O Gre-Nal 403 começou muito antes de os jogadores pisarem o gramado da Arena, no domingo. Ao menos para Fellipe Bastos. Para se tornar um dos personagens do 4 a 1 ao anular o carrasco D'Alessandro, o volante de 24 anos voltou no tempo. Revisitou a infância de peladas em campos comunitários no bairro da Penha, no Rio de Janeiro, nas quais precisava abusar da malandragem para superar os rivais mais velhos e "marrentos".
- O D'Ale é argentino, catimbeiro, mas, amigo, eu sou carioca - sorri Bastos. - Eu ia fazer de tudo para pará-lo, para não deixá-lo jogar e deixá-lo mais irritado. E isso acabou acontecendo. Sacrifiquei o meu futebol e fui recompensado.
A tática deu tão certo que o Gre-Nal 403 ainda não terminou para Fellipe Bastos. A ponto de o próprio jogador pedir, em tom de brincadeira, à esposa Rafaela que o mandasse ir a qualquer lugar, à padaria, ao mercado, ao shopping… só para sentir a repercussão positiva de uma atuação para entrar na história.
- Vou levar essa semana para o resto da minha vida - resume, orgulhoso.
Reserva em duas partidas consecutivas próximas ao Gre-Nal (Figueirense e Coritiba), Fellipe Bastos encontrou no clássico que findou dois anos de jejum azul a confirmação também de sua redenção pessoal. O volante colou em D'Alessandro, não deixou o dono de oito gols sobre o Grêmio desfilar sua técnica apurada e ainda por cima o enervou ao extremo. Três dias depois, completamente relaxado da tensão de perseguir o gringo colorado, Bastos recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em seu apartamento em Porto Alegre.
O Felipão parabenizou a gente (ele e Walace) ontem (terça) pelo jogo que fizemos. Às vezes, a gente não aparece muito, mas fico muito feliz de poder ajudar com marcação, vibração, garra. O Gre-Nal foi um título à parte para gente.
Fellipe Bastos
Um apartamento com cara de arquibancada. Porque por ali passaram durante a semana que antecedeu o Gre-Nal mais de dez amigos e familiares, que deixaram o Rio especialmente para torcer pelo companheiro ilustre na Arena. A turma dispensou as cadeiras cativas e encarou o barulho da geral, setor popular e com os ingressos mais baratos do estádio. A mobilização valeu a pena. Na quarta-feira chuvosa na capital gaúcha, ainda havia alguns, entre eles o irmão Danilo.
Na conversa de 30 minutos, entrecortada por carinhosas intervenções dos filhos Matheus e Giovanna, Fellipe Bastos contou detalhes da preparação rumo ao Gre-Nal. Um mérito não só dele, repassado também ao grupo e, sobretudo, a Felipão, que convidou todos os jogadores para opinarem sobre a melhor forma de atuar contra o Inter. No treino de terça, na reapresentação, foi a vez de Scolari retribuir o esforço e agradecer, em conversa reservada, a atuação de Bastos.
- O Felipão parabenizou a gente ontem (terça), o Ivo (Wortmann) e o Murtosa também, pelo jogo que a gente fez (com Walace). Às vezes, a gente não aparece muito para o público, mas fomos importante para a estrutura da equipe. Fico muito feliz de poder ajudar com marcação, vibração, garra. O Gre-Nal foi um título à parte para gente. Mas de nada valerá se não conseguirmos a vaga à Libertadores - lembrou, sempre focado, de olho no duelo de sábado, contra o Criciúma
GloboEsporte.com - Como foi a sua preparação para o Gre-Nal?
Fellipe Bastos - Eu me preparei muito, e o Felipão me pediu muito também para eu deixar o Zé Roberto mais livre para jogar, que tem a fonte da juventude, nem parece que tem 40 anos (risos). Eu tinha que ficar na marcação do D'Alessandro, que é um cara diferenciado, cerebral, que pensa o jogo do Inter. Eu sabia que eu seria fundamental para o Grêmio, se quiséssemos sair com a vitória. Abri mão do meu jogo para neutralizar esse ponto forte. Me sacrifiquei, mas fiz bem. Junto com o Walace, claro, que vem muito bem.
