De pés queimados a MMA: o saldo dos fatos marcantes do Gauchão 2014

GloboEsporte.com recorda alguns casos curiosos da edição do ano passado do Campeonato Gaúcho e apresenta o desfecho de cada uma das histórias


Fonte: Globo Esporte

De pés queimados a MMA: o saldo dos fatos marcantes do Gauchão 2014
Tinga exibe bolhas nos pés após atuar no Passo D'Areia (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)

Basta falar do Gauchão de 2014 para incitar lembranças como as boas atuações do Inter, a grande campanha do Brasil de Pelotas, campeão do Interior, ou os 13 gols anotados pelo artilheiro Barcos. Mas a competição, que encerrou com o Colorado como tetracampeão, ficou marcada ainda por alguns casos um tanto curiosos e polêmicos que transcenderam os confrontos disputados entre quatro linhas para ficar eternizados na memória dos torcedores.

Por falar em quatro linhas, dois dos episódios picarescos tratam justamente do campo de jogo. Caso da escaldante grama sintética capaz de queimar os pés de alguns atletas no estádio Passo D’Areia, e do gramado esburacado do Aldo Dapuzzo, em Rio Grande. Conhecido pelas disputas ferrenhas, o campeonato ficou marcado ainda por algumas entradas ríspidas, como a que fraturou a tíbia de Lucas Dantas, logo na primeira rodada.

Outras, quase desleais, foram aplicadas por Luis Henrique contra o jovens do Inter sub-23. O pior caso de violência, porém, não vem das agressões físicas, mas das ofensas raciais proferidas pela torcida do Esportivo contra o árbitro Márcio Chagas, que encontrou bananas no escapamento de seu carro.

Às vésperas do início do Gauchão 2015, O GloboEsporte.com relembra os casos que marcaram a edição anterior e apresenta ainda os desfechos de cada uma das histórias.

O primeiro dos casos que marcaram o Gauchão de 2014 surgiu logo na primeira rodada, na estreia de São José-RS e de Grêmio na competição. O personagem, porém, não calça chuteiras ou veste o uniforme de alguma das duas equipes. Trata-se do calor incomum registrado no gramado do Estádio Passo D’Areia, na vitória do Zequinha, dono da casa, por 1 a 0.

Grama sintética, escaldante e capaz de causar dor aos atletas, como ocorreu com o lateral-direito gremista Tinga, que deixou o campo com queimaduras e bolhas nos pés. Na ocasião, os termômetros instalados à beira do campo registraram temperaturas superiores aos 60ºC.Após o tropeço, o então técnico do time B do Grêmio, Macelo Mabília, tratou o gramado como um dos “vilões” do revés. Acostumados ao solo, os donos da casa costumam utilizar baldes de água com gelo para amenizar a temperatura.

Situação atual: É provável que as temperaturas elevadas registradas no gramado do Passo D’Areia não voltem a fazer vítimas em 2015. Os donos da casa enviaram um pedido à Federação Gaúcha de Futebol (FGF) para mandar os jogos à noite em seu estádio ao longo do Campeonato Gaúcho para amenizar os efeitos causados pelo calor. O presidente da FGF, Francisco Noveletto, se mostra favorável à medida, mas reitera ainda que a única exigência feita ao clube é que molhe o gramado antes das partidas. O Zequinha se prepara para o Campeonato Gaúcho e realiza treinamentos à noite no Passo D’Areia. A estreia ocorre às18h do dia 1º de fevereiro, quando receberá o Avenida.

O ano de 2014 se desenhou promissor para Lucas Dantas. O atacante foi o destaque do Caxias nos amistosos de pré-temporada e logo na estreia anotou um belo gol no empate em 2 a 2 contra o Veranópolis. Foi das esperanças à dor. A partida foi, ao mesmo tempo, a primeira e a última do atleta na temporada. Ele levou a pior em uma dividida com o goleiro César, ao final do primeiro tempo, e fraturou a tíbia, em uma lesão similar à de Anderson Silva.

