Felipão orienta o time na estreia pelo Grêmio contra o Inter-SM em 1987 (Foto: Agência RBS)
Assim que deixar o moderno vestiário dos visitantes no Beira-Rio, por volta das 16h do próximo domingo, para comandar o Grêmio no Gre-Nal 402, Felipão irá deparar com sua terceira estreia pelo Tricolor, em seu retorno ao clube do coração após 18 anos. Ao lado dos fieis auxiliares, Flávio Murtosa e Ivo Wortmann no banco de reservas, deverá pedir à sua santa padroeira, Nossa Senhora do Caravaggio, para que lhe dê o mesmo resultado de suas duas largadas anteriores: a vitória.
Foi assim em 1987, quando o então iniciante treinador saiu vitorioso contra o Inter-SM, pelo Gauchão, e em 1993, quando já mais experiente, comemorou o triunfo sobre o Fluminense, na arrancada inicial no Brasileirão. Dois bons inícios que acabaram levando a conquistas, mas que não têm o mesmo peso da partida do domingo. De um clássico Gre-Nal marcado por simbolismos: Luiz Felipe faz seu primeiro trabalho desde o vexatório 7 a 1 para a Alemanha, na Copa. O Tricolor reencontra o rival depois de uma derrota menor, mas não menos traumática: o 4 a 1 para o Colorado na final do Gauchão, no Estádio Centenário. Isso tudo no primeiro clássico do novo Beira-Rio.
O retrospecto recente pode até indicar um tropeço gremista no clássico. O clube não tem triunfos contra o Inter há oito jogos - desde agosto de 2012, quando venceu o rival no Beira-Rio por 1 a 0, gol de Elano. Amarga ainda a 10º colocação no Brasileirão após duas derrotas seguidas na competição, enquanto vê o rival na 3ª posição, com vitórias nas últimas três rodadas do nacional. A gangorra pende para o lado colorado. Motivo para intimidar? Não, diante da presença de Felipão e seu histórico positivo em estreias pelo Grêmio.
1987: Sufoco em vitória magra diante do Inter-SM
O uruguaio Juan Martín Mugica não conseguiu fazer o Grêmio de Valdo e Bonamigo engrenar em 1987. Acabou demitido após apenas três meses de trabalho, em junho, ao completar cinco jogos sem vitórias no Gauchão. Era a oportunidade para um treinador ainda iniciante, aos 38 anos, galgar seu espaço em um clube grande, depois de passagens por equipes tradicionais do interior, como Juventude e Brasil de Pelotas. Era a vez de Felipão.
Um obstinado por triunfos que tão logo chegou, já imergiu em trabalho. Comandou apenas dois treinamentos antes de estrear, diante de pouco mais de cinco mil gremistas, em uma quarta-feira, três de junho de 1987. Tempo escasso para desempenhar uma grande atuação, mas suficiente para garantir a primeira vitória. Mesmo que por pouco. Placar magro, 1 a 0, diante do Inter-SM, pelo Gauchão.
O Grêmio escapou de perder em uma primeira etapa marcada por "balões, divididas grosseiras e passes errados", segundo a crônica do jornal Zero Hora do dia seguinte à partida. Contou com o "arrojo" do goleiro Mazaropi, que defendeu chute à queima-roupa do zagueiro Roberto e voou aos pés do rival para evitar o gol no rebote, logo aos 10 minutos. E com a sorte, aos 33, quando o defensor Jaime cabeceou no travessão, após falha do camisa 1. Sequer chegou próximo de marcar contra o "fraco" time adversário.
O Tricolor melhorou no segundo tempo. Se lançou ao ataque diante de um visitante acuado, que se contentava apenas com o empate. Pressionou mesmo sem ter seus atacantes em um dia de grande inspiração. O esperado gol veio já aos 37, em cabeçada de Luis Eduardo, para salvar Luiz Felipe em sua estreia. Mas não para evitar as críticas: "O sufoco passou, mas ainda falta futebol".
A coletiva de Felipão após a partida teve tons proféticos. Previu a melhora da equipe com a sequência de treinamentos e ela veio. Culminou com a conquista do Gauchão daquele ano. O primeiro do técnico pelo Grêmio. Troféu que não foi o bastante para mantê-lo no emprego depois do mau desempenho na Copa União, seis meses mais tarde. Mas Scolari já antevia as jogadas que lhe dariam, anos mais tarde, as principais conquistas pelo clube: pelo lado do campo, com cruzamentos para o buscando o camisa 9. Ou camisa 16, como Jardel.
- Estrear vencendo é muito bom. Mas temos que falar que o time não está essas maravilhas. Nem poderia ser, pois com dois dias de treino não dá para entrosar o time. A partir de amanhã vamos intensificar ainda mais essa parte e melhorar as jogadas pelas pontas, que não ocorreram com tanta frequência. Por ali, fica mais fácil, pois só tem um jogador na marcação. No meio, tem cinco ou seis - analisou à época.
