Rigo no jatinho que buscou Bolaños no Equador Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
É de longa data a parceria entre Celso Rigo e o Grêmio. Se iniciou, oficialmente, em janeiro de 1996. Na época, o arrozeiro era diretor financeiro da Sociedade Esportiva São Borja e enfrentava um dilema.
Ao final do empréstimo de Zé Alcino, cedido um ano antes ao Inter, ao custo de R$ 120 mil, o Beira-Rio não tinha dinheiro para comprá-lo. O preço era R$ 460 mil, uma babilônia aos clubes gaúchos naqueles tempos.
Surgiu a ideia de oferecer Alcino ao Grêmio. Aí Rigo pegou o telefone e ligou para o Estádio Olímpico, mas Fábio Koff estava em viagem com o grupo de Felipão a São Paulo, onde enfrentaria o Palmeiras em amistoso. Pediu o celular do presidente aos funcionários, que se negaram a passá-lo. Recorreu a Paulo Odone - que à época ainda nutria boa relação com Koff - e obteve o contato.
— Presidente, o Zé Alcino está disponível. É um jogador interessante para o Grêmio — informou Rigo.
— Mas seu Rigo, ele é muito caro. Nós não podemos comprá-lo — devolveu Koff.
— Então por R$ 300 mil a gente faz negócio — cedeu Rigo.
— Mas o Grêmio não tem dinheiro — endureceu o presidente.
— Então a gente faz uma parceria, eu entro com a metade do valor — propôs o empresário.
— Aí fica interessante. Estes outros 50% teriam um prazo para o pagamento? — questionou Koff.
— A gente consegue um prazo bom, presidente. Fica tranquilo — solucionou Rigo.
Ao desligar, Koff prometeu retornar a ligação no dia seguinte, consultaria Felipão e Cacalo sobre a contratação. Mas, ao final da tarde, o telefone tocou:
— Pode trazer o Zé Alcino para assinar contrato — anunciou Koff, matreiro, que ainda reduziria o pagamento do Grêmio para R$ 100 mil no negócio. O investimento deu retorno. Afinal, o atacante foi vendido ao Nancy, da França, em 1999, e rendeu lucro ao arrozeiro.
Dez anos depois, Rigo voltou a ajudar o Grêmio. No final da temporada 2009, o clube se esforçava para seguir com o atacante Maxi López. Mas era necessário desembolsar 1,5 milhão de euros (R$ 3,75 milhões à época). Solicitado pelo presidente Duda Kroeff, Rigo aportou o dinheiro, depositado em uma conta judicial - da qual López, ao sacá-lo, se comprometeria em renovar por três anos.
Mas não foi o que ocorreu. O argentino, alegando razões familiares, não seguiu em Porto Alegre. Ainda em litígio, acertou com o Catania, da Itália.
O dinheiro voltou aos cofres do Grêmio. E lá permaneceu. Como investimento, Rigo aceitou 25% dos direitos de Douglas Costa em troca da soma. Em janeiro de 2010, o meia foi vendido ao Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, por 6 milhões de euros - quitando a dívida.
— Ali, o investimento ficou no zero a zero — lembra Rigo.
O arrozeiro pegou gosto por investir no Grêmio. Nove meses depois, a pedido de Alberto Guerra e Rui Costa, que comandavam o futebol em 2010, bancou R$ 1 milhão para contratar Júnior Viçosa - atacante que despontava no ASA de Arapiraca-AL. E comprou 25% dos direitos do volante Fernando, que também seria vendido ao Donetsk por R$ 36 milhões.
Estas operações aproximaram Celso Rigo de Rui Costa, que assumiu como executivo de futebol em 2013. Naquele ano, a parceria rendeu novo negócio: o uruguaio Maxi Rodríguez, meia que destacava no Montevideo Wanderers.
Mais uma vez, Rigo foi acionado. E se dispôs a pagar R$ 3,9 milhões para contratar o meia, ficando com 65% de seus direitos. Mas, de esperança, Maxi virou decepção. Em dois anos, não conseguiu se firmar entre os titulares e já foi emprestado a Vasco, Universidad de Chile e Peñarol.
Apesar do prejuízo com Maxi, o mecenas tricolor voltaria a lucrar em 2014. Aquele foi o ano em que mais estreitou sua ligação com o clube: foram três investimentos em sequência. Primeiro com o lateral-esquerdo Wendell, em que adiantou R$ 3 milhões ao Grêmio para comprar 65% de seus direitos junto ao Londrina. Após a venda do jogador ao Bayer Leverkusen, da Alemanha, Rigo recebeu o mesmo valor de volta.
Depois, investiu alto nas contratações de Giuliano e Fernandinho. No caso do meia, aportou R$ 12 milhões, dos R$ 15 milhões gastos para comprá-lo do Dnipro, da Ucrânia. Com sua recente venda ao Zenit, receberá, em cinco de agosto, R$ 14,5 milhões - de um total de R$ 23,5 milhões pagos pelos russos.
