Foto: Eduardo Moura/Globo Esporte
Em 26 de maio de 2016, Roger Machado completava exatos 365 dias como principal líder do comando técnico do Grêmio, clube que o revelou como jogador, onde construiu uma bela e vencedora história. Quisera o destino, um tanto quanto poético, que a festa de aniversário fosse um remake do mais belo capítulo da nova história protagonizada pelo agora treinador Roger: enfrentando o Atlético-MG fora de casa.
Ele chegou sob desconfiança. Até então constava em seu curriculum os cargos de auxiliar no próprio Grêmio, além de técnico dos modestos Juventude e Novo Hamburgo, que por mais respeito que mereçam, são clubes de divisões inferiores. Roger chegava para ser treinador de um clube da elite do futebol brasileiro, justamente para substituir Luis Felipe Scolari, seu professor na gloriosa época em que era lateral esquerdo, época essa que fez de Felipão um dos principais treinadores da nossa história.
E não se tratava de mais um movimento na dança das cadeiras que remanejam técnicos entre os times. Era uma mudança maior, era uma mudança de estilo. Na época cheguei a discutir via rede social com Mauro Cezar, consagrado comentarista esportivo na mídia nacional, hoje vinculado a ESPN Brasil, gente que sabe o que fala, e hoje reconheço que eu estava errado.
Mauro dizia que Felipão era contratado no Grêmio baseado no pensamento mágico de que voltaríamos aos anos 90 e que tudo seria igual. Dizia que Felipão era um profissional defasado, que insistia em métodos ultrapassados. Eu, que me fiz gremista naquela época em que o gaúcho de bigode ocupava a casamata, me deixei levar pelos sentimentos e o contrariei. Minha defesa foi baseada no argumento de que "Luis Felipe Scolari" talvez não servisse mais para comandar uma seleção, para disputar uma Copa do Mundo (o 7x1 era muito recente, na época), mas que o "Felipão" poderia sim servir para um clube na Série A. Mauro Cezar, eu me enganei, e se por ventura ler este texto, me desculpe (e pode me desbloquear no Twitter).
Quantos de nós já colocamos expectativa em contratações do Grêmio como "o novo Jardel", "o novo Dinho", "o novo Rivarola". Cada lateral direito que chegava por aqui era tido como "o novo Arce", e tudo isso pelo simples fato de que paramos no tempo, e os anos sem se tornar campeão criaram uma ilusão de que para voltar a levantar canecos tudo deveria ser exatamente igual ao que era naquela época. Nada melhor do que começar pelo mesmo treinador, não é mesmo?! Errado!
Um Roger acadêmico e aplicado, muito diferente dos motivadores que gritam na beira do campo, mostrou aos gremistas, ao Rio Grande do Sul e ao Brasil um novo conceito de futebol.
Não, ele não é o inventor desse conceito. Muitas equipes, principalmente da Europa, servem de exemplo para as daqui. Mas Roger mostrou convicção e coragem para nadar contra a maré da paixão gremista pelo futebol força e implantou o futebol técnico, o futebol de raciocínio rápido e inteligência.
Não há nenhum Jardel cabeceador no ataque tricolor, nenhum Rivarola rude na defesa, nenhum lateral direito franzino que ao cruzar parecia colocar a bola com as mãos, mesmo assim o Grêmio joga bem. Quanto ao Dinho, houveram características que foram preservadas, mas não me refiro aos carrinhos e divididas, mas sim saída de bola, passe, lançamento e até finalização, coisa que poucas pessoas lembram que o "Cangaceiro" fazia (sim, ele era um baita jogador, não era apenas um destruidor).
Roger não venceu, ainda, mas nos libertou do apego ao passado. Resistiu a toda e qualquer desconfiança e se manteve firme em seu propósito, estruturado nos resultados que conquistou e na forma acadêmica em que explica suas escolhas em cada entrevista coletiva, coisa que os amantes de futebol também gostam de acompanhar. Por falar nisso, outra referência a ESPN Brasil: quem ainda não teve a oportunidade de assistir ao programa Bola da Vez com o professor Roger, faça isso. Não sabem o que estão perdendo!
A única referência da qual não podemos nos desfazer jamais é o comprometimento que os times vencedores sempre tiveram. Algo que se for deixado de lado, não há técnica no mundo que faça de um time campeão. Exatamente a aparente falta deste comprometimento causou questionamentos recentemente. Mas o Tio Roger conseguiu resgatar isso também.
É evidente que mais cedo ou mais tarde a equipe iria oscilar, e quando isso aconteceu, todos criticaram. Passamos a questionar o empenho de alguns atletas, com uma certa recaída na paixão por aquele futebol força. E faremos novamente, se for preciso, mas Roger resistiu novamente.
Manteve Maicon capitão com todos nós cobrando em diversos veículos de informação, redes sociais, arquibancadas... assim como outras mudanças que reivindicamos. Roger resistiu, e hoje o Grêmio é líder do Campeonato Brasileiro. Uma liderança prematura e que ninguém garante que será mantida, mas que é mais um crédito ao Tio Roger.
Por isso, estamos diante de um paradoxo. O Tio Roger por ter trouxe o nosso Grêmio de volta, contudo, não necessariamente com as mesmas características do velho Grêmio. É um tanto contraditório e até confuso, mas não deixa de ser verdadeiro.