Você citou o Felipão, que havia dito antes que o Gre-Nal não tinha mais importância que os demais jogos. Conversa para imprensa, certo?
Nunca é uma semana diferente antes de um clássico. O Gre-Nal é um dos clássicos mais importantes que se tem no mundo. A gente poderia passar eles um ponto, valia mais do que três pontos, era a confiança do torcedor, a confiança da diretoria, daria um “up” a mais. Eu me preparei muito, foi uma semana agitada. Meus amigos de infância chegaram. Eles sempre me trouxeram sorte e falava a eles: tomara que eles me deem sorte de novo. Tenho meu ritual antes do jogo, oro sozinho com Deus. Nunca peço vitória, peço força para lutar. E ele me deu essa força para o jogo. Essa concentração, esse foco, mostrar para mim mesmo que eu posso jogar bem, tendo foco e determinação. Vou levar essa semana para o resto da minha vida. Espero repetir ela várias vezes.
Ainda sobre Felipão, o que ele pediu para você exatamente?
Eu estreei num Gre-Nal junto com ele (derrota por 2 a 0 em 10 de agosto). O Felipão me passou muita confiança, disse que a maneira de eu ajudar a equipe era parando o D'Alessandro. Que a nossa equipe só ia andar se a gente fizesse isso bem, eu e o Walace. Ele nos deu muita confiança. A gente cumpriu bem esse papel. O Felipão parabenizou ontem, o Ivo e o Murtosa também, pelo jogo que a gente fez. Às vezes, a gente não aparece muito para o público, mas fomos importante para a estrutura da equipe. Fico muito feliz de poder ajudar com marcação, vibração, garra. Deixa com Luan, Dudu e Barcos para fazer os gols.
Ele também fez uma reunião no sábado, no hotel. Como foi?
O Felipe sempre passa um vídeo antes dos jogos. Mas, desta vez, foi diferente. A gente escuta, analisa, mas, desta vez, os jogadores participaram diretamente da palestra, ele pediu a nossa opinião. Um cara que já ganhou tudo no futebol e ainda pede a nossa opinião, é aberto, impressionante a sua humildade. Por isso é o cara que sempre a muda a cara de um time, é isso o que ele fez no Grêmio. A gente vinha ganhando, mas ainda não havia jogado bem. Mostramos que o grupo realmente estava querendo essa mudança. Foi mais de uma hora e meia de conversa. A gente tentou retribuir, até por ser aniversário dele no dia de jogo. Todo mundo conseguiu desempenhar tudo aquilo que o Felipão pediu e conversou.
Ele me obstruiu e eu falei para ele: "acabou para você". Eu estava respeitando ele até ali. Depois dali, de adversário, passou a ser inimigo
Fellipe Bastos
O torcedor também lembrará para sempre dessa goleada histórica. E, sobretudo, do jogador que parou o maior carrasco recente, D'Alessandro. Como foi o jogo com ele?
A gente sabe que o D'Alessandro, além de ser um grande jogador, é um cara que apita o jogo, que gosta de falar com o árbitro. Eu também gosto disso, até tenho que melhorar isso, às vezes falo demais. Os próprios colegas me chamam de “chato” porque eu falo demais. Mas, dentro da Arena, quem manda é o Grêmio. Nem D’Alessandro e nenhum jogador vai mandar no jogo. Foi isso que eu botei na minha cabeça. Que eu ia marcar ele de forma leal, sem causar briga nem confusão. Mas, querendo ou não, ele não ia pressionar o árbitro porque, na Arena, quem manda é a gente. Não trago essa vitória só para mim. Foi um Gre-Nal de todos.
Quando você viu que havia tomado conta do duelo particular com D'Ale?
