Barcos abraça Felipão em treino do Grêmio
(Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
A notável tristeza de Barcos na entrevista coletiva de terça-feira, que marcou sua despedida do Grêmio, passou longe de ser um mero jogo de cena. O argentino não tinha intenção de deixar o clube gaúcho para atuar mais uma vez no futebol chinês. Os cerca de 15 dias de negociações foram permeados de relutância do centroavante, inclusive com negativa de primeira proposta e tentativa de permanecer. Isso até a cartada final do Changchun Yatai, capaz de agradar a todas as partes. A seguir, o GloboEsporte.com resume o enredo que sacudiu os bastidores do Tricolor.
Em meados de janeiro, irromperam duas ofertas oriundas da China. A primeira foi rechaçada com certa tranquilidade, devido aos valores considerados muito inferiores. O clube em questão não tinha condições de aumentar o assédio. O Changchun Yatai, no entanto, insistiu. Há cerca de duas semanas, enviou a primeira proposta, após embalar um projeto com o agente Fifa Ricardo Mello, que há anos atua no mercado asiático.
O Grêmio mal deixou as conversas continuarem. Barcos tinha seus motivos para se negar a ouvir o clube chinês. Era o capitão do time de Felipão, após um bom 2014, e estava completamente adaptado a Porto Alegre.
- Esse clube não tem um grande apelo midiático no Brasil nem havia levado um jogador da envergadura do Barcos, mas já fez contratações importantes. Em nenhum momento foi difícil convencê-los de um nome do quilate do Barcos. Difícil seria convencer o jogador e o Grêmio. Mas eles queriam muito contar com ele - conta Ricardo Mello.
A segunda investida, no entanto, passou a ser muito sedutora. Em dois anos, o atacante de 31 anos ganharia entre salários e luvas quase R$ 20 milhões. O dobro de seus ganhos se permanecesse no Tricolor, que ainda devia quantia relativa à negociação que o tirara do Palmeiras, no início de 2013. O Grêmio ganhou cerca de R$ 8 milhões, precisando repassar 15% ao Verdão e ainda tendo que ceder parte ao próprio atleta.
Barcos tentou permanecer no Grêmio. O argentino se reuniu com a direção disposto a tentar costurar uma renovação e, quem sabe, estender o contrato para encerrar a carreira na Arena. Esbarrou no momento de austeridade financeira do clube, que impediria um salto financeiro minimamente próximo ao oferecido pelos chineses. Outro entrave para o Tricolor tentar manter o jogador era o seu vínculo até o fim de 2015. Assim, dificilmente conseguiria lucrar com uma transferência futura.
O argentino aceitou a proposta chinesa, nos seus termos financeiros, na sexta-feira. A notícia eclodiu pouco antes da estreia do Grêmio no Gauchão, diante do União Frederiquense, na Arena, no sábado. Oportunidade vista por Barcos, ainda embebido de incerteza sobre a decisão, como ideal para se despedir da torcida. Tinha razão. Marcou dois gols e deu uma assistência no 3 a 0. Depois, reverenciou a torcida, atirando camiseta e faixa de capitão.
- O Barcos é um sujeito muito transparente. Aquele sentimento todo na coletiva não era para jogar para a torcida. Ele realmente ficou muito abatido, mas a nova proposta mexeu muito - afirma o empresário Ricardo Mello, que se reuniu duas vezes com o jogador, sem contar os encontros com os irmãos de Barcos, que agenciam sua carreira.
A direção gremista negava a existência da proposta oficial porque o negócio não estava plenamente sacramentado. Barcos esperava pela confirmação de "exigências" feitas ao Changchun Yatai. Com experiência no futebol chinês - defendeu o Shenzhen Ruby e o Shanghai Greenland em 2009 -, o jogador fez questão de ter a liberdade de escolher uma residência, em vez de receber uma casa designada pelo clube, na cidade homônima à agremiação, de cerca de três milhões de habitantes.
Também pediu um motorista particular, sabedor das dificuldades em se obter carteira de habilitação no país, sem contar o trânsito caótico. De quebra, recebeu a certeza de que haverá um tradutor à sua disposição. A partir disso, o Grêmio passou a admitir a proposta e, na segunda, deu como encerrado o caso. A coletiva de terça trouxe o ponto final.
- Estamos vivendo um momento de reconstrução de um caminho financeiro. No meio disso tudo, surgiu a possibilidade de uma proposta muito interessante do atleta. Passamos isso de forma muita clara e honesta. Ele sai pela porta da frente, demonstrando ser um profissional de alto gabarito. Foi um pacote conveniente para as duas partes - resumiu o diretor executivo Rui Costa.
