Felipão esteve no CT após demissão em maio (Foto: Eduardo Moura)
Em algum canto de Guangzhou, maior cidade da província de Guangdong, em meio ao luxo oferecido pelos milionários chineses, está a figura central do que é considerada a maior tragédia do futebol brasileiro nos últimos anos. Felipão, atualmente no Guangzhou Evergrande, estará 17 mil quilômetros de distância do palco do 7 a 1, na semifinal da Copa do Mundo, um ano depois da derrota para a Alemanha.
Seu reduto inicial após o vexame havia sido Porto Alegre, ao buscar carinho no Grêmio, num surpreendente retorno ao futebol menos de um mês do fatídico jogo. Só que após sua demissão em maio, irromperam críticas, diretas e indiretas, ao seu trabalho que começou promissor, mas que acabou minado por problemas de vestiário e resultados negativos.
Preparação física, estilo de liderança do técnico e discurso no vestiário foram alguns dos pontos que foram levantados pelos jogadores gremistas em entrevistas durante a boa fase do Grêmio após a chegada de Roger Machado, que conta com seis vitórias em oito jogos, sendo cinco delas consecutivas. No fim, Felipão virou alvo e uma das explicações para a perda do título gaúcho, enquanto era a grande esperança de fazer com que o Tricolor quebrasse a hegemonia do rival.
- Felipão tinha uma característica diferente e não conseguiu tirar o que era esperado de nós - sentenciou Giuliano, em entrevista coletiva em Chapecó, nesta terça-feira.
Felipão começou a ser pressionado após a derrota para o Coritiba, dia 17 de maio, na segunda rodada do Brasileirão - antes, havia perdido o Gauchão na final para o Inter com fraca atuação e permitido o empate para a Ponte Preta na Arena, na estreia do Brasileirão.
No desembarque em Porto Alegre após o 2 a 0 no Paraná, viu sua imagem arranhada ao ser contestado e vaiado até pela torcida que o tem como ídolo. Dois dias depois, em uma reunião com o presidente Romildo Bolzan Júnior, pediu demissão e deixou o clube do coração. O mandatário gremista fez questão de evitar "queimar" Scolari como referência histórica do clube, mas as críticas ao seu trabalho passaram a surgir naturalmente entre os atletas.
Momentos altos de Felipão: chegada em julho e Gre-Nal de novembro (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
Curiosamente, o recomeço de Felipão no Grêmio soou promissor. Pegou time desacreditado na época e o alçou ao G-4 até as rodadas finais, quando houve queda de rendimento e não classificação à Libertadores. O ponto alto foi a goleada sobre o Inter, em 9 de novembro, quatro meses após o 7x1 e no dia de seu aniversário. Após aplicar 4 a 1 no maior rival, que não perdia para o Tricolor desde 2012, Scolari chegou a chorar no vestiário, classificando aquele domingo como o ápice da carreira.
Discurso
A figura de Felipão já não motivava mais o elenco. O treinador também ia aos microfones constantemente para pedir reforços aos dirigentes, que passaram a fechar os cofres a ponto de haver um desmanche de quase dois times no elenco em relação a 2014. Durante o Gauchão, o treinador também tomou uma de suas medidas mais controversas de sua terceira passagem: deixou o banco de reservas na derrota para o Veranópolis por 1 a 0, na Arena, e rumou para o vestiário, antes do final da partida
Depois dessa crise, o time melhorou e chegou à final do Gauchão. Acabou perdendo para o Inter, um fracasso do projeto inicial. Após isso, Felipão disse que o Grêmio não estava entre os 8 melhores grupos do Campeonato Brasileiro em uma entrevista coletiva antes do início da competição. O que não caiu bem internamente para os jogadores. Os primeiros resultados no Brasileirão foram ruins: empate na Arena, após abrir 2 a 0, e derrota para o Coritiba, no Couto Pereira, com direito a protesto da torcida.
- A troca mudou bastante O vestiário ficou mais alegre. A gente vinha num momento difícil. Ele (Felipão) conversava de uma maneira que não estava legal, com umas palavras que nos deixavam para baixo, nos deixou um pouco triste. Isso aí é chato, né (criticar o grupo publicamente). Mas era um excelente treinador, nos ajudou bastante, mas chegou a um momento que não dava mais - comentou o goleiro Tiago, em entrevista ao programa Donos da Bola, da TV Bandeirantes.
