Eduardo Moura/GloboEsporte.com
Maicon com a taça da Copa do Brasil no dia seguinte ao título
Raras horas de sono, calor, cansaço e dores de um jogo digno de final brigado, pegado. Nada disso parece importar para Maicon, que quer mesmo é desfilar com o peito estufado, orgulhoso do fim do jejum do Grêmio protagonizado por ele e seus companheiros em campo. Capitão de um grupo histórico, levantou a taça da Copa do Brasil que reduz a pó os 15 anos de desgraça do clube ajudado por dois jogadores escolhidos a dedo: Marcelo Grohe, desde 2000 no Grêmio, e Gabriel, sem jogar há três anos.
E pintou Porto Alegre de azul. Os segredos de Renato e sua estátua, motivação, torcida... tudo foi contado em papo com o GloboEsporte.com e RBS TV pelo dono da braçadeira tricolor na Arena, na quinta-feira, em uma espécie de atração magnética que não deixou-o ir a outro lugar.
Sorriso fácil – também pudera –, Maicon lembrou xingamentos que recebeu no aeroporto Salgado Filho após a eliminação para o Rosario Central, na Libertadores deste ano, e reclamações de sua postura – prefere atos que "fechem" o elenco a esbravejar contra companheiros. Agora, de visual novo sem a barba, uma promessa do título, reflete sobre a conquista e o futuro no Grêmio.
Confira abaixo:
Qual a emoção deste primeiro título como capitão?
Estou muito feliz, nem dormi direito. Já fui campeão outras duas vezes, mas não era o capitão. Por tudo que se envolvia aqui no clube, vai ficar marcado para o resto da vida. Quinze anos em ganhar, o torcedor estava com o grito entalado na garganta. A gente poder proporcionar isso a eles, a todos no clube, é uma sensação muito boa de dever cumprido no final do ano.
Você recebeu algumas críticas ao longo do ano. Encerrar com a taça da Copa do Brasil deve ser ainda mais especial. Como você avalia?
No início do ano, foi um pouco complicado porque se criaram muitas expectativas devido ao ano passado, quando ninguém acreditava que a gente poderia fazer uma grande campanha e fizemos. Chegaram jogadores novos. E a gente não conseguiu o nosso objetivo. Sempre falo que todas equipes entram para vencer, apenas uma consegue. As outras têm que conviver com as críticas. Fundamental para que a gente conseguisse sair campeão foi o grupo não desconfiar um do outro. Hoje é fácil dizer que o grupo é unido, mas nos respeitamos muito, todo mundo busca espaço dentro do campo. E continuamos acreditando. Trabalhamos quietos. Sabíamos que não chegaríamos em dezembro como campeões se não fosse construindo durante os meses que faltavam até a decisão.
O Grêmio foi se consolidando como candidato e chegou como azarão?
Devido às equipes que entraram nas oitavas, acho que só nós, jogadores, diretoria, acreditávamos que podíamos chegar na final. Passamos para quartas, foi criando expectativa maior, até pela emoção que se tornou o jogo com o Atlético-PR. Aí pega o Palmeiras, 90% acreditava que eles iam passar, porque faziam o segundo jogo em casa, aqui tinha sido 2 a 1. E você passa e vai na semifinal, joga um grande futebol em Minas e tem que jogar com o regulamento embaixo do braço. Depois que passou do Cruzeiro, cria a expectativa de todos que pode ser campeão. Aí pega o Atlético-MG com jogadores muito qualificados. Noventa e cinco por cento das pessoas falaram que a gente não ganharia no Mineirão. Sempre falo para meus companheiros que jogar fora são 11 contra 11. Não pode entrar ninguém e ajudar. Quem estiver mais bem preparado, melhor e mais concentrado, vai sair vencedor. Acho que foi passo a passo que fomos ganhando a confiança para conquistar esse título tão importante.
Como você define este caminho para ser campeão da Copa do Brasil?
Eram jogos muito difíceis, mas que tínhamos condições de passar. Foi sofrido principalmente contra Atlético-PR e Palmeiras, mas cada dificuldade que a gente encontrava ia nos fortalecendo mais. Sabíamos que a taça estava muito perto, mas que só o que a gente estava fazendo não ia adiantar. Tinha que fazer o algo mais. Com Cruzeiro e Atlético-MG aqui (em Porto Alegre) a gente soube jogar com a cara do Grêmio. De marcar, disputar cada palmo de grama.
Maicon diz que time teve a cara do Grêmio nos últimos jogos (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Esta cara do Grêmio chegou com o Renato?
