Grêmio Marcelo Grohe (Foto: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com)
Ao lado do capitão Maicon e do zagueiro Gabriel, Marcelo Grohe ergue a taça do Penta da Copa do Brasil e solta um grito visceral, de quem é gremista de berço, para comemorar o fim de jejum de 15 anos sem títulos que vivenciou desde pequeno no clube. Ali, vive o ápice após um ano tortuoso, em que chegou a cogitar deixar o Tricolor, num lapso suplantado por seu próprio protagonismo. Antes de celebrar a glória, que dá início a uma nova era na Arena, o camisa 1 teve de suplantar o erro pessoal como herói, ainda nas oitavas de final da competição.
Tudo se materializou num desabafo, abraçado no preparador de goleiros Rogério Godoy, o Rogerião. Após vencer o Atlético-PR por 1 a 0 na Arena da Baixada, o Tricolor decidiu a vaga nas quartas de final nos pênaltis, após uma falha de Marcelo Grohe. E a disputa nas penalidades foi acirrada. Só teve fim após 16 cobranças, num 4 a 3 favorável ao Tricolor. E graças ao camisa 1, que voou para fechar a meta em duas delas, contra Weverton e Otávio.
Com a autonomia e a experiência de um campeão que respira o ambiente do clube há 16 anos, em entrevista ao GloboEsporte.com e RBS TV, o camisa 1 disse ter sentido um novo espírito na Arena com a taça, capaz de forjar uma nova era de – ele espera – glórias para os gremistas. Também revelou uma provocação, em tom de brincadeira, de Renato Gaúcho para os atletas.
Em que momento você parou e pensou: "não tem mais volta. Seremos campeões"?
A gente estava muito confiante. O nosso grupo foi se fortalecendo. Eu acredito que as oitavas e as quartas de final amadureceram muito nosso grupo. Tivemos uma semifinal com o Cruzeiro em que fizemos um belíssimo jogo em BH e administramos em Porto Alegre. A final foi a mesma situação. A gente estava muito confiante no título, pela vantagem. No jogo, eu confesso que foi só depois dos 40 do segundo tempo. Quando bateu a casa dos 40, e a gente logo fez o gol. Ali, comecei a ter a certeza de que a gente seria campeão.
Logo depois do gol, teve o golaço do Cazares. Como foi aquele lance?
Eu já estava comemorando. Fui bater a falta. Joguei a bola para frente e voltei bem tranquilo. Só que eu estava muito adiantado quando vi que ele enquadrou o corpo para fazer o chute. Se estivesse atrás, não tomaria o gol. Numa situação normal não estaria ali. Foi um belíssimo gol, mas também sem importância. Já estava garantido o título para nós.
Grohe comemora o penta com os companheiros (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Na entrevista ainda em campo, você destacou o grito de "o campeão voltou".
A gente estava na comemoração. Fomos receber as medalhas e começamos a escutar. Me chamou atenção. Realmente: o campeão voltou. Eu disse que o Grêmio nunca deixou de ser grande. Apesar de ficar um tempo sem títulos. É um clube grande, com uma história maravilhosa. O clube merecia essa conquista para retomar o caminho de glórias, que já passou por muitas. E foi muito legal ver a torcida cantar que o campeão voltou.
E o papel do Renato nessa conquista?
Eu acho que o primeiro ponto, o mais determinante, foi a confiança. Tivemos eliminações, depois oscilamos no Brasileiro. Naquele momento, foi um baque para a gente. Ficamos sem rumo. Vínhamos de uma sequência em que apanhamos. Ficamos seis, sete jogos sem ganhar. E o Renato vem, começou a dar confiança para a galera. Abraçou o grupo, e a gente entendeu o recado. Abraçamos ele também. O nosso time ainda tem muitas coisas do trabalho do Roger. É notório. Alguns pontos ele melhorou.
Você pode citar algum momento específico?
Ele é um cara que transmite muita confiança. Foi um cara como jogador extremamente vitorioso, como técnico também já ganhou. E ele passa isso de uma forma descontraída. Ele brincava que na casa dele não entra pintor, porque está cheio de quadros de campeão. Ele passava: "na casa de vocês não pode entrar pintor". "Eu vou ensinar vocês a dar volta olímpica". Essas coisas que ele tem. Demos muita risada. A gente sabia que falava numa brincadeira, mas era do coração.
