Valdir Espinosa comanda treino do Grêmio na Arena em 1983 (Foto: Rubens Borges / Agência RBS)
Há momentos em que passado, presente e futuro se confundem. E o Grêmio investe justamente nessa vertente para apostar na dupla Renato Portaluppi e Valdir Espinosa, junto com o vice de futebol Adalberto Preis, para comandar o futebol do clube. Se a diretoria almeja resgatar a garra e a mística daquele Tricolor campeão do Mundo em 1983, busca reerguer a equipe nestes três meses restantes do ano ao mesmo tempo em que já pensa em 2017.
Para Espinosa, falar sobre Renato soa quase como constrangedor. O zelo soa como se fosse de pai para filho. Já era assim em 83, quando um jovem treinador de 36 anos tinha um camisa 7 talentoso e irreverente ao mesmo tempo.
Se o atacante era sério à frente do gol, adorava ser bem humorado nos microfones. Na apresentação para a terceira passagem como técnico do clube, Renato deu uma mostra disso, quando questionado sobre o título mundial que "ganhou do treinador".
– Na verdade, fui eu que dei para ele (Espinosa). Foi o contrário, quem corria era eu – disse Renato, arrancando aplausos e risos de conselheiros e dirigentes gremistas.
A história em comum de Renato e Espinosa não se resume ao Grêmio. Ambos iniciaram a carreira como jogadores no Esportivo, clube de Bento Gonçalves. Treze anos mais velho, o atual coordenador técnico do Grêmio diz que sofria como lateral-direito para marcar um ponteiro de força e velocidade das categorias de base do clube. Não imaginavam, em plena década de 70, que a rota de ambos daria se cruzaria numa sintonia de sucesso tão grande.
Renato vai para a terceira passagem como técnico gremista, agora com Espinosa como coordenador técnico. Além do Grêmio, ambos também trabalharam juntos pelo Vasco, em 2005, e no Fluminense, em 2009.
CONQUISTA DO MUNDO EM 1983
A passagem para Tóquio foi carimbada na noite de 28 de julho de 1983. Vitória monumental, como o Olímpico, que viu o Grêmio bater o Peñarol por 2 a 1, gols de Caio e César.
Conforme disse na entrevista coletiva de segunda-feira, Renato daria o Mundo a Espinosa no final daquele ano. Foi quando deixou de ser promessa e se tornou o maior jogador da história do clube. Marcou os dois gols do título mundial do Grêmio, na vitória sobre o Hamburgo em Tóquio, em 11 de dezembro.
– O abraço demorado em Espinosa, após o primeiro gol, na pista atlética do Estádio Nacional de Tóquio, foi simbólico. Afinal, Valdir Espinosa é o pai, irmão e melhor amigo de Renato Portaluppi, 21 anos, um ex-aprendiz de padeiro que chegou de Bento Gonçalves para vestir a camisa 7 e marcar os dois gols mais importantes dos 80 anos de vida do clube. O técnico do Grêmio é o conselheiro do jogador, o homem que consegue contornar seus atos de indisciplina e negociar a paz com dirigentes – publicou o jornal Zero Hora do dia 12 de dezembro de 83.
Mas a vitória foi sofrida, como costuma ser o DNA do Grêmio. Renato já havia aberto o marcador, mas viu Schröder empatar na já temida bola aérea do Hamburgo. Na prorrogação, o camisa 7 driblou as cãibras e o próprio Schröder antes de entrar para a história.
Espinosa deixaria o Grêmio para trabalhar na Arábia Saudita, sendo campeão nacional pelo Al-Hilal. Retornou ao Grêmio em 1986 para ser campeão gaúcho… ao lado de Renato. A parceria vitoriosa no Tricolor daria pausa naquela temporada, já que o atacante vestiria as cores do Flamengo no ano seguinte, enquanto o treinador se dirigiria para o Cerro Porteño, do Paraguai.
EMPRÉSTIMO EM 1991
Renato voltaria ao Grêmio em 1991 por empréstimo, em uma negociação que pegou torcedores do Botafogo de surpresa. O Tricolor gaúcho desembolsou US$ 300 mil para vínculo temporário por três meses, sendo que US$ 200 mil foram para o bolso do jogador.
– Legal não foi (com a torcida), agora quero que o torcedor se coloque no meu lugar. Infelizmente, a gente vive em um país cheio de inflação e eu não poderia recusar uma proposta dessa (do Grêmio) – declarou à época.
A recepção de Renato foi feita junto à torcida gremista no aeroporto Salgado Filho. Como herói, o atacante foi carregado nos braços, enquanto os aficionados berravam "Renato, Renato".
– Eu fico feliz de voltar. Aqui eu me sinto em casa e parece que eu nem saí – contou.
Naquele ano, no entanto, nem Renato conseguiria salvar o Grêmio do rebaixamento. E a equipe gaúcha encerraria o Brasileirão na 19ª colocação.
DO REBAIXAMENTO AO G-4
Renato daria nova vida ao Grêmio a partir de 10 de agosto de 2010, quando assumiu o comando da equipe como treinador pela primeira vez, após a saída de Silas. Em quatro meses, ele levou a equipe tricolor da zona de rebaixamento à 4ª colocação no Brasileirão.