Para trazer o atacante, hoje emprestado ao Flamengo, o custo foi menor: R$ 2,4 milhões pagos ao Al-Jazira-EAU. No entanto, Rigo recebeu em troca uma participação nos direitos do volante Walace, avaliado em R$ 36 milhões. Se for vendido, pode render um bom lucro ao arrozeiro.
O JATINHO DE BOLAÑOS
A partir da nova regulamentação da Fifa, que proibiu negócios com investidores em maio de 2015, Celso Rigo reduziu sua participação no Grêmio. Mas não deixou de ajudar o clube. No início de fevereiro, foi contatado pelo presidente Romildo Bolzan, que solicitou um empréstimo para a compra de Miller Bolaños.
Observado desde o ano passado, o atacante tinha sua venda quase acertada pelo Emelec ao Changchun Yatai, da China, onde seria colega de Marcelo Moreno. Mas na última hora, aconselhado por Gustavo Quinteros, técnico da seleção equatoriana, Bolaños recusou o clube chinês e deu preferência ao Grêmio. Só que a operação para contratá-lo exigia agilidade e discrição, já que Inter, Corinthians e Swansea, do País de Gales, acenavam com propostas.
Aí entrou Rigo, que colocou R$ 10 milhões à disposição de Romildo Bolzan com juros módicos, abaixo do padrão de mercado. O adiantamento foi utilizado para pagar a entrada ao Emelec, que, ao final do parcelamento de dois anos, receberá um total de R$ 20 milhões. A verba, aliás, já foi restituída a Rigo. Com o novo contrato de direitos de TV, assinado pelo Grêmio com a Rede Globo, em que recebeu luvas de R$ 100 milhões, o clube quitou sua dívida com o arrozeiro.
— Não investi no negócio, somente prestei apoio, o que é diferente. Até por isso, neguei meu envolvimento de início — explica Rigo.
Além do aporte financeiro, o empresário teve participação decisiva na logística da contratação de Bolaños. Cedeu seu jatinho pessoal, modelo Embraer Phenom 300, avaliado em R$ 21 milhões, para que o executivo Rui Costa e o advogado Gabriel Vieira fossem a Guayaquil para fechar negócio com o presidente do Emelec, Nassib Neme, e assinar contrato com Bolaños.
Comandado pelo piloto Luciano Piccoli, que trabalha desde 1999 para Rigo, o avião decolou às 7h do dia 6 de fevereiro, um sábado, de São Borja, chegando a Porto Alegre 50 minutos depois. Lá, Costa e Vieira embarcaram. A aeronave, que voa a 800 quilômetros por hora, ainda fez paradas para reabastecimento em Cuiabá e Manaus antes de pousar no Equador às 15h daquele dia, após percorrer mais de 4 mil quilômetros.
— Foi nosso voo mais longo. Fui avisado pelo seu Celso na noite anterior e, desde então, passamos a noite buscando licença de sobrevoo na Venezuela e no Peru — relembra Piccoli, piloto profissional há 28 anos.
No dia sequinte, com negócio fechado, o retorno a Porto Alegre teve contornos de operação policial. Com camionetas blindadas, o staff de Bolaños, liderado pelo empresário José Chamorro, teve seu embarque acompanhado por mil torcedores do Emelec no aeroporto de Guayaquil. Ídolo no Equador, o atacante também teve recepção calorosa em Porto Alegre.
— Particularmente, acredito muito no Bolaños — afirma Piccoli, que, a exemplo de Rigo, também é gremista.
AMIZADE COM SONDA
O mecenas gremista tem estreita ligação com Delcir Sonda, empresário que investe no Inter. Dono de uma rede de supermercados que se estabeleceu em São Paulo, Sonda compra sacas e mais sacas do arroz Prato Fino para dispor nas prateleiras de suas lojas.
Há cerca de um mês, se reuniram no escritório de Sonda na Av. Paulista. Curiosamente, o investidor colorado, que recentemente ajudou o Inter a contratar o atacante uruguaio Nico Lopez, detém participação nos direitos econômicos do meia Lincoln, promessa do Grêmio.
— Ele é meu cliente. Ficamos a tarde inteira conversando naquele dia, muito sobre futebol. Temos uma ótima relação — conta o arrozeiro.
A proximidade com Sonda, no entanto, não encoraja Rigo a abrir uma empresa para representar jogadores. O investidor colorado criou a DIS Esportes (Delcir e Idi Sonda), em parceria com seu irmão. E participou de negociações milionárias, com destaque para Neymar e Paulo Henrique Ganso.
Ainda assim, pela nova regulamentação da Fifa, que proíbe investidores, Rigo não tem planos de expandir seus negócios para o futebol. Pretende apenas realizar aportes pontuais, e exclusivamente ao Grêmio.
