Reuniões de segurança no Rio acontecem na federação dois ou três dias antes das partidas (Foto: Igor Rodrigues)
VIOLÊNCIA NO FUTEBOL: O MODELO DE SEGURANÇA DO RIO
Nesta sexta-feira, o Rio de Janeiro recebe o "I Encontro Nacional Pela Paz no Futebol", seminário que reunirá advogados, professores, jornalistas, políticos e dirigentes num debate atrás de maneiras para lidar com o problema da violência nos estádios e seus entornos. A cidade sede do evento é, justamente, a que tem o plano de segurança para jogos considerado o mais "exitoso" do Brasil, na visão do Governo Federal. Mas como funciona o modelo que surpreendeu representantes dos Ministérios da Justiça e do Esporte e deve ser replicado aos demais estados com regulamentação de artigos já existentes no Estatuto do Torcedor?
A primeira diferença para as demais praças é a existência de um grupo especializado: o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe). Comandado pelo tenente-coronel João Fiorentini, é o principal responsável pela vigilância com pelo menos 140 policiais por jogo, quantidade que aumenta de acordo com o público.
No Fluminense x Ponte Preta desta quarta-feira no Maracanã, por exemplo, a expectativa é de 25 mil torcedores e terá 160 PMs do Gepe. O objetivo primordial é evitar que a torcida visitante entre em contato com a mandante. Para isso, o grupamento se informa com as organizadas a quantidade de ônibus que viaja ao Rio a cada partida; encontra-os ainda na estrada e faz a escolta até o estádio; um representante vai na frente, junto com os policiais, para comprar ingressos para todo o comboio na bilheteria; as entradas adquiridas são distribuídas dentro dos veículos; os torcedores são posicionados na parte da arquibancada delimitada para eles; e na hora de sair, podem escolher fazê-lo cinco minutos antes do fim do jogo ou após todo o local ser evacuado.
- Não tem aquela fila do visitante do lado de fora do estádio que provavelmente geraria uma briga. Esses fatores da torcida chegar escoltada, a gente tem o controle, sabe onde vão estar, o momento que vão entrar no estádio, o momento que vão sair. Esse cuidado que o Gepe tem, principalmente com a torcida visitante, a gente usa também nas torcidas do Rio de Janeiro fazendo escolta, é o que diferencia. Muitas vezes o torcedor do Rio não tem esse amparo quando sai do estado - explicou Fiorentini.
Outro trabalho considerado crucial dentro do Gepe é uma divisão de inteligência, que monitora todas as organizadas do país. Criada em 1991 com apenas um policial, a "2ª Seção" da unidade atualmente conta com 12 membros e monitora diariamente as relações entre as torcidas. O que pode ser instável e, muitas vezes, causar conflitos entre integrantes de uma mesma facção, como exemplificou o comandante do grupamento.
- Sabemos quais torcidas do Rio têm aliança com outras. Por exemplo, a Fúria (Botafogo) tem laço de amizade com a Gaviões da Fiel (Corinthians), já a TJB (Botafogo) tem com a Mancha Verde (Palmeiras). Quando tem jogo do Corinthians aqui com o Botafogo temos confronto entre a Fúria e a TJB por conta dessa rivalidade entre torcidas do mesmo time que têm alianças diferentes. Jogo com Atlético-MG aqui e com Palmeiras é sempre muito complicado, chega a ser quase um Flamengo x Vasco. Jogo do Vitória, no Engenhão, tivemos alguns problemas, porque a torcida do Vitória, Os Imbatíveis, tem aliança com a Raça Rubro-Negra (Flamengo). A Jovem do Flamengo tem laços com a Pavilhão (Cruzeiro), mas não tem com a Máfia (Cruzeiro); tem uma relação de amizade com a Independente, do São Paulo, a Raça não tem... Esses detalhes é o meu trabalho saber. O policial comum, até mesmo que acompanha o futebol com interesse, não tem essas notícias, não tem acesso a essas informações. O que acontece no Brasil inteiro repercute aqui no Rio e o que acontece no Rio repercute no Brasil inteiro, por isso nós precisamos ter essa visão do Ministério do Esporte. Que nós tenhamos policiais especializados em todo o Brasil para que a gente saiba filtrar essas informações.
O Gepe é um dos componentes de uma reunião que acontece para cada jogo no Rio, com dois ou três dias de antecedência. Nela, há ainda representantes da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros, da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET Rio), do estádio que recebe a partida e da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), que é o local do encontro, geralmente com duração de 30 minutos a uma hora. É lá que se promove um debate para decidir: a quantidade de policiais de todas as unidades envolvidas e de agentes de trânsito que trabalharão no estádio e seu entorno; o horário de abertura e fechamento dos portões; o horário limite para venda de ingressos; a carga disponível para visitantes e se há necessidade de venda antecipada para eles; o posicionamento da torcida dos clubes de fora na arquibancada; e as ruas de acesso e de escolta das organizadas.