Aquela alavancada de 2010, no entanto, não se repetiria no ano seguinte. Renato perderia o Gauchão para o Inter de Falcão, no Olímpico, nos pênaltis, após ter sido derrotado por 3 a 2 no tempo normal. Já pela Libertadores, caiu nas oitavas de final para o Universidad Católica, do Chile. Do grupo gremista daquele ano, há três no elenco atual: Marcelo Grohe, Edilson e Douglas.
Renato se despediria com muito choro do grupo em 30 de junho de 2011, quando o Grêmio não ia bem no Brasileiro. Embargou a voz na entrevista coletiva e, na saída, foi abraçado por torcedores inconformados. Em 11 meses, somou 66 jogos, com 34 vitórias, 16 empates e 16 derrotas.
VICE NO BRASILEIRÃO
Em plena tarde de terça-feira – 2 de julho de 2013 –, 5 mil torcedores lotaram a Arquibancada Norte da Arena. E poderia ser mais: quase mil pessoas ficaram do lado de fora do estádio. O motivo: receber Renato para comandar o time pela segunda vez, a primeira na Arena. Como curiosidade, aquele Grêmio tinha Roger Machado como auxiliar-técnico fixo do clube.
– Há probleminhas fáceis de serem resolvidos. E serão resolvidos. Mas, em vez de xingar e chamar atenção, você tem que fazer carinho no jogador. No meu grupo, essa alegria vai ser fundamental. Com alegria, o jogador produz sempre mais – declarou Renato na apresentação em 2013, em um discurso que encaixaria neste ano.
Como um filme repetido, Renato voltou a alavancar o rendimento do Tricolor gaúcho. Com o vice nacional, o treinador levou o Grêmio para a Libertadores pela segunda vez. Ainda chegou à semifinal da Copa do Brasil, sendo eliminado pelo Atlético-PR. Ao todo, comandou a equipe em 39 jogos, com 17 vitórias, 12 empates e 10 derrotas.
Nas últimas rodadas daquele Brasileirão, Renato se esquivava de perguntas em relação à renovação. Sem acordo salarial com a direção, em época de reestruturação financeira, deixaria o clube em dezembro, dando espaço a Enderson Moreira.
Resta saber como será a atual passagem de Renato. Pela frente, tem uma difícil meta de voltar ao G-4, sendo que o Grêmio está sete pontos atrás do Santos, o quarto colocado. Mas para alguém que já ergueu o time da zona da degola para a Libertadores, a tarefa não soa como impossível. E tem a Copa do Brasil, na qual estreará nesta quarta contra o Atlético-PR, na Arena, com a herança da vitória por 1 a 0 fora de casa, ainda de quando Roger era o treinador.
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Para Espinosa, falar sobre Renato soa quase como constrangedor. O zelo soa como se fosse de pai para filho. Já era assim em 83, quando um jovem treinador de 36 anos tinha um camisa 7 talentoso e irreverente ao mesmo tempo.
Se o atacante era sério à frente do gol, adorava ser bem humorado nos microfones. Na apresentação para a terceira passagem como técnico do clube, Renato deu uma mostra disso, quando questionado sobre o título mundial que "ganhou do treinador".
– Na verdade, fui eu que dei para ele (Espinosa). Foi o contrário, quem corria era eu – disse Renato, arrancando aplausos e risos de conselheiros e dirigentes gremistas.
A história em comum de Renato e Espinosa não se resume ao Grêmio. Ambos iniciaram a carreira como jogadores no Esportivo, clube de Bento Gonçalves. Treze anos mais velho, o atual coordenador técnico do Grêmio diz que sofria como lateral-direito para marcar um ponteiro de força e velocidade das categorias de base do clube. Não imaginavam, em plena década de 70, que a rota de ambos daria se cruzaria numa sintonia de sucesso tão grande.
Renato vai para a terceira passagem como técnico gremista, agora com Espinosa como coordenador técnico. Além do Grêmio, ambos também trabalharam juntos pelo Vasco, em 2005, e no Fluminense, em 2009.
CONQUISTA DO MUNDO EM 1983
A passagem para Tóquio foi carimbada na noite de 28 de julho de 1983. Vitória monumental, como o Olímpico, que viu o Grêmio bater o Peñarol por 2 a 1, gols de Caio e César.
Conforme disse na entrevista coletiva de segunda-feira, Renato daria o Mundo a Espinosa no final daquele ano. Foi quando deixou de ser promessa e se tornou o maior jogador da história do clube. Marcou os dois gols do título mundial do Grêmio, na vitória sobre o Hamburgo em Tóquio, em 11 de dezembro.
– O abraço demorado em Espinosa, após o primeiro gol, na pista atlética do Estádio Nacional de Tóquio, foi simbólico. Afinal, Valdir Espinosa é o pai, irmão e melhor amigo de Renato Portaluppi, 21 anos, um ex-aprendiz de padeiro que chegou de Bento Gonçalves para vestir a camisa 7 e marcar os dois gols mais importantes dos 80 anos de vida do clube. O técnico do Grêmio é o conselheiro do jogador, o homem que consegue contornar seus atos de indisciplina e negociar a paz com dirigentes – publicou o jornal Zero Hora do dia 12 de dezembro de 83.