Logo na primeira jogada, eu dou um carrinho, ele dá um carrinho atrás de mim, e eu grito para ele ser leal comigo. Logo depois, ele me obstrui e eu falo para ele: “acabou para você”. Eu estava respeitando ele até ali. Depois dali, de adversário, passou a ser inimigo em campo. Eu ia fazer de tudo para pará-lo, para não deixá-lo jogar e deixá-lo mais irritado. E isso acabou acontecendo. Claro, que tudo isso fica só dentro de campo. A gente sabia das qualidades dele, que ele era o cerebral do time, que coloca o atacante na cara do gol. Ele comanda a sua equipe. A gente também sabia que o Alex, o Aránguiz, o Alan Patrick, todos poderiam desequilibrar. O forte era o meio-campo, e a gente sabia que tinha que neutralizar esse setor. Tiramos o que eles tinham de melhor. Até no momento da confusão que teve (após o quarto gol do Grêmio), o grupo mostra que está forte e unido. O torcedor estava machucado, é bom para recuperar a confiança em clássicos e é bom também para colocar a gente no G-4. Esse ano foi complicado, sem títulos, ter condição de classificar para a Libertadores é um alento para os torcedores.
O que mais foi importante para parar D'Alessandro? Porque muitos já tentaram e não haviam conseguido. Qual o segredo, afinal?
Nascido e criado na Penha, até brinquei com meus amigos. O D'Alessandro é argentino, é catimbeiro, e eu sou carioca. O carioca tem aquele jeito mais malandro, mais tranquilo de se viver, de querer ser mais esperto que o outro. No futebol, não é diferente. A gente tinha que ter mais esperteza - a Penha me deu alegrias, mas tinha que estar esperto, é um local meio violento, até no futebol. Eu era um dos caras mais novos, que jogava contra eles, dava caneta, lençol, fazia graças, sempre fui um pouquinho mais esperto do que eles. Eles ficam chateados, e eu levo isso para dentro do jogo. O futebol brasileiro tem muito disso, o futebol moleque, se aprende na rua, em quadras da comunidade, como eu jogava. Levei a minha alegria, a minha malandragem, coisas que aprendi lá atrás. Lá na Penha. Carrego para sempre as minhas origens, e eu ia precisar disso porque ia enfrentar um cara muito esperto
E a repercussão? Está conseguindo curtir o momento?
Eu saí na rua no outro dia. Brinquei com a minha esposa: hoje você pode pedir qualquer coisa, a qualquer hora. Fui na padaria, fui no mercado… é importante ter esse contato com o torcedor, há muito não se ganhava um clássico. E a gente ganhou. Foi um título à parte, porque o Gre-Nal é um campeonato à parte. Mas não vai valer de nada ganhar o Gre-Nal e não ir para a Libertadores. Temos que dar esse presente de final de ano ao torcedor.
Na semana do Gre-Nal, você fez oito gols de falta num treino. Você ainda procura o primeiro gol pelo Tricolor. Isso o incomoda?
Estou procurando muito, treinando muito essa batida de falta. É uma característica minha, que aqui no Grêmio não está funcionando. Sei que eu vou ajudar o Grêmio em algum momento porque é uma qualidade que eu tenho.
Você foi titular contra o Vitória, no jogo que antecedeu o clássico. Mas, antes dele, ficou duas partidas na reserva. Como você lidou com isso?
O grupo do Grêmio é muito forte, há muitos na minha posição. Naqueles dois jogos, o Felipão optou por eles. Eu respeitei. Eu continuei trabalhando forte, aperfeiçoando aquilo que ele vinha me pedindo. Naturalmente, voltei a jogar, contra o Vitória. Na última semana, o Felipão conversou bastante comigo, o Ivo também, que jogou na minha posição. Não vejo a reserva como demérito, é uma forma de olhar de fora aquilo que eu tenho que fazer para voltar melhor. O Felipão sabe como cobrar, e a gente entrou nesse espírito, de colocar de novo o Grêmio nas cabeças, tornar o clube de novo protagonista.
E o futuro, tem chances de ficar?
