Romildo rejeita

Em papo exclusivo, presidente analisa 100 dias de gestão marcados por austeridade e pautas nacionais; ideia é


Fonte: Globoesporte.com

Romildo rejeita

Romildo vê como trunfo o fato de não ser um "homem do futebol" desde sempre (Foto: Lucas Rizzatti/GloboEsporte.com)


Ele virou sócio do Grêmio aos três anos, mas somente agora, aos 55, que convive com os holofotes do futebol. Pode soar contraditório vê-lo assumir, logo de cara, o cargo máximo de um dos maiores clubes do país. Ainda mais quando essa figura se despe de formalidades e mantém até a rotina comezinha, com direito a bate-papo em fila de mercado. Mais surpreendente ainda é saber que o "estreante" em questão chega com uma proposta diferente. Sem rodeios, quer cortar o mal pela raiz, extirpar o que chama de "cultura irresponsável" e aliar os sempre desejados títulos ao "fazer o certo". É o que o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, espera já ter começado a costurar nos seus primeiros 100 dias de gestão.

Em referência ao marco simbólico de seu mandato a ser completado nesta sexta-feira, Romildo recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em seu gabinete novo em folha na Arena - é o primeiro mandatário tricolor a despachar no estádio inaugurado em 2012. Durante os 50 minutos de entrevista, irromperam alguns pequenos intervalos forçados. O telefone toca com frequência, quase sempre com problemas do outro lado da linha. Romildo os encara com voz mansa e jogo de cintura herdado da política - fora três vezes prefeito de Osório, no Litoral Norte gaúcho, e ocupava o cargo de presidente estadual do PDT até vencer a eleição no clube em outubro.


Sua missão começou dura. De cara, sucedeu o lendário presidente Fábio Koff e ainda precisou encabeçar a política de redução de gastos, uma vez que o time não teria mais arrecadação de Libertadores. Romildo cortou na carne. Saíram ao menos 13 jogadores, o time mudou completamente e sofreu no início do Gauchão. Ele defende que as três últimas contratações (Maicon, Cristian Rodríguez e Braian Rodríguez) não foram atos de desespero após duas derrotas seguidas em casa - embora admita que um tropeço no Gre-Nal passado poderia ter abortado o projeto. Até porque Romildo não pretende ser apenas um bom pagador de contas - já se livrou de R$ 30 milhões em dívidas em 100 dias.


- Meu maior desafio são dois: deixar o Grêmio equilibrado e ganhar títulos. É fazer o certo e vencer - resume.


O primeiro passo é o Gauchão em que o time saiu de décimo colocado a líder em um mês. Romildo compara o momento atual ao panorama de 1977, quando o Grêmio apostou tudo no estadual, interrompeu uma série de títulos do Inter e pavimentou o caminho para os grandes títulos da década de 1980, entre eles o Mundial.


- Estamos jogando todas as nossas fichas na perspectiva de ser campeão gaúcho para a retomada de títulos. Os momentos que mais emblematizaram o Grêmio, 77, 81, 83, 95, tudo isso está jogado na nossa necessidade de vencer o Gaúcho esse ano. Para ver a importância que estamos dando neste momento - destaca.


Não espere, todavia, arroubos financeiros. Houve contratações pontuais, sim, mas a aposta nas categorias de base segue forte, como um mantra. Até porque a outra prioridade é deixar o clube "equilibrado" em quatro anos, numa política de salários realistas, duplicação do faturamento do quadro social e a não dependência de venda de atletas, tornando essa receita um "plus". Assim, Romildo acredita que o Grêmio estará à frente dos demais rivais - a Medida Provisória  (MP) assinada pela presidente Dilma Rousseff na quinta, que renegocia a dívida dos clubes, dá prazo de seis anos para adaptação das agremiações.


- A situação de certa irresponsabilidade do futebol brasileiro realmente existe, é mais uma cultura irresponsável. Quanto pior estou mais eu gasto para sair do buraco, essa lógica não existe mais. Você tem que ter uma capacidade de diagnóstico cada vez mais preciso, muito melhor do que se tinha. Se não deu certo, azar, vai embora? Não - defende.


