Felipão e seu estilo de se "meter" em tudo, como diria o jovem Lincoln (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio)
Ele chega antes de todos aos treinos e fica até tarde exercitando (e acertando) cobranças de faltas. Poderia ser um jogador? Não, porque ele também pede reforços e aumento a atletas até via imprensa e trata de abusar do lado psicólogo. Um dirigente, portanto? Que nada. Na verdade, todos esses são um só. São Felipão. Que em sua terceira passagem pelo Grêmio - polêmicas com arbitragem à parte - encarna um “estilo total”, do paizão ao negociador.
Uma faceta única, que faz a direção temer uma saída precoce, uma vez que há proposta chinesa não negada pelo treinador. Mas que também vira trunfo para o Tricolor manter a longa série invicta e voltar a vencer um campeonato diante de um jejum de quatro anos. Nesta segunda, o clube entra de cabeça na semana Gre-Nal - no domingo, começa a final com o primeiro duelo que encaminha a decisão do Gauchão, na Arena.
Essa veia “manager” de Scolari começou a ficar mais evidente na semana passada. Após a sofrida classificação nos pênaltis diante do Novo Hamburgo, abriu a jornalistas na entrevista coletiva que Yuri Mamute precisava de valorização salarial. Revelou até que o aconselhou a mudar o corte de cabelo. Na última quarta, novamente um recado. Desta vez, sem citar nomes, disse que um atleta do elenco estava cometendo um “erro crasso” na vida e que precisaria redirecioná-lo, tal qual fizera com o atacante de 19 anos, hoje xodó da torcida.
- Tem pessoas que a gente conversa, como amigo, como pai... não. Como um irmão mais velho. Por sinal, pretendo conversar com um dos meus jogadores que está cometendo um erro crasso na sua vida e que vou direcioná-lo - revelou Felipão. - Eu como um técnico mais velho, com alguma experiência posso passar um pouco dessa experiência, como faço na minha casa. Tento direcionar meus filhos e, às vezes, eles erram.
O próprio Felipão havia admitido na semana passada que costuma “usar” a imprensa para passar recados. E, por que não, exercer ainda mais seu lado psicólogo. Assim, tratou de frear a empolgação dos jovens do elenco ao dizer que muitos estavam “acreditando” e embarcando na euforia da imprensa. Por meio dela, também pediu reforços publicamente no momento mais difícil da temporada, quando o time, repleto de garotos, estava fora da zona de classificação para as quartas do Gauchão.
Outro momento visto como divisor de águas foi o abandono do banco de reservas antes de o jogo contra o Veranópolis terminar, em 14 de fevereiro, na derrota por 1 a 0. Uma atitude irresponsável, inadequada? Talvez. O entendimento da direção, todavia, foi um pouco diferente. O exaspero de Felipão, no final das contas, mexeu com o grupo. Tanto que, desde então, o Tricolor sustenta uma invencibilidade superior a dois meses.
- Ele é sanguíneo, toma atitudes às vezes impensadas, mas como homens de sucesso, dá certo. Talvez não fosse impensada, deu certo… Não sei se foi pensado ou não, mas reverteu em uma posição de sucesso, deu também resultados emocionais para o time. As pessoas que têm acima de tudo muita estrela e capacidade de envolver outras pessoas, que são um sucesso por si só, pelo que fizeram, têm sucesso até nos erros - interpreta o presidente Romildo Bolzan Júnior.
Felipão também sabe agir nos bastidores. Sabedor da complicada financeira do clube, é peça-chave na escolha a dedo por reforços. Ao final da temporada passada, fez apenas uma exigência. Precisava de um meia armador. Indicou Douglas. Mais do que isso, conversou ao telefone com o camisa 10. Mesmo procedimento feito com outras contratações, como o polivalente Marcelo Oliveira, hoje um dos destaques do time.
- O Grêmio neste projeto precisaria de uma figura muito identificada com o clube e altamente respeitável do ponto de vista técnico. O Felipão faz as duas coisas. Se um "gurizão" está chegando aí e é orientado por ele, 99% acredita no Felipão. Essa referência é fundamental para o sucesso do projeto. É a pessoa certa na hora certa e no local certo - completa Romildo.
