Ramiro supera frustração por lesão e garante voltar com alma de estreante

Em entrevista ao GloboEsporte.com, volante abre sua casa, fala do problema clínico na pré-temporada, da turbulência no futebol e do apoio à reestruturação financeira


Fonte: Globoesporte.com

Ramiro supera frustração por lesão e garante voltar com alma de estreante
Ramiro nunca foi de fugir de dividida. Mesmo em amistoso. O tempo volta para o dia 21 de janeiro, quando o Grêmio enfrentava o Novo Hamburgo em Gramado. Logo em Gramado, sua terra natal. O volante gremista voou para um carrinho na tentativa de desarmar o camisa 5 adversário. Na hora do lance, o pé esquerdo ficou preso no chão. E lá se foi o ligamento colateral medial do joelho. Voltamos para 43 dias depois, data da volta do meio-campista aos treinamentos com bola. O jogador recebeu o GloboEsporte.com em seu apartamento na zona leste de Porto Alegre, onde mora há três meses, para abordar as dificuldades da pior lesão da carreira, sofrida dentro de sua casa. Mas também falou sobre a montagem do time, a saída de Felipão do banco de reservas antes do fim da derrota para o Veranópolis, no Gauchão, e do momento de dificuldade financeira do clube.

Ramiro foi um dos pivôs da realização da pré-temporada gremista em Gramado. Seu pai, Gilnei Benetti, organizou em parte a estadia na cidade - tem uma pousada na Serra. O Tricolor viajou no dia 11 de janeiro para os primeiros trabalhos do ano. Esteve em todos. Mas o esforço foi praticamente colocado no lixo naquele lance aos 16 minutos do primeiro tempo do amistoso que marcava a despedida do clube da serra gaúcha.

- Nunca tinha passado por uma situação dessa, de machucar tão sério como essa lesão, ainda mais jogando em casa, na minha cidade, no último dia da pré-temporada. Foi bem frustrante - disse o volante, em entrevista ao GloboEsporte.com.

Menos mal que houve o apoio da família. Agora, garante voltar com alma de estreante. Está tão empolgado que chega a usar termo consagrado por seu antigo treinador Vanderlei Luxemburgo, de voltar à "confusão".

- A família toda estava inclusa no tratamento, fechou comigo e me deu o apoio que eu precisava. O desejo e a vontade de jogar com a camisa do Grêmio... é como se estivesse estreando novamente. Estar do lado de fora ainda mais em um momento difícil que a gente está passando, de transição... a gente quer ajudar, quer estar na confusão, estar imbuído no contexto.

Na semana passada, começou a intercalar trabalhos de fisioterapia com preparação física. Nesta quinta-feira, treinou com bola pela primeira vez. E se aproxima de retornar ao time - projeta estar no jogo com o Ypiranga, em Erechim, na próxima quarta. A sua volta, aliada às de Pedro Geromel, Giuliano e Luan, são vistas como reforços para encorpar o time em um momento turbulento do Gauchão, que encontro seu ápice na derrota em casa para o Veranópolis, em fevereiro, com direito a abandono de campo de Felipão antes de o jogo terminar.

- Foi tudo explicado do por que aconteceu. A gente também questionou sobre o que aconteceu e já foi colocado olho no olho, foi falado o que tinha que melhorar como grupo, são coisas que no vestiário temos que ter essa relação forte entre jogador e comissão técnica - lembra.

Se retornar no Colosso da Lagoa, será a estreia de Ramiro na temporada. Enquanto os companheiros já disputaram oito rodadas do Gauchão, esteve em recuperação, com dois dias de folga em todo o período. A rotina de fisioterapia contou com ajuda da irmã para que ele ficasse literalmente com as pernas para o ar em casa. Ainda decorando o apartamento - recebia um profissional para furar as paredes para a colocação de quadros e outras situações no momento da entrevista -, também falou sobre o momento financeiro que vive o Tricolor e que os jogadores pediam explicações dos salários atrasados no ano passado.

