Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS
Não fosse o conselho de Maria Enedina, a mãe, Jaílson talvez hoje só observasse os jogos do Grêmio pela televisão, na calmaria de Caçapava do Sul, a aproximadamente 250 quilômetros de Porto Alegre. No início de 2012, sem ter completado ainda 17 anos, recém-chegado ao Guarany de Bagé, o então meia direita com fama de goleador sofreu com a dispensa de dois amigos que com ele tentavam a sorte no clube da região da Campanha. Como não queria ficar sozinho na cidade, pensou em abandonar o futebol. Ainda lembra do diálogo por telefone durante o qual sua mãe o convenceu a persistir.
— Ela me mandou pensar bem. Se quisesse voltar, que voltasse. Mas como ficaria o meu sonho de ser jogador? — conta.
Jaílson ficou e viu sua vida começar a se transformar em setembro do ano seguinte, 2013, quando Ben-Hur Marchiori, delegado de polícia aposentado e conselheiro do Grêmio, aventurou-se como treinador do Guarany.
— Ele falou que eu tinha qualidade na saída de jogo e marcação. E achava que eu era melhor partindo de trás. E me recuou de meia para volante — resume o jogador, já começando a se soltar na entrevista concedida na sexta-feira a Zero Hora, à beira do gramado do CT Luiz Carvalho, pouco depois do treinamento.
Com o Guarany eliminado nas quartas de final da Copa FGF, Ben-Hur retornou a Porto Alegre. Junto, trouxe Jaílson, que, na época, recebia salário de R$ 800, para um período de testes na base do Grêmio.
Começava 2014 e não havia espaço para o garoto no time treinado por James Freitas, hoje auxiliar de Roger Machado. Jaílson estava na fila atrás de Walace, Kaio, Araújo e Moisés. Em setembro, foi emprestado a Chapecoense para disputar o Brasileirão sub-20. No começo de 2015, passou para os profissionais, disputou o campeonato catarinense e Copa do Brasil, mas, estranhamente, foi devolvido para a base. O Grêmio decidiu chamá-lo de volta.
Jaílson nem desconfiava, mas Roger Machado já o observava no grupo de transição, cujos integrantes treinam no campo situado onde trabalha o grupo profissional. E o requisitou em fevereiro, quando Moisés rompeu os ligamentos do joelho direito em partida contra o Veranópolis.
— Jaílson tem quase todos os fundamentos. Passe, domínio, arremate, visão de jogo, cabeceio, vigor físico privilegiado. Dá uma dinâmica muito grande ao time. Com a experiência, aprenderá a achar os atalhos do campo — avalia o técnico, com entusiasmo igual ao dos torcedores, que já não imaginam o time sem a presença do guri de Caçapava do Sul.
Essas virtudes, no entanto, foram insuficientes para impedir que Jaílson cometesse um pênalti na partida contra a Chapecoense, pelo Brasileirão, uma de suas primeiras pelo Grêmio.
— Na hora, deu um branco, achei que estava tudo perdido para mim. Aí Geromel chegou e disse para eu seguir tranquilo, que buscaríamos o resultado — recorda.
As palavras do zagueiro transformaram o medo do garoto em confiança. Com tal intensidade que Jaílson marcou um dos gols do Grêmio no jogo, finalizado em 3 a 3.
— Foi uma sensação maravilhosa. Tirou um peso. Fiquei emocionado. Mas nem deu tempo para pensar em muita coisa, o jogo ainda estava andando — sorri.
O gesto de Geromel faz Roger Machado lembrar de uma cena ocorrida com ele, ainda como jogador, na decisão da Libertadores de 1995. Depois de falhar no início do gol do Nacional, em Medellín, o então lateral-esquerdo abateu-se e precisou do apoio de Luís Carlos Goiano para reabilitar-se em campo.
— Já pensou se Geromel, em vez de apoiar, o critica? Jaílson afundaria. Sempre é importante a palavra de um jogador mais experiente — alerta o treinador.
Se, nos primeiros dias entre os profissionais, Jaílson ficava quase escondido pelos cantos e só se dirigia aos outros jovens do time, hoje já está mais à vontade, como atesta o meia Douglas. No vestiário, poucos o chamam de Will Smith, apelido que recebeu dos colegas pela semelhança com o ator norte-americano. É de Jajá que todos o identificam.
— Nem me acho parecido com Will Smith. Mas, pelo menos, é um cara famoso. Pior se fosse comparado com um bandido — brinca.
Nas ruas, alguns torcedores já o reconhecem e passam palavras de incentivo. De hábitos simples, Jaílson gasta as horas de folga em partidas de videogame no apartamento na Padre Cacique que divide com o zagueiro Denílson, do grupo de transição. Ou em visitas ao irmão, na Avenida Protásio Alves, para onde vai de táxi ou no carro do empresário, o advogado Rodrigo Severo. Nesses dias, gosta de brincar com o sobrinho nas pracinhas da região. Quando surge a ocasião, encontra-se para almoçar com o padrinho Ben-Hur Marchiori.