A sua veia política já rendeu protagonismo nacional. Romildo trouxe à tona o debate do retorno do mata-mata ao Brasileirão e espera aprofundar o assunto nas próximas semanas. O mesmo vale para o retorno das bebidas alcoólicas aos estádios. Contexto que não empolga Romildo a ponto de ele se considerar um líder da classe em potencial.


- Primeiramente, não sou líder de nada, não me acho condutor de nada. Levantei uma pauta. O que mais motivou isso era que a pauta tinha ressonância. Todos são líderes. O que eu fiz foi jogar um assunto na mesa e ter reciprocidade.


> Confira a íntegra da entrevista:


GloboEsporte.com - Como você avalia os 100 dias de gestão?
Romildo Bolzan Júnior -
O maior desafio é a justificativa pública das coisas a fazer. No futebol, são duas situações, como diz Fábio Koff: não tem quem está certo e errado, mas quem vence e perde. A melhor situação é vencer e estar certo. Eu quero a autoestima do torcedor, que ele diga que meu clube está ajustado, tranquilo, equilibrado, que não tem pauta negativa em relação a finanças. Isso associado à vitória em campo é a receita absolutamente correta. Vamos nos organizar, ter momentos de sacrifício, mas sempre com time competitivo. Creio que a torcida está comprando essa ideia. O Grêmio está se planejando. Estamos tomando ações concretas. Vão demorar quatro anos para o Grêmio se organizar e se equilibrar, de modo conservador. Essa nova legislação, da Medida Provisória, vi que a transição dos clubes irá demorar seis anos. O Grêmio quer chegar muito antes disso. Era a hora de fazer. O Grêmio tinha dimensionado mal a perda das receitas (em relação à transição Olímpico-Arena). Não tinha uma substituição rápida disso. Já vamos avançar este ano e mais ainda nos outros anos. O Grêmio está se planejando para ser um clube completamente equilibrado e competitivo em quatro anos.

Isso passa obrigatoriamente por vender jogadores?
Não estamos contando com venda de receitas de jogadores. Contamos com os contratos celebrados e as receitas previstas. Vender jogadores não está na receita ordinária, está no “plus” na equação dos nossos problemas. Não estamos contando com venda de receitas de jogadores, mas iremos vender, faz parte. Uma boa venda irá acelerar o processo de equilíbrio. Nós definimos que a política é para valer, por exemplo, ao não ceder jogadores jovens para o São Paulo (na aquisição de Maicon). O Grêmio quer realizar ativos, mas não queremos equilibrar o clube com a receita de jogadores.


A política austera seguirá firme ou já é possível relaxar?
Nós vamos apertar o cinto mais ainda. O orçamento de futebol para 2015 é um, para 2016 é outro e assim por diante. O SAP (software alemão de gestão e análise de desempenho de jogadores e mercado) é uma parte importante da gestão. Contratamos um CEO (Gustavo Zanke) que está mapeando todo o excesso de gastos, estamos trabalhando dentro de uma linha realista de orçamento. Estamos com todos os diagnósticos feitos. Quando sair o balancete do trimestre, teremos todos os efeitos dessa política. Há fortes indicativos de que temos bom resultado.

O Grêmio já pagou de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões em dívidas, certo?
Pagamos mais até do que R$ 30 milhões. Mas tiramos do nosso caixa uns R$ 8 milhões, como da parte do Flamengo (dívida por Rodrigo Mendes). Isso não entra para nós. O Grêmio tenta não contratar financiamentos, para não aumentar os encargos do clube. Estamos liquidando despesas e desonerando o clube do que vem pela frente, como ocorreu com Barcos e Moreno (vendidos para a China). O Grêmio poderia ter no caixa mais de R$ 30 milhões se não tivesse que pagar essas contas. Isso significa que o Grêmio tem capacidade de pagamento, embora muito reduzida, de pagar em dia. Mas chegaremos ao final do ano com equilíbrio.

