O Apocalipse de Fevereiro e a evolução tática do Grêmio em três meses


Fonte: Globoesporte.com

O Apocalipse de Fevereiro e a evolução tática do Grêmio em três meses
Com a vitória por 2x0 em cima do Lajeadense, o Grêmio assumiu a liderança do Campeonato Gaúcho e consolidou o crescente desempenho tático e técnico do time. Ainda em janeiro, o Grêmio parecia uma equipe sem rumo e demonstrava um futebol tão precário que desiludia até o mais fanático torcedor. Mesmo sendo um período de testes, Felipão parecia sem convicção, de tal modo, que chegou até a deixar o campo antes do final de uma partida – fato merecedor das minhas críticas em um dos meus textos.

Era tão desesperador para a torcida que chegamos a vivenciar um apocalipse em fevereiro, quando a cada gol que tomávamos, soavam as trombetas dos anjos às portas anunciando a terceira vinda do rebaixamento. Foram algumas semanas de trevas... e nós, gremistas, já rezávamos o ato de contrição para o juízo final.

No entanto, tudo fez parte da cultura do imediatismo que assola o coração dos torcedores apaixonados. Um time iniciado do zero, com peças novas na maioria do elenco, necessita de muito trabalho para conseguir padronizar o comportamento dos jogadores em campo e adquirir a consistência que uma equipe deve ter para se tornar verdadeiramente competitiva.

Acontece que esse processo não é fácil, ainda mais realizando-o no campeonato que estamos jogamos. Para um time que está numa metodologia de formação e conhecimento de si mesmo conseguir executar um futebol de maior nível, bem como construir jogadas, contra times que jogam com seus dez jogadores em um espaço que vai da linha da grande área até a intermediária, é extremamente dificultoso. São times que abdicam completamente de jogar tendo como sua prioridade máxima a marcação e a ligação direta.

Exemplos desse comportamento foram Caxias e Juventude, num 5-3-2:


(A distância de suas linhas é em torno de 20 metros, espaço que o Grêmio tem para tentar trabalhar a bola.)


 


Outro exemplo é o Veranópolis no 4-4-2, duas linhas compactas na retranca:



E ainda, Brasil de Pelotas, num 4-2-3-1, também com as linhas próximas e posicionamento compactado no campo defensivo:


 



As imagens demonstram o comportamento das equipes adversárias na Arena, deixando bem clara a estratégia de renúncia da posse da bola e a completa dedicação em diminuir espaços e se defender. Uma estratégia que só seria vencida com movimentos velozes e precisos por parte dos jogadores do Grêmio, algo impossível até então, pelo fato de inexistir entrosamento da equipe, consequência do desconhecimento do comportamento jogadores em campo. Reflexos de um time em formação.


 Mesmo tendo de 65% a 70% da posse da bola contra esses times (muitas vezes 40% dessa posse no campo adversário), o Grêmio foi incapaz de construir jogadas, evidenciadas nos erros de passe, pois o entrosamento do esquema que o Grêmio joga (ou qualquer outro, na verdade) surge da padronização de movimentos dos jogadores conforme suas posições, seus setores, afim de constituir uma equipe harmônica em campo. Para existir essa coordenação de movimentos é preciso muito treino, repetição de posicionamento, estudo de jogo, vídeos e palestras. Diferente das duas linhas de quatro que não envolvem inteligência tática alguma.


 Além disso, equipes com maior potencial tático, como as do Campeonato Brasileiro, vão usar sua posse da bola para atacar e se posicionar ofensivamente, algo que naturalmente abrirá espaços para fluir mais facilmente as jogadas do tricolor.


 Portanto, vejo a evolução tática do Grêmio gigantesca nesses três meses. A melhora considerável da bola trabalhada, da movimentação dos jogadores que já começam a fazê-la em velocidade, demonstram um futebol de maior nível. São fatos que animam o torcedor, os quais acabam atribuindo isso à técnica dos jogadores contratados, ou dos que voltaram de lesão. É claro que a técnica individual dá o arremate final de cada jogada. Mas o mecanismo de movimentação da equipe e facilidade em encontrar espaços – elementos dessa análise - são resultados de um trabalho árduo nos bastidores.


 Tudo isso elucidado aqui não significa que o Grêmio está jogando demais, apenas que o time está crescendo muito como equipe e que, em menos de um mês, a mudança no que vinha sendo apresentado foi drástica. De fato, ainda há muito a ser trabalhado, mas o melhor disso é saber que, por causa dessa dedicação toda, o Grêmio vai evoluir cada vez mais.



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