Felipão chega à 10ª final pelo Grêmio e estilo copeiro vira maior esperança

Técnico perdeu apenas duas decisões das nove disputadas e ex-comandados atestam estilo "maluco" e mobilizador de Scolari antes de jogos que valem taça


Fonte: GloboEsporte

Felipão chega à 10ª final pelo Grêmio e estilo copeiro vira maior esperança
Felipão faz oração com jogadores no vestiário após o título do Gauchão (Foto: Julio Cordeiro/Agência RBS)

Para encerrar um jejum de cinco anos sem títulos, o Grêmio se agarra numa subversão. Deixa de lado a velha máxima de quem decide são apenas os jogadores. É Felipão e seu estilo copeiro a maior esperança do clube para suplantar o Inter no Gre-Nal do próximo domingo, no Beira-Rio, e se tornar campeão gaúcho, o que não ocorre desde 2010.

O currículo de Felipão recomenda tamanho peso sobre o treinador de 66 anos. Scolari está em sua décima decisão de título pelo Grêmio, em três passagens. Das nove que já disputou, perdeu apenas duas, a final da Copa do Brasil de 1995, para o Corinthians, e o Mundial Interclubes, para o Ajax, nos pênaltis. O aproveitamento encosta nos 80%. Outro dado alentador aos azuis: Felipão jamais perdeu final de campeonato para o Inter. No total, coleciona 19 Gre-Nais. Venceu oito, perdeu quatro e empatou sete, um aproveitamento de 54%.

- Eu acredito no taco do treinador - resume Romildo Bolzan Júnior, em entrevista à Rádio Gaúcha no início da semana.

Foram duas decisões em estadual. Em 1987 e 1995. Há quase 28 anos, um ainda desconhecido Luiz Felipe já indicava a receita para o sucesso em finais. Controlava todos os detalhes antes do duelo e apostava boa parte de suas fichas no aspecto emocional. Resolveu relacionar Baidek, zagueiro campeão do mundo em 1983, mas que estava impedido de atuar após uma cirurgia no joelho. Mesmo assim, Scolari fazia questão de sua presença em todos os momentos, inclusive no vestiário, antes de a bola rolar. A injeção de ânimo e vivência do defensor deu certo.

- Nunca vou me esquecer dessa atitude do Felipão. Mesmo eu de muletas, ele virou para mim e disse: "Você vai me ajudar a vencer fora de campo, pelo teu caráter". No fim, fiquei do lado dele no banco de reservas - recorda Baidek, hoje empresário de futebol.

Nos anos 1990, a "loucura" prosseguiu. Campeão da Copa de Brasil de 1994, o ex-zagueiro Agnaldo Liz confirma que Felipão se transforma em decisões:

- Ele mata no peito, ao estilo paizão, e deixa o jogador confiante. Porque ele tira a pressão do atleta e carrega com ele. Às vezes, era coisa de maluco o que ele fazia para agitar o ambiente, blindava todo mundo, se incomodava com a imprensa... Típico de um artista.

- Gostaria de estar vivendo isso. Porque ele vive intensamente, tanto que consegue passar para os jogadores uma motivação especial. Eu ficava até escurecer finalizando nos treinos porque ele sabe tirar o máximo de cada um e tem o dom do convencimento - reforça Nildo, ex-centroavante, autor de um dos gols da final do Gauchão de 1995, na famosa vitória do Banguzinho.

> Confira as finais de Felipão pelo Grêmio:

Gauchão 1987

Felipão não perdeu Gre-Nais em sua primeira passagem pelo Grêmio, em 1987. E ainda deu show de bola na final do Gauchão. Em menos de meia hora, o Tricolor vencia o maior rival por 3 a o, gols de Lima (duas vezes) e Jorge Veras. No final, 3 a 2 e taça no armário.

Copa do brasil 1994

A segunda final só viria no retorno de Felipão. Em 1994, decidiu a Copa do Brasil com o Ceará. Aliás, mata-mata já era sua especialidade. Havia vencido o mesmo torneio com o Criciúma sobre o Grêmio, em 1991. Diante dos cearenses, venceu por 1 a 0, gol de Nildo. Era apenas o começo de uma era dourada do clube e do próprio treinador.

Copa do brasil 1995

O ano de 1995 foi de longe o mais especial. Curiosamente, também foi o único em que Felipão perderia títulos. No primeiro semestre, o treinador levou o Grêmio às três decisões possíveis. Na primeira, perdeu para o Corinthians, em casa, a Copa do Brasil. Mesmo com o 1 a 0, gol de Marcelinho Carioca, a torcida cantou o hino do clube e emocionou o grupo.

Gauchão 1995

Até hoje, ex-jogadores lembram com carinho do voto de confiança dos fãs. A resposta foi dada em campo. Primeiro, Felipão voltou a vencer o Inter numa final de Gauchão. Mesmo com time misto na final, carinhosamente apelidado de Banguzinho pelos próprios atletas. Nildo e Carlos Miguel construíram o 2 a 1 sobre o Colorado de Abel Braga.

Libertadores 1995

Cerca de 15 dias depois, Felipão chegava a mais uma final, a mais importante do ano. O duelo era com o Nacional de Medellín e valia o título da Libertadores. Em casa, vitória por 3 a 1 e fúria de Felipão no vestiário pelo gol sofrido no fim. Mas o time suportou a pressão na Colômbia e arrancou empate em 1 a 1, gol de Dinho. Grêmio era bicampeão da América.

Mundial 1995

No final do ano, o Grêmio mediu forças com o Ajax, base da seleção holandesa, invicto fazia 82 partidas. Quem não conhecia o time brasileiro, apostou em goleada histórica. Mas o Tricolor fez frente. Scolari lamenta até hoje os gols perdidos por Jardel. Houve empate sem gols e disputa de pênaltis. Não é que os dois melhores cobradores, Dinho e Arce, erraram?

Gauchão 1996

Em 1996, o presidente Fábio Koff chamava o Gauchão de "cafezinho", diante dos banquetes das demais competições. O problema é que o time caiu nas semifinais da Copa do Brasil e da Libertadores. Pior para o Juventude, finalista do estadual, e que levou 4 a 0 na decisão no Olímpico. Na celebração, até Felipão degustou um cafezinho e tirou onda.

Recopa 1996


Felipão foi premonitório. Ao beber o cafezinho, disse que o título gaúcho era o empurrão que o time precisava para se reerguer. Não deu outra. A rotina de erguer taças se ampliou em Kobe, no Japão, mesmo país que, meses antes, fora palco da derrota para o Ajax. Desta vez, um 4 a 1 soberano sobre o Independiente-ARG, pela Recopa. Scolari chegou a dizer que era um dos títulos mais especiais pelo fato de ter sido inédito na história do clube.

Brasileirão 1996

E cabia mais. O Grêmio terminou 1996 campeão brasileiro, em final dramática contra a Portuguesa. Era necessário vencer por 2 a 0 no Olímpico. Paulo Nunes fez o primeiro, mas o título só viria aos 39 do segundo tempo com o criticado Ailton. O desafeto da torcida entrara em campo a pedido do capitão Dinho, que se ofereceu para sair à beira do gramado. Felipão atendeu. Depois da festa monumental, o treinador deixava o Grêmio para retornar em 2014.

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