Pagar em dia, portanto, é o seu grande desafio?
O meu maior desafio são dois: deixar o Grêmio equilibrado e ganhar títulos. É aquele negócio de fazer o certo e vencer. A torcida está acreditando, mas passou a acreditar ainda mais quando o elenco foi reforçado. É isso que dá a confiança da torcida no projeto.


E como foi essa aceleração dos reforços após o mau começo no Gauchão?
As duas derrotas em casa foram muito marcantes. Mas tem uma situação, o prazo para 13 de março. Não poderia passar daí para inscrever no Gauchão. Tínhamos um leque de opções. Conseguimos finalizar com esses jogadores. O Grêmio acelerou? Não. No momento em que se desfez, sabia que teria que repor. A negociação do Braian, por exemplo, foi muito longa, foi uma negociação de dois meses. A do Cristian Rodríguez foi longa também, só acelerou quando o Parma faliu. E o Maicon foi quase uma novela, mas sabíamos que ele iria contribuir muito. Não é exatamente uma aceleração, foi um conjunto de fatores.



Presidente do Grêmio espera mais do que dobrar receita de sócios (Foto: Lucas Rizzatti/GloboEsporte.com)


Mais do que as derrotas, houve as saídas bruscas de Barcos e Moreno. Como foi essa situação, há algum arrependimento no processo?
Não poderíamos deixar de ser correto com os jogadores. Eles tinham propostas, e o Grêmio não conseguiria arcar com os valores no ano seguinte para renovar. Fizemos tudo de uma forma honesta e leal. Os jogadores entenderam e aceitaram as propostas. Os dois saíram e veio um jogador (Braian), mas também veio o Mamute. O Grêmio fez peça de reposição a um preço bem menor e fez o jovem da base dar certo. Nós iríamos recuperar no campeonato com o time anterior, sem as contratações. Iríamos buscar a liderança com a gurizada. Nós temos soluções de virada de jogo levando em conta a política de base, como vimos no segundo tempo contra o Cruzeiro-RS (no sábado, vitória de 1 a 0). Teremos no próximo ano um grande ativo de jovens.


Se as saídas dos centroavantes e as derrotas em casa foram marcos negativos, o Gre-Nal empatado em 0 a 0 pode ser encarado como a retomada?
O Gre-Nal foi o esboço da recuperação. Se o Grêmio perdesse, a política de renovação definitivamente poderia se perder, sem dúvida. Hoje, ela é uma confirmação de que o caminho estava correto. E vai ser ainda mais perseguido.


A ideia era reduzir a folha em 40%, como está essa matemática?
Não fizemos nesse nível. Neste ano, pelos contratos em vigor, tínhamos uma meta, Já estamos abaixo dessa meta. Em condições de fazer essa meta. Ano que vem, é outra meta, mais baixa que a deste ano. Mas o raciocínio não é baixar simplesmente o valor, é baixar e ter um time competitivo. Essa equação não desaparece, temos que equacionar os custos. E agora tem um ingrediente novo. Se a Medida Provisória entrar para valer, tendo que reduzir o custo do futebol a 70% das receitas brutas, e não sei se é só profissional ou base, é um outro componente. O Grêmio já tinha feito o planejamento antes, vamos nos orientar cada vez mais nesse sentido, sem perder o poder competitivo.

Já está perto dos 70% neste ano?

Ano passado era perto dos 85%. Já baixamos, a meta era X e estamos abaixo do limite. Queremos ver se durante o ano vamos um pouco mais baixo. Mas o objetivo deste ano estamos cumprindo com ganhos.


O projeto prevê equilíbrio em quatro anos?
O projeto é de quatro anos sem receitas extraordinárias. Mas é possível antes. Se chegarmos neste ano no 0 a 0, sem necessidade de suplementação orçamentária e de nada mais, o que arrecadamos, gastamos, vai ser uma vitória fantástica. Nossa vitória vai ser não gastar mais que arrecadamos. Um empate técnico.

