com ele pode se tratar aqui, se no jogo contra nós quase fez um gol?”. E depois foram além e o caso ganhou repercussão quando o Fernando Carvalho (ex-presidente do Inter) abriu as portas do Inter para eu realizar o meu tratamento e recondicionamento no clube. Foi no mínimo uma deselegância”, conta Rodrigo Mendes.
Carinho pelo Grêmio segue intacto
Mesmo com esses obstáculos pelo caminho, Rodrigo Mendes mantém o carinho pelo Grêmio. No total, foram 53 gols em 173 partidas e alguns momentos marcantes, como a Libertadores de 2002, na qual foi artilheiro da competição com 10 gols – os gaúchos acabariam eliminados na semifinal nos pênaltis contra o Olímpia, do Paraguai. Com as chuteiras penduradas desde 2011, Rodrigo atualmente exerce funções de empresário e empreendedor e toca, ao lado do irmão, um centro esportivo em Uberaba. No final deste ano, pegará junto à CBF a licença “pró” de treinador da CBF/FIFA. Sobre o Grêmio, nada de mágoas:
“Ao todo, foram quase cinco anos de Grêmio. Minha história no clube sempre foi intensa e sempre me adaptei à cultura do Grêmio e sua história. Caso contrário eu não teria voltado cinco vezes”, resume.
História no Grêmio, jejum de títulos, trabalho de Roger Machado e vida pessoal; confira a íntegra da entrevista com Rodrigo Mendes:
Torcedores: Você teve várias passagens pelo Grêmio e participou de boa parte da década vitoriosa de 90. Quais as melhores lembranças?
Rodrigo Mendes: A minha primeira passagem pelo clube foi em 1996, já existia o interesse do Felipão que eu fizesse parte do grupo em 1995, no ano anterior. Foi um empréstimo de cinco meses, porém, foi uma experiência ótima fazer parte de um grupo tão qualificado e vencedor. Fomos campeões estaduais e semifinalista da Copa do Brasil e da Libertadores. Voltei em 1998 com um grupo modificado, ganhei mais espaço e joguei mais, acabei como artilheiro do clube no Brasileiro de 1998 e nos classificamos e paramos nas quartas contra o Corinthians, que seria o campeão. Voltei em 2000 para a João Havellange, saímos na semifinal e aquele grupo seria a base para o time campeão de 2001 e 2002. Esse foi um dos melhores elencos que fiz parte. Retornei em 2007 para o Brasileiro, mas me lesionei e só voltei a jogar em 2008, quando fomos vice-campeões do Brasil. Ao todo foram quase cinco anos de Grêmio, com 53 gols em 173 partidas.
T: Hoje o Grêmio já se mantém há 15 anos sem grandes títulos. Na sua análise, algum motivo explica essa sequência sem vitórias?
RM: Acho que o clube esteve várias vezes muito perto das conquistas, como em 2007, 2008, entre outras. O que eu vejo é que no futebol muitas coisas têm que conspirar a favor, às vezes as coisas não encaixam. Em 2003, teve o desmanche daquele grupo vencedor, depois os problemas com a parceria ISL, que eu senti na pele. Aí veio a série B, a volta à primeira divisão. Em 2007 e 2008, os grupos eram fortes, mas não finalizaram as temporadas com sucesso, isso não tira o mérito. Mas, a falta de critério de contratação e políticas salariais inadequadas, em decisões movidas pela paixão de dirigentes amadores, é a praga que está presente nos maiores clubes do Brasil. O Grêmio e tantos outros sofrem com a mesma doença e não conseguiu vencer nada expressivo e viu de camarote seu rival ter uma década de imenso sucesso, aumentando mais ainda a pressão por resultado. E para piorar, o clube investiu em um novo estádio, longe das glórias do Olímpico e precisa agora escrever sua trajetória em uma folha em branco, que é a Arena. Então, na minha visão, são estes tantos aspectos aliados a grupos de atletas e comissões que não conseguiram sucesso dentro de campo. O que eu espero que termine esse ano.
T: Em 2010, você acabou indo se tratar na fisioterapia do Inter. O Grêmio te fechou as portas, ficou alguma mágoa?
RM: Eu era atleta do Novo Hamburgo e tínhamos feito a final do primeiro turno contra o Grêmio no Olímpico. Na partida quase fiz um gol. Me lesionei na primeira rodada do segundo turno, precisei fazer a reconstrução do ligamento cruzado anterior e fiz a cirurgia com o Márcio Bolzoni (médico do Grêmio), que já havia me operado antes. Quando ele perguntou no clube se eu poderia realizar minha reabilitação ali, um dirigente disse: “Com ele pode se tratar aqui, se no jogo contra nós quase fez um gol?”. E depois foram além e o caso ganhou repercussão quando o Fernando Carvalho (ex-presidente do Inter) abriu as portas do Inter para eu realizar o meu tratamento e recondicionamento no clube. Foi no mínimo uma deselegância, para ser educado. O clube não tem culpa, a torcida não tem culpa, como falei antes, o futebol está empregado com esse tipo de dirigentes, e é preciso profissionalizar quem comanda o futebol.
T: Qual a tua opinião sobre o atual Grêmio e o trabalho do Roger Machado?
