Foto: Anderson Fetter / Agencia RBS
Pedro Geromel é um zagueiro 24 horas por dia. Sempre foi. Comporta-se na vida como joga futebol com a camisa 3 do Grêmio. Ou seja, toma decisões na hora certa, antecipa-se às armadilhas, mantém-se centrado e é um sujeito discreto. Usa poucas, mas bem colocadas, frases.
— O Pedro é de médias palavras — resume o técnico Roger Machado.
Geromel só se solta em campo. Ali em sua área fala o tempo todo sem ser prolixo.
— O Edinho conta que ele fica o tempo todo: "Direita", "Esquerda", "Olha as costas", "Fecha a diagonal", "Olha o cara pelo lado" — revela Roger.
O diretor-executivo Rui Costa sorri do estilo reservado do zagueiro que ele descobriu na Europa. Mas garante que sua voz já se faz ouvir no vestiário. Os mais novos, principalmente, o escutam com atenção, se aproximam e sorvem a experiência que ele trouxe na bagagem depois de 10 anos entre Portugal, Alemanha e Espanha. Geromel foge do padrão de jogador de futebol. Tem estilo descolado, pouco varia da camiseta com jeans. Não tem tatuagens nem usa brincos, é fluente em inglês, alemão e espanhol e vem de uma família classe média. Porém, transita em todas as rodas do vestiário. Se o papo é com Luan, por exemplo, até sai uns "mano" ao final de cada frase.
Na sexta-feira, enquanto posava para fotos na entrada do CT, Luan gritou de sua caminhonete branca:
— Aí, Gegê! Geromito!
O zagueiro retrucou:
— Fala, vida louca!
Mas Geromel também se sente à vontade quando esparrama seu 1m90cm na cadeira diante da mesa de Rui Costa e fala de investimentos e mercado. Fora de campo, ele vira homem de negócios. É sócio do volante Elias em uma hamburgueria no badalado bairro paulistano Itaim Bibi, endereço de restaurantes e de noite agitada. Também tem um restaurante na cidade e uma loja que sua mulher toca em Porto Alegre.
— O bicho é um pão-duro. Olha, é difícil tirar um dinheirinho dele. O cara é seguro demais — diverte-se seu Valmir, o pai.
Seu Valmir conta que nas visitas em São Paulo, senta para jogar conversa fora com o filho. Quer falar do Corintihians, seu time do coração, saber das últimas notícias do Grêmio. O zagueiro responde uma, duas e na terceira muda o assunto:
— Pai, como você acha que vai ficar a economia?
O tino para os negócios vem do sangue italiano, herança do bisavô vindo de Treviso para o Brasil em meados do século passado. Não só dele. O próprio pai, dono de uma indústria de embalagens plásticas, serviu de exemplo. Embora ele diga que a educação severa recebida no tradicional Colégio Sion tenha norteado seus dois guris.
Ricardo, 28 anos, o caçula dos Geromel, é um modelo de empreendedor. Jogou futsal no Juventus, da Mooca, e transformou sua habilidade em bolsa de estudos no curso de administração numa universidade americana. Formou-se, trabalhou na África e na Ásia, estudou na Europa e, na volta aos Estados Unidos, em 2011, foi convidado a escrever para a revista Forbes. Logo, ingressou no departamento de riqueza da revista, responsável pela lista anual dos maiores bilionários do mundo. Especializou-se em identificar fortunas e escreveu um livro, Bi.lio.ná.rios.
Em 2014, Ricardo deixou a Forbes para tocar com o Fort Lauderdale Strikers. Agora, com um grupo de investidores gaúchos, trata da criação de um outro clube nos Estados Unidos, em San Francisco.
Pedro, por sua vez, construiu seu caminho com a bola. Sempre deixou claro na casa dos Geromel: estudava para passar. A média era sete? Pois era para tirar sete que estudava. Nunca repetiu ano. Cumpria com disciplina todas as tarefas na escola. Só que o olho brilhava mesmo era com a bola. Começou aos 10 anos, na Portuguesa. Inicialmente, a família acreditava se tratar de recreação. O tempo passou, e o guri espigado foi se firmando como zagueiro.