Essa política de austeridade parece ter repercutido bem nacionalmente. Como você vê isso?
Para começar, esses jovens ficarão conosco. Ninguém vai sair. Não tem mais essa história de estar arquivado, jogar mal… a gurizada vai ficar com a gente até o fim, não há risco de desistência. Vamos criar neles um perfil vencedor. Não teremos altos e baixos nem a mídia vai colocar isso nos nossos ouvidos. Titulares ou não, pouco importa. O que importa é que os jovens sempre estarão ali, à disposição. E essa é uma política que agrada a todos porque você tem que tomar atitudes corajosas. A situação de certa irresponsabilidade do futebol brasileiro realmente existe, uma cultura irresponsável. Quanto pior estou mais eu gasto para sair do buraco, essa lógica não existe mais. Você tem que ter uma capacidade de diagnóstico cada vez mais preciso, muito melhor do que se tinha. Temos uma das melhoras safras do Grêmio nos últimos tempos. Junto a isso, estamos fazendo aquisições pontuais. Tudo num custo menor do que antes. Se não deu certo, azar, vai embora? Não. Temos que ter pouca margem para errar e encontrar exatamente o que precisamos. Acho que estamos no caminho certo.



Romildo e Rui Costa na apresentação de Cristian Rodríguez no Grêmio (Foto: Rodrigo Faturri/Grêmio)


O Grêmio foi irresponsável também para chegar a este ponto?
Cada circunstância é uma circunstância. Se o Grêmio estivesse disputando uma Libertadores da América, eu não poderia fazer essa política. Poderia? Não. Olha a loucura que vou dizer, o paradoxo, mas graças a Deus que não estamos na Libertadores para poder fazer essa política. Se não, teríamos talvez que apostar na mesma lógica, em jogadores mais experientes, mais caros, para enfrentar essa competição. E se não desse certo de novo?


O que impacta mais essa situação financeira? Os gastos das últimas Libertadores ou o fato de não se conseguir lucrar ainda com as receitas da Arena?
O mais impactante são os contrários anteriores, muito amplos, muito caros (como Kleber Gladiador, que treina separado e tem conversas para rescisão suspensas). Nós estamos trabalhando nesse sentido. A outra foi a nossa dificuldade de substituir receitas rápidas que perdemos, que o Olímpico gerava.

Como fazer isso?
Temos a questão dos sócios. Em três semanas de campanha interna, recuperamos mil sócios (plano prevê perdoar dívida antiga em caso de pagamento por um ano). Estamos lançando também o Fã Clube 1903, outra modalidade que nos remete, com custo muito baixo, formar uma massa, um exército de gremistas que vai colaborar com o clube (plano que prevê pagamento de R$ 10, numa espécie de clube da vantagens). Serão suficientes? Não serão suficientes. Será suficiente no momento em que o Grêmio adquirir o estádio e puder fazer toda a sua gestão e o torcedor puder consumir totalmente o estádio - camarote, cadeiras, estacionamento… Esse será o momento de visualização da nossa recuperação plena.

Quantos sócios hoje o clube tem?
Ativos, pagando em dia, 41 mil.

Quanto se consegue aproveitar desta renda?
O Grêmio tem uma média de arrecadação anual de R$ 48 milhões do Quadro Social, é o que se espera para esse ano também.


E qual o plano para a gestão em relação a receita dos sócios?
Nossa meta é buscar uma arrecadação de R$ 120 milhões anuais. Se a Arena vier, é isso. Se não vier, pode dificultar. Mas, se conseguirmos finalizar o negócio da Arena, e acredito que vamos conseguir fazer isso, nós teremos aí aproximadamente, com as campanhas que vamos lançar, um Quadro Social que garante R$ 10 milhões por mês.

Trabalha com a possibilidade de não se resolver a Arena neste ano então?
Trabalho com a possibilidade de resolver esse assunto durante o ano. É natural, porque o processo fugiu do controle do Grêmio e da OAS.