Tenho empréstimo até metade de 2015 e, no fim do ano, a gente vai sentar e resolver. Quero ficar. Mas respeito muito o Vasco, que me abriu as portas ao futebol brasileiro, sou muito grato. Estou muito feliz no Grêmio, quero muito ficar aqui. O meu irmão e meus amigos até já me cobraram o título da Libertadores. Tomara que eu fique para conseguir, que pressão (risos).
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- Gurias gremistas se preparam para clássico decisivo no Gauchão Feminino
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A tática deu tão certo que o Gre-Nal 403 ainda não terminou para Fellipe Bastos. A ponto de o próprio jogador pedir, em tom de brincadeira, à esposa Rafaela que o mandasse ir a qualquer lugar, à padaria, ao mercado, ao shopping… só para sentir a repercussão positiva de uma atuação para entrar na história.
- Vou levar essa semana para o resto da minha vida - resume, orgulhoso.
Reserva em duas partidas consecutivas próximas ao Gre-Nal (Figueirense e Coritiba), Fellipe Bastos encontrou no clássico que findou dois anos de jejum azul a confirmação também de sua redenção pessoal. O volante colou em D'Alessandro, não deixou o dono de oito gols sobre o Grêmio desfilar sua técnica apurada e ainda por cima o enervou ao extremo. Três dias depois, completamente relaxado da tensão de perseguir o gringo colorado, Bastos recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em seu apartamento em Porto Alegre.
O Felipão parabenizou a gente (ele e Walace) ontem (terça) pelo jogo que fizemos. Às vezes, a gente não aparece muito, mas fico muito feliz de poder ajudar com marcação, vibração, garra. O Gre-Nal foi um título à parte para gente.
Fellipe Bastos
Um apartamento com cara de arquibancada. Porque por ali passaram durante a semana que antecedeu o Gre-Nal mais de dez amigos e familiares, que deixaram o Rio especialmente para torcer pelo companheiro ilustre na Arena. A turma dispensou as cadeiras cativas e encarou o barulho da geral, setor popular e com os ingressos mais baratos do estádio. A mobilização valeu a pena. Na quarta-feira chuvosa na capital gaúcha, ainda havia alguns, entre eles o irmão Danilo.
Na conversa de 30 minutos, entrecortada por carinhosas intervenções dos filhos Matheus e Giovanna, Fellipe Bastos contou detalhes da preparação rumo ao Gre-Nal. Um mérito não só dele, repassado também ao grupo e, sobretudo, a Felipão, que convidou todos os jogadores para opinarem sobre a melhor forma de atuar contra o Inter. No treino de terça, na reapresentação, foi a vez de Scolari retribuir o esforço e agradecer, em conversa reservada, a atuação de Bastos.
- O Felipão parabenizou a gente ontem (terça), o Ivo (Wortmann) e o Murtosa também, pelo jogo que a gente fez (com Walace). Às vezes, a gente não aparece muito para o público, mas fomos importante para a estrutura da equipe. Fico muito feliz de poder ajudar com marcação, vibração, garra. O Gre-Nal foi um título à parte para gente. Mas de nada valerá se não conseguirmos a vaga à Libertadores - lembrou, sempre focado, de olho no duelo de sábado, contra o Criciúma
GloboEsporte.com - Como foi a sua preparação para o Gre-Nal?
Fellipe Bastos - Eu me preparei muito, e o Felipão me pediu muito também para eu deixar o Zé Roberto mais livre para jogar, que tem a fonte da juventude, nem parece que tem 40 anos (risos). Eu tinha que ficar na marcação do D'Alessandro, que é um cara diferenciado, cerebral, que pensa o jogo do Inter. Eu sabia que eu seria fundamental para o Grêmio, se quiséssemos sair com a vitória. Abri mão do meu jogo para neutralizar esse ponto forte. Me sacrifiquei, mas fiz bem. Junto com o Walace, claro, que vem muito bem.
Você citou o Felipão, que havia dito antes que o Gre-Nal não tinha mais importância que os demais jogos. Conversa para imprensa, certo?