Você já está providenciando o quadro, ou um memorial da conquista?
(Risos) Já guardei camisa, chuteira, tudo do jogo. Certamente vou preparar algo legal depois em casa. Naquela parte não (vou precisar de pintor). Mas precisa ganhar mais para chegar que nem o Renato e falar para o pintor que não precisa aparecer.
A final é o ápice, mas seu momento foi a disputa de pênaltis contra o Atlético-PR?
Foi um momento muito dramático para mim. A emoção toda. Acho que foi um momento de desabafar, de jogar para fora o que estava sentindo. A partir dali, certamente que renovou, as coisas começaram a fluir novamente. Eu lembro que o Renato me chamou na decisão. Ele me disse que o futebol tinha dessas coisas. E que o vilão poderia se tornar o herói numa mesma partida. Disse que confiava em mim, que era para eu ser o herói. O Rogerião (Rogério Godoy, preparador de goleiros) é um cara que rabalha no dia a dia, com um fortalecendo o outro. A gente se abraçou e tudo o que a gente trabalhou durante esses anos... É o primeiro título da Arena. Ninguém vai apagar da gente. Vamos ficar para a história.
Naquele momento, entre algumas críticas, você chegou a pensar que tinha chegado ao fim seu ciclo no Grêmio?
Foi um jogo muito difícil, por causa do gol. Eu tinha que estar concentrado, mas somos seres humanos. Começa a pensar algumas coisas, mas não era o momento de sair. Deus tinha algo melhor na frente. E foi muito marcante. Foi um marco. Uma virada profissionalmente para mim, para o elenco. Ali, desabafei. As coisas deram certo e, no dia seguinte, estava lá trabalhando de novo, em busca do sonho.
O que você estava fazendo em 2001, no último título de relevância nacional (Tetra da Copa do Brasil)?
Eu estava no Grêmio, era o meu segundo ano. Lembro que foram dois jogos no domingo. Eu estava em casa assistindo. Jamais poderia imaginar que na próxima conquista eu estaria. São coisas do futebol.
Você também esteve na Batalha dos Aflitos, outro momento emblemático da história do clube. Consegue traçar um paralelo entre as duas conquistas?
A Batalha foi um momento de muita dificuldade pela situação do clube. Eu vejo que é muito diferente de hoje. Era bem mais difícil de subir. Um time como o Grêmio não subir... Toda a situação que a gente enfrentou lá todo mundo já sabe. Foi um momento marcante, assim como foi a Copa do Brasil. Todo esse tempo, essa angústia que o torcedor estava de não gritar "é campeão", de sair da fila e poder voltar a ganhar um titulo de expressão nacional. São dois momentos marcantes para mim. Agradeço por poder fazer parte desse momento.
Voltando a 2016, como foi sua comemoração? Deu para tomar uma cervejinha com o pessoal?
Não bebo. Só na água. Mas eu demorei um pouco para chegar ao vestiário. Os caras estavam no pagode, comemorando bastante. Os familiares entraram, tiramos fotos com a taça. O vestiário encheu de gente. Foi algo inesquecível.
Ficou muito nítido, entre os jornalistas, que a Arena pulsou de um jeito diferente. Vocês sentiram isso?
Sem dúvidas. Foi um espetáculo maravilhoso, recorde de público, torcida cantando, nos apoiando. A partir da conquista, ela vai crescer ainda mais com a gente para os jogos. Estava faltando para a Arena um título, teve a mudança do Olímpico. É um estádio extremamente vitorioso. Não tinha ainda ganho um título. Agora, ganhou. Começa a ter sua trajetória. As coisas, a partir de agora, ficam mais leves. Tem tudo para a Arena se tornar um ambiente cada vez melhor para que a gente possa conquistar mais títulos.
Você tem noção de que vai fazer parte do Memorial do Grêmio?