Renovou as práticas, substituiu as antigas pelas novas. Nos mostrou que há muito mais entre o futebol e o Grêmio do que supõe a nossa vã filosofia. Nos fez perceber que assim como tudo aquilo ao qual estamos envolvidos, também precisamos evoluir na maneira de torcer, assim como os clubes precisam evoluir na maneira de jogar.
Obrigado por ter feito isso, Tio Roger. Obrigado por ter trazido o nosso Grêmio de volta. Sua próxima missão é trazer as taças que tu ajudava a levantar!
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Ele chegou sob desconfiança. Até então constava em seu curriculum os cargos de auxiliar no próprio Grêmio, além de técnico dos modestos Juventude e Novo Hamburgo, que por mais respeito que mereçam, são clubes de divisões inferiores. Roger chegava para ser treinador de um clube da elite do futebol brasileiro, justamente para substituir Luis Felipe Scolari, seu professor na gloriosa época em que era lateral esquerdo, época essa que fez de Felipão um dos principais treinadores da nossa história.
E não se tratava de mais um movimento na dança das cadeiras que remanejam técnicos entre os times. Era uma mudança maior, era uma mudança de estilo. Na época cheguei a discutir via rede social com Mauro Cezar, consagrado comentarista esportivo na mídia nacional, hoje vinculado a ESPN Brasil, gente que sabe o que fala, e hoje reconheço que eu estava errado.
Mauro dizia que Felipão era contratado no Grêmio baseado no pensamento mágico de que voltaríamos aos anos 90 e que tudo seria igual. Dizia que Felipão era um profissional defasado, que insistia em métodos ultrapassados. Eu, que me fiz gremista naquela época em que o gaúcho de bigode ocupava a casamata, me deixei levar pelos sentimentos e o contrariei. Minha defesa foi baseada no argumento de que "Luis Felipe Scolari" talvez não servisse mais para comandar uma seleção, para disputar uma Copa do Mundo (o 7x1 era muito recente, na época), mas que o "Felipão" poderia sim servir para um clube na Série A. Mauro Cezar, eu me enganei, e se por ventura ler este texto, me desculpe (e pode me desbloquear no Twitter).
Quantos de nós já colocamos expectativa em contratações do Grêmio como "o novo Jardel", "o novo Dinho", "o novo Rivarola". Cada lateral direito que chegava por aqui era tido como "o novo Arce", e tudo isso pelo simples fato de que paramos no tempo, e os anos sem se tornar campeão criaram uma ilusão de que para voltar a levantar canecos tudo deveria ser exatamente igual ao que era naquela época. Nada melhor do que começar pelo mesmo treinador, não é mesmo?! Errado!
Um Roger acadêmico e aplicado, muito diferente dos motivadores que gritam na beira do campo, mostrou aos gremistas, ao Rio Grande do Sul e ao Brasil um novo conceito de futebol.
Não, ele não é o inventor desse conceito. Muitas equipes, principalmente da Europa, servem de exemplo para as daqui. Mas Roger mostrou convicção e coragem para nadar contra a maré da paixão gremista pelo futebol força e implantou o futebol técnico, o futebol de raciocínio rápido e inteligência.
Não há nenhum Jardel cabeceador no ataque tricolor, nenhum Rivarola rude na defesa, nenhum lateral direito franzino que ao cruzar parecia colocar a bola com as mãos, mesmo assim o Grêmio joga bem. Quanto ao Dinho, houveram características que foram preservadas, mas não me refiro aos carrinhos e divididas, mas sim saída de bola, passe, lançamento e até finalização, coisa que poucas pessoas lembram que o "Cangaceiro" fazia (sim, ele era um baita jogador, não era apenas um destruidor).
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A única referência da qual não podemos nos desfazer jamais é o comprometimento que os times vencedores sempre tiveram. Algo que se for deixado de lado, não há técnica no mundo que faça de um time campeão. Exatamente a aparente falta deste comprometimento causou questionamentos recentemente. Mas o Tio Roger conseguiu resgatar isso também.
É evidente que mais cedo ou mais tarde a equipe iria oscilar, e quando isso aconteceu, todos criticaram. Passamos a questionar o empenho de alguns atletas, com uma certa recaída na paixão por aquele futebol força. E faremos novamente, se for preciso, mas Roger resistiu novamente.
Manteve Maicon capitão com todos nós cobrando em diversos veículos de informação, redes sociais, arquibancadas... assim como outras mudanças que reivindicamos. Roger resistiu, e hoje o Grêmio é líder do Campeonato Brasileiro. Uma liderança prematura e que ninguém garante que será mantida, mas que é mais um crédito ao Tio Roger.
Por isso, estamos diante de um paradoxo. O Tio Roger por ter trouxe o nosso Grêmio de volta, contudo, não necessariamente com as mesmas características do velho Grêmio. É um tanto contraditório e até confuso, mas não deixa de ser verdadeiro.
Renovou as práticas, substituiu as antigas pelas novas. Nos mostrou que há muito mais entre o futebol e o Grêmio do que supõe a nossa vã filosofia. Nos fez perceber que assim como tudo aquilo ao qual estamos envolvidos, também precisamos evoluir na maneira de torcer, assim como os clubes precisam evoluir na maneira de jogar.
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