Análise: após saída de Giuliano, Roger muda, mas "novo Grêmio" não decola

O discurso de briga pelo título ainda existe, de acordo com o presidente Romildo Bolzan Júnior. Mas, na prática, o Grêmio começa a dar adeus à tentativa de ser campeão do Brasileirão deste ano. Os últimos resultados na competição mostram um aproveitamento de Z-4 especialmente após a saída de Giuliano, vendido ao Zenit, da Rússia. Na época criticado pela torcida e até imprensa, a negociação do meia e a lesão de Negueba, seu substituto, forçaram Roger a modificar o esquema. Porém, o novo formato com três volantes – ou “médio apoiadores”, como diz o treinador – ainda não decolou. E as últimas duas derrotas passaram por questões táticas.

A reformatação do meio-campo só ocorreu porque o treinador entendeu que não tinha peças para continuar no esquema anterior, com os extremas (Giuliano e Everton) ajudando na recomposição na linha dos volantes, conforme admitiu após a goleada sofrida para o Coritiba, no Couto Pereira. Faltou confiança para manter o que foi feito desde sua chegada ao clube.

– A alternativa encontrada para a saída de um jogador importante como o Giuliano foi ter o equilíbrio com dois médio-apoiadores que poderiam ter a mesma eficiência. Em dois jogos, funcionou bem. Em outros, não, como contra o Botafogo (derrota por 2 a 1) e esse contra o Coritiba – disse Roger.

A intenção era liberar jogadores que têm capacidade de aparecer no setor ofensivo e ainda defender com ímpeto, como Walace e Jailson, para preencher as faixas laterais do campo. Só que a formação não apresentou regularidade. Ganhou – e bem – do Atlético-PR em Curitiba e dominou o Atlético-MG na Arena, embora os mineiros tenham empatado no final. Por outro lado, viu o rendimento cair nos últimos dois jogos e também na derrota para o Flamengo, quando apostou pela primeira vez na mudança de esquema durante o segundo tempo.

A formação ainda apresenta desajustes, a ponto de Botafogo e Coritiba marcarem gols idênticos em contra-ataques após erros na saída de jogo. Tanto o botafoguense Sassá quanto o coxa-branca Leandro fizeram o movimentos por trás da zaga. Deixa claro uma falha no posicionamento no novo esquema.

No segundo gol dos cariocas, no último domingo, Marcelo Oliveira insistiu em sair jogando pelo meio e deu passe para Walace, que errou e entregou a bola nos pés do lateral Luis Ricardo. Ele acionou o atacante do Bota pelo meio da defesa, que bateu cruzado e venceu Bruno Grassi,Contra o Coxa, na quarta, foi a vez de Ramiro falhar pelo meio, e Juan tocar para Leandro outra vez se postar entre os zagueiros e finalizar da mesma forma. Era o segundo tento da goleada.

Roger chegou a avisar que deixaria o time mais vulnerável com a mudança de marcação. Antes, oito jogadores se postavam atrás da linha da bola. Com a alteração, passaram a ser sete. Desde a saída de Giuliano, porém, o Grêmio viu aumentar o número de desarmes (252) e roubadas de bola (118) em oito jogos. Na mesma quantidade de partidas anteriores à negociação do meio-campista, foram 197 desarmes e 108 roubadas de bola.

A ausência do meia também foi sentida. A partir da nova formatação, passou a finalizar menos – são 129 com ele em campo e 113 após seu adeus. O total de chances claras de gol caiu de 42 para 36 sem Giuliano no gramado. O número de passes certos saltou de 1.993 para 2.248 e o de passes errados diminuiu de 298 para 247.

– A gente está no mesmo barco. Quando perde, perdem todos. Quando ganha, ganham todos. Não é o momento de achar culpados. Sabemos que esse papel é do jogo, faz parte. Nós, aqui dentro, temos isso bem claro – disse o goleiro Marcelo Grohe ainda em Curitiba.

MEIO CONGESTIONADO

O fato é que, coletivamente, o Grêmio passou a apresentar uma piora depois que Giuliano deixou Porto Alegre. Vale lembrar que o antigo camisa 8 recebia críticas em seus momentos derradeiros no clube e era citado como um dos jogadores em má fase técnica.

A forma de atacar da equipe também piorou. Com Douglas na ponta do losango do meio-campo, a criação saiu dos lados e congestionou o centro, carecendo de amplitude – ou seja, a condição de aumentar o raio de ação dos atacantes. Henrique Almeida, como centroavante, limita as opções de movimentação, já que prefere atuar mais centralizado.

Consequentemente, Luan precisa flutuar pelas laterais e perde a característica que o destacou como "falso 9", quando sai da posição inicial para tabelar e abrir espaços.



Os volantes transformados em apoiadores por Roger não conseguem manter uma dinâmica para criar jogadas pelos lados do campo, os adversários recheiam a região central e sufocam a criação. O Grêmio só melhorou quando o terceiro esquema (3-5-2) foi posto em prática no Paraná, e Pedro Rocha voltou a ter liberdade para avançar pelas laterais.

Com isso, a engrenagem tricolor perdeu aderência e está mais instável. A sexta-feira será de encontro entre a diretoria e a comissão técnica no CT Luiz Carvalho para debater os últimos resultados e tentar mobilizar o elenco para o duelo com o Palmeiras, líder do Brasileirão.

Serão poucas horas de trabalho para Roger tentar uma solução. Resta saber se voltará à formação mais utilizada ou manterá a convicção nos três volantes com o retorno de Miller Bolaños no ataque.


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