A força do choque assustou os companheiros de equipe. Dantas deixou o gramado do David Farina numa ambulância e foi levado a um hospital em Veranópolis. À noite, o atacante foi transferido para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul e passou por cirurgia no local no dia seguinte. Cerca de 48 horas após o incidente, demonstrava serenidade impressionante ao conversar com a reportagem do GloboEsporte.com, ainda no hospital.

- Só queria sair dali e já começar a cirurgia, para me recuperar logo. Vi na hora que quebrou. Senti algo muito estranho. Ficou todo mundo desesperado, eu notei, mas eu procurei ficar calmo. E não senti muita dor, não, graças a Deus - contou à época.

Lucas Dantas disputou jogo-treino em setembro e está à disposição do Caxias (Foto: Divulgação/Caxias)

Situação atual: Foram oito longos meses de tratamento, mas Lucas Dantas se recuperou da fratura e chegou a participar de um jogo-treino diante do mesmo Veranópolis em setembro de 2014. O jogador faz parte do elenco grená para a disputa do Gauchão de 2015 e iniciou a pré-temporada integrado totalmente aos demais companheiros. Resta apenas reduzir o percentual de gordura e readquirir confiança.

- Está bem. Chegou um pouco acima no percentual de gordura, mas já entrou no ritmo dos demais. Ele precisa trabalhar com bola e readquirir a confiança. Perder o receio. A lesão ocorreu em um carrinho, e ele já entrou em divididas nos treinamentos. Perdeu o medo, mas precisa recuperar o ritmo com a bola nos pés depois de um ano parado - ressalta ao GloboEsporte.com o fisioterapeuta João Correa, que acompanhou o atleta no tratamento do problema.

O processo de recuperação iniciou ainda no hospital, no final de janeiro. Dantas ficou três meses em fisioterapia até consolidar o osso, que recebeu uma haste, e os movimentos do joelho e do tornozelo. Desde então, iniciou a parte de recondicionamento físico, até ser liberado a treinar com os colegas.

Os dois gols anotados pelo zagueiro Jean e a boa atuação da equipe sub-23 do Inter ficaram em segundo plano diante das entradas violentas do zagueiro rival Luis Henrique, na vitória por 2 a 1 sobre o Novo Hamburgo, na 2ª rodada do Gauchão, no Estádio do Vale. E não foram poucas.

Em um primeiro lance, o defensor aplicou uma voadora contra Raphinha (assista ao vídeo acima). Depois, acertou o peito de Murilo com um chute. Por fim, deu uma cotovelada em Aylon.

Como não poderia ser diferente, os sarrafos repercutiram de forma negativa após a partida. Não afetaram, porém, a postura do jogador, que, por meio de seu perfil no Facebook, publicou três fases que resumem seu pensamento - longe de beirar o arrependimento.

- Futebol é um esporte de contato. Não quer contato vai jogar vôlei. Sem Mais... Obrigado.

Facebook do zagueiro Luis Henrique (Foto: Reprodução/Facebook)

Situação atual: As entradas duras e declarações polêmicas abreviaram a passagem do defensor pelo Novo Hamburgo e pelos gramados do Gauchão. Mesmo antes do término da competição, ainda em março de 2014, Luis Henrique se transferiu do Anilado ao Santa Cruz, que disputa a Divisão de Aceso do estadual.

A passagem pelo Galo também foi curta - durou apenas sete meses. Em outubro, o zagueiro foi anunciado pelo Inter de Santa Maria para integrar o elenco da equipe em 2015. Aos 36 anos, defenderá o 10º clube da carreira, na disputa da Divisão de Acesso.

RACISMO
Chagas encontrou bananas em seu veículo (Foto: Márcio Chagas/Arquivo Pessoal)

O tradicional Gauchão encerrou 2014 com uma mancha. E tudo por conta do mau comportamento de alguns poucos torcedores. Alvo de ofensas raciais durante o empate entre Esportivo e Veranópolis, na Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, em março, o árbitro Márcio Chagas da Silva relatou ter ouvido gritos de "macaco" e "teu lugar é na selva" proferidos das arquibancadas. Mais tarde, enquanto se preparava para deixar o estádio, encontrou ainda bananas no escampamento de seu carro, estacionado em uma área de acesso restrito.