Preparação fraca
Darlan Schneider (D) era preparador físico de Felipão no Grêmio (Foto: Giuliano Gomes/PR Press)
Se o time já não estava motivado por correr por Felipão, também faltava força para manter o mesmo ritmo em campo. Após a vitória sobre o Cruzeiro, na Arena, o lateral-direito Rafael Galhardo explicitou a sua avaliação sobre o trabalho de Darlan Schneider, que era o preparador físico na comissão técnica de Felipão - mantém o posto no Guangzhou, na China.
Com a efetivação de Roger, que prega que “quem treina caminhando não joga correndo”, o preparador físico passou a ser o Rogério Dias, que tinha o cargo de auxiliar com Darlan e está no clube há 10 anos. Rogerinho, como é conhecido, é elogiado pelo seu trabalho.
- Acho que a gente passou a treinar mais forte, o Rogerinho vem controlando bastante o treino, passamos a ter uma dinâmica muito boa, e mais vontade nos treinos. Isso reflete no jogo. Quando você treina forte, você joga forte. A gente vinha treinando mais devagar, e no jogo a gente não aguentava - afirmou Galhardo na última semana.
Rogério Dias (D) foi elogiado pelos jogadores (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Jovens amedrontados
Felipão conversa com Raul após cobrança (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Felipão é, sem sombra de dúvidas, um grande personagem do futebol brasileiro. Tem no currículo títulos da Libertadores, da Copa do Brasil, Brasileirão e da Copa do Mundo de 2002. Um de seus grandes méritos nesta último conquista, pela Seleção, foi a criação da “família Scolari”. Mas, no Tricolor, não conseguiu repetir esta unidade.
Em treinamentos, uma cobrança mais forte era vista de maneira constante. Mas não como incentivo. E, sim, uma reprimenda pelos erros cometidos. Em uma situação, disse que o lateral-direito Raul, uma das promessas da base, de 18 anos, dera um passe como uma “mocinha”. Cobrou o goleiro Tiago publicamente por conta de seu peso. E fez o mesmo para a postura dos jovens que recebiam elogios após boas atuações no Gauchão.
- Nós nos dávamos bem com o Felipão, que era um cara mais sério, nem tanto motivacional. A gente se dá bem com o trabalho do Roger, um cara que dá moral para a garotada. Com Felipão, os jogadores estavam com medo de errar e tomar uma dura mais séria. Já com o Roger, é melhor tentar. Ele gosta que o time jogue solto e arrisque - disse Rhodolfo.
Escolhas contestadas
Walace (D) diz não entender a razão de não jogar com Felipão (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
As escolhas de Felipão também passaram a ser contestadas. Por exemplo, o volante Walace ganhou liberdade e a titularidade garantida de Roger. Desde então, tem sido destaque do Grêmio no Brasileirão. O meio-campista, que tinha origens como meia nas categorias de base do Avaí, afirmou que Roger já o conhecia mais de perto, pelo trabalho anterior no Tricolor
- Não sei dizer (o porquê não jogava com Felipão), eu trabalhava normal, como sempre trabalhei. Acho que era uma situação dele, que queria às vezes revezar. Não sei. O Roger dá mais confiança para sair, o Felipão me via só como um primeiro volante. O Roger me conhecia da base, me vê como segundo, me viu como meia no Avaí. Ele sabe da minha capacidade - avaliou Walace.
FALA, FELIPÃO
Ao deixar o clube, Felipão emitiu uma nota oficial para falar sobre a saída do Grêmio. Disse que não havia problemas no vestiário, pelo menos que ele tivesse conhecimento, e discorreu mais sobre os bastidores do clube. Destacou que encontrou um ambiente diferente daquele que enfrentou nas duas passagens anteriores pelo Grêmio, em 87 e entre 93 e 96.
Também admitiu que deixava o clube com um débito, por não ter dado o título gaúcho de 2015, algo que prometera ao ex-presidente e ex-vice de futebol Fábio Koff. Pouco menos de 20 dias depois da saída, foi ao CT Luiz Carvalho pegar pertences e acertar últimos detalhes.
- O Grêmio de hoje não é o mesmo ambiente do Grêmio de dez anos atrás, ou cinco anos atrás. O Grêmio com problemas de facções. Muita gente dividida em relação a muitas coisas. E aí fica um pouco mais difícil de dirigir. Foi isso o que aconteceu - escreveu o treinador.