Nunca é uma semana diferente antes de um clássico. O Gre-Nal é um dos clássicos mais importantes que se tem no mundo. A gente poderia passar eles um ponto, valia mais do que três pontos, era a confiança do torcedor, a confiança da diretoria, daria um “up” a mais. Eu me preparei muito, foi uma semana agitada. Meus amigos de infância chegaram. Eles sempre me trouxeram sorte e falava a eles: tomara que eles me deem sorte de novo. Tenho meu ritual antes do jogo, oro sozinho com Deus. Nunca peço vitória, peço força para lutar. E ele me deu essa força para o jogo. Essa concentração, esse foco, mostrar para mim mesmo que eu posso jogar bem, tendo foco e determinação. Vou levar essa semana para o resto da minha vida. Espero repetir ela várias vezes.
Ainda sobre Felipão, o que ele pediu para você exatamente?
Eu estreei num Gre-Nal junto com ele (derrota por 2 a 0 em 10 de agosto). O Felipão me passou muita confiança, disse que a maneira de eu ajudar a equipe era parando o D'Alessandro. Que a nossa equipe só ia andar se a gente fizesse isso bem, eu e o Walace. Ele nos deu muita confiança. A gente cumpriu bem esse papel. O Felipão parabenizou ontem, o Ivo e o Murtosa também, pelo jogo que a gente fez. Às vezes, a gente não aparece muito para o público, mas fomos importante para a estrutura da equipe. Fico muito feliz de poder ajudar com marcação, vibração, garra. Deixa com Luan, Dudu e Barcos para fazer os gols.
Ele também fez uma reunião no sábado, no hotel. Como foi?
O Felipe sempre passa um vídeo antes dos jogos. Mas, desta vez, foi diferente. A gente escuta, analisa, mas, desta vez, os jogadores participaram diretamente da palestra, ele pediu a nossa opinião. Um cara que já ganhou tudo no futebol e ainda pede a nossa opinião, é aberto, impressionante a sua humildade. Por isso é o cara que sempre a muda a cara de um time, é isso o que ele fez no Grêmio. A gente vinha ganhando, mas ainda não havia jogado bem. Mostramos que o grupo realmente estava querendo essa mudança. Foi mais de uma hora e meia de conversa. A gente tentou retribuir, até por ser aniversário dele no dia de jogo. Todo mundo conseguiu desempenhar tudo aquilo que o Felipão pediu e conversou.
Ele me obstruiu e eu falei para ele: "acabou para você". Eu estava respeitando ele até ali. Depois dali, de adversário, passou a ser inimigo
Fellipe Bastos
O torcedor também lembrará para sempre dessa goleada histórica. E, sobretudo, do jogador que parou o maior carrasco recente, D'Alessandro. Como foi o jogo com ele?
A gente sabe que o D'Alessandro, além de ser um grande jogador, é um cara que apita o jogo, que gosta de falar com o árbitro. Eu também gosto disso, até tenho que melhorar isso, às vezes falo demais. Os próprios colegas me chamam de “chato” porque eu falo demais. Mas, dentro da Arena, quem manda é o Grêmio. Nem D’Alessandro e nenhum jogador vai mandar no jogo. Foi isso que eu botei na minha cabeça. Que eu ia marcar ele de forma leal, sem causar briga nem confusão. Mas, querendo ou não, ele não ia pressionar o árbitro porque, na Arena, quem manda é a gente. Não trago essa vitória só para mim. Foi um Gre-Nal de todos.
Quando você viu que havia tomado conta do duelo particular com D'Ale?