Há alguma informação nova? Houve a situação do pedido de recuperação judicial da empresa…
Não temos nenhuma informação a respeito do processo de judicialização da OAS. É coisa deles. O que temos é que o Grêmio tem uma proposta concreta para eles, que eles aceitaram, mas eles tem que operacionalizar isso com os bancos, o negócio anda. Está muito mais nas mãos deles do que na nossas a conclusão do assunto.

E o Olímpico neste processo?
Está completamente desativado, o Grêmio não tem mais nada lá. Mas é nosso, não está entregue para os outros.

Pretendem cuidar para que não definhe, até por ser do Grêmio?
Já está definhando do ponto de vista estrutural. É uma edificação que não tem nenhum uso. aguarda a finalização do negócio. Se finalizarmos, vamos transmitir o bem para a OAS. Se não for concluído, teremos como um ativo do clube. O Grêmio não fez nenhuma troca de patrimônio.


É porque passamos por ali todo dia e nos perguntamos…
Não tenho condições de avaliar isso neste momento. Acho que por um longo tempo vai ser assim, vais te perguntar muito.

O Grêmio está recebendo a porcentagem de receita dos imóveis que teria direito?
Até parou o assunto, teria que ter sido implementado pela construtora. Não foi. Nada disso está acontecendo.


A questão de o Grêmio estar pagando as dívidas faz o Grêmio poder cobrar algumas. Tem muito a receber?
Tem a receber e a pagar. Se fosse feito uma câmara de compensação, todos os clubes têm a receber e a pagar .Todos devem para todos e têm a receber. O mecanismo de formação quase ninguém consegue cobrar. O Grêmio deve e tem a receber, o mais visível é a questão do Victor. Recebi um informe do jurídico, parece que o Atlético-MG resolveu acertar uma forma de pagamento disso. Na negociação do Maicon, o Grêmio compensou um crédito que tinha com o São Paulo, para que ele pudesse vir.

A ideia não é só pagar contas... é ganhar títulos também. Não ficar marcado por só uma boa administração.
Tem que fazer o certo e ganhar. Se fez o errado e ganhou, algo está errado. Tem que fazer o certo e ter a capacidade de administrar algo com eficiência. Com capacidade de ganhar, de vitória. Os grandes times foram constituídos de pequenos valores, que ficaram caro porque os jogadores fizeram por merecer, pelos títulos que adquiriram. É o momento do Grêmio. Tem que ter um time capaz de fazer por si só para crescer. Temos um time que pode se tornar muito caro mais adiante, mas porque foi vitorioso, não porque é caro. Vamos fazer o certo do ponto de vista da gestão e vamos fazer um time vencedor com custo bom, que possa ser cumprido.



Romildo diz que é favorável ao diálogo e dispensa vaidade com cargo (Foto: Lucas Rizzatti/GloboEsporte.com)


Como primeiro presidente da Arena, é um momento especial, como torcedor? Faz uma relação com outras épocas de ponto de virada, como 1977 (Grêmio evitou o nono Gauchão seguido do Inter, no título chamado de "Retomada")?
É mais ou menos o mesmo momento. Não tinha ganhado nenhum título nacional até então. Ganhou em 77 e interrompeu aquela série do Internacional, depois ganhou o Brasileiro de 81. E dali para a frente, na década de 90, foi o grande time brasileiro. Nós estamos, pela ânsia que a torcida tem e pelo histórico de vitórias, o último título nacional foi 2001, o regional em 2010, o sul-americano em 95, por toda essa ânsia de vitória da torcida, essa necessidade de vencer e extravasar um comportamento tricolor, de sentir a autoestima rejuvenescida, nossa perspectiva de retomar um caminho de grandeza, reputo todos esses momentos do Grêmio, de 77, de 81, todos esses momentos, e transfiro para cá. Coloco todas as nossas energias na recuperação do título regional, ganhando abre um caminho para Brasileiro, Copa do Brasil, sul-americano, temos grupo para isso. Estamos jogando todas as nossas fichas na perspectiva de ser campeão gaúcho para a retomada de títulos. Os momentos que mais emblematizaram o Grêmio, 77, 81, 83, 95, tudo isso está jogado na nossa necessidade de vencer o Gaúcho esse ano. Para ver a importância que estamos dando neste momento.


