Acréscimos: Mundial vira modelo contra a padronização do Brasileiro

Comissão de Arbitragem da CBF reconhece desafio de mudar comportamento de juízes no nacional. Copa já registrou partida com quase dez minutos de reposição


Fonte: Globo Esporte

Os torcedores brasileiros já estão acostumados a ver a plaquinha de acréscimos indicando um minuto (ou nada) para o primeiro tempo e três minutos (ou menos) para o segundo. Para eles, pode ser surpreendente ver na Copa do Mundo, realizada em solo nacional, tempos como cinco ou até seis minutos de acréscimos. O caso mais impressionante foi o de Gana 1 x 2 Estados Unidos, que teve 9m51 de acréscimos, somando-se os dois tempos.

A primeira fase do Mundial teve 27% mais de acréscimos do que as nove rodadas iniciais do Brasileirão: enquanto no nacional os tempos médios foram 1m24 no primeiro tempo e 3m09 no segundo, no torneio de seleções aumentam para 1m50 e 3m57, respectivamente. Não houve na Copa, por exemplo, um jogo - mesmo entre os que nada valiam ou tinham larga vantagem no placar - com um segundo tempo sem acréscimo ou com apenas um minuto.

À medida que o tempo de acréscimo aumenta, as chances de bola na rede também crescem. A primeira fase do Mundial teve o mesmo número de gols marcados nos acréscimos (12) que o Brasileirão-2014, apesar de ter quase metade das partidas (48 contra 90). Ou seja, um a cada quatro jogos na Copa teve gol nos acréscimos - enquanto no nacional a média é de um a cada 7,5 jogos.



O presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, reconhece que existe um padrão de acréscimos no futebol nacional, independentemente do que aconteça em campo. E diz que tentará mudar esse quadro quando o Brasileirão for retomado, a partir da décima rodada, em 16 de julho.

- Os árbitros brasileiros são orientados a dar o acréscimo necessário para a recuperação do tempo devido na partida. A gente tem observado uma padronização no tempo dos acréscimos: um a dois minutos no primeiro tempo e três a quatro minutos na segunda etapa. O árbitro não tem que copiar, inventar ou padronizar, mas, sim, recuperar o tempo que efetivamente foi perdido em cada partida. Os árbitros estão assistindo aos jogos da Copa e já foram orientados a evitar esta padronização, mas muitos ainda não estão cumprindo esta determinação. Vamos ver se após a Copa a gente consegue atingir este objetivo - comentou Sérgio Corrêa.

Uma circular foi emitida em fevereiro deste ano pela Comissão de Arbitragem com o objetivo de reforçar junto aos árbitros as principais orientações técnicas, disciplinares e administrativas do Livro de Regras. Uma delas trata exatamente do tempo de reposição, citando a padronização de um minuto para o primeiro tempo e três para o segundo.

Circular da CBF pede para que árbitros não padronizem tempo de acréscimo

Outra estatística interessante da Copa é que apenas uma partida da fase de grupos (ou seja, 2% do total) não teve tempo de acréscimo na etapa inicial. Aconteceu em Costa Rica 0 x 0 Inglaterra. No Brasileiro, foram 14 partidas - 15% do total. Em alguns casos, mesmo a segunda etapa fica sem tempo de reposição.
Segundo o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, todos os árbitros conhecem a regra, mas ela não é aplicada ao pé da letra como deveria por causa das diferenças no processo de instrução das federações estaduais.

- É difícil mudar uma cultura, mas estamos avançando. Temos 27 estados e apenas 17 escolas de arbitragem. Foram várias décadas sem que os árbitros recebessem um treinamento, um aperfeiçoamento de forma regular. O que tinha antigamente era uma espécie de teleconferência anual, realizada na sede da Embratel, em que os árbitros de todo o país ficavam sabendo das inovações das regras e recebiam todas as orientações em cerca de duas horas. Para modificar este cenário, nos últimos seis anos investimos pesado na formação de instrutores e na capacitação dos árbitros, incluindo os aspectos físico e mental. Foram necessários vários anos para chegarmos a uma aproximação de critérios em todo o território nacional para num futuro breve chegarmos a uma uniformidade da arbitragem em todo o pais.

Dos 12 gols marcados nos acréscimos da Copa, três foram após o fim do tempo regulamentar da etapa inicial. E foram nove nos acréscimos da segunda etapa, alguns deles decisivos - como o de Seferovic (aos 47) na vitória da Suíça sobre o Equador; o do Messi (aos 46) na vitória da Argentina sobre o Irã; o de Samaras (aos 47), que garantiu a classificação da Grécia diante de Costa do Marfim; e o de Varela (aos 50), dando uma sobrevida para Portugal contra os Estados Unidos. Messi também fez nos acréscimos contra a Nigéria, só que na primeira etapa. Outro que marcou duas vezes nos acréscimos foi o colombiano James Rodriguez (contra Grécia e Japão).

No Brasileiro, dos 12 gols feitos após os 45 minutos regulamentares, quatro foram no primeiro tempo e oito no segundo.

Sergio Corrêa não acredita que os árbitros evitem dar minutos a mais temendo reações de jogadores ou torcedores caso saia um gol. O que ele nota é uma certa influência dos mais experientes sobre os mais jovens.

- Não interfere em nada. O que a gente percebe é que os árbitros mais novos tentam acompanhar os mais experientes, criando um acréscimo padrão, que não faz parte da nossa orientação.

A partida que teve o maior tempo de acréscimo na primeira etapa durante a fase de grupos da Copa foi Gana 1 x 2 Estados Unidos (4m54). E o confronto com mais minutos acrescidos na segunda etapa foi Espanha 0 x 2 Chile (6m03).

No Brasileiro, o jogo que teve o acréscimo de maior duração na etapa inicial foi Sport 1 x 4 Corinthians, com 4m09. No segundo tempo, a partida com mais tempo de acréscimo foi Palmeiras 0 x 2 Botafogo, com 5m03.

Sérgio Corrêa reconhece que ainda existem distorções na instrução dos árbitros brasileiros (Foto: André Durão )



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