Brasileiro Jorge foi campeão da supercopa de Malta pelo Hibernians
Quando era garoto, Jorge trabalhava em um lava-rápido no bairro da Ribeira, em Salvador, para comprar bolas de gude, empinar pipas e ter dinheiro para curtir o final de semana. Enquanto fazia polimento, passava aspirador nos estofados e limpava os pneus, admirava os belos carros dos clientes e sonhava...
"Um dia se Deus quiser chego lá. Eu dava um trato na 'caranga' dos caras e passava o fim de semana feliz. O Wesley Pittbull, ex-atacante do Bahia, deixava o carro lá. eu ficava admirando", contou o jogador, ao ESPN.com.br.
"Quando era lavagem completa era difícil porque tinha que subir numa rampa, mas eu não sabia dirigir e tinha vergonha de dizer isso. Eu falava que estava com medo de cair no buraco (risos). Lavar embaixo do carro é foda, você se suja todo de óleo, rapaz", observou.
Faixa cinza de judô, Jorge até pensou em ser lutador profissional, mas o futebol estava no sangue. Ele era atacante de uma escolinha no campo do Lasca, até que foi chamado por um olheiro para fazer um teste, em 2005.
"Eu fui com 18 anos, era velho já. Joguei no Galo Maringá, me destaquei no Estadual e fui para a base do Grêmio. Na minha época o Douglas Costa estava lá. Lembro como se fosse hoje, fomos fazer um coletivo contra o profissional. Ele chegou até a linha de fundo e deu cruzamento de letra, certinho. Eu pensei: 'Esse moleque é abusado (risos)'", comentou.
Além da habilidade, o meia que brilha com as camisas do Bayern de Munique e seleção brasileira, já demonstrava não ter medo dos adversários. "Hoje ele está aí dando show, mas já dava pra ver que ia ser o que é hoje. Sempre teve personalidade forte, ia pra cima e gostava de botar apelido em todo mundo", recordou.
Jorge ficou uma temporada no time gaúcho, mas não teve muitas oportunidades e saiu. Depois rodou por Daegu (Coréia do Sul), Rio Claro-SP, Metropolitano-SC até desembarcar na Europa, em 2010.
Ele joga contra bancários, bombeiros e médicos
O atacante realizou o sonho da maioria dos jogadores brasileiros de atuar no futebol do "Velho Continente", porém, bem distante do glamour e da fama dos astros de Inglaterra, Espanha ou Alemanha. Ele foi para o arquipélago de Malta, país próximo da Itália, com apenas 438 mil habitantes.
"Aqui não tem violência, que país fantástico. Se você deixar carro aberto de noite, no outro dia está do mesmo jeito. É como se fosse uma cidade do interior, o que é um bairro para gente no Brasil é uma cidade aqui", comentou.
Jorge tem 12 gols e luta pela artilharia do Campeonato Maltês. Está apenas um tento atrás dos goleadores máximos nesta temporada. Seu primeiro clube por lá foi o Vittoriosa Stars, que tinha jogadores que se dividiam entre os gramados e outras profissões.
"Não sabia como era o futebol aqui no começo. No meu primeiro dia estava no vestiário me trocando para o treino e chegava um cara de vermelho, outro todo de azul, um escrito HSBC, outro com crachá do aeroporto e não entendia a razão. Para mim era tudo normal", afirmou.
"Os caras na verdade chegavam de uniforme porque tinham vindo direto do trabalho para treinar. Um era bombeiro, outro médico, tinha bancário e até um fiscal do aeroporto (risos)", relatou.
"Sempre cruzo com jogadores nos serviços fora do futebol, é engraçado. Uma vez fui trocar um cheque no banco e o cara olhou e falou: 'Jorge'. Era o zagueiro de um time adversário, do Sliema, que era gerente do banco local também (risos)", recordou.
"No aeroporto uma vez fui trocar uma passagem e o lateral do time que eu tinha jogado junto, o Lima, ficava na parte de venda no caixa. Não posso nem brigar com os caras em campo senão estou ferrado, nem viajar eu posso (risos)", afirmou.
Até mesmo alguns brasileiros acabam fixando residência no local e investindo em outros negócios além dos gramados. "Um amigo meu que jogou comigo no Brasil e atua aqui montou junto com um maltês uma imobiliária", recordou.
Além do Vittoriosa, ele jogou no Sliema Wanderers, Birkirkara, Tarxien Rainbows e Naxxar Lions, antes de chegar ao Hibernians, atual campeão maltês. Apesar do sucesso no país, dificilmente um estrangeiro defende a seleção. De acordo com Jorge, isso se deve às leis que dificultam muito a naturalização.
"Você precisa ficar casado por cinco anos com uma maltesa e morar aqui para ter o passaporte. Ouvi dizer que até vão mudar as regras, mas do jeito que é hoje fica quase impossível", afirmou.