Felipao no Guanghzou Evergrande (Foto: Reprodução/Sina.com)
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Em algum canto de Guangzhou, maior cidade da província de Guangdong, em meio ao luxo oferecido pelos milionários chineses, está a figura central do que é considerada a maior tragédia do futebol brasileiro nos últimos anos. Felipão, atualmente no Guangzhou Evergrande, estará 17 mil quilômetros de distância do palco do 7 a 1, na semifinal da Copa do Mundo, um ano depois da derrota para a Alemanha.
Seu reduto inicial após o vexame havia sido Porto Alegre, ao buscar carinho no Grêmio, num surpreendente retorno ao futebol menos de um mês do fatídico jogo. Só que após sua demissão em maio, irromperam críticas, diretas e indiretas, ao seu trabalho que começou promissor, mas que acabou minado por problemas de vestiário e resultados negativos.
Preparação física, estilo de liderança do técnico e discurso no vestiário foram alguns dos pontos que foram levantados pelos jogadores gremistas em entrevistas durante a boa fase do Grêmio após a chegada de Roger Machado, que conta com seis vitórias em oito jogos, sendo cinco delas consecutivas. No fim, Felipão virou alvo e uma das explicações para a perda do título gaúcho, enquanto era a grande esperança de fazer com que o Tricolor quebrasse a hegemonia do rival.
- Felipão tinha uma característica diferente e não conseguiu tirar o que era esperado de nós - sentenciou Giuliano, em entrevista coletiva em Chapecó, nesta terça-feira.
Felipão começou a ser pressionado após a derrota para o Coritiba, dia 17 de maio, na segunda rodada do Brasileirão - antes, havia perdido o Gauchão na final para o Inter com fraca atuação e permitido o empate para a Ponte Preta na Arena, na estreia do Brasileirão.
No desembarque em Porto Alegre após o 2 a 0 no Paraná, viu sua imagem arranhada ao ser contestado e vaiado até pela torcida que o tem como ídolo. Dois dias depois, em uma reunião com o presidente Romildo Bolzan Júnior, pediu demissão e deixou o clube do coração. O mandatário gremista fez questão de evitar "queimar" Scolari como referência histórica do clube, mas as críticas ao seu trabalho passaram a surgir naturalmente entre os atletas.
Momentos altos de Felipão: chegada em julho e Gre-Nal de novembro (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
Curiosamente, o recomeço de Felipão no Grêmio soou promissor. Pegou time desacreditado na época e o alçou ao G-4 até as rodadas finais, quando houve queda de rendimento e não classificação à Libertadores. O ponto alto foi a goleada sobre o Inter, em 9 de novembro, quatro meses após o 7x1 e no dia de seu aniversário. Após aplicar 4 a 1 no maior rival, que não perdia para o Tricolor desde 2012, Scolari chegou a chorar no vestiário, classificando aquele domingo como o ápice da carreira.
Discurso
A figura de Felipão já não motivava mais o elenco. O treinador também ia aos microfones constantemente para pedir reforços aos dirigentes, que passaram a fechar os cofres a ponto de haver um desmanche de quase dois times no elenco em relação a 2014. Durante o Gauchão, o treinador também tomou uma de suas medidas mais controversas de sua terceira passagem: deixou o banco de reservas na derrota para o Veranópolis por 1 a 0, na Arena, e rumou para o vestiário, antes do final da partida
Depois dessa crise, o time melhorou e chegou à final do Gauchão. Acabou perdendo para o Inter, um fracasso do projeto inicial. Após isso, Felipão disse que o Grêmio não estava entre os 8 melhores grupos do Campeonato Brasileiro em uma entrevista coletiva antes do início da competição. O que não caiu bem internamente para os jogadores. Os primeiros resultados no Brasileirão foram ruins: empate na Arena, após abrir 2 a 0, e derrota para o Coritiba, no Couto Pereira, com direito a protesto da torcida.
- A troca mudou bastante O vestiário ficou mais alegre. A gente vinha num momento difícil. Ele (Felipão) conversava de uma maneira que não estava legal, com umas palavras que nos deixavam para baixo, nos deixou um pouco triste. Isso aí é chato, né (criticar o grupo publicamente). Mas era um excelente treinador, nos ajudou bastante, mas chegou a um momento que não dava mais - comentou o goleiro Tiago, em entrevista ao programa Donos da Bola, da TV Bandeirantes.
