André Baibich: por que não é hora de desespero para o Grêmio de Roger


Fonte: Diário Gaúcho

André Baibich: por que não é hora de desespero para o Grêmio de Roger
Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

Pode ter sido só impressão, mas Roger me pareceu mais reclamão do que o comum ao atender a imprensa após a vitória sobre o Novo Hamburgo.

— Gente, foram só duas derrotas — repetia o técnico gremista, referindo-se aos questionamentos sobre o "mau momento" do time.

Evidente que Roger dourou a pílula. Se somarmos os dois maus resultados — com maus desempenhos — às atuações ruins em vitórias sobre o Coritiba e o Novo Hamburgo, temos um recorte que nos permite dizer que o Grêmio está oscilando. O que não anula todo o trabalho da temporada passada.

De repente, surge a crítica pronta de que o time está "manjado", que seus movimentos foram "estudados" pelos adversários e que uma mudança profunda é necessária. Calma, muita calma nesta hora.

O Grêmio iniciou 2016 com um trunfo raro nos últimos anos: a continuidade. Manteve o treinador e garantiu a permanência de grande parte do grupo de jogadores. Ainda que os zagueiros contratados não convençam e que Wallace Oliveira pareça insuficiente nesta arrancada, é preciso paciência. Erazo e Galhardo, os titulares do fim de 2015, iniciaram o ano sob as mesmas contestações que hoje pairam sobre os reforços gremistas.

O perigo deste momento difícil é o abandono da estrutura montada no ano passado. Aproximação, troca de passes, marcação adiantada, movimentação na frente. Tudo isso é associado imediatamente ao Grêmio de Roger, o que indica uma identidade firmada, algo importantíssimo na construção de equipes competitivas.

Uma série de questões precisam ser remediadas para trazer o trem de volta aos trilhos, mas sem mudar o caminho nem o destino final. Desde 2015, o Grêmio enfrenta dificuldades no terço final do campo. Às vezes não sabe finalizar o que costuma começar tão bem na saída de bola, algo que pode melhorar com a entrada do decisivo Miller Bolaños.

Aliás, é ela, a saída de bola, que traz preocupações mais latentes no desempenho dos últimos jogos. Os volantes, tão importantes para ditar o ritmo da troca de passes, têm encontrado dificuldades para acelerar a bola. O time tem saído devagar, quase parando, do campo de defesa, criando a percepção de uma equipe arrastada e, por vezes, até sem vontade — algo em que não acredito. O desfalque de Walace é parte da explicação, mas raramente a presença ou ausência de uma só peça justifica uma dificuldade sistêmica.

O torcedor mais atento perguntaria: e a defesa? Evidente que há problemas de marcação, mas me parece que eles têm mais relação com a postura ultra-ofensiva do time do que com questões — que existem, não há dúvida — do setor defensivo. O time marca lá na frente, se expõe, mas por todas essas dificuldades na criação das jogadas, não transforma a agressividade em gols. Pior: a cada erro de passe, dá chance de o adversário contra-atacar.

A seca de títulos e a empolgação gerada com a excelente campanha de 2015 colocaram uma carga excessiva sobre o Grêmio de 2016. Tanto que uma curta sequência de quatro jogos é suficiente para que um trabalho competente e firmado sofra questionamentos. Terra arrasada, agora, seria a pior dos caminhos para Roger. A ele, cabe fazer os ajustes finos para encerrar o mau momento o mais rápido possível e, assim, evitar incomodação em suas entrevistas coletivas.


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19/11/2024