Além da Portuguesa, Geromel também defendia o Centro da Coroa, tradicional time da Vila Guilherme e frequente em torneios regionais e municipais de futebol infantil. Era ele na defesa e Elias no meio-campo. Elias jogava na base do Palmeiras nessa época e fazia campanha para que o amigo trocasse o Canindé pelo Parque Antárctica. Geromel resistia. Saiu da Portuguesa, passou pelo Juventus e ainda atuou por curto período no Santos. Até que um dia o zagueiro do sub-15 do Palmeiras se machucou, e Elias sugeriu o amigo ao técnico Caio Zanardi, ex-seleção sub-17 e hoje no Strikers.
— Pedro, surgiu uma oportunidade lá no Palmeiras. O técnico quer ver você.
Geromel topou. A passagem pelo Palmeiras, porém, foi conturbada. O guri assumiu lugar no time. Mas estranhamente só jogava nas partidas no Interior. Quando atuavam em São Paulo, na vitrina, ficava na reserva. O time era bom, tinha além de Elias, Ilsinho, de curta passagem pelo Inter. Mas foram dois anos de dissabores. Geromel já estava com 17 anos e se angustiava no Palmeiras. Foi quando Rodrigo Babu, amigo dos tempos de Colégio Sion e Juventus, convidou-o para tentarem a sorte em Portugal. O tio de Babu era dirigente do Chaves, clube da segunda divisão, e havia conseguido um teste para os dois. Geromel marcou um jantar em sua casa com as duas famílias. No meio da noite, eles anunciaram o plano.
As duas famílias ficaram apreensivas. Mas concordaram. O pai de Babu se aproximou de seu Valmir e vaticinou:
— Daqui a três meses estão de volta.
Estava meio certo. Babu suportou dois meses. Geromel, não. Como o Palmeiras negava sua liberação, treinava durante a semana com os profissionais e jogava aos domingos no sub-20 do Chaves. Mal conseguia decorar o nome dos companheiros. Para completar, a cidade era tão pequena que nem linha de ônibus tinha. Geromel usava bicicleta ou a carona do tio de Babu. Depois, passou a dormir no alojamento do clube, um quarto minúsculo em cima de um restaurante de comida saborosa. Em setembro de 2003, os pais fizeram uma surpresa e foram visitá-lo no aniversário de 18 anos. O frio cortava e havia uma neblina que deixava a cidade ainda mais desinteressante. Geromel fraquejou.
— Pai, não sei nem o nome dos caras. Chamo de cinco, de sete. O negócio tá feio.
Seu Valmir, com toda a calma, deixou a porta aberta:
— Fica tranquilo, filho. Se quiser voltar, a passagem está na mão. Você escolhe uma faculdade e vai estudar.
— Pai, acho que vou insistir um pouco mais.
Seu Valmir se diverte ao lembrar desse episódio:
— Foi só falar em estudar que o bicho recuou.
Geromel ganhou a liberação do Palmeiras, veio a primavera e tudo mudou. Passou a dividir apartamento com David, um meia português criado nos Estados Unidos. Na visita seguinte, no Natal, os pais estranharam que todos os bilhetes pendurados na casa eram em inglês. Geromel aproveitou a convivência com o companheiro de time e fez intensivo em inglês. O Chaves, vendo seu potencial, previu um futuro na Liga Espanhola. Orientou-o a aprender o espanhol. O que ele fez. Não demorou para que Jorge Mendes, o maior empresários da Europa e agente de Cristiano Ronaldo, o incluísse em sua carteira de clientes. Geromel foi para o Vitória de Guimarães, acabou eleito melhor zagueiro da Liga Portuguesa e foi comprado pelo Colônia em 2008.
Geromel desembarcou em Colônia com 23 anos e recém-casado. Havia oficializado o relacionamento com Liv, a quem conhecia desde a adolescência. Foram quatro temporadas na Alemanha. Em duas delas, foi eleito para a seleção da Bundesliga. O Bayern de Munique fez consulta ao Colonia sobre o brasileiro. O que ajudou Geromel a ganhar um bom aumento. O plano do Colonia era formar um timaço para chegar à Liga dos Campeões. Mas naufragou feio. Caiu para a segunda divisão. O teto salarial baixou, e o caminho foi a Espanha.