Felipão conversa com Lincoln, cena comum para colocar os jovens na linha no grupo (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Até golaço de falta em treino
Como o próprio presidente referenda, não é mistério para Felipão usar jovens. O atual elenco é formado por ao menos 60% garotos. Scolari, inclusive, queria usar uma das joias mais promissoras quando ele tinha 15 anos. Precisou, todavia, esperar que Lincoln completasse 16 em novembro. Já o levou para a pré-temporada em Gramado. Nesta quarta, contra o Campinense, ele fez seu primeiro gol no profissional. E aprovou esse estilo paizão do comandante:
- Aí vocês podem ver, ele se mete até em coisas que não é dele. É sem palavras esse professor, ele está ali para ajudar mesmo. É um excelente profissional.
A “intromissão” é tanta que Felipão mostra qualidade até então impensadas. Provou, por exemplo, que sabe cobrar faltas. Não há dia no CT Luiz Carvalho que Scolari não dedique para, após a atividade normal, orientar os cobradores de falta do time. Ele mesmo é que busca a barreira, a posiciona. Até se permite levar boladas durante o exercício. Certa vez, o GloboEsporte.com flagrou um belo gol do treinador. Em outra oportunidade, levou uma bolada do lateral Júnior.
Quem acompanha o dia a dia vê Felipão também muito participativo nos trabalhos de bola parada. Está, usualmente, entre os zagueiros e atacantes, no meio da área. Na maioria das vezes, arrasta seus jogadores para mostrar o movimento que quer deles após o cruzamento. Cobra também dos batedores um tipo de chute específico para cada dia. Às vezes, quer que a bola caia na primeira trave, dentro da pequena área. Em outras, solicita um arco mais aberto, para o segundo poste.
Mas Felipão participa mesmo das ações mais decisivas. Durante a semana, não é raro que o auxiliar Ivo Wortmann seja visto aos gritos, comandando o trabalho dos reservas, em campo reduzido. Sempre observado por Scolari. Mas o treinador se dedica, mesmo, aos trabalhos táticos. Posiciona os jogadores como quer que atuem, sem adversário, e faz com que troquem passes e acertem a transição, tanto ofensiva quanto defensiva.
Cabe a Felipão também o posto de “fominha”. Um bom exemplo se deu após a vitória sobre o Ypiranga, pela primeira fase do Gauchão. A partida começou às 22h de quarta-feira, em Erechim. A delegação pegou a estrada, quase 400km, rumo a Porto Alegre já na madrugada de quinta. Antes do horário previsto para o treino regenerativo da manhã, Scolari já estava postado no gramado do CT, coletes em punho, à espera da chegada dos reservas para o coletivo.
Ivo Wortmann comandando treino do Grêmio é cena recorrente (Foto: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com)
Não é por causa da experiência nem da idade, 66 anos, que Felipão age assim. Quando ainda era um garoto, já gostava de participar de tudo. Após tentativa frustrada no Inter, colocou na cabeça que o Aimoré, clube da Região Metropolitana de Porto Alegre, seria a sua grande chance de se tornar jogador, no final dos anos 1960.
Tanto que, mesmo antes de ser aprovado nos testes, pagava do próprio bolso as viagens com o grupo. Após cavar espaço no time e virar capitão, o Aimoré requisitou o seu perfil diferenciado, de professor e universitário, para ajudar um de seus companheiros na negociação com o Caxias.
O zagueiro levou seu bigode para a Serra e, durante a negociação da transferência do centro-médio Maurício, impressionou a direção caxiense. Não só conseguiu um bom contrato para o colega como arrumou uma vaga para ele próprio na então Associação Caxias, que se tornaria SER Caxias anos depois. Mauricio, no fim, ficou seis meses por lá. Felipão, seis anos.
