Torcedores do Inter convidaram amigos gremistas para acompanhá-los no Beira-Rio Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS
Clubes do país inteiro, autoridades de Norte a Sul, estudiosos do futebol, imprensa internacional, estão todos de olho no antológico Gre-Nal deste domingo. Não pense que é exagero: o jogo no Beira-Rio nem começou e já virou de cabeça para baixo um debate mundial sobre a violência nos estádios.
Só se falava em torcida única, uma medida antipática e restritiva. De duas semanas para cá, a discussão se inverteu, assumiu ares de tolerância e inovação. A torcida mista ganhou projeção inédita como estratégia de combate à selvageria.
— Quero acompanhar o Gre-Nal para eventualmente copiar a ideia — adianta o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar.
— Vou levar a mesma proposta para os clubes daqui — revela o promotor Luiz Eduardo Marinho Costa, do Rio Grande do Norte, onde pelo menos sete pessoas morreram em brigas de torcidas desde o ano passado.
Para alguns pode parecer improvável o recuo da agressividade com a aproximação de torcidas rivais. Mas especialistas ouvidos por ZH são unânimes ao dizer que sim: mais do que um símbolo de civilidade, a iniciativa do Inter é o primeiro passo de um caminho promissor.
Vejamos por quê.
Um estudo do sociólogo Mauricio Murad, autor do livro Para Entender a Violência no Futebol, mostra que apenas 6% dos torcedores, sejam eles organizados ou não, têm alguma propensão ao confronto. Ainda que você duvide desse número tão minguado, há de concordar que os violentos são uma minoria.
— O problema é que os clubes, a administração dos estádios, o esquema de segurança, tudo tem girado em torno dessa minoria — aponta Mauricio Murad.
Basta observar as escoltas do lado de fora do estádio. Ou a separação com tapumes — que é para evitar até contato visual entre as torcidas — do lado de dentro. Ou as reservas de ingressos para organizadas violentas. Ou justamente a impossibilidade de amigos e familiares assistirem juntos a uma partida só porque torcem para clubes rivais.
— Quando a minoria agressiva é tratada como maioria, ela passa a entender o seu comportamento como normal, como parte da conduta natural de um jogo de futebol — afirma Ronaldo Helal, doutor em Sociologia do Esporte e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). — A torcida mista no Gre-Nal dará espaço para a verdadeira maioria se manifestar: a maioria que é pacífica, tolera a comemoração adversária e convive com gente que torce para times diferentes. Quando essa maioria assume o seu papel de maioria, que é ditar as condutas sociais, ela inibe a minoria.
Ou seja, se a estrutura e a organização de um jogo tratam o estádio como um local de conflito, os que querem conflito vão procurar o estádio — os que não querem, fugirão de lá. Se essa lógica se inverte, com uma gestão estimulando a tolerância e a convivência entre todos, a hostilidade tende a se dissipar a médio prazo.
O historiador Denaldo Alchorne de Souza, do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da Universidade de São Paulo (USP), pede para imaginarmos um torcedor de 10 ou 11 anos.
— Se ele cresce em uma sociedade na qual o futebol está relacionado à separação, à desunião, à impossibilidade de convívio, ele tem boas chances de seguir o caminho do confronto — avalia o pesquisador. — Agora, se essa sociedade lhe apresenta referências como esta que surgirá no Beira-Rio, mostrando que é possível ser amigo de um torcedor rival dentro do estádio, a chance de ele querer espancar um adversário diminui muito.
Para que essa mudança de cultura ocorra de fato, o ideal é que a iniciativa tenha continuidade e, mais do que isso, seja aprofundada gradualmente.
— Neste domingo serão 2 mil gremistas e colorados dividindo espaço. Se no próximo clássico subir para 3 mil, depois para 5 mil, mais tarde para 10 mil, a quebra de paradigma será enorme. É uma medida para ser copiada — exalta Paulo Castilho, promotor do Juizado do Torcedor de São Paulo, Estado onde três pessoas já morreram neste ano em confrontos de torcidas.
Como alerta o professor Alex Niche Teixeira, doutor em Sociologia e membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS, seria ingenuidade achar que só a torcida mista acabará com a brutalidade no futebol. De clubes que trocam dinheiro por apoio de torcidas, passando pela impunidade e pela falta de integração entre os órgãos de segurança, há uma série de buracos para tapar.
— Mas é inegável que, se tudo der certo, e deve dar, o recado do Gre-Nal será muito positivo. Vai repercutir nas conversas, nas escolas, e vai mostrar para sociedade que o convívio saudável é possível, sim, em qualquer lugar — conclui Alex Niche Teixeira.