- Hoje é o dia mais difícil da minha carreira, o dia de pronunciar a minha saída do Grêmio. É uma situação difícil. Falei com o presidente sobre a minha renovação e a ideia era renovar. Mas surgiu uma oferta importante para o Grêmio e para mim. O presidente falou a sua parte, o que achava e o que tem preparado para o Grêmio na sua gestão. Ele quer manter o Grêmio no lugar que merece e isso é cortar a folha e muitas outras coisas. Mas eu entendi a mensagem do Grêmio, a situação financeira do clube, a necessidade de dinheiro que o clube tem hoje - disse Barcos, em seu emocionado discurso na Arena, no qual ainda prometeu voltar um dia.
A despedida ainda teve mais um capítulo. Barcos se despediu de funcionários, comissão técnica e jogadores no treino da tarde de terça-feira, no CT Luiz Carvalho. O meia Luan tentou ensaiar uma celebração mais efusiva, com direito à água jorrada no argentino. Bem ao seu estilo paizão, Felipão brecou a espontaneidade juvenil do atleta e se despediu de Barcos com um longo abraço.
Treinador e centroavantes eram velhos conhecidos, desde 2012, no Palmeiras, no qual venceram a Copa do Brasil daquele ano. No Grêmio, Barcos não levantou taças, mas deixou o clube com 45 gols em 113 jogos. É o maior artilheiro estrangeiro da história e o goleador máximo da Arena, com 28 tentos na casa inaugurada no fim de 2012.
- Vai fazer muita falta. Ele até conversou com a gente meio sentido. Mas também foi para o clube, melhor ainda para ele. Que ele siga a vida dele lá. A gente espera não perder o contato porque é muito gente boa - sintetiza Rhodolfo, que deve assumir a faixa de capitão.
O seu conhecimento do futebol chinês foi um dos muitos atrativos para que o Changchun Yatai insistisse em Barcos. O argentino será o carro-chefe de uma reestruturação que espera retomar o rumo das vitórias para esse clube jovem, mas de resultados expressivos assim que subiu para a elite, com título em 2007 e vice-campeonato em 2009. As duas últimas temporadas, no entanto, foram de dificuldades e colocações modestas na tabela.
O campeonato nacional começa em 8 de março. A estreia de Barcos já será concorrida. O rival atende pelo nome de Shandong Luneng, comandado por Cuca e que contratou recentemente Diego Tardelli. A ideia do clube é apresentar Barcos com muita pompa - a longa viagem para uma vida nova deve ocorrer até o final desta semana.
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(Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
A notável tristeza de Barcos na entrevista coletiva de terça-feira, que marcou sua despedida do Grêmio, passou longe de ser um mero jogo de cena. O argentino não tinha intenção de deixar o clube gaúcho para atuar mais uma vez no futebol chinês. Os cerca de 15 dias de negociações foram permeados de relutância do centroavante, inclusive com negativa de primeira proposta e tentativa de permanecer. Isso até a cartada final do Changchun Yatai, capaz de agradar a todas as partes. A seguir, o GloboEsporte.com resume o enredo que sacudiu os bastidores do Tricolor.
Em meados de janeiro, irromperam duas ofertas oriundas da China. A primeira foi rechaçada com certa tranquilidade, devido aos valores considerados muito inferiores. O clube em questão não tinha condições de aumentar o assédio. O Changchun Yatai, no entanto, insistiu. Há cerca de duas semanas, enviou a primeira proposta, após embalar um projeto com o agente Fifa Ricardo Mello, que há anos atua no mercado asiático.
O Grêmio mal deixou as conversas continuarem. Barcos tinha seus motivos para se negar a ouvir o clube chinês. Era o capitão do time de Felipão, após um bom 2014, e estava completamente adaptado a Porto Alegre.
- Esse clube não tem um grande apelo midiático no Brasil nem havia levado um jogador da envergadura do Barcos, mas já fez contratações importantes. Em nenhum momento foi difícil convencê-los de um nome do quilate do Barcos. Difícil seria convencer o jogador e o Grêmio. Mas eles queriam muito contar com ele - conta Ricardo Mello.
A segunda investida, no entanto, passou a ser muito sedutora. Em dois anos, o atacante de 31 anos ganharia entre salários e luvas quase R$ 20 milhões. O dobro de seus ganhos se permanecesse no Tricolor, que ainda devia quantia relativa à negociação que o tirara do Palmeiras, no início de 2013. O Grêmio ganhou cerca de R$ 8 milhões, precisando repassar 15% ao Verdão e ainda tendo que ceder parte ao próprio atleta.
Barcos tentou permanecer no Grêmio. O argentino se reuniu com a direção disposto a tentar costurar uma renovação e, quem sabe, estender o contrato para encerrar a carreira na Arena. Esbarrou no momento de austeridade financeira do clube, que impediria um salto financeiro minimamente próximo ao oferecido pelos chineses. Outro entrave para o Tricolor tentar manter o jogador era o seu vínculo até o fim de 2015. Assim, dificilmente conseguiria lucrar com uma transferência futura.