Logo na primeira jogada, eu dou um carrinho, ele dá um carrinho atrás de mim, e eu grito para ele ser leal comigo. Logo depois, ele me obstrui e eu falo para ele: “acabou para você”. Eu estava respeitando ele até ali. Depois dali, de adversário, passou a ser inimigo em campo. Eu ia fazer de tudo para pará-lo, para não deixá-lo jogar e deixá-lo mais irritado. E isso acabou acontecendo. Claro, que tudo isso fica só dentro de campo. A gente sabia das qualidades dele, que ele era o cerebral do time, que coloca o atacante na cara do gol. Ele comanda a sua equipe. A gente também sabia que o Alex, o Aránguiz, o Alan Patrick, todos poderiam desequilibrar. O forte era o meio-campo, e a gente sabia que tinha que neutralizar esse setor. Tiramos o que eles tinham de melhor. Até no momento da confusão que teve (após o quarto gol do Grêmio), o grupo mostra que está forte e unido. O torcedor estava machucado, é bom para recuperar a confiança em clássicos e é bom também para colocar a gente no G-4. Esse ano foi complicado, sem títulos, ter condição de classificar para a Libertadores é um alento para os torcedores.
O que mais foi importante para parar D'Alessandro? Porque muitos já tentaram e não haviam conseguido. Qual o segredo, afinal?
Nascido e criado na Penha, até brinquei com meus amigos. O D'Alessandro é argentino, é catimbeiro, e eu sou carioca. O carioca tem aquele jeito mais malandro, mais tranquilo de se viver, de querer ser mais esperto que o outro. No futebol, não é diferente. A gente tinha que ter mais esperteza - a Penha me deu alegrias, mas tinha que estar esperto, é um local meio violento, até no futebol. Eu era um dos caras mais novos, que jogava contra eles, dava caneta, lençol, fazia graças, sempre fui um pouquinho mais esperto do que eles. Eles ficam chateados, e eu levo isso para dentro do jogo. O futebol brasileiro tem muito disso, o futebol moleque, se aprende na rua, em quadras da comunidade, como eu jogava. Levei a minha alegria, a minha malandragem, coisas que aprendi lá atrás. Lá na Penha. Carrego para sempre as minhas origens, e eu ia precisar disso porque ia enfrentar um cara muito esperto
E a repercussão? Está conseguindo curtir o momento?
Eu saí na rua no outro dia. Brinquei com a minha esposa: hoje você pode pedir qualquer coisa, a qualquer hora. Fui na padaria, fui no mercado… é importante ter esse contato com o torcedor, há muito não se ganhava um clássico. E a gente ganhou. Foi um título à parte, porque o Gre-Nal é um campeonato à parte. Mas não vai valer de nada ganhar o Gre-Nal e não ir para a Libertadores. Temos que dar esse presente de final de ano ao torcedor.
Na semana do Gre-Nal, você fez oito gols de falta num treino. Você ainda procura o primeiro gol pelo Tricolor. Isso o incomoda?
Estou procurando muito, treinando muito essa batida de falta. É uma característica minha, que aqui no Grêmio não está funcionando. Sei que eu vou ajudar o Grêmio em algum momento porque é uma qualidade que eu tenho.
Você foi titular contra o Vitória, no jogo que antecedeu o clássico. Mas, antes dele, ficou duas partidas na reserva. Como você lidou com isso?
O grupo do Grêmio é muito forte, há muitos na minha posição. Naqueles dois jogos, o Felipão optou por eles. Eu respeitei. Eu continuei trabalhando forte, aperfeiçoando aquilo que ele vinha me pedindo. Naturalmente, voltei a jogar, contra o Vitória. Na última semana, o Felipão conversou bastante comigo, o Ivo também, que jogou na minha posição. Não vejo a reserva como demérito, é uma forma de olhar de fora aquilo que eu tenho que fazer para voltar melhor. O Felipão sabe como cobrar, e a gente entrou nesse espírito, de colocar de novo o Grêmio nas cabeças, tornar o clube de novo protagonista.
E o futuro, tem chances de ficar?
Tenho empréstimo até metade de 2015 e, no fim do ano, a gente vai sentar e resolver. Quero ficar. Mas respeito muito o Vasco, que me abriu as portas ao futebol brasileiro, sou muito grato. Estou muito feliz no Grêmio, quero muito ficar aqui. O meu irmão e meus amigos até já me cobraram o título da Libertadores. Tomara que eu fique para conseguir, que pressão (risos).
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