A gente sempre jogou da mesma maneira. O Renato acrescentou algumas coisas que ele achava que a gente poderia melhorar. O grupo assimilou isso muito rápido. Foi passando cada vez mais confiança. Sempre falava que, se tivesse um momento difícil, juntasse todo mundo, ficasse fechadinho e olhasse para ele, que ele passaria a tranquilidade.Nesta Copa do Brasil, em alguns jogos tínhamos uma vantagem boa e soubemos administrar, fazendo com que o tempo passasse, não ter pressa para bater lateral ou falta. Essa é a malandragem que faz um time ser campeão.
Mas qual o papel do Renato nesta conquista e animicamente para os jogadores?
O Renato tem uma história fantástica, é o maior ídolo do clube. Quando ele chegou, a gente vivia um momento muito complicado. Seis ou sete jogos sem vencer, Roger tinha saído. Gera desconfiança, mais um ano em branco. A gente sabia que poderia dar a volta por cima. Ele reuniu o grupo, disse que a gente não fez apenas um jogo bom, mas vários, que era uma fase que todas equipes passam e que logo íamos voltar a fazer o que estávamos fazendo antes. Entrar com a confiança do treinador é o melhor que tem. Ele ganhou muitos títulos, mas falou que, devido ao tempo que estava sem ganhar, seria como se fosse o seu primeiro título da carreira. Isso foi levantando a autoestima do grupo.
Quanto pesou o jejum e qual é a sensação de ele ter acabado?
Temos um grupo jovem, isso às vezes pesa. Nós que jogamos há mais tempo, estamos acostumados. O jogador mais novo faz um ou dois jogos bons e fica deslumbrado. Às vezes, não está preparado para receber as pancadas. No futebol tem mais crítica ao elogio, a não ser o Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar. A gente sabia que era uma motivação maior do que o peso acabar com o jejum. O grupo se eternizaria na história do clube pelo tempo que estava sem ganhar. O estádio estava entupido. Não tinha como tirar (o título). A festa da torcida, a confiança do grupo, o que o Renato passava nas preleções, era de time campeão.
Por que a decisão de chamar o Marcelo Grohe e o Gabriel para levantar a taça?
Era uma maneira de fazer que esses jogadores ficassem um pouco acima do restante, pela história que principalmente o Marcelo tem, uma vida no clube. O Gabriel está há três anos sem jogar, isso é muito difícil. Está todos os dias no CT, você não vê ele triste nunca, nunca faltou a uma sessão de fisioterapia. Quis fazer com que se sentisse dentro de campo. Todos os outros jogadores pegaram o troféu depois, mas meu papel de capitão era fazer isso para homenageá-los.
Maicon com o preparador de goleiros Rogério Godoy (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Por que a decisão de chamar o Marcelo Grohe e o Gabriel para levantar a taça?
Era uma maneira de fazer que esses jogadores ficassem um pouco acima do restante, pela história que principalmente o Marcelo tem, uma vida no clube. O Gabriel está há três anos sem jogar, isso é muito difícil. Está todos os dias no CT, você não vê ele triste nunca, nunca faltou a uma sessão de fisioterapia. Quis fazer com que se sentisse dentro de campo. Todos os outros jogadores pegaram o troféu depois, mas meu papel de capitão era fazer isso para homenageá-los.
Você apoia a ideia da estátua para o Renato?
O Renato brinca muito com a gente que, se tiver ruim e alguém quiser, ele bota o uniforme, vai lá e joga. Falou na preleção que é o clube do coração dele, que ele ama. Deu um título mundial, fica eternizado. Depois de 15 anos, está com todos nós proporcionando ao torcedor soltar o grito de campeão novamente. É natural que fique além do que já era. Seria legal.
Há algum momento que você tem como definitivo neste título?
Em questão de jogo, tem várias coisas para dizer que nos proporcionou a conquista. Mas quero deixar algo muito além disso: a paixão do torcedor. Cada vez que a gente sai na rua, pedem que estavam sem ganhar há muito tempo. Foi nos dando ainda mais motivação. No jogo com o Atlético-PR, se a gente toma o último gol, está fora. Mais um ano em branco, o sonho tinha acabado. Mais uma decepção para milhões de torcedores. Quando a gente estava chegando ao estádio (para a final), a rua estava toda parada. Sabia que o estádio ia estar lotado. É esta paixão que o torcedor nos proporcionou para que chegássemos nesta final.
E qual a melhor coisa de ser campeão?