1993: Das vaias ao "olé", em virada sobre o Fluminense, com direito a golaço
Felipão retornaria ao Grêmio seis anos mais tarde, em agosto de 1993, para substituir Cassiá Carpes. Mais maduro, aos 44, via o prestígio nacional aumentar após o título da Copa do Brasil com o Criciúma, em 1991, e desembarcava esperançoso no Estádio Olímpico.
O Grêmio completaria 90 anos de história um mês mais tarde. Precisava recuperar o orgulho dos gremistas na volta à elite nacional após um traumático rebaixamento em 1991, e ressurgir da crise em que estava inserido. Outra missão para Luiz Felipe Scolari.
A estreia veio em uma arrancada para dar ânimo aos nove mil gremistas que foram ao Olímpico incentivar os jogadores contra o Fluminense, na primeira rodada do Grupo B do Campeonato Brasileiro. Mas não sem sustos e sem protestos dos torcedores. Foram os cariocas que abriram o placar.
Aos 13 do primeiro tempo, Wallace fez boa jogada pela esquerda e cruzou para Ézio desviar de cabeça. Suficiente para inflamar a ira da torcida, que logo começou a pedir a volta do antigo treinador. Nada que intimidasse o Tricolor do novo comandante.
Gilson comemora o segundo gol do Grêmio contra o Fluminense em 1993 (Foto: Reprodução)
O empate veio 11 minutos depois, graças a outro estreante da tarde, o volante Sergio Winck. Cobrança perfeita no ângulo do goleiro rival, Nei, para empatar a partida e reconquistar os gremistas na arquibancada, que passaram a vibrar com time.
- O grito dessa torcida deixa a gente arrepiado - disse o autor do gol ao jornal Zero Hora no intervalo.
Mesmo desentrosado, o ataque gremista mostrou talento para virar a partida e selar a vitória na segunda etapa. Aos 10, Adil ganhou da marcação na bola aérea e tocou para Fabinho. O meia deu apenas um toque na bola para deixar Gilson na cara do gol. Chute seco, no canto. Adil apareceria novamente aos 28, para mandar um chutaço do meio da rua. Direto no ângulo.
Uma atuação arrasadora. O Tricolor desatou a perder chances de gol, enquanto os torcedores gritavam "olé" no gramado. Um show que culminou com a desatenção da defesa gremista. Mesmo com 10 homens em campo - depois da expulsão de Lira - Ézio recebeu na entrada da área e marcou seu segundo gol na tarde já no final da partida, ao tocar na saída de Danrlei.
O gol ligou o alerta nos gremistas, que retomaram a seriedade para dar a vitória a Felipão em sua estreia. Uma prévia do que viria nos três anos em que comandou o Grêmio. A Copa do Brasil em 1994. A Libertadores no ano seguinte. E o Brasileirão em 1996.
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Assim que deixar o moderno vestiário dos visitantes no Beira-Rio, por volta das 16h do próximo domingo, para comandar o Grêmio no Gre-Nal 402, Felipão irá deparar com sua terceira estreia pelo Tricolor, em seu retorno ao clube do coração após 18 anos. Ao lado dos fieis auxiliares, Flávio Murtosa e Ivo Wortmann no banco de reservas, deverá pedir à sua santa padroeira, Nossa Senhora do Caravaggio, para que lhe dê o mesmo resultado de suas duas largadas anteriores: a vitória.
Foi assim em 1987, quando o então iniciante treinador saiu vitorioso contra o Inter-SM, pelo Gauchão, e em 1993, quando já mais experiente, comemorou o triunfo sobre o Fluminense, na arrancada inicial no Brasileirão. Dois bons inícios que acabaram levando a conquistas, mas que não têm o mesmo peso da partida do domingo. De um clássico Gre-Nal marcado por simbolismos: Luiz Felipe faz seu primeiro trabalho desde o vexatório 7 a 1 para a Alemanha, na Copa. O Tricolor reencontra o rival depois de uma derrota menor, mas não menos traumática: o 4 a 1 para o Colorado na final do Gauchão, no Estádio Centenário. Isso tudo no primeiro clássico do novo Beira-Rio.
O retrospecto recente pode até indicar um tropeço gremista no clássico. O clube não tem triunfos contra o Inter há oito jogos - desde agosto de 2012, quando venceu o rival no Beira-Rio por 1 a 0, gol de Elano. Amarga ainda a 10º colocação no Brasileirão após duas derrotas seguidas na competição, enquanto vê o rival na 3ª posição, com vitórias nas últimas três rodadas do nacional. A gangorra pende para o lado colorado. Motivo para intimidar? Não, diante da presença de Felipão e seu histórico positivo em estreias pelo Grêmio.
1987: Sufoco em vitória magra diante do Inter-SM
O uruguaio Juan Martín Mugica não conseguiu fazer o Grêmio de Valdo e Bonamigo engrenar em 1987. Acabou demitido após apenas três meses de trabalho, em junho, ao completar cinco jogos sem vitórias no Gauchão. Era a oportunidade para um treinador ainda iniciante, aos 38 anos, galgar seu espaço em um clube grande, depois de passagens por equipes tradicionais do interior, como Juventude e Brasil de Pelotas. Era a vez de Felipão.
