Passagem de Cebolla teve gosto amargo como o mate de que uruguaio gosta (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
Demorou pouco, não mais do que 60 dias, para Cebolla se tornar um abacaxi no Grêmio. Esse era o tempo que a direção projetava para Cristian Rodríguez confirmar a condição de ídolo precoce e levantar a taça do Gauchão. O que se viu foi o titular da seleção uruguaia na última Copa do Mundo atuar menos de 90 minutos em dois meses, ser acometido por série de lesões, uma punição da federação italiana e, nesta sexta-feira, pedir a rescisão do já curto contrato de risco, que iria até julho. Um roteiro surreal agora passado a limpo.
Depois da chegada ruidosa do reforço, o GloboEsporte.com perguntou: Cebolla repetirá Dener ou Luizão? Os dois ex-jogadores do Grêmio tinham em comum com o uruguaio a costura de um vínculo curto. O primeiro teve êxito e venceu o estadual em 1993. O segundo saiu antes do contrato em litígio judicial, atuando apenas seis partidas, com um gol, em 2002.
Pode-se dizer que Cristian está mais para Luizão. Com o agravante de ter atuado apenas 89 minutos, sem ser decisivo em nenhum de seus dois jogos. O presidente Romildo Bolzan, todavia, trata de elogiar a postura do jogador. De acordo com o mandatário tricolor, a disposição do atleta em encerrar o contrato e abrir mão dos vencimentos até julho lhe deixam as portas abertas no clube para o futuro. As lesões foram as grandes vilãs. Romildo evita eleger culpados. E revela que foram, ao todo, quatro problemas musculares em dois meses.
- Sua atitude foi de grandeza. O gesto dele tem de ser levado em conta, teve princípios. Abriu mão de um bom valor - ressaltou Romildo, conformado com o desfecho do caso.
Apesar de resignado, o presidente não esconde a frustração. Rodríguez era sua maior aposta para o semestre. O jogador fora contratado com condições salariais acima do teto proposto pela política de austeridade financeira. Cebolla seria o carro-chefe da retomada dos títulos. Até porque, à exceção do Parma em estado falimentar, o meia jamais havia deixado um clube sem erguer troféus. Mais: é o uruguaio com mais taças da história, reunindo 17 conquistas.
> Confira o passo a passo da Operação Cebolla:
Chegada de ídolo
Uma contratação sonhada desde 2012. A festa começou antes da chegada de Cristian. Em 9 de março, o anúncio oficial do reforço se deu pelo Twitter do clube, que tascou: "Quem gosta de Cebolla?". Foi a senha para o despertar da euforia tricolor. Que se confirmou no dia seguinte. Mesmo sob tempo nublado e chuva, centenas de gremistas recepcionaram o jogador no aeroporto. Simpático, vestiu camiseta e gorro ofertados por uma organizada.
Na apresentação no auditório da Arena, Cristian ganhou mais um presente, a camiseta 10 em tamanho infantil, com o nome da filha Lola. Os torcedores presentes também foram agraciados com anéis de cebolas fritas, da Hamburgueria 1903, a lanchonete do clube. A projeção era de que o uruguaio conseguisse atuar ao menos 13 jogos até o final do vínculo.
- Sou um jogador mais, não sou um fenômeno. Sou apenas mais um no grupo. Vou respeitar o Grêmio assim como fiz em todas as equipes que joguei - disse. - Estou com muita expectativa, estou pronto para jogar e ajudar a equipe. Quero jogar já no final de semana. Meu contrato é de quatro meses e quer ajudar.
Cristian Rodriguez sentiu o carinho do torcedor na chegada a Porto Alegre (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Estreia com casa cheia
A euforia da torcida prosseguiu. No dia da estreia, em 14 de março, a Arena obteve o então recorde de público na temporada, quase 25 mil pessoas numa noite de sábado para ver o Grêmio vencer o Cruzeiro-RS, pelo Gauchão. Além disso, torcedores levaram faixas em apoio a Cebolla e a loja oficial do clube no estádio verificou o triplo de vendas da camiseta 7.