"O futebol cresce a cada dia. Alguns jogadores estão saindo para Itália e está valorizando. Consigo ver uma evolução. Hoje são 14 times por aqui, tem mais três divisões. No meu time todo mundo é profissional", analisou.
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Quando era garoto, Jorge trabalhava em um lava-rápido no bairro da Ribeira, em Salvador, para comprar bolas de gude, empinar pipas e ter dinheiro para curtir o final de semana. Enquanto fazia polimento, passava aspirador nos estofados e limpava os pneus, admirava os belos carros dos clientes e sonhava...
"Um dia se Deus quiser chego lá. Eu dava um trato na 'caranga' dos caras e passava o fim de semana feliz. O Wesley Pittbull, ex-atacante do Bahia, deixava o carro lá. eu ficava admirando", contou o jogador, ao ESPN.com.br.
"Quando era lavagem completa era difícil porque tinha que subir numa rampa, mas eu não sabia dirigir e tinha vergonha de dizer isso. Eu falava que estava com medo de cair no buraco (risos). Lavar embaixo do carro é foda, você se suja todo de óleo, rapaz", observou.
Faixa cinza de judô, Jorge até pensou em ser lutador profissional, mas o futebol estava no sangue. Ele era atacante de uma escolinha no campo do Lasca, até que foi chamado por um olheiro para fazer um teste, em 2005.
"Eu fui com 18 anos, era velho já. Joguei no Galo Maringá, me destaquei no Estadual e fui para a base do Grêmio. Na minha época o Douglas Costa estava lá. Lembro como se fosse hoje, fomos fazer um coletivo contra o profissional. Ele chegou até a linha de fundo e deu cruzamento de letra, certinho. Eu pensei: 'Esse moleque é abusado (risos)'", comentou.
Além da habilidade, o meia que brilha com as camisas do Bayern de Munique e seleção brasileira, já demonstrava não ter medo dos adversários. "Hoje ele está aí dando show, mas já dava pra ver que ia ser o que é hoje. Sempre teve personalidade forte, ia pra cima e gostava de botar apelido em todo mundo", recordou.
Jorge ficou uma temporada no time gaúcho, mas não teve muitas oportunidades e saiu. Depois rodou por Daegu (Coréia do Sul), Rio Claro-SP, Metropolitano-SC até desembarcar na Europa, em 2010.
Ele joga contra bancários, bombeiros e médicos
O atacante realizou o sonho da maioria dos jogadores brasileiros de atuar no futebol do "Velho Continente", porém, bem distante do glamour e da fama dos astros de Inglaterra, Espanha ou Alemanha. Ele foi para o arquipélago de Malta, país próximo da Itália, com apenas 438 mil habitantes.
"Aqui não tem violência, que país fantástico. Se você deixar carro aberto de noite, no outro dia está do mesmo jeito. É como se fosse uma cidade do interior, o que é um bairro para gente no Brasil é uma cidade aqui", comentou.
Jorge tem 12 gols e luta pela artilharia do Campeonato Maltês. Está apenas um tento atrás dos goleadores máximos nesta temporada. Seu primeiro clube por lá foi o Vittoriosa Stars, que tinha jogadores que se dividiam entre os gramados e outras profissões.
"Não sabia como era o futebol aqui no começo. No meu primeiro dia estava no vestiário me trocando para o treino e chegava um cara de vermelho, outro todo de azul, um escrito HSBC, outro com crachá do aeroporto e não entendia a razão. Para mim era tudo normal", afirmou.
"Os caras na verdade chegavam de uniforme porque tinham vindo direto do trabalho para treinar. Um era bombeiro, outro médico, tinha bancário e até um fiscal do aeroporto (risos)", relatou.
"Sempre cruzo com jogadores nos serviços fora do futebol, é engraçado. Uma vez fui trocar um cheque no banco e o cara olhou e falou: 'Jorge'. Era o zagueiro de um time adversário, do Sliema, que era gerente do banco local também (risos)", recordou.
"No aeroporto uma vez fui trocar uma passagem e o lateral do time que eu tinha jogado junto, o Lima, ficava na parte de venda no caixa. Não posso nem brigar com os caras em campo senão estou ferrado, nem viajar eu posso (risos)", afirmou.
Até mesmo alguns brasileiros acabam fixando residência no local e investindo em outros negócios além dos gramados. "Um amigo meu que jogou comigo no Brasil e atua aqui montou junto com um maltês uma imobiliária", recordou.
Além do Vittoriosa, ele jogou no Sliema Wanderers, Birkirkara, Tarxien Rainbows e Naxxar Lions, antes de chegar ao Hibernians, atual campeão maltês. Apesar do sucesso no país, dificilmente um estrangeiro defende a seleção. De acordo com Jorge, isso se deve às leis que dificultam muito a naturalização.
"Você precisa ficar casado por cinco anos com uma maltesa e morar aqui para ter o passaporte. Ouvi dizer que até vão mudar as regras, mas do jeito que é hoje fica quase impossível", afirmou.
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