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Clubes do país inteiro, autoridades de Norte a Sul, estudiosos do futebol, imprensa internacional, estão todos de olho no antológico Gre-Nal deste domingo. Não pense que é exagero: o jogo no Beira-Rio nem começou e já virou de cabeça para baixo um debate mundial sobre a violência nos estádios.
Só se falava em torcida única, uma medida antipática e restritiva. De duas semanas para cá, a discussão se inverteu, assumiu ares de tolerância e inovação. A torcida mista ganhou projeção inédita como estratégia de combate à selvageria.
— Quero acompanhar o Gre-Nal para eventualmente copiar a ideia — adianta o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar.
— Vou levar a mesma proposta para os clubes daqui — revela o promotor Luiz Eduardo Marinho Costa, do Rio Grande do Norte, onde pelo menos sete pessoas morreram em brigas de torcidas desde o ano passado.
Para alguns pode parecer improvável o recuo da agressividade com a aproximação de torcidas rivais. Mas especialistas ouvidos por ZH são unânimes ao dizer que sim: mais do que um símbolo de civilidade, a iniciativa do Inter é o primeiro passo de um caminho promissor.
Vejamos por quê.
Um estudo do sociólogo Mauricio Murad, autor do livro Para Entender a Violência no Futebol, mostra que apenas 6% dos torcedores, sejam eles organizados ou não, têm alguma propensão ao confronto. Ainda que você duvide desse número tão minguado, há de concordar que os violentos são uma minoria.
— O problema é que os clubes, a administração dos estádios, o esquema de segurança, tudo tem girado em torno dessa minoria — aponta Mauricio Murad.
Basta observar as escoltas do lado de fora do estádio. Ou a separação com tapumes — que é para evitar até contato visual entre as torcidas — do lado de dentro. Ou as reservas de ingressos para organizadas violentas. Ou justamente a impossibilidade de amigos e familiares assistirem juntos a uma partida só porque torcem para clubes rivais.
— Quando a minoria agressiva é tratada como maioria, ela passa a entender o seu comportamento como normal, como parte da conduta natural de um jogo de futebol — afirma Ronaldo Helal, doutor em Sociologia do Esporte e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). — A torcida mista no Gre-Nal dará espaço para a verdadeira maioria se manifestar: a maioria que é pacífica, tolera a comemoração adversária e convive com gente que torce para times diferentes. Quando essa maioria assume o seu papel de maioria, que é ditar as condutas sociais, ela inibe a minoria.
Ou seja, se a estrutura e a organização de um jogo tratam o estádio como um local de conflito, os que querem conflito vão procurar o estádio — os que não querem, fugirão de lá. Se essa lógica se inverte, com uma gestão estimulando a tolerância e a convivência entre todos, a hostilidade tende a se dissipar a médio prazo.
O historiador Denaldo Alchorne de Souza, do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da Universidade de São Paulo (USP), pede para imaginarmos um torcedor de 10 ou 11 anos.
— Se ele cresce em uma sociedade na qual o futebol está relacionado à separação, à desunião, à impossibilidade de convívio, ele tem boas chances de seguir o caminho do confronto — avalia o pesquisador. — Agora, se essa sociedade lhe apresenta referências como esta que surgirá no Beira-Rio, mostrando que é possível ser amigo de um torcedor rival dentro do estádio, a chance de ele querer espancar um adversário diminui muito.
Para que essa mudança de cultura ocorra de fato, o ideal é que a iniciativa tenha continuidade e, mais do que isso, seja aprofundada gradualmente.
— Neste domingo serão 2 mil gremistas e colorados dividindo espaço. Se no próximo clássico subir para 3 mil, depois para 5 mil, mais tarde para 10 mil, a quebra de paradigma será enorme. É uma medida para ser copiada — exalta Paulo Castilho, promotor do Juizado do Torcedor de São Paulo, Estado onde três pessoas já morreram neste ano em confrontos de torcidas.
Como alerta o professor Alex Niche Teixeira, doutor em Sociologia e membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS, seria ingenuidade achar que só a torcida mista acabará com a brutalidade no futebol. De clubes que trocam dinheiro por apoio de torcidas, passando pela impunidade e pela falta de integração entre os órgãos de segurança, há uma série de buracos para tapar.
— Mas é inegável que, se tudo der certo, e deve dar, o recado do Gre-Nal será muito positivo. Vai repercutir nas conversas, nas escolas, e vai mostrar para sociedade que o convívio saudável é possível, sim, em qualquer lugar — conclui Alex Niche Teixeira.
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