Em campo, Cebolla começou logo de titular. Atuou no total, 65 minutos, contando os acréscimos da primeira etapa. Deixou o gramado aos 15 minutos do segundo tempo. Sempre pela ponta esquerda, o uruguaio atiçou a torcida com uma vistosa janelinha e um chute perigoso em direção ao gol. Saiu aplaudido.
- Está complicado, cheguei há quatro dias, exames médicos, assinatura de contrato, apresentação, não parei ainda. Espero me adaptar, conhecer bem o futebol brasileiro. O meu contrato tem quatro meses. Bem, tenho que voltar ao Atlético de Madrid, mas ninguém impede que eu possa ficar aqui - destacou o uruguaio na zona mista da Arena.
Cebolla virou ídolo assim que pisou em Porto Alegre (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
Primeira lesão e corte
No domingo, o primeiro abalo. A Associação Uruguaia de Futebol revelou uma lesão muscular na coxa direita de Cristian Rodríguez e o consequente corte da seleção, que faria amistoso contra Marrocos. O Grêmio adotou silêncio durante todo o dia. Iria se manifestar apenas na segunda-feira. O departamento médico, por meio do diretor Márcio Bolzoni, confirmou a lesão e estipulou uma parada de dez dias.
- Cristian fez uma lesão no reto-anterior direito de grau 1, sem gravidade maior. A tendência é que em torno de 10 dias esteja treinando. Talvez alguns exercícios antes - destacou Bolzoni.
Cristian Rodríguez se lesionou logo após a estreia (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Punição na itália
Antes da confirmação da lesão, um problema de ordem jurídica preocupou o Grêmio. Rodríguez recebeu quatro jogos de suspensão pela Federação Italiana de Futebol, por conta de expulsão no seu último confronto pelo Parma, no Campeonato Italiano. A punição foi herdada pelo novo clube, no caso o Tricolor, que perderia o jogador em jogos da Copa do Brasil ou Brasileirão.
Essa foi ao menos a interpretação do departamento jurídico, que garantiu a sua regularização em partidas de nível estadual. Havia esperança na reversão. O Grêmio contratou um advogado na Itália e o próprio jogador entrou em contato com amigos do país. Em vão. Em 27 de março, quando Cebolla estava se recuperando da lesão, a federação italiana confirmou a punição, que não esmoreceu o clube por completo.
- Nós temos que curtir o momento. É um grande profissional, se adaptou muito bem ao Grêmio. É cheio de brincadeiras e de interação com o grupo. Vai ao vestiário antes dos jogos em que não atua. O Cristian é um marco e, na hora certa, ele entrará no time - disse o diretor de futebol Cesar Pacheco, ao GloboEsporte.com.
Cristian Rodriguez foi expulso no final de seu último jogo na Itália (Foto: Getty Images)
Lesão "prega peça"
O fracasso na apelação na Itália, embora significativo, não tirou a esperança da direção, como se viu com Pacheco. O presidente Romildo Bolzan Júnior também adotava o discurso de que o importante era aproveitar o máximo a qualidade do jogador, que ele seria fundamental nos momentos mais decisivos do estadual. A ideia era tê-lo à disposição na primeira prova de fogo do Gauchão, as quartas de final em jogo único contra o Novo Hamburgo em 9 de abril.
Isso porque Cebolla voltou a treinar com bola, com direito a gol e tudo, no trabalho da segunda anterior, em 6 de abril. No entanto, o meia sequer ficou no banco na quinta. Assistiu, apreensivo, da zona mista da Arena, à dramática decisão nos pênaltis, que levaria o Tricolor à semifinal. O problema é que o jogador também ficou fora das semis, diante do Juventude. Rodríguez chegava a um mês sem atuar. O prazo, portanto, triplicou.