Que pode andar na rua à vontade, porque em Porto Alegre está tudo azul agora.
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Raras horas de sono, calor, cansaço e dores de um jogo digno de final brigado, pegado. Nada disso parece importar para Maicon, que quer mesmo é desfilar com o peito estufado, orgulhoso do fim do jejum do Grêmio protagonizado por ele e seus companheiros em campo. Capitão de um grupo histórico, levantou a taça da Copa do Brasil que reduz a pó os 15 anos de desgraça do clube ajudado por dois jogadores escolhidos a dedo: Marcelo Grohe, desde 2000 no Grêmio, e Gabriel, sem jogar há três anos.
E pintou Porto Alegre de azul. Os segredos de Renato e sua estátua, motivação, torcida... tudo foi contado em papo com o GloboEsporte.com e RBS TV pelo dono da braçadeira tricolor na Arena, na quinta-feira, em uma espécie de atração magnética que não deixou-o ir a outro lugar.
Sorriso fácil – também pudera –, Maicon lembrou xingamentos que recebeu no aeroporto Salgado Filho após a eliminação para o Rosario Central, na Libertadores deste ano, e reclamações de sua postura – prefere atos que "fechem" o elenco a esbravejar contra companheiros. Agora, de visual novo sem a barba, uma promessa do título, reflete sobre a conquista e o futuro no Grêmio.
Confira abaixo:
Qual a emoção deste primeiro título como capitão?
Estou muito feliz, nem dormi direito. Já fui campeão outras duas vezes, mas não era o capitão. Por tudo que se envolvia aqui no clube, vai ficar marcado para o resto da vida. Quinze anos em ganhar, o torcedor estava com o grito entalado na garganta. A gente poder proporcionar isso a eles, a todos no clube, é uma sensação muito boa de dever cumprido no final do ano.
Você recebeu algumas críticas ao longo do ano. Encerrar com a taça da Copa do Brasil deve ser ainda mais especial. Como você avalia?
No início do ano, foi um pouco complicado porque se criaram muitas expectativas devido ao ano passado, quando ninguém acreditava que a gente poderia fazer uma grande campanha e fizemos. Chegaram jogadores novos. E a gente não conseguiu o nosso objetivo. Sempre falo que todas equipes entram para vencer, apenas uma consegue. As outras têm que conviver com as críticas. Fundamental para que a gente conseguisse sair campeão foi o grupo não desconfiar um do outro. Hoje é fácil dizer que o grupo é unido, mas nos respeitamos muito, todo mundo busca espaço dentro do campo. E continuamos acreditando. Trabalhamos quietos. Sabíamos que não chegaríamos em dezembro como campeões se não fosse construindo durante os meses que faltavam até a decisão.
O Grêmio foi se consolidando como candidato e chegou como azarão?
Devido às equipes que entraram nas oitavas, acho que só nós, jogadores, diretoria, acreditávamos que podíamos chegar na final. Passamos para quartas, foi criando expectativa maior, até pela emoção que se tornou o jogo com o Atlético-PR. Aí pega o Palmeiras, 90% acreditava que eles iam passar, porque faziam o segundo jogo em casa, aqui tinha sido 2 a 1. E você passa e vai na semifinal, joga um grande futebol em Minas e tem que jogar com o regulamento embaixo do braço. Depois que passou do Cruzeiro, cria a expectativa de todos que pode ser campeão. Aí pega o Atlético-MG com jogadores muito qualificados. Noventa e cinco por cento das pessoas falaram que a gente não ganharia no Mineirão. Sempre falo para meus companheiros que jogar fora são 11 contra 11. Não pode entrar ninguém e ajudar. Quem estiver mais bem preparado, melhor e mais concentrado, vai sair vencedor. Acho que foi passo a passo que fomos ganhando a confiança para conquistar esse título tão importante.
Como você define este caminho para ser campeão da Copa do Brasil?
Eram jogos muito difíceis, mas que tínhamos condições de passar. Foi sofrido principalmente contra Atlético-PR e Palmeiras, mas cada dificuldade que a gente encontrava ia nos fortalecendo mais. Sabíamos que a taça estava muito perto, mas que só o que a gente estava fazendo não ia adiantar. Tinha que fazer o algo mais. Com Cruzeiro e Atlético-MG aqui (em Porto Alegre) a gente soube jogar com a cara do Grêmio. De marcar, disputar cada palmo de grama.
Maicon diz que time teve a cara do Grêmio nos últimos jogos (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Esta cara do Grêmio chegou com o Renato?