> Confira os trechos da entrevista exclusiva:

GloboEsporte.com - O que você sentiu no momento da lesão, no fim da pré-temporada?
Ramiro - Nunca tinha passado por uma situação dessa, de machucar tão sério como essa lesão, ainda mais jogando em casa, na minha cidade, no último dia da pré-temporada. Foi bem frustrante. A gente tenta não acreditar no momento. Mas, como não tinha machucado nenhuma vez, foi a primeira vez, tem que estar com a cabeça boa. Meu pai estava ali do meu lado, me apoiando, minha família toda, e era a hora de ter tranquilidade e pensar na recuperação. No lance já sabia que tinha sido algo mais sério. Depois, o diagnóstico do médico ele falou que não tinha sido cruzado, para me tranquilizar, mas que havia tido ruptura em algum ligamento, provavelmente no colateral medial, que foi o que aconteceu depois no exame.

Como foi a rotina nessa recuperação?
Folgas foram poucas. Tive alguns turnos de folga e dias completos, tive um domingo e uma segunda. Fisioterapia direto, não tem outro segredo. É ir atrás do tratamento no clube. Na primeira semana minha irmã veio me ajudar, porque eu estava com o imobilizador na perna toda, então era ruim ficar transitando em casa, era para ficar com a perna parada. Ela me deu uma força grande na primeira semana. Minha mãe veio em outros finais de semana também. A família toda estava inclusa no tratamento, fechou comigo e me deu o apoio que eu precisava.

E como foi o drama de ficar imobilizado, tendo que ter ajuda?
É ruim andar de muleta, você se sente incapacitado. Até em casa, como eu falei, estava no sofá, na cama, e levantar para buscar algo na geladeira já era difícil. Minha irmã me ajudou muito. Pelo menos dirigir eu conseguia, que o carro é automático. Se não conseguisse, dependeria mais ainda dos outros.

E qual sua expectativa de retorno? Já que vai ser sua estreia no ano...
A vontade de voltar a jogar é muito grande. Estar do lado de fora, sem poder ajudar, ainda mais em um momento difícil que a gente está passando, de transição, de mudança no pensamento do clube, a gente quer ajudar, quer estar na confusão, estar imbuído no contexto. Venho trabalhando a parte física há duas semanas intercalado com a fisioterapia. Forte, de fato, comecei nesta semana. Não sei se para o jogo de sábado estarei apto ao Felipão, mas acredito que para o próximo jogo já estou liberado e agora é aprimorar a parte física. Perdi toda a pré-temporada, agora tive que fazer tudo de novo, individualmente. Estou procurando dar o meu melhor nos treinamentos para estar bem na hora de ir ao campo.



Que sentimento tem ao voltar? Dá para comparar com sua estreia no clube em 2013?
Acho que a comparação não dá para fazer, era uma situação bem diferente, hoje já me sinto a vontade com os companheiros. Aquele momento estava chegando, era um desconhecido. Mas o desejo e a vontade de jogar com a camisa do Grêmio... é como estivesse estreando novamente. Por estar longe dos gramados, a vontade é muito grande.

E fica bom voltar agora que dá quase um mês para a estreia na Copa do Brasil...
Temos a competição nacional, a primeira, que é a Copa do Brasil. É onde temos que ter um foco totalmente voltado para essa competição, temos a condição de vencer ela, como todas as outras. Primeiro jogo teoricamente com uma equipe de menor expressão, mas que merece total respeito, se está na Copa do Brasil tem méritos e mereceu chegar. Tem que ter total atenção por ser uma competição de mata-mata.

E esta situação de o Felipão ter te citado algumas vezes como reforço, ajuda?
Acho que isso é importante para quem está no departamento médico, para quem está fora. Ser valorizado.O pessoal estar esperando tua volta. Você já volta sabendo que a comissão técnica e o grupo confiam no seu trabalho. Foi feito assim com o Pedro, Giuliano, comigo, a expectativa é que seja assim com o Walace quando voltar. É estar com a cabeça boa, sabendo da confiança que a comissão tem na gente e buscar fazer o melhor para ajudar o time.



O Felipão foi alvo de polêmica neste ano, ao sair do banco antes de o jogo contra o Veranópolis acabar. Ele agiu no calor do momento?
Sem dúvidas, foi uma ação sem pensar nas consequências, eu acho, de cabeça quente, na hora do jogo. Como alguns jogadores às vezes agridem ou fazem alguma coisa em campo que tem que explicar. Ele agiu dessa forma, tivemos uma conversa de todo o grupo com ele também. Foi tudo explicado do por que aconteceu. A gente também questionou sobre o que aconteceu e já foi colocado olho no olho, foi falado o que tinha que melhorar como grupo, são coisas que no vestiário temos que ter essa relação forte entre jogador e comissão técnica. Agora, está tudo já nos conformes, como deveria estar.