Se curte a boa fase, não esquece que ainda tem muito que aprender.
— Às vezes, erro no posicionamento, na marcação. Saio muito para jogar e deixo o espaço aberto — admite.
Quando percebe que errou, Jaílson sabe que o recado do treinador virá na mesma hora.
— Quando ele assovia, já sei que o meu posicionamento está errado — explica.
— O que friso pro neguinho (como Roger o chama) é que ele precisa dosar a energia. Nos dois primeiros jogos, tive que retirá-lo antes. Ele estava tão ansioso em mostrar serviço, fazer tudo ao mesmo tempo, que o tanque esvaziou antes dos 90 minutos — conta o treinador.
Jaílson aproveitou os dois dias de folga depois da vitória contra o São Paulo para rever os pais em Caçapava do Sul. Como ainda não tem carro, viajou de carona com um amigo que tinha vindo à Arena no domingo. Viajou feliz pela vitória do Guarany de Bagé contra o Gaúcho, que garantiu a classificação do ex-clube para a divisão de acesso em 2017. Os amigos que havia feito na época já não atuam mais lá, mas o volante mantém contato permanente com os diretores.
O futuro ele espera que seja no Grêmio. Jaílson não esconde o desejo de atuar na Europa, mas não pretende deixar o clube sem brindar o torcedor com conquistas. Enquanto isso, aproveita para adquirir maturidade e se inspirar no futebol do volante francês Kanté, campeão inglês pelo Leicester e vendido ao Chelsea.
Ao mesmo tempo em que elogia sua maturidade, Roger alerta ao dizer que o garoto ainda precisa percorrer um longo caminho até ficar pronto.
— Ele ainda precisa ainda dizer amém e buscar muita Coca-Cola para os mais velhos — avisa.
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— Ele falou que eu tinha qualidade na saída de jogo e marcação. E achava que eu era melhor partindo de trás. E me recuou de meia para volante — resume o jogador, já começando a se soltar na entrevista concedida na sexta-feira a Zero Hora, à beira do gramado do CT Luiz Carvalho, pouco depois do treinamento.
Com o Guarany eliminado nas quartas de final da Copa FGF, Ben-Hur retornou a Porto Alegre. Junto, trouxe Jaílson, que, na época, recebia salário de R$ 800, para um período de testes na base do Grêmio.
Começava 2014 e não havia espaço para o garoto no time treinado por James Freitas, hoje auxiliar de Roger Machado. Jaílson estava na fila atrás de Walace, Kaio, Araújo e Moisés. Em setembro, foi emprestado a Chapecoense para disputar o Brasileirão sub-20. No começo de 2015, passou para os profissionais, disputou o campeonato catarinense e Copa do Brasil, mas, estranhamente, foi devolvido para a base. O Grêmio decidiu chamá-lo de volta.
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— Jaílson tem quase todos os fundamentos. Passe, domínio, arremate, visão de jogo, cabeceio, vigor físico privilegiado. Dá uma dinâmica muito grande ao time. Com a experiência, aprenderá a achar os atalhos do campo — avalia o técnico, com entusiasmo igual ao dos torcedores, que já não imaginam o time sem a presença do guri de Caçapava do Sul.
Essas virtudes, no entanto, foram insuficientes para impedir que Jaílson cometesse um pênalti na partida contra a Chapecoense, pelo Brasileirão, uma de suas primeiras pelo Grêmio.
— Na hora, deu um branco, achei que estava tudo perdido para mim. Aí Geromel chegou e disse para eu seguir tranquilo, que buscaríamos o resultado — recorda.
As palavras do zagueiro transformaram o medo do garoto em confiança. Com tal intensidade que Jaílson marcou um dos gols do Grêmio no jogo, finalizado em 3 a 3.
— Foi uma sensação maravilhosa. Tirou um peso. Fiquei emocionado. Mas nem deu tempo para pensar em muita coisa, o jogo ainda estava andando — sorri.
O gesto de Geromel faz Roger Machado lembrar de uma cena ocorrida com ele, ainda como jogador, na decisão da Libertadores de 1995. Depois de falhar no início do gol do Nacional, em Medellín, o então lateral-esquerdo abateu-se e precisou do apoio de Luís Carlos Goiano para reabilitar-se em campo.
— Já pensou se Geromel, em vez de apoiar, o critica? Jaílson afundaria. Sempre é importante a palavra de um jogador mais experiente — alerta o treinador.
Se, nos primeiros dias entre os profissionais, Jaílson ficava quase escondido pelos cantos e só se dirigia aos outros jovens do time, hoje já está mais à vontade, como atesta o meia Douglas. No vestiário, poucos o chamam de Will Smith, apelido que recebeu dos colegas pela semelhança com o ator norte-americano. É de Jajá que todos o identificam.
— Nem me acho parecido com Will Smith. Mas, pelo menos, é um cara famoso. Pior se fosse comparado com um bandido — brinca.
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