- Ele era muito esperto, estava anos à frente da gente, pensava na frente. Sabia o que queria, desde o início - lembra Gão, ponta de lança da época
Felipão já se destacava como "psicólogo" e "negociador" quando jogador do Aimoré (Foto: Agência RBS)
Psicologia, no fusca ou no avião
Em sua primeira passagem como treinador do Grêmio em 1987, Felipão usou seu lado psicólogo. Para motivar o grupo ainda mais na decisão do Gauchão, resolveu relacionar Baidek, zagueiro campeão do mundo em 1983, mas que estava completamente impedido de atuar após uma cirurgia no joelho. Mesmo assim, Scolari fazia questão de sua presença em todos os momentos, inclusive no vestiário, antes de a bola rolar. Deu certo.
- Nunca vou me esquecer dessa atitude do Felipão. Mesmo eu de muletas, ele virou para mim e disse: "Você vai me ajudar a vencer fora de campo, pelo teu caráter". No fim, fiquei do lado dele no banco de reservas - recorda Baidek, hoje empresário de futebol.
A sua segunda vez no Grêmio foi a mais vitoriosa. Entre 1993 e 1996, levantou taças como as da Copa do Brasil, da Libertadores e do Brasileirão. Mas o início foi difícil. De pouca verba e muita aposta na base, como hoje. Em busca de jovens talentos, embrenhava-se Interior adentro. Chegou a ir a Londrina, no Paraná, dentro de um apertado fusca, junto com dirigentes da base, para assistir a um torneio juvenil. Chegava mais cedo ao estádio em dias de jogos só para observar treinos e partidas da garotada.
Por vezes, enlouquecia o pessoal da base, de tanto que pinçava jogadores para testes. O que acabava por desfalcar os times inferiores em momentos decisivos de campeonatos. Um ônus que valeu a pena. Dali, saíram nomes como Roger, Carlos Miguel, Arilson… E Danrlei. Goleiro mais vencedor da história do clube lembra bem quando soube de Felipão que seria titular. Dentro do avião rumo a uma excursão na Itália, ouviu o conselho:
- Filho, já tirei informações tuas, tu vais jogar agora. Faz a tua parte, o teu trabalho, tranquilo. Do resto, cuido eu.
E Felipão segue cuidando. Os nomes mudam, os tempos também. Mas o jeitão parece inconfundível e perene. E de que os gremistas parecem não se enjoar. A saber se a parceria continuará. Os chineses querem a família Scolari no outro lado do mundo.
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Ele chega antes de todos aos treinos e fica até tarde exercitando (e acertando) cobranças de faltas. Poderia ser um jogador? Não, porque ele também pede reforços e aumento a atletas até via imprensa e trata de abusar do lado psicólogo. Um dirigente, portanto? Que nada. Na verdade, todos esses são um só. São Felipão. Que em sua terceira passagem pelo Grêmio - polêmicas com arbitragem à parte - encarna um “estilo total”, do paizão ao negociador.
Uma faceta única, que faz a direção temer uma saída precoce, uma vez que há proposta chinesa não negada pelo treinador. Mas que também vira trunfo para o Tricolor manter a longa série invicta e voltar a vencer um campeonato diante de um jejum de quatro anos. Nesta segunda, o clube entra de cabeça na semana Gre-Nal - no domingo, começa a final com o primeiro duelo que encaminha a decisão do Gauchão, na Arena.
Essa veia “manager” de Scolari começou a ficar mais evidente na semana passada. Após a sofrida classificação nos pênaltis diante do Novo Hamburgo, abriu a jornalistas na entrevista coletiva que Yuri Mamute precisava de valorização salarial. Revelou até que o aconselhou a mudar o corte de cabelo. Na última quarta, novamente um recado. Desta vez, sem citar nomes, disse que um atleta do elenco estava cometendo um “erro crasso” na vida e que precisaria redirecioná-lo, tal qual fizera com o atacante de 19 anos, hoje xodó da torcida.
- Tem pessoas que a gente conversa, como amigo, como pai... não. Como um irmão mais velho. Por sinal, pretendo conversar com um dos meus jogadores que está cometendo um erro crasso na sua vida e que vou direcioná-lo - revelou Felipão. - Eu como um técnico mais velho, com alguma experiência posso passar um pouco dessa experiência, como faço na minha casa. Tento direcionar meus filhos e, às vezes, eles erram.