A postura do Grêmio de se readequar financeiramente é a correta, mesmo?
Acredito que sim, o futebol brasileiro chegou a um patamar de salário de jogador muito elevado. Os clubes não estão dando mais conta. As contas a pagar estão sendo muito grandes. De maneira correta, na minha opinião, o Grêmio veio primeiramente se estabilizar de forma financeira para depois, sim, montar um time com jogadores de nome e folha salarial em dia, que é muito importante. O Grêmio está fazendo isso na hora certa. Alguns clubes já fizeram, tem clubes que estão bem estruturados e outros que estão muito piores que o Grêmio. Vai de cada gestão. Não podemos criticar ninguém. Procuro pensar somente no Grêmio, e fazer o que tiver que ser feito. Em campo farei o meu papel e fora de campo a diretoria faz o dela, que na minha opinião é a forma mais correta de conduzir os profissionais do futebol.

Vocês ano passado não estiveram em dia. Teve algum tipo de conversa sobre a questão financeira?
O Grêmio já veio buscando fazer esse tipo de ajuste desde que estou no clube, eles já vem tentando isso. Porém, nos últimos dois anos disputou Libertadores. Então, a gente sabe que é o campeonato mais importante, tem o foco total das equipes, se vencer é uma visibilidade muito grande e até em retorno financeiro. É diferente o investimento. É o caso do Inter, como está disputando a Libertadores, buscou fazer investimento alto para conquistar a competição. Como o Grêmio não tem isso esse ano, reduziu um pouco a folha. Está pensando em ganhar o Gauchão, mas não poderemos comparar o nível de disputa do Gauchão com a Libertadores. Com os jogadores que temos hoje, temos plenas condições de ser campeão do Gauchão.



Mas houve algum tipo de reunião?
Já vinha sendo passado no decorrer do tempo. Conforme atrasava ano passado, a gente pedia uma explicação, uma justificativa. E sempre foi passado da dificuldade financeira do clube. Da questão de não ter a renda do estádio, que antigamente tinha o Olímpico, que a renda ia para o Grêmio e agora não tem mais. Sabíamos do momento. Quando o Romildo (Bolzan, presidente) assumiu, só reiterou a situação financeira e pediu a colaboração dos jogadores para que ajudassem o Grêmio a passar por essa fase difícil e que no futuro as coisas iriam melhorar.

Ainda no assunto gestão, o Fábio Koff deixou o cargo de vice de futebol. Isso impacta no vestiário?
É um cara muito querido, eu sou suspeito para falar dele, vim para o Grêmio na gestão dele. Apostou em jogadores do interior, jovens... Devo muito a ele e seus braços direitos, digamos assim. Que nos deram a oportunidade. Mas também falando como torcedor gremista, dispensa comentários, conquistou muitas coisas dentro do Grêmio. Merece total respeito da torcida, como ele tem. Não é por menos, ele fez por merecer isso. Tive a oportunidade de trabalhar com um cara desses, é motivo de orgulho. Tenho certeza de que sai de cabeça erguida e que deu o melhor pelo Grêmio, ajudou da forma que poderia.

Recentemente houve outra mudança, com o Cesar Pacheco entrando. Influencia algo para vocês jogadores?
Na verdade a parte política do clube a gente procura não se envolver muito. Para nós não interfere muito, a gente tem mais contato com o Rui (Costa, diretor executivo), que está diretamente ligado ao vestiário. É com ele que a gente conversar, ele que está na boa e na ruim nos dando força. Com ele, com a direção e com o presidente. Essa questão política, a gente não tem muito contato e não faz parte do nosso trabalho nos envolver com isso. Temos que pensar no campo onde somos pagos para trabalhar.



O Koff tinha uma relação muito estreita com Felipão. Vocês temem uma possível saída do técnico?
Eu acredito que não, a relação que ele tem é com o Grêmio em si, não com o Koff. O Koff tem uma parcela de contribuição para tudo isso, mas acho que é muito maior, é mais com a entidade Grêmio, com os torcedores, com os jogadores, que criamos uma relação muito forte. Independentemente do Koff estar deixando o clube, ele estará nos apoiando e torcendo, vão ter a relação de fidelidade que vão ter para sempre, conquistaram isso com o tempo. Que continue com a gente nos apoiando e nos ensinando muita coisa.