A figura do Felipão no Grêmio é fundamental para esse projeto, de mudança do paradigma?
O Grêmio neste projeto precisaria de uma figura muito identificada com o clube e altamente respeitável do ponto de vista técnico. O Felipão faz as duas coisas. Conduzindo bem o grupo como está conduzindo, ele é uma pessoa acatada. É respeitado e acatado. Se um "gurizão" está chegando aí e é orientado por ele, 99% acredita no Felipão. Essa referência é fundamental para o sucesso do projeto. É a pessoa certa na hora certa e no local certo. Vamos conseguir pelo que se desenha no Grêmio de 2015, uma enorme capacidade de solidariedade em campo que vai nos dar título

Ficaram receosos com as dificuldades, aquele episódio, a atitude do Felipão, de ele sair (deixou o jogo antes de terminar contra o Veranópolis)?
Ele é sanguíneo, toma atitudes às vezes impensadas, mas como homens de sucesso, dá certo.
Talvez não fosse impensada, deu certo…  Não sei se foi pensado ou não, mas reverteu em uma posição de sucesso, deu também resultados emocionais para o time. As pessoas que têm acima de tudo muita estrela e capacidade de envolver outras pessoas, que são um sucesso por si só, pelo que fizeram, têm sucesso até nos erros. Aquele atitude fora do contexto, era um equívoco, mas dentro do contexto acabou sendo um sucesso. Persegue os homens com capacidade de fazer acontecer.

O presidente Fábio Koff (que deixou o cargo de vice de futebol) é uma dessas pessoas.
O presidente Fábio Koff é um case, sempre vai ser uma referência para todos nós. O que atingiu no Grêmio... até o próprio retorno dele em 2013, rompendo um ciclo de processo de construção de estádio e tudo mais. Deu um outro padrão de comportamento, que é fundamental que tenhamos como parâmetro aqui dentro. É talvez a maior liderança viva do Grêmio, ele e o Hélio Dourado nos seus tempos, foram os presidentes que deram mais ao Grêmio os emblemas das virtudes do clube, que mais sintetizaram os valores do clube. Dourado em 80 e Koff em 90. Os dois homens são as referências que tenho no Grêmio pelo que representaram.

E como substituir o Koff no organograma?
O vice de futebol é uma discussão que o Conselho de Administração vai fazer. Hoje tem o diretor de futebol (César Pacheco) e o Rui Costa no comando da direção executiva, que ordena os atos que o futebol tem. E a figura do vice virá, sim. É uma questão de tempo e será escolhido um nome para contribuir nesse processo inteiro.


Nesta necessidade de título estadual, tem a figura do Cristian Rodríguez, que invariavelmente vai ser assunto por uma possível permanência. Qual a possibilidade?
Com um jogador se identificando rapidamente com os valores do clube, a contratação é um diagnóstico praticamente certo que vai dar certo. Um jogador que chega como ele, bom tecnicamente, de seleção, experiente, que tem valores que o clube se identifica, como garra, irresignação, determinação, se entrega na partida, não tem bola perdida... O jogador que vem com esse perfil, é meio caminho andado. O Cristian é apreciável tecnicamente, são raros os jogadores que têm as suas virtudes, impulsionamento, capacidade de drible, cultura tática, capacidade de resolução de uma partida. Deu para ver rapidamente, um tempo e meio. Compramos o jogador que tem esse tipo de característica por quatro meses. Veio para colaborar com a vitória do Gauchão, mas temos a expectativa de tê-lo mais lá na frente. Tomara que tudo conspire a nosso favor, a vontade dele, a capacidade de negócio do Grêmio, tudo isso. Mas não tratamos agora, vamos esperar para o final da participação dele. Se estiver bem entrosado, tudo facilita.