- Os jogos que faço em outros estados quando os clubes do Rio são mandantes, por exemplo Vasco x Flamengo (neste domingo na Arena Pantanal), geralmente são as autoridades de segurança, a Guarda Municipal local ou o comando da Polícia Militar. As reuniões são ministradas por essas pessoas. As federações e clubes apenas entram como ouvintes. Aqui a gente acredita que o Ministério da Justiça, o Ministério Público, gostou do nosso método porque são sempre as mesmas pessoas que participam, sempre os mesmos artistas. Os problemas que vamos enfrentando temos a oportunidade de sentar e encontra as soluções - opinou Marcelo Vianna, diretor de competições da Ferj e responsável por coordenar as reuniões de segurança.
Nas arenas da Copa do Mundo de 2014, a questão da vigilância conta com o reforço dos "stewards", seguranças particulares contratados para atuarem na parte interna dos estádios. Representante da Concessionária Maracanã na reunião de Fluminense x Ponte Preta, Camilo Dornellas destacou o trabalho desses profissionais não só no combate à violência - muitas vezes eles separam brigas na arquibancada -, como também no processo de orientação do público.
- O Gepe encontra dentro do estádio uma segurança bem preparada, ajustada, inclusive com o legado que a Copa deixou de preparação: esse contexto entre segurança privada e pública com uma integração como um norte. São decisões que devem ser compactuadas para gerar esse bem-estar. O torcedor chega bem informado e é conduzido pelos nossos seguranças aos seus lugares para que possa se sentir bem no estádio. Essa é mudança de paradigma, de conceito.
Outro fator considerado importante no modelo carioca é o Juizado Especial Criminal (Jecrim), presente no Maracanã e no Engenhão, e que conta com uma estrutura móvel para atender a outros estádios do estado. Por meio desses espaços, torcedores podem ser autuados, se forem detidos por confusões nos arredores da partida, ou prestarem ocorrência, em casos de agressões, abuso de autoridade policial, entre outros problemas. Mas apesar dos elogios do Governo, o plano de segurança do Rio ainda não é considerado ideal. O comandante do Gepe espera ter mais recursos tecnológicos a favor da polícia para a identificação de torcedores, como câmeras de melhor resolução, e um detector para colaborar na revista, já que muitos explosivos hoje são pequenos e de difícil percepção. Além disso, o diretor de competições da Ferj clama por leis mais severas no combate à violência no futebol.
- Alguns torcedores (detidos) conseguem escapar com facilidade em virtude da legislação, precisamos punir de maneira mais exemplar não só as organizadas. Não somos contra as organizadas, elas têm papel fundamental no espetáculo, mas precisamos tirar delas as pessoas que só vão lá para brigar - ponderou Vianna.
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A primeira diferença para as demais praças é a existência de um grupo especializado: o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe). Comandado pelo tenente-coronel João Fiorentini, é o principal responsável pela vigilância com pelo menos 140 policiais por jogo, quantidade que aumenta de acordo com o público.
No Fluminense x Ponte Preta desta quarta-feira no Maracanã, por exemplo, a expectativa é de 25 mil torcedores e terá 160 PMs do Gepe. O objetivo primordial é evitar que a torcida visitante entre em contato com a mandante. Para isso, o grupamento se informa com as organizadas a quantidade de ônibus que viaja ao Rio a cada partida; encontra-os ainda na estrada e faz a escolta até o estádio; um representante vai na frente, junto com os policiais, para comprar ingressos para todo o comboio na bilheteria; as entradas adquiridas são distribuídas dentro dos veículos; os torcedores são posicionados na parte da arquibancada delimitada para eles; e na hora de sair, podem escolher fazê-lo cinco minutos antes do fim do jogo ou após todo o local ser evacuado.
- Não tem aquela fila do visitante do lado de fora do estádio que provavelmente geraria uma briga. Esses fatores da torcida chegar escoltada, a gente tem o controle, sabe onde vão estar, o momento que vão entrar no estádio, o momento que vão sair. Esse cuidado que o Gepe tem, principalmente com a torcida visitante, a gente usa também nas torcidas do Rio de Janeiro fazendo escolta, é o que diferencia. Muitas vezes o torcedor do Rio não tem esse amparo quando sai do estado - explicou Fiorentini.