Demora para cair a ficha. Eu estou muito contente. Independente do que vai acontecer daqui para frente, é maravilhoso. Qualquer jogador quer estar no museu do clube. Eu queria muito ganhar esse título para poder dar o presente para o torcedor, que tanto sofreu durante esses anos. Todos nós batalhamos, sofremos. Esses momentos de dificuldade nos fortaleceram. Vamos ver o que vai acontecer. Estou muito realizado. Agora, o que vier é lucro. Eu não quero parar por aqui. Quero conquistar mais.
Como vocês encaram essa nova Era?
Acredito muito que é uma virada para o clube, se abrem as portas para as conquistas, justamente por esses fatores. Não quer dizer que não vai haver comprometimento, vamos continuar com foco. A torcida também se renova. O sentimento, essa paixão, vai nos fortalecer.
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Com a autonomia e a experiência de um campeão que respira o ambiente do clube há 16 anos, em entrevista ao GloboEsporte.com e RBS TV, o camisa 1 disse ter sentido um novo espírito na Arena com a taça, capaz de forjar uma nova era de – ele espera – glórias para os gremistas. Também revelou uma provocação, em tom de brincadeira, de Renato Gaúcho para os atletas.
Em que momento você parou e pensou: "não tem mais volta. Seremos campeões"?
A gente estava muito confiante. O nosso grupo foi se fortalecendo. Eu acredito que as oitavas e as quartas de final amadureceram muito nosso grupo. Tivemos uma semifinal com o Cruzeiro em que fizemos um belíssimo jogo em BH e administramos em Porto Alegre. A final foi a mesma situação. A gente estava muito confiante no título, pela vantagem. No jogo, eu confesso que foi só depois dos 40 do segundo tempo. Quando bateu a casa dos 40, e a gente logo fez o gol. Ali, comecei a ter a certeza de que a gente seria campeão.
Logo depois do gol, teve o golaço do Cazares. Como foi aquele lance?
Eu já estava comemorando. Fui bater a falta. Joguei a bola para frente e voltei bem tranquilo. Só que eu estava muito adiantado quando vi que ele enquadrou o corpo para fazer o chute. Se estivesse atrás, não tomaria o gol. Numa situação normal não estaria ali. Foi um belíssimo gol, mas também sem importância. Já estava garantido o título para nós.
Grohe comemora o penta com os companheiros (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Na entrevista ainda em campo, você destacou o grito de "o campeão voltou".
A gente estava na comemoração. Fomos receber as medalhas e começamos a escutar. Me chamou atenção. Realmente: o campeão voltou. Eu disse que o Grêmio nunca deixou de ser grande. Apesar de ficar um tempo sem títulos. É um clube grande, com uma história maravilhosa. O clube merecia essa conquista para retomar o caminho de glórias, que já passou por muitas. E foi muito legal ver a torcida cantar que o campeão voltou.
E o papel do Renato nessa conquista?
Eu acho que o primeiro ponto, o mais determinante, foi a confiança. Tivemos eliminações, depois oscilamos no Brasileiro. Naquele momento, foi um baque para a gente. Ficamos sem rumo. Vínhamos de uma sequência em que apanhamos. Ficamos seis, sete jogos sem ganhar. E o Renato vem, começou a dar confiança para a galera. Abraçou o grupo, e a gente entendeu o recado. Abraçamos ele também. O nosso time ainda tem muitas coisas do trabalho do Roger. É notório. Alguns pontos ele melhorou.
Você pode citar algum momento específico?
Ele é um cara que transmite muita confiança. Foi um cara como jogador extremamente vitorioso, como técnico também já ganhou. E ele passa isso de uma forma descontraída. Ele brincava que na casa dele não entra pintor, porque está cheio de quadros de campeão. Ele passava: "na casa de vocês não pode entrar pintor". "Eu vou ensinar vocês a dar volta olímpica". Essas coisas que ele tem. Demos muita risada. A gente sabia que falava numa brincadeira, mas era do coração.
Você já está providenciando o quadro, ou um memorial da conquista?
(Risos) Já guardei camisa, chuteira, tudo do jogo. Certamente vou preparar algo legal depois em casa. Naquela parte não (vou precisar de pintor). Mas precisa ganhar mais para chegar que nem o Renato e falar para o pintor que não precisa aparecer.
A final é o ápice, mas seu momento foi a disputa de pênaltis contra o Atlético-PR?