Mas a vitória foi sofrida, como costuma ser o DNA do Grêmio. Renato já havia aberto o marcador, mas viu Schröder empatar na já temida bola aérea do Hamburgo. Na prorrogação, o camisa 7 driblou as cãibras e o próprio Schröder antes de entrar para a história.
Espinosa deixaria o Grêmio para trabalhar na Arábia Saudita, sendo campeão nacional pelo Al-Hilal. Retornou ao Grêmio em 1986 para ser campeão gaúcho… ao lado de Renato. A parceria vitoriosa no Tricolor daria pausa naquela temporada, já que o atacante vestiria as cores do Flamengo no ano seguinte, enquanto o treinador se dirigiria para o Cerro Porteño, do Paraguai.
EMPRÉSTIMO EM 1991
Renato voltaria ao Grêmio em 1991 por empréstimo, em uma negociação que pegou torcedores do Botafogo de surpresa. O Tricolor gaúcho desembolsou US$ 300 mil para vínculo temporário por três meses, sendo que US$ 200 mil foram para o bolso do jogador.
– Legal não foi (com a torcida), agora quero que o torcedor se coloque no meu lugar. Infelizmente, a gente vive em um país cheio de inflação e eu não poderia recusar uma proposta dessa (do Grêmio) – declarou à época.
A recepção de Renato foi feita junto à torcida gremista no aeroporto Salgado Filho. Como herói, o atacante foi carregado nos braços, enquanto os aficionados berravam "Renato, Renato".
– Eu fico feliz de voltar. Aqui eu me sinto em casa e parece que eu nem saí – contou.
Naquele ano, no entanto, nem Renato conseguiria salvar o Grêmio do rebaixamento. E a equipe gaúcha encerraria o Brasileirão na 19ª colocação.
DO REBAIXAMENTO AO G-4
Renato daria nova vida ao Grêmio a partir de 10 de agosto de 2010, quando assumiu o comando da equipe como treinador pela primeira vez, após a saída de Silas. Em quatro meses, ele levou a equipe tricolor da zona de rebaixamento à 4ª colocação no Brasileirão.
Aquela alavancada de 2010, no entanto, não se repetiria no ano seguinte. Renato perderia o Gauchão para o Inter de Falcão, no Olímpico, nos pênaltis, após ter sido derrotado por 3 a 2 no tempo normal. Já pela Libertadores, caiu nas oitavas de final para o Universidad Católica, do Chile. Do grupo gremista daquele ano, há três no elenco atual: Marcelo Grohe, Edilson e Douglas.
Renato se despediria com muito choro do grupo em 30 de junho de 2011, quando o Grêmio não ia bem no Brasileiro. Embargou a voz na entrevista coletiva e, na saída, foi abraçado por torcedores inconformados. Em 11 meses, somou 66 jogos, com 34 vitórias, 16 empates e 16 derrotas.
VICE NO BRASILEIRÃO
Em plena tarde de terça-feira – 2 de julho de 2013 –, 5 mil torcedores lotaram a Arquibancada Norte da Arena. E poderia ser mais: quase mil pessoas ficaram do lado de fora do estádio. O motivo: receber Renato para comandar o time pela segunda vez, a primeira na Arena. Como curiosidade, aquele Grêmio tinha Roger Machado como auxiliar-técnico fixo do clube.
– Há probleminhas fáceis de serem resolvidos. E serão resolvidos. Mas, em vez de xingar e chamar atenção, você tem que fazer carinho no jogador. No meu grupo, essa alegria vai ser fundamental. Com alegria, o jogador produz sempre mais – declarou Renato na apresentação em 2013, em um discurso que encaixaria neste ano.
Como um filme repetido, Renato voltou a alavancar o rendimento do Tricolor gaúcho. Com o vice nacional, o treinador levou o Grêmio para a Libertadores pela segunda vez. Ainda chegou à semifinal da Copa do Brasil, sendo eliminado pelo Atlético-PR. Ao todo, comandou a equipe em 39 jogos, com 17 vitórias, 12 empates e 10 derrotas.
Nas últimas rodadas daquele Brasileirão, Renato se esquivava de perguntas em relação à renovação. Sem acordo salarial com a direção, em época de reestruturação financeira, deixaria o clube em dezembro, dando espaço a Enderson Moreira.
Resta saber como será a atual passagem de Renato. Pela frente, tem uma difícil meta de voltar ao G-4, sendo que o Grêmio está sete pontos atrás do Santos, o quarto colocado. Mas para alguém que já ergueu o time da zona da degola para a Libertadores, a tarefa não soa como impossível. E tem a Copa do Brasil, na qual estreará nesta quarta contra o Atlético-PR, na Arena, com a herança da vitória por 1 a 0 fora de casa, ainda de quando Roger era o treinador.
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em 83 era olímpico o estadio.
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