- Nós tínhamos imagem que nos fazia pensar em uma lesão de pequena importância, de grau 1, e que pela evolução se mostrou, provavelmente, uma lesão de grau 2. Ficou escondida de uma forma que não se evidenciou pelas imagens de ressonância. Fizemos duas imagens que não mostravam nenhuma lesão preocupante, mas a evolução clínica e o quadro de dor demoraram muito e nós tivemos que recuar dentro da estratégia de recuperação que estávamos utilizando - explicou o diretor médico Márcio Bolzoni, à Rádio Guaíba.
Rodeios e críticas
Cristian Rodríguez mostrou fora de campo que conhece bem a cultura gaúcha e participou de dois eventos: o Rodeio de Porto Alegre, no final de março, e no meio de abril, foi a uma das principais competições de cavalo, classificatória para o Freio de Ouro, realizado durante a Expointer - feira internacional de agropecuária, em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre. Além disso, ficou amigo de Luiz Marenco, importante cantor nativista do estado.
A incursão a eventos mesmo lesionado causou certa insatisfação por parte da torcida. O jogador tratou de se defender:
- Eu não estou aqui para roubar o dinheiro. Estou machucado, não estou feliz no momento. Muitas pessoas me esperaram no aeroporto, um grande carinho, eles esperam muito de mim. Mas quem pensa mal de mim tem que saber que o jogador sempre quer estar em campo.
Cristian Rodríguez posa em rodeio em Porto Alegre (Foto: Reprodução/Twitter)
Volta só no 1º gre-nal
O tão esperado retorno viria no primeiro Gre-Nal da decisão, em 26 de abril. Atuou 26 minutos, entrando no segundo tempo, dos 24 aos 50 minutos do 0 a 0 na Arena. O recomeço de Cebolla animou a todos, inclusive Felipão, que esperava ter o meia 100% no clássico final do domingo posterior, no Beira-Rio. O meia, todavia, foi cauteloso.
- Não dá para avaliar muito. Voltei hoje após um mês parado. Não estou sentindo mais nada. Fiz um treino. Foi muito rápido. Espero na semana ficar melhor. Mas estou feliz, embora cansado. O corpo médico fez de tudo para eu estar 100%. Voltava e me machucava, voltava e me machucava. Hoje pude terminar sem lesão. Agora é torcer para continuar assim. Um mês parado custa. Foram meus primeiros 20 minutos. Espero recuperar o físico. Quero estar 100% na próxima semana. Acredito que resisto um tempo, mas é complicado. Espero esta semana treinar sem dor e ir para o jogo - ponderou o jogador.
Cristian Rodríguez atuou 24 minutos no Gre-Nal da Arena (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio)
Fora da grande decisão
Rodríguez, todavia, deixaria de aparecer nas partes em que os treinos eram abertos à imprensa a partir da quarta-feira. Um clima de mistério tomou conta da semana Gre-Nal no CT Luiz Carvalho. No sábado, Cebolla realmente começava a se tornar dúvida. Iria ser avaliado momentos antes da partida, no domingo. Ao ir em direção ao ônibus, mancava próximo aos jornalistas presentes.
Não era despiste. A principal contratação do semestre tricolor não iria sequer ficar no banco do grande jogo do ano, no qual o Grêmio precisava ao menos empatar com gols na casa do rival para ser campeão após cinco anos. Depois, veio à tona que era uma nova lesão, na panturrilha direita, descoberta ainda na sexta.
Cristian Rodríguez virou mistério e depois frustração antes do Gre-Nal decisivo (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
COBRANÇAS SEM RESPOSTAS
Após a derrota categórica no clássico, não se sabia o que era mais frustrante: a perda do título ou ver a grande aposta do elenco sem previsão de tocar na bola. O impasse levou Romildo Bolzan a cobrar publicamente o departamento médico do Grêmio. Para fazer um movimento rumo a uma já complexa renovação, o presidente queria, antes, um parecer médico definitivo.