Foi um momento muito dramático para mim. A emoção toda. Acho que foi um momento de desabafar, de jogar para fora o que estava sentindo. A partir dali, certamente que renovou, as coisas começaram a fluir novamente. Eu lembro que o Renato me chamou na decisão. Ele me disse que o futebol tinha dessas coisas. E que o vilão poderia se tornar o herói numa mesma partida. Disse que confiava em mim, que era para eu ser o herói. O Rogerião (Rogério Godoy, preparador de goleiros) é um cara que rabalha no dia a dia, com um fortalecendo o outro. A gente se abraçou e tudo o que a gente trabalhou durante esses anos... É o primeiro título da Arena. Ninguém vai apagar da gente. Vamos ficar para a história.
Naquele momento, entre algumas críticas, você chegou a pensar que tinha chegado ao fim seu ciclo no Grêmio?
Foi um jogo muito difícil, por causa do gol. Eu tinha que estar concentrado, mas somos seres humanos. Começa a pensar algumas coisas, mas não era o momento de sair. Deus tinha algo melhor na frente. E foi muito marcante. Foi um marco. Uma virada profissionalmente para mim, para o elenco. Ali, desabafei. As coisas deram certo e, no dia seguinte, estava lá trabalhando de novo, em busca do sonho.
O que você estava fazendo em 2001, no último título de relevância nacional (Tetra da Copa do Brasil)?
Eu estava no Grêmio, era o meu segundo ano. Lembro que foram dois jogos no domingo. Eu estava em casa assistindo. Jamais poderia imaginar que na próxima conquista eu estaria. São coisas do futebol.
Você também esteve na Batalha dos Aflitos, outro momento emblemático da história do clube. Consegue traçar um paralelo entre as duas conquistas?
A Batalha foi um momento de muita dificuldade pela situação do clube. Eu vejo que é muito diferente de hoje. Era bem mais difícil de subir. Um time como o Grêmio não subir... Toda a situação que a gente enfrentou lá todo mundo já sabe. Foi um momento marcante, assim como foi a Copa do Brasil. Todo esse tempo, essa angústia que o torcedor estava de não gritar "é campeão", de sair da fila e poder voltar a ganhar um titulo de expressão nacional. São dois momentos marcantes para mim. Agradeço por poder fazer parte desse momento.
Voltando a 2016, como foi sua comemoração? Deu para tomar uma cervejinha com o pessoal?
Não bebo. Só na água. Mas eu demorei um pouco para chegar ao vestiário. Os caras estavam no pagode, comemorando bastante. Os familiares entraram, tiramos fotos com a taça. O vestiário encheu de gente. Foi algo inesquecível.
Ficou muito nítido, entre os jornalistas, que a Arena pulsou de um jeito diferente. Vocês sentiram isso?
Sem dúvidas. Foi um espetáculo maravilhoso, recorde de público, torcida cantando, nos apoiando. A partir da conquista, ela vai crescer ainda mais com a gente para os jogos. Estava faltando para a Arena um título, teve a mudança do Olímpico. É um estádio extremamente vitorioso. Não tinha ainda ganho um título. Agora, ganhou. Começa a ter sua trajetória. As coisas, a partir de agora, ficam mais leves. Tem tudo para a Arena se tornar um ambiente cada vez melhor para que a gente possa conquistar mais títulos.
Você tem noção de que vai fazer parte do Memorial do Grêmio?
Demora para cair a ficha. Eu estou muito contente. Independente do que vai acontecer daqui para frente, é maravilhoso. Qualquer jogador quer estar no museu do clube. Eu queria muito ganhar esse título para poder dar o presente para o torcedor, que tanto sofreu durante esses anos. Todos nós batalhamos, sofremos. Esses momentos de dificuldade nos fortaleceram. Vamos ver o que vai acontecer. Estou muito realizado. Agora, o que vier é lucro. Eu não quero parar por aqui. Quero conquistar mais.
Como vocês encaram essa nova Era?
Acredito muito que é uma virada para o clube, se abrem as portas para as conquistas, justamente por esses fatores. Não quer dizer que não vai haver comprometimento, vamos continuar com foco. A torcida também se renova. O sentimento, essa paixão, vai nos fortalecer.
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