— Não tenho bala na agulha para dar tiro para tudo que é lado. Se ajudo o clube é porque tenho identificação, não participo para lucrar. Mas, evidentemente, ninguém quer perder — afirma Rigo, que não tem planos de concorrer ao cargo de presidente do Grêmio, mas não descarta virar conselheiro no futuro.
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— Presidente, o Zé Alcino está disponível. É um jogador interessante para o Grêmio — informou Rigo.
— Mas seu Rigo, ele é muito caro. Nós não podemos comprá-lo — devolveu Koff.
— Então por R$ 300 mil a gente faz negócio — cedeu Rigo.
— Mas o Grêmio não tem dinheiro — endureceu o presidente.
— Então a gente faz uma parceria, eu entro com a metade do valor — propôs o empresário.
— Aí fica interessante. Estes outros 50% teriam um prazo para o pagamento? — questionou Koff.
— A gente consegue um prazo bom, presidente. Fica tranquilo — solucionou Rigo.
Ao desligar, Koff prometeu retornar a ligação no dia seguinte, consultaria Felipão e Cacalo sobre a contratação. Mas, ao final da tarde, o telefone tocou:
— Pode trazer o Zé Alcino para assinar contrato — anunciou Koff, matreiro, que ainda reduziria o pagamento do Grêmio para R$ 100 mil no negócio. O investimento deu retorno. Afinal, o atacante foi vendido ao Nancy, da França, em 1999, e rendeu lucro ao arrozeiro.
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Mas não foi o que ocorreu. O argentino, alegando razões familiares, não seguiu em Porto Alegre. Ainda em litígio, acertou com o Catania, da Itália.
O dinheiro voltou aos cofres do Grêmio. E lá permaneceu. Como investimento, Rigo aceitou 25% dos direitos de Douglas Costa em troca da soma. Em janeiro de 2010, o meia foi vendido ao Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, por 6 milhões de euros - quitando a dívida.
— Ali, o investimento ficou no zero a zero — lembra Rigo.
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Estas operações aproximaram Celso Rigo de Rui Costa, que assumiu como executivo de futebol em 2013. Naquele ano, a parceria rendeu novo negócio: o uruguaio Maxi Rodríguez, meia que destacava no Montevideo Wanderers.
Mais uma vez, Rigo foi acionado. E se dispôs a pagar R$ 3,9 milhões para contratar o meia, ficando com 65% de seus direitos. Mas, de esperança, Maxi virou decepção. Em dois anos, não conseguiu se firmar entre os titulares e já foi emprestado a Vasco, Universidad de Chile e Peñarol.
Apesar do prejuízo com Maxi, o mecenas tricolor voltaria a lucrar em 2014. Aquele foi o ano em que mais estreitou sua ligação com o clube: foram três investimentos em sequência. Primeiro com o lateral-esquerdo Wendell, em que adiantou R$ 3 milhões ao Grêmio para comprar 65% de seus direitos junto ao Londrina. Após a venda do jogador ao Bayer Leverkusen, da Alemanha, Rigo recebeu o mesmo valor de volta.
Depois, investiu alto nas contratações de Giuliano e Fernandinho. No caso do meia, aportou R$ 12 milhões, dos R$ 15 milhões gastos para comprá-lo do Dnipro, da Ucrânia. Com sua recente venda ao Zenit, receberá, em cinco de agosto, R$ 14,5 milhões - de um total de R$ 23,5 milhões pagos pelos russos.
Para trazer o atacante, hoje emprestado ao Flamengo, o custo foi menor: R$ 2,4 milhões pagos ao Al-Jazira-EAU. No entanto, Rigo recebeu em troca uma participação nos direitos do volante Walace, avaliado em R$ 36 milhões. Se for vendido, pode render um bom lucro ao arrozeiro.
O JATINHO DE BOLAÑOS
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Há cerca de um mês, se reuniram no escritório de Sonda na Av. Paulista. Curiosamente, o investidor colorado, que recentemente ajudou o Inter a contratar o atacante uruguaio Nico Lopez, detém participação nos direitos econômicos do meia Lincoln, promessa do Grêmio.
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A proximidade com Sonda, no entanto, não encoraja Rigo a abrir uma empresa para representar jogadores. O investidor colorado criou a DIS Esportes (Delcir e Idi Sonda), em parceria com seu irmão. E participou de negociações milionárias, com destaque para Neymar e Paulo Henrique Ganso.
Ainda assim, pela nova regulamentação da Fifa, que proíbe investidores, Rigo não tem planos de expandir seus negócios para o futebol. Pretende apenas realizar aportes pontuais, e exclusivamente ao Grêmio.
— Não tenho bala na agulha para dar tiro para tudo que é lado. Se ajudo o clube é porque tenho identificação, não participo para lucrar. Mas, evidentemente, ninguém quer perder — afirma Rigo, que não tem planos de concorrer ao cargo de presidente do Grêmio, mas não descarta virar conselheiro no futuro.
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