Feliz no Grêmio, Erazo busca sucesso no Brasil: "Quero ficar mais tempo"

Tão respeitado no Equador, onde é tratado quase como um “superstar”, mas sem brilho em passagem pelo Flamengo. Como um jogador consegue anular o francês Benzema em uma Copa do Mundo e não deslanchar no país do futebol? Frickson Erazo, de 26 anos, não encontra a resposta. Por isso, optou por permanecer no Brasil e atuar no Grêmio de Luiz Felipe Scolari.

Em conversa exclusiva com o GloboEsporte.com na última segunda-feira - logo após participar do programa Central do Gauchão –, Erazo esbanjou simpatia e otimismo. Afinal, no dia anterior, havia estreado pelo Grêmio na vitória por 3 a 1 diante do Avenida. Sem promessas, acha que voltará a recuperar o melhor desempenho, como aquele que desfilou no Mundial ou que o fez ser chamado de “El Elegante” no Equador.

– Eu não queria sair do Brasil deste jeito, com imagem ruim. Não posso sair assim. Queria jogar, queria que todo mundo me visse jogando. E Grêmio me deu essa possibilidade – exalta.
Erazo reside na Zona Norte de Porto Alegre com a esposa Paola e dois filhos, Jeshua e Jeslany. Tem contrato por empréstimo de um ano com o Tricolor, mas deseja estender o vínculo.
– Não quero ficar só um ano, quero ficar muito mais tempo – projeta.

Confira como foi o bate-papo:

GloboEsporte.com – Por que a negociação com o Grêmio demorou tanto para fechar?
Erazo: Foi uma das negociações mais difíceis da minha carreira até agora, por tudo o que estava envolvido. Sabia que o Barcelona-EQU estava atrapalhando um pouco, o Grêmio queria contar comigo e havia outros clubes brigando pelos meus direitos. Eu já tinha a decisão de jogar aqui, mas a documentação foi um pouco difícil. Graças a Deus, tudo deu certo.

Achou que não daria certo em algum momento?
Sim. No momento que a negociação ficou mais difícil foi quando eu pensei: “Pô, não vai dar certo”. Graças a Deus, Grêmio e Flamengo chegaram a um acordo, Barcelona também. Da minha parte também e tudo aconteceu.

Você sentiu um alívio?
Foi um alívio muito bom, sabe. Tinha muita coisa envolvida. Na minha seleção, estavam pressionando (para jogar). Precisava dar uma estabilidade para minha família também. Não estava treinando direto. Todo mundo estava em pré-temporada e eu ainda não. E depois, quando cheguei no Grêmio, me senti satisfeito, fui bem recebido pelo grupo. Era o time que queria jogar, quando vi a possibilidade, eu disse: “quero jogar ali”.
Quem o recebeu no Grêmio e como está sendo o dia a dia?
É um grupo muito bom, sabe, tem um bom vestiário. Eu já conhecia o Barcos, jogamos juntos no Equador, o Marcelo Moreno e o Matías Rodríguez. E também outros amigos que conhecia do Brasil, o Galhardo jogou no Flamengo. Não foi difícil, consigo entender todo mundo.

Onde aprendeu a falar tão bem o português?
Foi acostumando o ouvido. Ainda mais na posição de zagueiro, eu precisava aprender. É preciso falar de qualquer jeito. Tinha um amigo no Rio com quem trabalhei e logo disse: “Irmão, só fala português comigo”. Ele disse que eu não ia entender, mas eu respondi que precisava aprender. Não fiz aula, só no ouvido.

Projeta permanecer no Grêmio muito tempo?
Quero permanecer bastante tempo aqui. Minha família gostou da cidade, que me abriu os braços no momento mais difícil da minha carreira. O Grêmio quis contar comigo. Sou muito agradecido. Minha esposa e filhos estão aqui já. Vão entrar na escola. É a estabilidade que eu preciso, ficar tranquilo e pensar só no futebol.

Para se transferir ao Grêmio pesou para você também o fato de não querer sair do Brasil com imagem ruim?
Pesou muito. Não queria sair daquele jeito. Tinha proposta da Grécia, Chile, Colo Colo queria também. E o Betis, da Espanha. Mas não queria sair do Brasil deste jeito. Não posso sair assim. Queria jogar, queria que todo mundo me visse jogando. E Grêmio me deu essa possibilidade. Tenho contrato por um ano, mas não quero ficar só um ano, quero ficar muito mais tempo. Sou muito agradecido ao clube que me abriu os braços.

A defesa do Grêmio foi muito bem em 2014, você chegaria em um time ajustado. O quanto isso pesou na decisão?
Pesou muito. A defesa, todo mundo viu ano passado, foi uma das melhores do Brasil, para não dizer a melhor. Sofreu poucos gol no Brasileirão e tem jogadores experientes. Temos o Rhodolfo, que todo mundo sabe que é um líder do time, mesmo o Geromel que, lamentavelmente, está machucado, mas temos um grupo muito bom. Foi quando decidi jogar no Grêmio, um time grande, com uma torcida apaixonada. Campeão do mundo em seu momento. Não tinha o que pensar mais, decidi jogar aqui.