Você citou em uma resposta que é gremista. Como é agora jogar no clube?
Era torcedor gremista quando criança, minha família toda é gremista. Vim algumas vezes no estádio. Com 12 anos, fui para o Juventude. Você se envolve para o futebol e acaba meio que deixando de torcer. Até por jogar várias vezes contra o Grêmio (fez gol contra o Grêmio em 2011). Aprendi a gostar do Juventude. Mas agora tive a oportunidade de jogar no time do coração, é uma situação diferente poder vestir essa camisa. Toda aquela paixão que eu tinha de criança, estou reativando, porque é o clube que defendo e torço. Está sendo especial.

O Grêmio vive uma fase difícil, você mesmo disse. Já esperava tantas saídas?
É normal, estamos com um grupo jovem, sabíamos que o início seria difícil, mas só a gente poderia tornar isso fácil. É com trabalho, com treinamento, no dia a dia, com conversa. Aprender a ouvir o companheiro faz com que o grupo todo cresça. A cobrança tem que existir. Até a disputa de posição, uma sombra faz você crescer e querer melhorar a cada dia, a treinar forte. Vamos buscando dessa maneira para o grupo todo cresça.

Com essas saídas - foram 13 - precisa-se de novos líderes no elenco. Você entra neste contexto mesmo jovem?
Temos muitos jogadores no nosso grupo que são experientes, rodados. Que têm uma certa bagagem e sabemos que temos um grupo jovem, metade vem da base, então o pessoal mais experiente tem que puxar a frente, ajudar os jovens a crescer. Acho que a gente vem fazendo bem esse papel. Posso até me incluir, por estar há bastante tempo no Grêmio e no profissional, estou há quase dez anos no futebol. Procuro passar experiência e aprender com os jovens jogadores para crescer.



A direção está no mercado contratando. O que vocês projetam já para o Brasileirão?
Falta um pouco ainda, não estamos nem pensando muito nisso. Nossa fase atual está turbulenta, estamos tentando formar um time convincente, uma forma de jogar, uma identidade, no Gauchão. Acredito que hoje nosso time não estaria preparado para começar o Brasileiro, estamos em uma fase de montagem, estamos contratando alguns jogadores que chegam para ajudar. E temos os jovens que estão evoluindo bastante. Quando começar, vamos ter, sim, uma equipe diferente, com identidade, com cara de time de fato, para disputar uma grande competição. Aos poucos vamos crescendo. Tivemos uma mudança muito grande, perdemos mais de dez jogadores e chegaram poucos de fora. Da base subiram bastante. A adaptação é demorada, difícil, passa pela vontade dos jogadores de querer fazer acontecer. Talvez, se não der na qualidade, tem que dar na vontade. Vamos procurando crescer dessa maneira.

Como você avalia o Gauchão até agora? Vários clubes do Interior já lideraram a competição...
Acho que o Gauchão está melhorando, conforme os anos passam. No geral, está melhorando. Campos, estádios, apoio da torcida, qualidade dos jogos. Vem melhorando. Quem agradece é o torcedor, são as pessoas que gostam de admirar bom futebol. Sobre os líderes do Gauchão do Interior, mostra a força e importância que os clubes do interior tem que ter, nosso estado não é só dupla Gre-Nal, temos diversas equipes de tradição e que merecem respeito, que tem trabalho de qualidade e profissionais capacitados. Que merecem atenção. E estão demonstrando isso no Gauchão.

Ano passado se falou em Manchester United interessado em você. Teve algo? Qual a projeção para o futuro?
Ano passado não chegou nada em mim, foi muita especulação, não teve nada de concreto. Procuro me focar no Grêmio e no meu trabalho atual. No presente. Sou jogador do Grêmio. Se tiver que jogar o resto da minha vida aqui, vou jogar, não tem problema nenhum. Não me preocupo muito com o futuro, faço o presente bem feito e deixo acontecer naturalmente. Foi assim que fiz na minha carreira. O futuro pertence a Deus e a quem for escrevê-lo, tanto eu quanto meu pai, que é meu procurador, e os próximos clubes que eu jogar, talvez.

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