O próprio Felipão havia admitido na semana passada que costuma “usar” a imprensa para passar recados. E, por que não, exercer ainda mais seu lado psicólogo. Assim, tratou de frear a empolgação dos jovens do elenco ao dizer que muitos estavam “acreditando” e embarcando na euforia da imprensa. Por meio dela, também pediu reforços publicamente no momento mais difícil da temporada, quando o time, repleto de garotos, estava fora da zona de classificação para as quartas do Gauchão.
Outro momento visto como divisor de águas foi o abandono do banco de reservas antes de o jogo contra o Veranópolis terminar, em 14 de fevereiro, na derrota por 1 a 0. Uma atitude irresponsável, inadequada? Talvez. O entendimento da direção, todavia, foi um pouco diferente. O exaspero de Felipão, no final das contas, mexeu com o grupo. Tanto que, desde então, o Tricolor sustenta uma invencibilidade superior a dois meses.
- Ele é sanguíneo, toma atitudes às vezes impensadas, mas como homens de sucesso, dá certo. Talvez não fosse impensada, deu certo… Não sei se foi pensado ou não, mas reverteu em uma posição de sucesso, deu também resultados emocionais para o time. As pessoas que têm acima de tudo muita estrela e capacidade de envolver outras pessoas, que são um sucesso por si só, pelo que fizeram, têm sucesso até nos erros - interpreta o presidente Romildo Bolzan Júnior.
Felipão também sabe agir nos bastidores. Sabedor da complicada financeira do clube, é peça-chave na escolha a dedo por reforços. Ao final da temporada passada, fez apenas uma exigência. Precisava de um meia armador. Indicou Douglas. Mais do que isso, conversou ao telefone com o camisa 10. Mesmo procedimento feito com outras contratações, como o polivalente Marcelo Oliveira, hoje um dos destaques do time.
- O Grêmio neste projeto precisaria de uma figura muito identificada com o clube e altamente respeitável do ponto de vista técnico. O Felipão faz as duas coisas. Se um "gurizão" está chegando aí e é orientado por ele, 99% acredita no Felipão. Essa referência é fundamental para o sucesso do projeto. É a pessoa certa na hora certa e no local certo - completa Romildo.
Felipão conversa com Lincoln, cena comum para colocar os jovens na linha no grupo (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Até golaço de falta em treino
Como o próprio presidente referenda, não é mistério para Felipão usar jovens. O atual elenco é formado por ao menos 60% garotos. Scolari, inclusive, queria usar uma das joias mais promissoras quando ele tinha 15 anos. Precisou, todavia, esperar que Lincoln completasse 16 em novembro. Já o levou para a pré-temporada em Gramado. Nesta quarta, contra o Campinense, ele fez seu primeiro gol no profissional. E aprovou esse estilo paizão do comandante:
- Aí vocês podem ver, ele se mete até em coisas que não é dele. É sem palavras esse professor, ele está ali para ajudar mesmo. É um excelente profissional.
A “intromissão” é tanta que Felipão mostra qualidade até então impensadas. Provou, por exemplo, que sabe cobrar faltas. Não há dia no CT Luiz Carvalho que Scolari não dedique para, após a atividade normal, orientar os cobradores de falta do time. Ele mesmo é que busca a barreira, a posiciona. Até se permite levar boladas durante o exercício. Certa vez, o GloboEsporte.com flagrou um belo gol do treinador. Em outra oportunidade, levou uma bolada do lateral Júnior.
Quem acompanha o dia a dia vê Felipão também muito participativo nos trabalhos de bola parada. Está, usualmente, entre os zagueiros e atacantes, no meio da área. Na maioria das vezes, arrasta seus jogadores para mostrar o movimento que quer deles após o cruzamento. Cobra também dos batedores um tipo de chute específico para cada dia. Às vezes, quer que a bola caia na primeira trave, dentro da pequena área. Em outras, solicita um arco mais aberto, para o segundo poste.
Mas Felipão participa mesmo das ações mais decisivas. Durante a semana, não é raro que o auxiliar Ivo Wortmann seja visto aos gritos, comandando o trabalho dos reservas, em campo reduzido. Sempre observado por Scolari. Mas o treinador se dedica, mesmo, aos trabalhos táticos. Posiciona os jogadores como quer que atuem, sem adversário, e faz com que troquem passes e acertem a transição, tanto ofensiva quanto defensiva.