Um obstinado por triunfos que tão logo chegou, já imergiu em trabalho. Comandou apenas dois treinamentos antes de estrear, diante de pouco mais de cinco mil gremistas, em uma quarta-feira, três de junho de 1987. Tempo escasso para desempenhar uma grande atuação, mas suficiente para garantir a primeira vitória. Mesmo que por pouco. Placar magro, 1 a 0, diante do Inter-SM, pelo Gauchão.
O Grêmio escapou de perder em uma primeira etapa marcada por "balões, divididas grosseiras e passes errados", segundo a crônica do jornal Zero Hora do dia seguinte à partida. Contou com o "arrojo" do goleiro Mazaropi, que defendeu chute à queima-roupa do zagueiro Roberto e voou aos pés do rival para evitar o gol no rebote, logo aos 10 minutos. E com a sorte, aos 33, quando o defensor Jaime cabeceou no travessão, após falha do camisa 1. Sequer chegou próximo de marcar contra o "fraco" time adversário.
O Tricolor melhorou no segundo tempo. Se lançou ao ataque diante de um visitante acuado, que se contentava apenas com o empate. Pressionou mesmo sem ter seus atacantes em um dia de grande inspiração. O esperado gol veio já aos 37, em cabeçada de Luis Eduardo, para salvar Luiz Felipe em sua estreia. Mas não para evitar as críticas: "O sufoco passou, mas ainda falta futebol".
A coletiva de Felipão após a partida teve tons proféticos. Previu a melhora da equipe com a sequência de treinamentos e ela veio. Culminou com a conquista do Gauchão daquele ano. O primeiro do técnico pelo Grêmio. Troféu que não foi o bastante para mantê-lo no emprego depois do mau desempenho na Copa União, seis meses mais tarde. Mas Scolari já antevia as jogadas que lhe dariam, anos mais tarde, as principais conquistas pelo clube: pelo lado do campo, com cruzamentos para o buscando o camisa 9. Ou camisa 16, como Jardel.
- Estrear vencendo é muito bom. Mas temos que falar que o time não está essas maravilhas. Nem poderia ser, pois com dois dias de treino não dá para entrosar o time. A partir de amanhã vamos intensificar ainda mais essa parte e melhorar as jogadas pelas pontas, que não ocorreram com tanta frequência. Por ali, fica mais fácil, pois só tem um jogador na marcação. No meio, tem cinco ou seis - analisou à época.
1993: Das vaias ao "olé", em virada sobre o Fluminense, com direito a golaço
Felipão retornaria ao Grêmio seis anos mais tarde, em agosto de 1993, para substituir Cassiá Carpes. Mais maduro, aos 44, via o prestígio nacional aumentar após o título da Copa do Brasil com o Criciúma, em 1991, e desembarcava esperançoso no Estádio Olímpico.
O Grêmio completaria 90 anos de história um mês mais tarde. Precisava recuperar o orgulho dos gremistas na volta à elite nacional após um traumático rebaixamento em 1991, e ressurgir da crise em que estava inserido. Outra missão para Luiz Felipe Scolari.
A estreia veio em uma arrancada para dar ânimo aos nove mil gremistas que foram ao Olímpico incentivar os jogadores contra o Fluminense, na primeira rodada do Grupo B do Campeonato Brasileiro. Mas não sem sustos e sem protestos dos torcedores. Foram os cariocas que abriram o placar.
Aos 13 do primeiro tempo, Wallace fez boa jogada pela esquerda e cruzou para Ézio desviar de cabeça. Suficiente para inflamar a ira da torcida, que logo começou a pedir a volta do antigo treinador. Nada que intimidasse o Tricolor do novo comandante.
Gilson comemora o segundo gol do Grêmio contra o Fluminense em 1993 (Foto: Reprodução)
O empate veio 11 minutos depois, graças a outro estreante da tarde, o volante Sergio Winck. Cobrança perfeita no ângulo do goleiro rival, Nei, para empatar a partida e reconquistar os gremistas na arquibancada, que passaram a vibrar com time.
- O grito dessa torcida deixa a gente arrepiado - disse o autor do gol ao jornal Zero Hora no intervalo.
Mesmo desentrosado, o ataque gremista mostrou talento para virar a partida e selar a vitória na segunda etapa. Aos 10, Adil ganhou da marcação na bola aérea e tocou para Fabinho. O meia deu apenas um toque na bola para deixar Gilson na cara do gol. Chute seco, no canto. Adil apareceria novamente aos 28, para mandar um chutaço do meio da rua. Direto no ângulo.
Uma atuação arrasadora. O Tricolor desatou a perder chances de gol, enquanto os torcedores gritavam "olé" no gramado. Um show que culminou com a desatenção da defesa gremista. Mesmo com 10 homens em campo - depois da expulsão de Lira - Ézio recebeu na entrada da área e marcou seu segundo gol na tarde já no final da partida, ao tocar na saída de Danrlei.
O gol ligou o alerta nos gremistas, que retomaram a seriedade para dar a vitória a Felipão em sua estreia. Uma prévia do que viria nos três anos em que comandou o Grêmio. A Copa do Brasil em 1994. A Libertadores no ano seguinte. E o Brasileirão em 1996.
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