Às vésperas do fechamento da janela de transferências, Jorge Mendes levou Geromel para um jantar em sua casa. À mesa, também estava Cristiano Ronaldo. O agente apresentou dois caminhos: Betis e Mallorca. Sugeriu o segundo. Além de ser um clube sem tanta pressão, ainda moraria na paradisíaca ilha de Mallorca. Mendes pensava em uma temporada de trampolim para um clube maior. Só que os prazeres da praia interferiam no rendimento do grupo. Geromel, disciplinado e recém-chegado da Alemanha, estranhava o ritmo leve dos treinos. Percebia que havia entrado numa roubada. O Mallorca caiu, e o projeto Espanha foi enterrado na ilha de Mallorca.
Foi nessa época que o Grêmio entrou na vida do zagueiro. Na metade de 2013, Rui Costa nomeou Maickel Portela, hoje agente de Geromel, para um primeiro contato. A resposta foi positiva. Semanas depois, veio a Porto Alegre e passou uma tarde em um restaurante ouvindo de Rui Costa sobre o projeto do Grêmio. Só que o negócio esbarrou no Mallorca e em Jorge Mendes, que detinha 40% os direitos. O restante era do Colonia. E foi os alemães que o zagueiro acionou. O presidente, Wolfgang Overath, craque da seleção alemã campeã em 1974, havia prometido liberá-lo pelos bons serviços prestados. Cumpriu a palavra. Em dezembro daquele ano, Geromel pegou a mulher a filha Lia, um ano à época e desembarcou em Porto Alegre.
Os primeiros meses foram de ostracismo. Nem no banco conseguia lugar. A chance veio com Enderson Moreira, nos confrontos com o San Lorenzo, pela Libertadores. A adaptação ao clube e à cidade deu tão certo que até a família cresceu. Lauren nasceu em Porto Alegre — a festa de um ano foi no dia seguinte ao 4 a 0 na LDU. Os Geromel vieram em peso para a festa. Seu Valmir, o pai, não perdeu a chance de cutucar o filho:
— Pedro, você guarda tanto o dinheiro, mas deixa essas meninas crescerem que você vai ver.
— Pode deixar, pai, elas estão bem educadas — responde Geromel, objetivo e sério como convém a quem recebeu o apelido de Geromito.
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Pedro Geromel é um zagueiro 24 horas por dia. Sempre foi. Comporta-se na vida como joga futebol com a camisa 3 do Grêmio. Ou seja, toma decisões na hora certa, antecipa-se às armadilhas, mantém-se centrado e é um sujeito discreto. Usa poucas, mas bem colocadas, frases.
— O Pedro é de médias palavras — resume o técnico Roger Machado.
Geromel só se solta em campo. Ali em sua área fala o tempo todo sem ser prolixo.
— O Edinho conta que ele fica o tempo todo: "Direita", "Esquerda", "Olha as costas", "Fecha a diagonal", "Olha o cara pelo lado" — revela Roger.
O diretor-executivo Rui Costa sorri do estilo reservado do zagueiro que ele descobriu na Europa. Mas garante que sua voz já se faz ouvir no vestiário. Os mais novos, principalmente, o escutam com atenção, se aproximam e sorvem a experiência que ele trouxe na bagagem depois de 10 anos entre Portugal, Alemanha e Espanha. Geromel foge do padrão de jogador de futebol. Tem estilo descolado, pouco varia da camiseta com jeans. Não tem tatuagens nem usa brincos, é fluente em inglês, alemão e espanhol e vem de uma família classe média. Porém, transita em todas as rodas do vestiário. Se o papo é com Luan, por exemplo, até sai uns "mano" ao final de cada frase.
Na sexta-feira, enquanto posava para fotos na entrada do CT, Luan gritou de sua caminhonete branca:
— Aí, Gegê! Geromito!
O zagueiro retrucou:
— Fala, vida louca!
Mas Geromel também se sente à vontade quando esparrama seu 1m90cm na cadeira diante da mesa de Rui Costa e fala de investimentos e mercado. Fora de campo, ele vira homem de negócios. É sócio do volante Elias em uma hamburgueria no badalado bairro paulistano Itaim Bibi, endereço de restaurantes e de noite agitada. Também tem um restaurante na cidade e uma loja que sua mulher toca em Porto Alegre.
— O bicho é um pão-duro. Olha, é difícil tirar um dinheirinho dele. O cara é seguro demais — diverte-se seu Valmir, o pai.
