Leonardo David de Moura está desiludido com o futebol profissional.
Mais conhecido como Léo Gago, o volante de 33 anos, que vestiu camisas pesadas como as de Vasco, Palmeiras e Grêmio durante a carreira, recentemente resolveu fazer uma mudança em sua vida. Cansado de jogar e não receber em diversas equipes, ele decidiu mudar de ares e experimentar o romantismo do futebol amador.
A partir deste mês, o atleta, que também passou por Coritiba, Bahia, Fortaleza, Ceará, Avaí e Paraná, entre outros, atuará pelo Iguaçu na Suburbana Paranaense, tradicional torneio de várzea realizado em Curitiba e que tem até primeira e segunda divisão.
"Eu fixei residência aqui em Curitiba e o Iguaçu me ligou para ajudar na fase de mata-mata, que começa em duas semanas. A liga é bem organizada, treinamos duas vezes por semana à noite, tem estrutura bem legal, refletores, jantar... Fui conhecer, gostei e aceitei", conta Léo Gago, em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.
O volante vem de passagens recentes por Bragantino, América-RN, Itumbiara-GO e Sampaio Corrêa. No entanto, problemas com pagamentos e a vontade de deixa a família em uma situação confortável, com residência fixa, o desmotivaram.
"Faz dois anos que estou rodando em times das Séries B e C e não recebi direito. Acabava recebendo os salários bem depois, isso quando recebia... Estava numa fase em que estava quase parando e tendo que tirar dinheiro do bolso pra jogar", relata.
"Hoje em dia, quando vou pra um clube, não vou mais sozinho, levo esposa e dois filhos, tiro todo mundo do conforto da rotina, da escola, complica pra todo mundo. Aí eu acabava saindo de casa e não recebia. Uma hora cansa, né?", argumenta.
Léo diz que a decisão por jogar na várzea foi para saciar a vontade de competir. Diferente do que muitos imaginam, porém, o meio-campista garante que o nível do amador é alto.
"Nunca tinha jogado campeonato amador valendo de verdade, e está sendo bem diferente. Como é muito organizado, tem muitos ex-jogador e também atletas de Campeonato Paranaense que não arrumam clubes, aí para não ficar parados eles jogam o amador também. O nível é muito forte", comenta.
Apesar disso, ele admite que a várzea paranaense não lembra em nada o glamour do futebol profissional.
"Estou vivendo a situação mais diferente da minha carreira. Fico lembrando de quando comecei a jogar. Já passei por tudo, até fome... Dormi no alojamento embaixo da arquibancada em 2003, no Primavera, na Série A3 do Paulista. Tinha uma balada que a gente ia de sexta e sábado pra ajudar a guardar os carros no estacionamento do clube pra ganhar um dinheiro, porque senão...", recorda.
Léo Gago inclusive afirma que não abandonou de vez o futebol profissional e vai estudar propostas caso lhe interessem. Contudo, também tem planos de fazer faculdade, virar advogado e tomar outro rumo na vida.
"Pra jogar o campeonato aqui em Curitiba, vou ter que inverter a carteira de profissional pra amandor. Recebi algumas ligações pra disputar Estaduais ano que vem, mas não sei se vou, vamos ver... Agora, pra mim, só se valer a pena mesmo. Depois que passei pelo Bahia, joguei Séries B e C e passei várias situações desanimadoras. Ainda espero pegar um time bacana, com estrutura, que pague direitinho, pra finalizar de vez. Quem sabe?", sonha.
"Se não aparecer ninguém, vou ficar em casa. Estou fazendo curso de inglês com a minha esposa, e ano que vem devemos fazer curso de direito, estou amadurecendo essa ideia. Pensei em ficar aqui no futebol amador mesmo, estudar e acompanhar o crescimento dos meus filhos. Estou desanimado do futebol profissional depois das situações pelas quais passei", completa.
Do curso de eletricista ao vinho com Luxa
Nascido em Campinas, no interior de São Paulo, Léo Gago começou a treinar aos 5 anos na Ponte Preta, seu time de coração na infância. Aos 15, porém, acabou dispensado por ser muito mirrado. "Minha puberdade veio mais tarde, aos 16, e antes não tinha essa mentalidade de esperar o jogador amadurecer como hoje", lamenta o jogador.
Sem saber se viraria jogador, já mostrou pensar no futuro e se matriculou em um curso de eletro-eletrônica no Senai. "Trabalhei com isso por um bom tempo. Era eletricista e encanador lá em Campinas, com um amigo chamado Divino", recorda.
Aos finais de semana, jogava bola na várzea para se divertir. Até o dia em que foi visto por um empresário, que o levou para o Independente de Limeira, para jogar um torneio de juniores. Agradou e se profissionalizou em 2002, pela Inter de Limeira, passando na sequência por Campinas FC e Primavera. Quando conheceu o técnico Roberto Fernandes, foi levado para o Ceará, em 2005. A partir daí, deslanchou.
O primeiro grande clube foi o Vasco, que o contratou em 2010, após se destacar no Avaí. Em São Januário, ficou famoso por suas "bombas" de fora da área, que lhe renderam muitos gols pelo Cruz-Maltino.
"O Vasco foi especial na minha carreira, um tempo muito bacana. Teve uma época que joguei muito bem, fiz vários gols. Quando saí do Vasco, só tinha menos gols que o Dodô e o Elton. Nem o Philippe Coutinho e o Carlos Alberto tinham o mesmo tanto de gols que eu", recorda.