Acha que vocês (Erazo, Rhodolfo e Geromel) têm características semelhantes?
Temos quase as mesas características. O que muda é o perfil. Rhodolfo é pela direita, eu sou canhoto. Geromel não tem problema em jogar na esquerda e na direita. Temos semelhanças neste sentido. É só ter entrosamento, com os treinos e jogos, vamos nos dar muito bem.
Como está vendo a reestruturação financeira do Grêmio de dentro?
Em geral, todo o futebol brasileiro está nesta crise, de ajeitar a parte financeira. Uma situação que corresponde às diretorias. Nós tentamos fazer o melhor de nossa parte, para dar a facilidade para o presidente, diretoria, para fazer boas negociações com as empresas, os patrocinadores, os publicitários. O Grêmio fez uma pré-temporada muito boa, tem guris que estão se destacando, como Everton, Lincoln, o Luan também. Tudo vai dar certo neste ano.

Como está vendo a saída do Moreno? Já conversaram sobre isso?
A saída do Barcos foi surpreendente para todos. Aconteceu e agora ele até já está em Pequim. Quando surgiu a possível saída do Moreno, todo mundo ficou: “Pô, mais um?”. Mas não falamos disso, é um tema da diretoria. Da nossa parte, só fazer nosso negócio, em campo.

De onde surgiu o apelido El Elegante?
Isso já tem quase três anos. Uma vez postei no Twitter e perguntei para o torcedor com qual apelido me chamariam. Aí, propuseram opções. Fiz tipo uma votação, e aí ficou “o elegante” e “a parede”. Eu morria de rir com isso, em casa. E eles votaram “o elegante”. Falaram que eu me vestia bem, tinha qualidade, jogava bem e que me expressava bem. Se a torcida decidiu… fiquei com essa.

O que deu errado no Flamengo?
No Flamengo? (pausa) Estou muito agradecido ao clube, apesar das situações extra-futebolísticas que aconteceram. Conheci gente espetacular, que ainda falo hoje, gente boa para caramba. O que aconteceu lá foi o que eu falei... situações externas fizeram com que minha participação não tivesse o sucesso que eu desejava. Queria ter sucesso e jogar bem. Quando as coisas começaram a ficar ruins para mim, vi que tinha pressão da diretoria, da imprensa, da torcida e, naquele momento, o técnico era o Jayme Almeida. Tinha uma boa relação com ele, mas estava na pressão também. Eu o entendia. Quando fiz a Copa do Mundo, voltei para o Flamengo e não me colocaram para jogar. Aí falei: “acho que não vai dar certo”. Fiquei treinando e esperando. Quando chegou o Vanderlei Luxemburgo, as coisas começaram a mudar. Ele falava comigo, ficava perto, perguntava em como estava a minha cabeça. Ele estava estruturando o time, não conhecia os jogadores. Não sei o que a diretoria passou, mas no momento certo ele me colocou para jogar e correspondi à confiança que ele me deu. Ele queria contar comigo, mas situações externas não permitiram. Só tenho palavras de agradecimento para eles e para o Flamengo.

O que aconteceu, qual a mudança para ter essa confiança atual?
Sabia que tinha um país nas minhas costas, uma família. Vir para o Grêmio foi o melhor que ocorreu na minha carreira pelo que vivi no ano passado. O Grêmio me permitiu mudar de ares, de conceito, e ter aquela vontade de dar a volta por cima. É grande, com muita tradição. Pensei que a melhor escolha era o Grêmio. Tive a oportunidade de jogar já e, se Deus quiser, se o Felipão decidir, vamos ver, vou atuar nessa quarta. E ter sequência.



Como foi o período em que estava treinando, mas não tinha o nome regularizado no BID?
Foi muita ansiedade, me lembro que Felipão me botou no time titular e me tirou. Falei: “Fiz algo errado? Que está acontecendo?”. Aí ele falou: “fica tranquilo que você não está no BID”. Falei: “obrigado professor, se não falasse nada ia para casa de cabeça inchada”. Foi bom, lembro que alguns lances no jogo (contra o Avenida), veio uma bola que eu quis despejar com um chutão e não deu certo. Falei para controlar a ansiedade.

Como se sentiu quando soube que o Felipão tinha pedido para você jogar no Grêmio?
Muita honra, fiquei muito surpreso com isso. Todo mudo conhece, ele é de nível mundial, da Seleção. Quando falaram que o Felipão estava me querendo na equipe, que a diretoria do Grêmio queria, foi quando decidi que iria jogar aqui.

Acha que será no Grêmio o mesmo Erazo que atua no Equador?
Com certeza. Estou brigando por isso todos os dias.

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