Temos que ter, em primeiro lugar, um diagnóstico médico, definitivo. Isso incomoda a gente. A gente quer respostas. Ele estava recuperado, veio, sentiu, recuperou
Romildo Bolzan, após o Gre-Nal
- Temos que ter, em primeiro lugar, um diagnóstico médico, definitivo. Após uma compreensão geral, temos que saber o que está ocorrendo com ele antes de ter uma perspectiva mais definitiva. Isso incomoda a gente. A gente quer respostas, a gente quer diagnóstico mais definitivo. Ele estava recuperado, veio, sentiu, recuperou. Treinou, sentiu, foi poupado. Espero que nessa segunda seja dado uma situação mais clara a respeito desse jogador - cobrou.
A resposta do departamento médico veio na segunda, acompanhada de mais um golpe: a lesão na panturrilha direita tiraria Cebolla por mais 15 dias dos campos. O diretor médico Márcio Bolzoni afirmou que o processo de recuperação da primeira lesão muscular de Cebolla, sofrida em sua estreia contra o Cruzeiro-RS, há mais de 40 dias, foi acelerado para as finais do Gauchão, mas negou que a volta dele no primeiro Gre-Nal da Arena tenha sido precipitada. Cogitou o problema à falta de uma pré-temporada.
Fim da linha
Com o sentimento de frustração cada vez maior, o Grêmio informou na manhã desta sexta-feira que negociou com Rodríguez para rescindir o contrato de empréstimo até o final de junho. O uruguaio conversou com a direção e pediu para que o vínculo fosse rompido pelos valores envolvidos na negociação. Depois, justificou-se em nota.
- Foi uma questão pessoal, passei por um período de lesões que me forçaram a ficar fora dos campos por mais de um mês e meio e ainda me faltam dias para a recuperação. Preferi rescindir contrato para não seguir cobrando os salários ao Grêmio sem poder jogar. Foi uma questão de respeito ao clube e à torcida. Quero agradecer a todos. Fiquei muito triste e impotente por não ter conseguido jogar e devolver todo o carinho que me deram. Espero no futuro poder defender o Grêmio da melhor maneira. Agora, é momento de voltar ao Uruguai para continuar com a minha recuperação - disse o jogador, em mensagem no Facebook.
VEJA TAMBÉM
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- Pepê pode deixar o Grêmio em 2025
- Grêmio dispensa auxiliar técnico de Renato Gaúcho
Demorou pouco, não mais do que 60 dias, para Cebolla se tornar um abacaxi no Grêmio. Esse era o tempo que a direção projetava para Cristian Rodríguez confirmar a condição de ídolo precoce e levantar a taça do Gauchão. O que se viu foi o titular da seleção uruguaia na última Copa do Mundo atuar menos de 90 minutos em dois meses, ser acometido por série de lesões, uma punição da federação italiana e, nesta sexta-feira, pedir a rescisão do já curto contrato de risco, que iria até julho. Um roteiro surreal agora passado a limpo.
Depois da chegada ruidosa do reforço, o GloboEsporte.com perguntou: Cebolla repetirá Dener ou Luizão? Os dois ex-jogadores do Grêmio tinham em comum com o uruguaio a costura de um vínculo curto. O primeiro teve êxito e venceu o estadual em 1993. O segundo saiu antes do contrato em litígio judicial, atuando apenas seis partidas, com um gol, em 2002.
Pode-se dizer que Cristian está mais para Luizão. Com o agravante de ter atuado apenas 89 minutos, sem ser decisivo em nenhum de seus dois jogos. O presidente Romildo Bolzan, todavia, trata de elogiar a postura do jogador. De acordo com o mandatário tricolor, a disposição do atleta em encerrar o contrato e abrir mão dos vencimentos até julho lhe deixam as portas abertas no clube para o futuro. As lesões foram as grandes vilãs. Romildo evita eleger culpados. E revela que foram, ao todo, quatro problemas musculares em dois meses.
- Sua atitude foi de grandeza. O gesto dele tem de ser levado em conta, teve princípios. Abriu mão de um bom valor - ressaltou Romildo, conformado com o desfecho do caso.