Seu Valmir conta que nas visitas em São Paulo, senta para jogar conversa fora com o filho. Quer falar do Corintihians, seu time do coração, saber das últimas notícias do Grêmio. O zagueiro responde uma, duas e na terceira muda o assunto:
— Pai, como você acha que vai ficar a economia?
O tino para os negócios vem do sangue italiano, herança do bisavô vindo de Treviso para o Brasil em meados do século passado. Não só dele. O próprio pai, dono de uma indústria de embalagens plásticas, serviu de exemplo. Embora ele diga que a educação severa recebida no tradicional Colégio Sion tenha norteado seus dois guris.
Ricardo, 28 anos, o caçula dos Geromel, é um modelo de empreendedor. Jogou futsal no Juventus, da Mooca, e transformou sua habilidade em bolsa de estudos no curso de administração numa universidade americana. Formou-se, trabalhou na África e na Ásia, estudou na Europa e, na volta aos Estados Unidos, em 2011, foi convidado a escrever para a revista Forbes. Logo, ingressou no departamento de riqueza da revista, responsável pela lista anual dos maiores bilionários do mundo. Especializou-se em identificar fortunas e escreveu um livro, Bi.lio.ná.rios.
Em 2014, Ricardo deixou a Forbes para tocar com o Fort Lauderdale Strikers. Agora, com um grupo de investidores gaúchos, trata da criação de um outro clube nos Estados Unidos, em San Francisco.
Pedro, por sua vez, construiu seu caminho com a bola. Sempre deixou claro na casa dos Geromel: estudava para passar. A média era sete? Pois era para tirar sete que estudava. Nunca repetiu ano. Cumpria com disciplina todas as tarefas na escola. Só que o olho brilhava mesmo era com a bola. Começou aos 10 anos, na Portuguesa. Inicialmente, a família acreditava se tratar de recreação. O tempo passou, e o guri espigado foi se firmando como zagueiro.
Além da Portuguesa, Geromel também defendia o Centro da Coroa, tradicional time da Vila Guilherme e frequente em torneios regionais e municipais de futebol infantil. Era ele na defesa e Elias no meio-campo. Elias jogava na base do Palmeiras nessa época e fazia campanha para que o amigo trocasse o Canindé pelo Parque Antárctica. Geromel resistia. Saiu da Portuguesa, passou pelo Juventus e ainda atuou por curto período no Santos. Até que um dia o zagueiro do sub-15 do Palmeiras se machucou, e Elias sugeriu o amigo ao técnico Caio Zanardi, ex-seleção sub-17 e hoje no Strikers.
— Pedro, surgiu uma oportunidade lá no Palmeiras. O técnico quer ver você.
Geromel topou. A passagem pelo Palmeiras, porém, foi conturbada. O guri assumiu lugar no time. Mas estranhamente só jogava nas partidas no Interior. Quando atuavam em São Paulo, na vitrina, ficava na reserva. O time era bom, tinha além de Elias, Ilsinho, de curta passagem pelo Inter. Mas foram dois anos de dissabores. Geromel já estava com 17 anos e se angustiava no Palmeiras. Foi quando Rodrigo Babu, amigo dos tempos de Colégio Sion e Juventus, convidou-o para tentarem a sorte em Portugal. O tio de Babu era dirigente do Chaves, clube da segunda divisão, e havia conseguido um teste para os dois. Geromel marcou um jantar em sua casa com as duas famílias. No meio da noite, eles anunciaram o plano.
As duas famílias ficaram apreensivas. Mas concordaram. O pai de Babu se aproximou de seu Valmir e vaticinou:
— Daqui a três meses estão de volta.
Estava meio certo. Babu suportou dois meses. Geromel, não. Como o Palmeiras negava sua liberação, treinava durante a semana com os profissionais e jogava aos domingos no sub-20 do Chaves. Mal conseguia decorar o nome dos companheiros. Para completar, a cidade era tão pequena que nem linha de ônibus tinha. Geromel usava bicicleta ou a carona do tio de Babu. Depois, passou a dormir no alojamento do clube, um quarto minúsculo em cima de um restaurante de comida saborosa. Em setembro de 2003, os pais fizeram uma surpresa e foram visitá-lo no aniversário de 18 anos. O frio cortava e havia uma neblina que deixava a cidade ainda mais desinteressante. Geromel fraquejou.
