'Xodó' de Felipão, Araújo supera 'luta na roça'para ganhar lugar no Grêmio

Araújo conquistou a confiança de Felipão na pré-temporada, em Gramado (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

Um misto de saudades, orgulho e felicidade toma conta de Teodoro Araújo toda vez em que fala do filho, Teodoro Junio. O assunto também desperta lembranças dos tempos em que se desdobrava para suportar a árdua lida diária na roça, no interior de Goiás, para assegurar o futuro do garoto, hoje com 19 anos, fruto de seu longínquo casamento com Maria das Neves. Também pudera.

O ainda franzino Junio, que despertava a atenção da vizinhança em Aparecida de Goiânia, transformou-se no volante Araújo, que conquistou o respaldo de Luiz Felipe Scolari durante a pré-temporada do Grêmio, em Gramado. Sucesso que faz valer o esforço que tanto maltratou mãos e pés nas lavouras décadas atrás.

Hoje, seu Teodoro abandonou as plantações de arroz, mandioca ou milho para trabalhar com a esposa como vendedor ambulante de roupas, nas ruas de Goiânia. Mesmo distante, mantém contatos diários com o filho e resguarda o sonho de ir a Porto Alegre para ver de perto o êxito de Araújo com a camisa gremista.

- Eu nem costumo falar muito da luta na roça, porque ele já viu. Sabe como é e segue a própria luta dentro de campo. A minha maior vontade é de ir a Porto Alegre para ver ele jogar, eu sei que um dia vai acontecer. Eu já fui a Salvador e a Brasília. A vontade é ir a todos, mas o dinheiro é pouco. Minha esposa até chora de saudades, mas, graças a Deus, ele está mais feliz lá, está muito alegre, trabalhando certinho - afirma Teodoro por telefone ao GloboEsporte.com.

Toda a energia dispensada pelo pai zeloso ao manejar enxadas e arados no campo era destinada para assegurar à família o suficiente para sobreviver e a evitar que o filho tivesse de seguir o mesmo destino. O volante se via livre para dedicar seu tempo às obrigações escolares, às constantes idas à igreja e ao futebol. Discreto e quieto fora das quatro linhas, assumia o protagonismo entre os amigos nos campos de areia.

Ele gostava de jogar, chegava da escola e ia para os campos. Claro, sempre mantendo as notas boas no colégio. Não tem jeito, quando a pessoa tem o dom, começa a chamar a atenção da vizinhança. A gente tinha que apoiar, não ia escravizar o menino. Alguns olheiros viram, gostaram do futebol dele e o levaram ao Juazeiro - ressalta.

No Juazeiro, o sucesso dentro de campo não tardou a despontar. Volante de vocação defensiva, Araújo logo interessou ao Grêmio, clube que o contratou por empréstimo, no início de 2014, até o próximo 31 de janeiro. Curiosamente, foi apenas prestes a encerrar o vínculo com o Tricolor que Araújo enfim despertou os olhares de Felipão, durante a pré-temporada, em Gramado, em 2015. Foi aprovado no "vestibular" do treinador e ganhou de presente um contrato em definitivo por mais três anos.

- Eu procuro manter o que vem sendo feito, o que pode ser feito no dia a dia. Estou mostrando o meu trabalho e não vem de agora. É fruto de tudo o que passei. Você não conquista isso em vão. Estou ganhando respaldo do grupo, vou me empenhando e fazendo o simples, que é o que temos que fazer, dar o melhor, procurar manter a postura e fazer o que tem que se feito. Eu sigo os conselhos que o próprio Ivo Wortmann, o Flávio Murtosa e o Felipão vêm orientando - disse o volante, em entrevista coletiva nesta sexta-feira.


Araújo disputa a bola com Lucas Coelho no treino desta sexta-feira (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio)

Araújo começa a vivenciar o sucesso como profissional, mas não se esquece das origens. Além dos apupos de Felipão, recorre todos os dias aos conselhos ouvidos do pai, em conversas por telefone.

- A gente se fala todos os dias. Eu falo para ele que tem de fazer tudo bem feito. Tudo de bom. Não pensar em coisas ruins e dar valor ao trabalho. Tem que fazer tudo certinho e não recorrer a nada que não presta. É muito fácil desviar o caminho - pondera seu Teodoro.

Araújo deve ser titular do Grêmio no próximo domingo, às 17h, em amistoso diante do Cascavel, no último teste da equipe antes do início do Gauchão.



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