Apesar de resignado, o presidente não esconde a frustração. Rodríguez era sua maior aposta para o semestre. O jogador fora contratado com condições salariais acima do teto proposto pela política de austeridade financeira. Cebolla seria o carro-chefe da retomada dos títulos. Até porque, à exceção do Parma em estado falimentar, o meia jamais havia deixado um clube sem erguer troféus. Mais: é o uruguaio com mais taças da história, reunindo 17 conquistas.
> Confira o passo a passo da Operação Cebolla:
Chegada de ídolo
Uma contratação sonhada desde 2012. A festa começou antes da chegada de Cristian. Em 9 de março, o anúncio oficial do reforço se deu pelo Twitter do clube, que tascou: "Quem gosta de Cebolla?". Foi a senha para o despertar da euforia tricolor. Que se confirmou no dia seguinte. Mesmo sob tempo nublado e chuva, centenas de gremistas recepcionaram o jogador no aeroporto. Simpático, vestiu camiseta e gorro ofertados por uma organizada.
Na apresentação no auditório da Arena, Cristian ganhou mais um presente, a camiseta 10 em tamanho infantil, com o nome da filha Lola. Os torcedores presentes também foram agraciados com anéis de cebolas fritas, da Hamburgueria 1903, a lanchonete do clube. A projeção era de que o uruguaio conseguisse atuar ao menos 13 jogos até o final do vínculo.
- Sou um jogador mais, não sou um fenômeno. Sou apenas mais um no grupo. Vou respeitar o Grêmio assim como fiz em todas as equipes que joguei - disse. - Estou com muita expectativa, estou pronto para jogar e ajudar a equipe. Quero jogar já no final de semana. Meu contrato é de quatro meses e quer ajudar.
Cristian Rodriguez sentiu o carinho do torcedor na chegada a Porto Alegre (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Estreia com casa cheia
A euforia da torcida prosseguiu. No dia da estreia, em 14 de março, a Arena obteve o então recorde de público na temporada, quase 25 mil pessoas numa noite de sábado para ver o Grêmio vencer o Cruzeiro-RS, pelo Gauchão. Além disso, torcedores levaram faixas em apoio a Cebolla e a loja oficial do clube no estádio verificou o triplo de vendas da camiseta 7.
Em campo, Cebolla começou logo de titular. Atuou no total, 65 minutos, contando os acréscimos da primeira etapa. Deixou o gramado aos 15 minutos do segundo tempo. Sempre pela ponta esquerda, o uruguaio atiçou a torcida com uma vistosa janelinha e um chute perigoso em direção ao gol. Saiu aplaudido.
- Está complicado, cheguei há quatro dias, exames médicos, assinatura de contrato, apresentação, não parei ainda. Espero me adaptar, conhecer bem o futebol brasileiro. O meu contrato tem quatro meses. Bem, tenho que voltar ao Atlético de Madrid, mas ninguém impede que eu possa ficar aqui - destacou o uruguaio na zona mista da Arena.
Cebolla virou ídolo assim que pisou em Porto Alegre (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
Primeira lesão e corte
No domingo, o primeiro abalo. A Associação Uruguaia de Futebol revelou uma lesão muscular na coxa direita de Cristian Rodríguez e o consequente corte da seleção, que faria amistoso contra Marrocos. O Grêmio adotou silêncio durante todo o dia. Iria se manifestar apenas na segunda-feira. O departamento médico, por meio do diretor Márcio Bolzoni, confirmou a lesão e estipulou uma parada de dez dias.
- Cristian fez uma lesão no reto-anterior direito de grau 1, sem gravidade maior. A tendência é que em torno de 10 dias esteja treinando. Talvez alguns exercícios antes - destacou Bolzoni.
Cristian Rodríguez se lesionou logo após a estreia (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Punição na itália
Antes da confirmação da lesão, um problema de ordem jurídica preocupou o Grêmio. Rodríguez recebeu quatro jogos de suspensão pela Federação Italiana de Futebol, por conta de expulsão no seu último confronto pelo Parma, no Campeonato Italiano. A punição foi herdada pelo novo clube, no caso o Tricolor, que perderia o jogador em jogos da Copa do Brasil ou Brasileirão.