Cabe a Felipão também o posto de “fominha”. Um bom exemplo se deu após a vitória sobre o Ypiranga, pela primeira fase do Gauchão. A partida começou às 22h de quarta-feira, em Erechim. A delegação pegou a estrada, quase 400km, rumo a Porto Alegre já na madrugada de quinta. Antes do horário previsto para o treino regenerativo da manhã, Scolari já estava postado no gramado do CT, coletes em punho, à espera da chegada dos reservas para o coletivo.
Ivo Wortmann comandando treino do Grêmio é cena recorrente (Foto: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com)
Não é por causa da experiência nem da idade, 66 anos, que Felipão age assim. Quando ainda era um garoto, já gostava de participar de tudo. Após tentativa frustrada no Inter, colocou na cabeça que o Aimoré, clube da Região Metropolitana de Porto Alegre, seria a sua grande chance de se tornar jogador, no final dos anos 1960.
Tanto que, mesmo antes de ser aprovado nos testes, pagava do próprio bolso as viagens com o grupo. Após cavar espaço no time e virar capitão, o Aimoré requisitou o seu perfil diferenciado, de professor e universitário, para ajudar um de seus companheiros na negociação com o Caxias.
O zagueiro levou seu bigode para a Serra e, durante a negociação da transferência do centro-médio Maurício, impressionou a direção caxiense. Não só conseguiu um bom contrato para o colega como arrumou uma vaga para ele próprio na então Associação Caxias, que se tornaria SER Caxias anos depois. Mauricio, no fim, ficou seis meses por lá. Felipão, seis anos.
- Ele era muito esperto, estava anos à frente da gente, pensava na frente. Sabia o que queria, desde o início - lembra Gão, ponta de lança da época
Felipão já se destacava como "psicólogo" e "negociador" quando jogador do Aimoré (Foto: Agência RBS)
Psicologia, no fusca ou no avião
Em sua primeira passagem como treinador do Grêmio em 1987, Felipão usou seu lado psicólogo. Para motivar o grupo ainda mais na decisão do Gauchão, resolveu relacionar Baidek, zagueiro campeão do mundo em 1983, mas que estava completamente impedido de atuar após uma cirurgia no joelho. Mesmo assim, Scolari fazia questão de sua presença em todos os momentos, inclusive no vestiário, antes de a bola rolar. Deu certo.
- Nunca vou me esquecer dessa atitude do Felipão. Mesmo eu de muletas, ele virou para mim e disse: "Você vai me ajudar a vencer fora de campo, pelo teu caráter". No fim, fiquei do lado dele no banco de reservas - recorda Baidek, hoje empresário de futebol.
A sua segunda vez no Grêmio foi a mais vitoriosa. Entre 1993 e 1996, levantou taças como as da Copa do Brasil, da Libertadores e do Brasileirão. Mas o início foi difícil. De pouca verba e muita aposta na base, como hoje. Em busca de jovens talentos, embrenhava-se Interior adentro. Chegou a ir a Londrina, no Paraná, dentro de um apertado fusca, junto com dirigentes da base, para assistir a um torneio juvenil. Chegava mais cedo ao estádio em dias de jogos só para observar treinos e partidas da garotada.
Por vezes, enlouquecia o pessoal da base, de tanto que pinçava jogadores para testes. O que acabava por desfalcar os times inferiores em momentos decisivos de campeonatos. Um ônus que valeu a pena. Dali, saíram nomes como Roger, Carlos Miguel, Arilson… E Danrlei. Goleiro mais vencedor da história do clube lembra bem quando soube de Felipão que seria titular. Dentro do avião rumo a uma excursão na Itália, ouviu o conselho:
- Filho, já tirei informações tuas, tu vais jogar agora. Faz a tua parte, o teu trabalho, tranquilo. Do resto, cuido eu.
E Felipão segue cuidando. Os nomes mudam, os tempos também. Mas o jeitão parece inconfundível e perene. E de que os gremistas parecem não se enjoar. A saber se a parceria continuará. Os chineses querem a família Scolari no outro lado do mundo.
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