— Pai, não sei nem o nome dos caras. Chamo de cinco, de sete. O negócio tá feio.
Seu Valmir, com toda a calma, deixou a porta aberta:
— Fica tranquilo, filho. Se quiser voltar, a passagem está na mão. Você escolhe uma faculdade e vai estudar.
— Pai, acho que vou insistir um pouco mais.
Seu Valmir se diverte ao lembrar desse episódio:
— Foi só falar em estudar que o bicho recuou.
Geromel ganhou a liberação do Palmeiras, veio a primavera e tudo mudou. Passou a dividir apartamento com David, um meia português criado nos Estados Unidos. Na visita seguinte, no Natal, os pais estranharam que todos os bilhetes pendurados na casa eram em inglês. Geromel aproveitou a convivência com o companheiro de time e fez intensivo em inglês. O Chaves, vendo seu potencial, previu um futuro na Liga Espanhola. Orientou-o a aprender o espanhol. O que ele fez. Não demorou para que Jorge Mendes, o maior empresários da Europa e agente de Cristiano Ronaldo, o incluísse em sua carteira de clientes. Geromel foi para o Vitória de Guimarães, acabou eleito melhor zagueiro da Liga Portuguesa e foi comprado pelo Colônia em 2008.
Geromel desembarcou em Colônia com 23 anos e recém-casado. Havia oficializado o relacionamento com Liv, a quem conhecia desde a adolescência. Foram quatro temporadas na Alemanha. Em duas delas, foi eleito para a seleção da Bundesliga. O Bayern de Munique fez consulta ao Colonia sobre o brasileiro. O que ajudou Geromel a ganhar um bom aumento. O plano do Colonia era formar um timaço para chegar à Liga dos Campeões. Mas naufragou feio. Caiu para a segunda divisão. O teto salarial baixou, e o caminho foi a Espanha.
Às vésperas do fechamento da janela de transferências, Jorge Mendes levou Geromel para um jantar em sua casa. À mesa, também estava Cristiano Ronaldo. O agente apresentou dois caminhos: Betis e Mallorca. Sugeriu o segundo. Além de ser um clube sem tanta pressão, ainda moraria na paradisíaca ilha de Mallorca. Mendes pensava em uma temporada de trampolim para um clube maior. Só que os prazeres da praia interferiam no rendimento do grupo. Geromel, disciplinado e recém-chegado da Alemanha, estranhava o ritmo leve dos treinos. Percebia que havia entrado numa roubada. O Mallorca caiu, e o projeto Espanha foi enterrado na ilha de Mallorca.
Foi nessa época que o Grêmio entrou na vida do zagueiro. Na metade de 2013, Rui Costa nomeou Maickel Portela, hoje agente de Geromel, para um primeiro contato. A resposta foi positiva. Semanas depois, veio a Porto Alegre e passou uma tarde em um restaurante ouvindo de Rui Costa sobre o projeto do Grêmio. Só que o negócio esbarrou no Mallorca e em Jorge Mendes, que detinha 40% os direitos. O restante era do Colonia. E foi os alemães que o zagueiro acionou. O presidente, Wolfgang Overath, craque da seleção alemã campeã em 1974, havia prometido liberá-lo pelos bons serviços prestados. Cumpriu a palavra. Em dezembro daquele ano, Geromel pegou a mulher a filha Lia, um ano à época e desembarcou em Porto Alegre.
Os primeiros meses foram de ostracismo. Nem no banco conseguia lugar. A chance veio com Enderson Moreira, nos confrontos com o San Lorenzo, pela Libertadores. A adaptação ao clube e à cidade deu tão certo que até a família cresceu. Lauren nasceu em Porto Alegre — a festa de um ano foi no dia seguinte ao 4 a 0 na LDU. Os Geromel vieram em peso para a festa. Seu Valmir, o pai, não perdeu a chance de cutucar o filho:
— Pedro, você guarda tanto o dinheiro, mas deixa essas meninas crescerem que você vai ver.
— Pode deixar, pai, elas estão bem educadas — responde Geromel, objetivo e sério como convém a quem recebeu o apelido de Geromito.
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