Essa foi ao menos a interpretação do departamento jurídico, que garantiu a sua regularização em partidas de nível estadual. Havia esperança na reversão. O Grêmio contratou um advogado na Itália e o próprio jogador entrou em contato com amigos do país. Em vão. Em 27 de março, quando Cebolla estava se recuperando da lesão, a federação italiana confirmou a punição, que não esmoreceu o clube por completo.
- Nós temos que curtir o momento. É um grande profissional, se adaptou muito bem ao Grêmio. É cheio de brincadeiras e de interação com o grupo. Vai ao vestiário antes dos jogos em que não atua. O Cristian é um marco e, na hora certa, ele entrará no time - disse o diretor de futebol Cesar Pacheco, ao GloboEsporte.com.
Cristian Rodriguez foi expulso no final de seu último jogo na Itália (Foto: Getty Images)
Lesão "prega peça"
O fracasso na apelação na Itália, embora significativo, não tirou a esperança da direção, como se viu com Pacheco. O presidente Romildo Bolzan Júnior também adotava o discurso de que o importante era aproveitar o máximo a qualidade do jogador, que ele seria fundamental nos momentos mais decisivos do estadual. A ideia era tê-lo à disposição na primeira prova de fogo do Gauchão, as quartas de final em jogo único contra o Novo Hamburgo em 9 de abril.
Isso porque Cebolla voltou a treinar com bola, com direito a gol e tudo, no trabalho da segunda anterior, em 6 de abril. No entanto, o meia sequer ficou no banco na quinta. Assistiu, apreensivo, da zona mista da Arena, à dramática decisão nos pênaltis, que levaria o Tricolor à semifinal. O problema é que o jogador também ficou fora das semis, diante do Juventude. Rodríguez chegava a um mês sem atuar. O prazo, portanto, triplicou.
- Nós tínhamos imagem que nos fazia pensar em uma lesão de pequena importância, de grau 1, e que pela evolução se mostrou, provavelmente, uma lesão de grau 2. Ficou escondida de uma forma que não se evidenciou pelas imagens de ressonância. Fizemos duas imagens que não mostravam nenhuma lesão preocupante, mas a evolução clínica e o quadro de dor demoraram muito e nós tivemos que recuar dentro da estratégia de recuperação que estávamos utilizando - explicou o diretor médico Márcio Bolzoni, à Rádio Guaíba.
Rodeios e críticas
Cristian Rodríguez mostrou fora de campo que conhece bem a cultura gaúcha e participou de dois eventos: o Rodeio de Porto Alegre, no final de março, e no meio de abril, foi a uma das principais competições de cavalo, classificatória para o Freio de Ouro, realizado durante a Expointer - feira internacional de agropecuária, em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre. Além disso, ficou amigo de Luiz Marenco, importante cantor nativista do estado.
A incursão a eventos mesmo lesionado causou certa insatisfação por parte da torcida. O jogador tratou de se defender:
- Eu não estou aqui para roubar o dinheiro. Estou machucado, não estou feliz no momento. Muitas pessoas me esperaram no aeroporto, um grande carinho, eles esperam muito de mim. Mas quem pensa mal de mim tem que saber que o jogador sempre quer estar em campo.
Cristian Rodríguez posa em rodeio em Porto Alegre (Foto: Reprodução/Twitter)
Volta só no 1º gre-nal
O tão esperado retorno viria no primeiro Gre-Nal da decisão, em 26 de abril. Atuou 26 minutos, entrando no segundo tempo, dos 24 aos 50 minutos do 0 a 0 na Arena. O recomeço de Cebolla animou a todos, inclusive Felipão, que esperava ter o meia 100% no clássico final do domingo posterior, no Beira-Rio. O meia, todavia, foi cauteloso.