Preparação fraca
Darlan Schneider (D) era preparador físico de Felipão no Grêmio (Foto: Giuliano Gomes/PR Press)
Se o time já não estava motivado por correr por Felipão, também faltava força para manter o mesmo ritmo em campo. Após a vitória sobre o Cruzeiro, na Arena, o lateral-direito Rafael Galhardo explicitou a sua avaliação sobre o trabalho de Darlan Schneider, que era o preparador físico na comissão técnica de Felipão - mantém o posto no Guangzhou, na China.
Com a efetivação de Roger, que prega que “quem treina caminhando não joga correndo”, o preparador físico passou a ser o Rogério Dias, que tinha o cargo de auxiliar com Darlan e está no clube há 10 anos. Rogerinho, como é conhecido, é elogiado pelo seu trabalho.
- Acho que a gente passou a treinar mais forte, o Rogerinho vem controlando bastante o treino, passamos a ter uma dinâmica muito boa, e mais vontade nos treinos. Isso reflete no jogo. Quando você treina forte, você joga forte. A gente vinha treinando mais devagar, e no jogo a gente não aguentava - afirmou Galhardo na última semana.
Rogério Dias (D) foi elogiado pelos jogadores (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
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Felipão conversa com Raul após cobrança (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Felipão é, sem sombra de dúvidas, um grande personagem do futebol brasileiro. Tem no currículo títulos da Libertadores, da Copa do Brasil, Brasileirão e da Copa do Mundo de 2002. Um de seus grandes méritos nesta último conquista, pela Seleção, foi a criação da “família Scolari”. Mas, no Tricolor, não conseguiu repetir esta unidade.
Em treinamentos, uma cobrança mais forte era vista de maneira constante. Mas não como incentivo. E, sim, uma reprimenda pelos erros cometidos. Em uma situação, disse que o lateral-direito Raul, uma das promessas da base, de 18 anos, dera um passe como uma “mocinha”. Cobrou o goleiro Tiago publicamente por conta de seu peso. E fez o mesmo para a postura dos jovens que recebiam elogios após boas atuações no Gauchão.
- Nós nos dávamos bem com o Felipão, que era um cara mais sério, nem tanto motivacional. A gente se dá bem com o trabalho do Roger, um cara que dá moral para a garotada. Com Felipão, os jogadores estavam com medo de errar e tomar uma dura mais séria. Já com o Roger, é melhor tentar. Ele gosta que o time jogue solto e arrisque - disse Rhodolfo.
Escolhas contestadas
Walace (D) diz não entender a razão de não jogar com Felipão (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
As escolhas de Felipão também passaram a ser contestadas. Por exemplo, o volante Walace ganhou liberdade e a titularidade garantida de Roger. Desde então, tem sido destaque do Grêmio no Brasileirão. O meio-campista, que tinha origens como meia nas categorias de base do Avaí, afirmou que Roger já o conhecia mais de perto, pelo trabalho anterior no Tricolor
- Não sei dizer (o porquê não jogava com Felipão), eu trabalhava normal, como sempre trabalhei. Acho que era uma situação dele, que queria às vezes revezar. Não sei. O Roger dá mais confiança para sair, o Felipão me via só como um primeiro volante. O Roger me conhecia da base, me vê como segundo, me viu como meia no Avaí. Ele sabe da minha capacidade - avaliou Walace.
FALA, FELIPÃO
Ao deixar o clube, Felipão emitiu uma nota oficial para falar sobre a saída do Grêmio. Disse que não havia problemas no vestiário, pelo menos que ele tivesse conhecimento, e discorreu mais sobre os bastidores do clube. Destacou que encontrou um ambiente diferente daquele que enfrentou nas duas passagens anteriores pelo Grêmio, em 87 e entre 93 e 96.
Também admitiu que deixava o clube com um débito, por não ter dado o título gaúcho de 2015, algo que prometera ao ex-presidente e ex-vice de futebol Fábio Koff. Pouco menos de 20 dias depois da saída, foi ao CT Luiz Carvalho pegar pertences e acertar últimos detalhes.
- O Grêmio de hoje não é o mesmo ambiente do Grêmio de dez anos atrás, ou cinco anos atrás. O Grêmio com problemas de facções. Muita gente dividida em relação a muitas coisas. E aí fica um pouco mais difícil de dirigir. Foi isso o que aconteceu - escreveu o treinador.
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