Com Felipão, na pré-temporada e, no pé, na celebração de sua eleição em outubro (Foto: Banco de Dados)


O senhor tem tomado à frente em debates nacionais do futebol, como o mata-mata. Naturalmente, está se encaminhando para um espaço de liderança no Brasil?
Primeiramente, não sou líder de nada, não me acho condutor de nada. Levantei uma pauta. O que mais motivou isso era que a pauta tinha ressonância. Era um ambiente fértil, todos os clubes gostariam de debater, e eu expressei uma situação. Não reuni ninguém, não conduzo nada, não lidero nada, não organizo nada. Meramente levantei uma pauta que tinha ambiente para ser discutido. Foi o espaço que tem, mas não me acho responsável por nada. Estou propondo um debate, e vai acontecer, organizadamente, através da CBF. Minha visão é essa, você não vai liderar o presidente do Flamengo, do São Paulo, do Corinthians, do Palmeiras. Todos são líderes. O que eu fiz foi jogar um assunto na mesa e tem reciprocidade. Acho que vai ter consequências.

A sua experiência de gestor público o ajuda? O senhor aponta como uma figura diferente no futebol, é acessível… 
Quando estava na fila do Mercado Público, para comprar uns queijinhos, fiquei em um cantinho quietinho, aí os caras lá no fundo “esse não é o Romildo? Está tão quieto, os outros chegam com tanta pompa”. É estilo. Gosto de dialogar, justificar as coisas do clube, gosto de fazer justificação pública das atitudes, mas não alimento vaidade por conta de ser presidente do Grêmio. Meu compromisso é fazer isso aqui dar certo. A gente fica vaidoso com esse ambiente, mas não me envolvo com isso. Meu negócio é conversar bastante para justificar as coisas que o Grêmio faz, o momento do clube, para a opinião pública e principalmente para os gremistas.


Não estar na vida do clube anteriormente o ajuda a colocar em prática essa política severa?
Não carrego comigo o encargo deste cargo. A pomposidade. Eu acordo e nem me lembro que sou presidente do Grêmio. Só sei que sou quando estou aqui dentro e me demandam. Não ando na rua com a cabeça em pé para me olharem como presidente do Grêmio. Cansei de ter situações das pessoas me demandarem. Mas não tenho esse nível de vaidade. No meu caso, sou um presidente que não vem da própria cultura do clube de eleger pessoas que passaram uma longa trajetória aqui dentro. Pode ser ruim e bom. Pode ser ruim na medida de ser muito neófito nas coisas do clube, mas acabou sendo bom, as coisas que demandam atitude de decisão, ou avaliação de situações que você possa decidir e enfrentar, minha experiência fora da aqui me ajudou muito neste sentido, não tenho dificuldade de entrar em um ambiente, avaliar rapidamente e tomar decisões. Nunca tive dificuldade de no dia seguinte tomar uma posição, uma atitude de negociação, uma posição, por conta de entender o ambiente. Aqui no Grêmio eu rapidamente entendi os ambientes de crise, avaliei e decidi. Não tenho assim, acho que essa questão de não ter a vida anterior, está sendo facilitador das coisas. Não trago vícios e compromissos. Temos compromissos éticos, morais, até pessoais e políticos, mas me sinto à vontade para tomar decisões sem levar em conta tudo isso.

Como se deu sua relação afetiva com o clube?
Graças a Deus, meu pai não me deixou optar. Sou gremista desde nascimento. Sou sócio desde 1963, com três anos. Conselheiro há mais de 20 anos. Só tive um cargo executivo, que foi a convite do presidente Koff, para ser vice-presidente no Conselho de Administração. E vem a situação inusitada, de ter me tornado agora presidente.

É mais fácil ser presidente de partido ou do Grêmio?
Cada um nas suas dificuldades, são valores diferentes. Aqui é muito mais pressão, exigência no ponto de vista de comportamento, necessidade de estar presente e poder buscar soluções rápidas. O partido é uma eleição, uma estruturação, um posicionamento ideológico, que coloca um grupo de pessoas que buscam ser representativas. Aqui é vitória, título. Uma derrota significa estar tudo em terra arrasada. O exercício de convivência e justificação é mais exigente do que no partido jurídico.


 



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