- Não dá para avaliar muito. Voltei hoje após um mês parado. Não estou sentindo mais nada. Fiz um treino. Foi muito rápido. Espero na semana ficar melhor. Mas estou feliz, embora cansado. O corpo médico fez de tudo para eu estar 100%. Voltava e me machucava, voltava e me machucava. Hoje pude terminar sem lesão. Agora é torcer para continuar assim. Um mês parado custa. Foram meus primeiros 20 minutos. Espero recuperar o físico. Quero estar 100% na próxima semana. Acredito que resisto um tempo, mas é complicado. Espero esta semana treinar sem dor e ir para o jogo - ponderou o jogador.
Cristian Rodríguez atuou 24 minutos no Gre-Nal da Arena (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio)
Fora da grande decisão
Rodríguez, todavia, deixaria de aparecer nas partes em que os treinos eram abertos à imprensa a partir da quarta-feira. Um clima de mistério tomou conta da semana Gre-Nal no CT Luiz Carvalho. No sábado, Cebolla realmente começava a se tornar dúvida. Iria ser avaliado momentos antes da partida, no domingo. Ao ir em direção ao ônibus, mancava próximo aos jornalistas presentes.
Não era despiste. A principal contratação do semestre tricolor não iria sequer ficar no banco do grande jogo do ano, no qual o Grêmio precisava ao menos empatar com gols na casa do rival para ser campeão após cinco anos. Depois, veio à tona que era uma nova lesão, na panturrilha direita, descoberta ainda na sexta.
Cristian Rodríguez virou mistério e depois frustração antes do Gre-Nal decisivo (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
COBRANÇAS SEM RESPOSTAS
Após a derrota categórica no clássico, não se sabia o que era mais frustrante: a perda do título ou ver a grande aposta do elenco sem previsão de tocar na bola. O impasse levou Romildo Bolzan a cobrar publicamente o departamento médico do Grêmio. Para fazer um movimento rumo a uma já complexa renovação, o presidente queria, antes, um parecer médico definitivo.
Temos que ter, em primeiro lugar, um diagnóstico médico, definitivo. Isso incomoda a gente. A gente quer respostas. Ele estava recuperado, veio, sentiu, recuperou
Romildo Bolzan, após o Gre-Nal
- Temos que ter, em primeiro lugar, um diagnóstico médico, definitivo. Após uma compreensão geral, temos que saber o que está ocorrendo com ele antes de ter uma perspectiva mais definitiva. Isso incomoda a gente. A gente quer respostas, a gente quer diagnóstico mais definitivo. Ele estava recuperado, veio, sentiu, recuperou. Treinou, sentiu, foi poupado. Espero que nessa segunda seja dado uma situação mais clara a respeito desse jogador - cobrou.
A resposta do departamento médico veio na segunda, acompanhada de mais um golpe: a lesão na panturrilha direita tiraria Cebolla por mais 15 dias dos campos. O diretor médico Márcio Bolzoni afirmou que o processo de recuperação da primeira lesão muscular de Cebolla, sofrida em sua estreia contra o Cruzeiro-RS, há mais de 40 dias, foi acelerado para as finais do Gauchão, mas negou que a volta dele no primeiro Gre-Nal da Arena tenha sido precipitada. Cogitou o problema à falta de uma pré-temporada.
Fim da linha
Com o sentimento de frustração cada vez maior, o Grêmio informou na manhã desta sexta-feira que negociou com Rodríguez para rescindir o contrato de empréstimo até o final de junho. O uruguaio conversou com a direção e pediu para que o vínculo fosse rompido pelos valores envolvidos na negociação. Depois, justificou-se em nota.
- Foi uma questão pessoal, passei por um período de lesões que me forçaram a ficar fora dos campos por mais de um mês e meio e ainda me faltam dias para a recuperação. Preferi rescindir contrato para não seguir cobrando os salários ao Grêmio sem poder jogar. Foi uma questão de respeito ao clube e à torcida. Quero agradecer a todos. Fiquei muito triste e impotente por não ter conseguido jogar e devolver todo o carinho que me deram. Espero no futuro poder defender o Grêmio da melhor maneira. Agora, é momento de voltar ao Uruguai para continuar com a minha recuperação - disse o jogador, em mensagem no Facebook.
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