Do relato à súmula aos julgamentos, o caso quase passou impune ao clube de Bento Gonçalves. Em um primeiro parecer, o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) decidiu por uma pena branda: multa de R$ 30 mil e perda de mando de campo por cinco jogos. Era pouco para o que Márcio Chagas passou. O hoje ex-árbitro recorreu e, em nova sessão, o Esportivo perdeu nove pontos e foi rebaixado à Segunda Divisão estadual.

Era apenas o começo de uma série de reviravoltas nos tribunais. O Esportivo tornou a recorrer e conseguiu recuperar seis pontos, evitando, assim, o rebaixamento.

Envolvido em outro caso, o Passo Fundo, conseguiu reaver oito pontos perdidos pela escalação irregular do meia Paulo Josué, escapou da queda e rebaixou o clube de Bento Gonçalves.

Situação atual: O Gauchão de 2014 foi o último de Márcio Chagas como árbitro - menos mal ao homem do apito, que acabou eleito como o melhor da competição pelo quarto ano seguido. A decisão foi anunciada por ele próprio cerca de um mês depois do episódio em Bento Gonçalves, quando assumiu o cargo de comentarista de arbitragem na RBS TV.

Enquanto mantém foco máximo na nova carreira, o ex-árbitro não esconde que sentirá saudades das atuações nos gramados ao assistir os antigos colegas em ação.

- É o primeiro em 10 anos que fico fora. Vai ser uma novidade.

Após tanto tempo, vai ser bem inusitado. Dá saudades, claro.

Até dos caras que incomodavam dentro de campo, do convívio com os jogadores. Mas já passou. Acabou. Agora é foco no novo trabalho - pondera Chagas, que aposta em Jean Pierre Gonçalves de Lima para ser o melhor árbitro do Gauchão de 2015, título que conquistou nas últimas quatro edições.

Márcio Chagas atua como comentarista de arbitragem (Foto: Eduardo Deconto/GLOBOESPORTE.COM)

A luta para escapar do rebaixamento, consolidada apenas nas últimas rodadas, não foi o único percalço enfrentado pelo São Paulo-RS ao longo do Gauchão em 2014. O clube teve de conviver ainda com as constantes críticas dos adversários ao gramado do Estádio Aldo Dapuzzo a cada partida disputada dentro de casa.

Um dos rivais mais críticos foi o Grêmio, que acabou derrotado por 2 a 1 em partida válida pela 11ª rodada da competição. À vésperas da partida, a chuva forte castigou ainda mais o gramado, fato que levou o clube a preencher alguns buracos com areia. Ao término da partida, os gremistas não pouparam críticas à grama. O zagueiro Rhodolfo chegou a tratar o campo como o “pior” em que jogou na vida.

BURACOS NO ALDO DAPUZZO
Gramado do Aldo Dapuzzo, em Rio Grande (Foto: Julio César Santos/GLOBOESPORTE.COM)

Situação atual:O São Paulo-RS tratou de apagar a imagem negativa do Aldo Dapuzzo após as críticas e iniciou em outubro a reforma do gramado do estádio para o Gauchão de 2015.

Curiosamente, encontrou a receita para a reformulação na casa gremista. O clube recorreu á empresa que realizou a troca de grama da Arena para executar o mesmo procedimento, orçado em R$ 240 mil.

Após o reforço de nutrientes no solo, os rolos com o novo gramado começaram a ser instalados no início de janeiro. O alto investimento levou o presidente do clube, Domingos Escovar ir de “porta em porta” atrás de recursos, com indústrias da região. O mandatário projeta uma estreia de pompa para o novo gramado e trabalha junto ao Defensor, do Uruguai, para acertar um amistoso entre 25 e 26 de janeiro, e, assim apresentar, além da grama, os uniformes e o elenco para 2015 à torcida.

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