Outro trabalho considerado crucial dentro do Gepe é uma divisão de inteligência, que monitora todas as organizadas do país. Criada em 1991 com apenas um policial, a "2ª Seção" da unidade atualmente conta com 12 membros e monitora diariamente as relações entre as torcidas. O que pode ser instável e, muitas vezes, causar conflitos entre integrantes de uma mesma facção, como exemplificou o comandante do grupamento.
- Sabemos quais torcidas do Rio têm aliança com outras. Por exemplo, a Fúria (Botafogo) tem laço de amizade com a Gaviões da Fiel (Corinthians), já a TJB (Botafogo) tem com a Mancha Verde (Palmeiras). Quando tem jogo do Corinthians aqui com o Botafogo temos confronto entre a Fúria e a TJB por conta dessa rivalidade entre torcidas do mesmo time que têm alianças diferentes. Jogo com Atlético-MG aqui e com Palmeiras é sempre muito complicado, chega a ser quase um Flamengo x Vasco. Jogo do Vitória, no Engenhão, tivemos alguns problemas, porque a torcida do Vitória, Os Imbatíveis, tem aliança com a Raça Rubro-Negra (Flamengo). A Jovem do Flamengo tem laços com a Pavilhão (Cruzeiro), mas não tem com a Máfia (Cruzeiro); tem uma relação de amizade com a Independente, do São Paulo, a Raça não tem... Esses detalhes é o meu trabalho saber. O policial comum, até mesmo que acompanha o futebol com interesse, não tem essas notícias, não tem acesso a essas informações. O que acontece no Brasil inteiro repercute aqui no Rio e o que acontece no Rio repercute no Brasil inteiro, por isso nós precisamos ter essa visão do Ministério do Esporte. Que nós tenhamos policiais especializados em todo o Brasil para que a gente saiba filtrar essas informações.
O Gepe é um dos componentes de uma reunião que acontece para cada jogo no Rio, com dois ou três dias de antecedência. Nela, há ainda representantes da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros, da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET Rio), do estádio que recebe a partida e da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), que é o local do encontro, geralmente com duração de 30 minutos a uma hora. É lá que se promove um debate para decidir: a quantidade de policiais de todas as unidades envolvidas e de agentes de trânsito que trabalharão no estádio e seu entorno; o horário de abertura e fechamento dos portões; o horário limite para venda de ingressos; a carga disponível para visitantes e se há necessidade de venda antecipada para eles; o posicionamento da torcida dos clubes de fora na arquibancada; e as ruas de acesso e de escolta das organizadas.
- Os jogos que faço em outros estados quando os clubes do Rio são mandantes, por exemplo Vasco x Flamengo (neste domingo na Arena Pantanal), geralmente são as autoridades de segurança, a Guarda Municipal local ou o comando da Polícia Militar. As reuniões são ministradas por essas pessoas. As federações e clubes apenas entram como ouvintes. Aqui a gente acredita que o Ministério da Justiça, o Ministério Público, gostou do nosso método porque são sempre as mesmas pessoas que participam, sempre os mesmos artistas. Os problemas que vamos enfrentando temos a oportunidade de sentar e encontra as soluções - opinou Marcelo Vianna, diretor de competições da Ferj e responsável por coordenar as reuniões de segurança.
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- O Gepe encontra dentro do estádio uma segurança bem preparada, ajustada, inclusive com o legado que a Copa deixou de preparação: esse contexto entre segurança privada e pública com uma integração como um norte. São decisões que devem ser compactuadas para gerar esse bem-estar. O torcedor chega bem informado e é conduzido pelos nossos seguranças aos seus lugares para que possa se sentir bem no estádio. Essa é mudança de paradigma, de conceito.
Outro fator considerado importante no modelo carioca é o Juizado Especial Criminal (Jecrim), presente no Maracanã e no Engenhão, e que conta com uma estrutura móvel para atender a outros estádios do estado. Por meio desses espaços, torcedores podem ser autuados, se forem detidos por confusões nos arredores da partida, ou prestarem ocorrência, em casos de agressões, abuso de autoridade policial, entre outros problemas. Mas apesar dos elogios do Governo, o plano de segurança do Rio ainda não é considerado ideal. O comandante do Gepe espera ter mais recursos tecnológicos a favor da polícia para a identificação de torcedores, como câmeras de melhor resolução, e um detector para colaborar na revista, já que muitos explosivos hoje são pequenos e de difícil percepção. Além disso, o diretor de competições da Ferj clama por leis mais severas no combate à violência no futebol.
- Alguns torcedores (detidos) conseguem escapar com facilidade em virtude da legislação, precisamos punir de maneira mais exemplar não só as organizadas. Não somos contra as organizadas, elas têm papel fundamental no espetáculo, mas precisamos tirar delas as pessoas que só vão lá para brigar - ponderou Vianna.
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