O argentino aceitou a proposta chinesa, nos seus termos financeiros, na sexta-feira. A notícia eclodiu pouco antes da estreia do Grêmio no Gauchão, diante do União Frederiquense, na Arena, no sábado. Oportunidade vista por Barcos, ainda embebido de incerteza sobre a decisão, como ideal para se despedir da torcida. Tinha razão. Marcou dois gols e deu uma assistência no 3 a 0. Depois, reverenciou a torcida, atirando camiseta e faixa de capitão.
- O Barcos é um sujeito muito transparente. Aquele sentimento todo na coletiva não era para jogar para a torcida. Ele realmente ficou muito abatido, mas a nova proposta mexeu muito - afirma o empresário Ricardo Mello, que se reuniu duas vezes com o jogador, sem contar os encontros com os irmãos de Barcos, que agenciam sua carreira.
A direção gremista negava a existência da proposta oficial porque o negócio não estava plenamente sacramentado. Barcos esperava pela confirmação de "exigências" feitas ao Changchun Yatai. Com experiência no futebol chinês - defendeu o Shenzhen Ruby e o Shanghai Greenland em 2009 -, o jogador fez questão de ter a liberdade de escolher uma residência, em vez de receber uma casa designada pelo clube, na cidade homônima à agremiação, de cerca de três milhões de habitantes.
Também pediu um motorista particular, sabedor das dificuldades em se obter carteira de habilitação no país, sem contar o trânsito caótico. De quebra, recebeu a certeza de que haverá um tradutor à sua disposição. A partir disso, o Grêmio passou a admitir a proposta e, na segunda, deu como encerrado o caso. A coletiva de terça trouxe o ponto final.
- Estamos vivendo um momento de reconstrução de um caminho financeiro. No meio disso tudo, surgiu a possibilidade de uma proposta muito interessante do atleta. Passamos isso de forma muita clara e honesta. Ele sai pela porta da frente, demonstrando ser um profissional de alto gabarito. Foi um pacote conveniente para as duas partes - resumiu o diretor executivo Rui Costa.
- Hoje é o dia mais difícil da minha carreira, o dia de pronunciar a minha saída do Grêmio. É uma situação difícil. Falei com o presidente sobre a minha renovação e a ideia era renovar. Mas surgiu uma oferta importante para o Grêmio e para mim. O presidente falou a sua parte, o que achava e o que tem preparado para o Grêmio na sua gestão. Ele quer manter o Grêmio no lugar que merece e isso é cortar a folha e muitas outras coisas. Mas eu entendi a mensagem do Grêmio, a situação financeira do clube, a necessidade de dinheiro que o clube tem hoje - disse Barcos, em seu emocionado discurso na Arena, no qual ainda prometeu voltar um dia.
A despedida ainda teve mais um capítulo. Barcos se despediu de funcionários, comissão técnica e jogadores no treino da tarde de terça-feira, no CT Luiz Carvalho. O meia Luan tentou ensaiar uma celebração mais efusiva, com direito à água jorrada no argentino. Bem ao seu estilo paizão, Felipão brecou a espontaneidade juvenil do atleta e se despediu de Barcos com um longo abraço.
Treinador e centroavantes eram velhos conhecidos, desde 2012, no Palmeiras, no qual venceram a Copa do Brasil daquele ano. No Grêmio, Barcos não levantou taças, mas deixou o clube com 45 gols em 113 jogos. É o maior artilheiro estrangeiro da história e o goleador máximo da Arena, com 28 tentos na casa inaugurada no fim de 2012.
- Vai fazer muita falta. Ele até conversou com a gente meio sentido. Mas também foi para o clube, melhor ainda para ele. Que ele siga a vida dele lá. A gente espera não perder o contato porque é muito gente boa - sintetiza Rhodolfo, que deve assumir a faixa de capitão.
O seu conhecimento do futebol chinês foi um dos muitos atrativos para que o Changchun Yatai insistisse em Barcos. O argentino será o carro-chefe de uma reestruturação que espera retomar o rumo das vitórias para esse clube jovem, mas de resultados expressivos assim que subiu para a elite, com título em 2007 e vice-campeonato em 2009. As duas últimas temporadas, no entanto, foram de dificuldades e colocações modestas na tabela.
O campeonato nacional começa em 8 de março. A estreia de Barcos já será concorrida. O rival atende pelo nome de Shandong Luneng, comandado por Cuca e que contratou recentemente Diego Tardelli. A ideia do clube é apresentar Barcos com muita pompa - a longa viagem para uma vida nova deve ocorrer até o final desta semana.
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