RM: O clube está bem diferente do que eu vi como atleta, exceto por alguns antigos problemas políticos que permanecem. O Grêmio está caminhando para uma gestão mais profissional, tem uma infraestrutura de primeiro mundo, o grupo é forte, existe a consciência de aproveitamento de atletas da base, e o comando técnico é qualificado. O Roger é um excelente profissional e torço muito para o seu sucesso. O grupo é um pouco limitado tecnicamente em alguns setores, mas as características de jogo do clube sempre foram a força do grupo, que acabava destacando alguma individualidade, com algumas exceções, é claro.
T: O que é necessário para ser campeão?
RM: Para ser campeão é preciso tudo isso que falei: infraestrutura, grupo qualificado, trabalho qualificado e principalmente ter espírito vencedor e querer sempre mais que seus adversários.
T: Atualmente, quais suas atribuições? Muitas saudades da bola?
RM: No ano passado, acabei me dedicando aos estudos e aos cursos da CBF. Acabei de me formar na ESPM Sul em Administração de Empresas com ênfase em Marketing. Faço especialização em gestão de negócios esportivos e em dezembro pego a licença “pro” de treinador da CBF/FIFA. Hoje exerço funções de empresário e empreendedor, tenho um centro esportivo em Uberaba que administro com meu irmão, sou investidor da Mobimox com 22 franquias aqui no Rio Grande do Sul. Estou envolvido com outros projetos voltados à gestão do esporte e estou com um projeto pronto de outro complexo esportivo aqui em Porto Alegre, que está em fase de início de execução com previsão para 2017. Então resumindo, na correria sempre.
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No entanto, uma negociação frustrada com o Al Sharjah, dos Emirados Árabes, abreviou a quarta e última passagem de Rodrigo pelo Grêmio. Ele aceitou a proposta do clube do exterior, mas, chegando lá, o sonho das cifras milionárias e do conforto à família ruiu: no último momento, as partes não se acertaram e o jogador ficou disponível para voltar ao Brasil – e, claro, ao Grêmio. Mas, segundo ele, o presidente gremista da época Paulo Odone não cumpriu sua palavra e o obrigou a ficar parado o resto do ano.
“Eu me arrependo da decisão de ter saído e de confiar na palavra do Odone, que disse que as portas estariam abertas caso ocorresse qualquer problema. A minha negociação com o Al Sharjah não deu certo. Três dias depois de sair, liguei para o Grêmio e não me deixaram voltar. Como eu já havia jogado 7 partidas no Brasileirão, não poderia me transferir para outro clube. Tive que ficar parado o resto do ano, ou seja, 6 meses, só conseguindo em janeiro de 2009 ir para o Fortaleza. Eu poderia ter tido mais alguns meses ou até mesmo ter encerrado minha carreira no Grêmio, que era o meu desejo. Todos sabiam disso”, revela Rodrigo Mendes com exclusividade ao Torcedores.com.
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O lance gerou um tremendo desconforto semanas depois. Já pelo segundo turno, Mendes voltou a ter uma grave lesão no joelho em um jogo entre Novo Hamburgo e Porto Alegre. Passou por nova cirurgia e projetou fazer o seu processo de fisioterapia na estrutura do Grêmio. Só não contava com o veto da diretoria gremista, que fez com que o jogador procurasse o maior rival.
“Me lesionei e precisei fazer a reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho. Fiz a cirurgia com o Márcio Bolzoni (médico do Grêmio), que já havia me operado antes. Quando ele perguntou no clube se eu poderia realizar minha reabilitação ali, um dirigente disse: “Com ele pode se tratar aqui, se no jogo contra nós quase fez um gol?”. E depois foram além e o caso ganhou repercussão quando o Fernando Carvalho (ex-presidente do Inter) abriu as portas do Inter para eu realizar o meu tratamento e recondicionamento no clube. Foi no mínimo uma deselegância”, conta Rodrigo Mendes.
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T: Em 2010, você acabou indo se tratar na fisioterapia do Inter. O Grêmio te fechou as portas, ficou alguma mágoa?
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RM: O clube está bem diferente do que eu vi como atleta, exceto por alguns antigos problemas políticos que permanecem. O Grêmio está caminhando para uma gestão mais profissional, tem uma infraestrutura de primeiro mundo, o grupo é forte, existe a consciência de aproveitamento de atletas da base, e o comando técnico é qualificado. O Roger é um excelente profissional e torço muito para o seu sucesso. O grupo é um pouco limitado tecnicamente em alguns setores, mas as características de jogo do clube sempre foram a força do grupo, que acabava destacando alguma individualidade, com algumas exceções, é claro.
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T: Atualmente, quais suas atribuições? Muitas saudades da bola?
RM: No ano passado, acabei me dedicando aos estudos e aos cursos da CBF. Acabei de me formar na ESPM Sul em Administração de Empresas com ênfase em Marketing. Faço especialização em gestão de negócios esportivos e em dezembro pego a licença “pro” de treinador da CBF/FIFA. Hoje exerço funções de empresário e empreendedor, tenho um centro esportivo em Uberaba que administro com meu irmão, sou investidor da Mobimox com 22 franquias aqui no Rio Grande do Sul. Estou envolvido com outros projetos voltados à gestão do esporte e estou com um projeto pronto de outro complexo esportivo aqui em Porto Alegre, que está em fase de início de execução com previsão para 2017. Então resumindo, na correria sempre.
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