A gente sempre jogou da mesma maneira. O Renato acrescentou algumas coisas que ele achava que a gente poderia melhorar. O grupo assimilou isso muito rápido. Foi passando cada vez mais confiança. Sempre falava que, se tivesse um momento difícil, juntasse todo mundo, ficasse fechadinho e olhasse para ele, que ele passaria a tranquilidade.Nesta Copa do Brasil, em alguns jogos tínhamos uma vantagem boa e soubemos administrar, fazendo com que o tempo passasse, não ter pressa para bater lateral ou falta. Essa é a malandragem que faz um time ser campeão.
Mas qual o papel do Renato nesta conquista e animicamente para os jogadores?
O Renato tem uma história fantástica, é o maior ídolo do clube. Quando ele chegou, a gente vivia um momento muito complicado. Seis ou sete jogos sem vencer, Roger tinha saído. Gera desconfiança, mais um ano em branco. A gente sabia que poderia dar a volta por cima. Ele reuniu o grupo, disse que a gente não fez apenas um jogo bom, mas vários, que era uma fase que todas equipes passam e que logo íamos voltar a fazer o que estávamos fazendo antes. Entrar com a confiança do treinador é o melhor que tem. Ele ganhou muitos títulos, mas falou que, devido ao tempo que estava sem ganhar, seria como se fosse o seu primeiro título da carreira. Isso foi levantando a autoestima do grupo.
Quanto pesou o jejum e qual é a sensação de ele ter acabado?
Temos um grupo jovem, isso às vezes pesa. Nós que jogamos há mais tempo, estamos acostumados. O jogador mais novo faz um ou dois jogos bons e fica deslumbrado. Às vezes, não está preparado para receber as pancadas. No futebol tem mais crítica ao elogio, a não ser o Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar. A gente sabia que era uma motivação maior do que o peso acabar com o jejum. O grupo se eternizaria na história do clube pelo tempo que estava sem ganhar. O estádio estava entupido. Não tinha como tirar (o título). A festa da torcida, a confiança do grupo, o que o Renato passava nas preleções, era de time campeão.
Por que a decisão de chamar o Marcelo Grohe e o Gabriel para levantar a taça?
Era uma maneira de fazer que esses jogadores ficassem um pouco acima do restante, pela história que principalmente o Marcelo tem, uma vida no clube. O Gabriel está há três anos sem jogar, isso é muito difícil. Está todos os dias no CT, você não vê ele triste nunca, nunca faltou a uma sessão de fisioterapia. Quis fazer com que se sentisse dentro de campo. Todos os outros jogadores pegaram o troféu depois, mas meu papel de capitão era fazer isso para homenageá-los.
Maicon com o preparador de goleiros Rogério Godoy (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Por que a decisão de chamar o Marcelo Grohe e o Gabriel para levantar a taça?
Era uma maneira de fazer que esses jogadores ficassem um pouco acima do restante, pela história que principalmente o Marcelo tem, uma vida no clube. O Gabriel está há três anos sem jogar, isso é muito difícil. Está todos os dias no CT, você não vê ele triste nunca, nunca faltou a uma sessão de fisioterapia. Quis fazer com que se sentisse dentro de campo. Todos os outros jogadores pegaram o troféu depois, mas meu papel de capitão era fazer isso para homenageá-los.
Você apoia a ideia da estátua para o Renato?
O Renato brinca muito com a gente que, se tiver ruim e alguém quiser, ele bota o uniforme, vai lá e joga. Falou na preleção que é o clube do coração dele, que ele ama. Deu um título mundial, fica eternizado. Depois de 15 anos, está com todos nós proporcionando ao torcedor soltar o grito de campeão novamente. É natural que fique além do que já era. Seria legal.
Há algum momento que você tem como definitivo neste título?
Em questão de jogo, tem várias coisas para dizer que nos proporcionou a conquista. Mas quero deixar algo muito além disso: a paixão do torcedor. Cada vez que a gente sai na rua, pedem que estavam sem ganhar há muito tempo. Foi nos dando ainda mais motivação. No jogo com o Atlético-PR, se a gente toma o último gol, está fora. Mais um ano em branco, o sonho tinha acabado. Mais uma decepção para milhões de torcedores. Quando a gente estava chegando ao estádio (para a final), a rua estava toda parada. Sabia que o estádio ia estar lotado. É esta paixão que o torcedor nos proporcionou para que chegássemos nesta final.
E qual a melhor coisa de ser campeão?
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