Depois que o técnico PC Gusmão assumiu o clube, porém, as chances de Léo Gago diminuíram, e o volante foi jogador no Coritiba. Com atuações de destaque, ganhou uma Série B, um Paranaense e foi vice da Copa do Brasil. Chamou a atenção do Grêmio, que o levou em 2012. Desse tempo, guarda na memória o comando de Vanderlei Luxemburgo e sua paixão pelos vinhos.
"Uma vez, num jogo contra o Barcelona de Guayaquil, pela Copa Sul-Americana, eu tirei uma bola em cima da linha e salvei o time. O Luxa ficou tão feliz que me ofereceu para tomar um vinho com ele depois da partida para comemorar. Como eu não bebo, tive que recusar, mas agradeci (risos). Ele é uma figura!", diverte-se.
Em 2013, Léo Gago foi para o Palmeiras, na troca de vários atletas pelo atacante Hernán Barcos, realizando um sonho de sua família, que torcia pela equipe alviverde.
"Era um sonho jogar lá, porque meu padrinho é palmeirense doente, meu deu até uma camisa quando eu era mais novo, mas eu era ponte-pretano. Ele tentou me fazer virar palmeirense de todo jeito (risos). Era um sonho jogar em um grande de São Paulo, fui muito bem recebido no Palmeiras, do presidente ao cortador de grama todos me trataram muito bem", elogia.
"Só lamento não ter tido uma sequência maior lá, porque machuquei o pé bem quando estava na minha melhor fase. Tinha chegado por recomendação do Luxemburgo, mas, infelizmente, quando vivia meu melhor momento, tinha feito um golaço, acabei ficando seis meses parado. Nosso time estava voando na Série B, aí ninguém me deu brecha pra voltar aos titulares", relembra.
O meio-campista, aliás, tem esse apelido por de fato ser gago desde criança. Apesar do bullying desde os tempos de escola, ele garante que nem liga mais para as brincadeiras.
"Eu era muito zoado na escola, todo mundo me chamava de 'gaguinho', aí eu ficava nervoso e não saía nada mesmo (risos). Mas com o passar dos anos eu fui ficando maduro e vi que brigar não levava a nada. Eu vou controlando, e quanto menos nervoso eu fico, menos gaguejo", conta o atleta, que ganhou o apelido de seu empresário.
"Eu era só Léo até 2008, quando fui pro Avaí. Na apresentação, o meu empresário, Luiz Alberto, me apresentou como Léo Gago. Falei: 'Pô, Luiz, é só Léo', e ele mandou: 'Relaxa, vai pegar bem', até porque tinha o Gago, volante da Argentina e do Real Madrid. De fato pegou mesmo, e hoje todos me chamam assim", salienta, antes de finalizar.
"Eu ganhei títulos, joguei em grandes times, realizei um monte de sonhos e já estou casado. Agora, pode me chamar de gago à vontade que eu não ligo (risos)", arremata.
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"Faz dois anos que estou rodando em times das Séries B e C e não recebi direito. Acabava recebendo os salários bem depois, isso quando recebia... Estava numa fase em que estava quase parando e tendo que tirar dinheiro do bolso pra jogar", relata.
"Hoje em dia, quando vou pra um clube, não vou mais sozinho, levo esposa e dois filhos, tiro todo mundo do conforto da rotina, da escola, complica pra todo mundo. Aí eu acabava saindo de casa e não recebia. Uma hora cansa, né?", argumenta.
Léo diz que a decisão por jogar na várzea foi para saciar a vontade de competir. Diferente do que muitos imaginam, porém, o meio-campista garante que o nível do amador é alto.
"Nunca tinha jogado campeonato amador valendo de verdade, e está sendo bem diferente. Como é muito organizado, tem muitos ex-jogador e também atletas de Campeonato Paranaense que não arrumam clubes, aí para não ficar parados eles jogam o amador também. O nível é muito forte", comenta.
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"Estou vivendo a situação mais diferente da minha carreira. Fico lembrando de quando comecei a jogar. Já passei por tudo, até fome... Dormi no alojamento embaixo da arquibancada em 2003, no Primavera, na Série A3 do Paulista. Tinha uma balada que a gente ia de sexta e sábado pra ajudar a guardar os carros no estacionamento do clube pra ganhar um dinheiro, porque senão...", recorda.
Léo Gago inclusive afirma que não abandonou de vez o futebol profissional e vai estudar propostas caso lhe interessem. Contudo, também tem planos de fazer faculdade, virar advogado e tomar outro rumo na vida.
"Pra jogar o campeonato aqui em Curitiba, vou ter que inverter a carteira de profissional pra amandor. Recebi algumas ligações pra disputar Estaduais ano que vem, mas não sei se vou, vamos ver... Agora, pra mim, só se valer a pena mesmo. Depois que passei pelo Bahia, joguei Séries B e C e passei várias situações desanimadoras. Ainda espero pegar um time bacana, com estrutura, que pague direitinho, pra finalizar de vez. Quem sabe?", sonha.
"Se não aparecer ninguém, vou ficar em casa. Estou fazendo curso de inglês com a minha esposa, e ano que vem devemos fazer curso de direito, estou amadurecendo essa ideia. Pensei em ficar aqui no futebol amador mesmo, estudar e acompanhar o crescimento dos meus filhos. Estou desanimado do futebol profissional depois das situações pelas quais passei", completa.
Do curso de eletricista ao vinho com Luxa
Nascido em Campinas, no interior de São Paulo, Léo Gago começou a treinar aos 5 anos na Ponte Preta, seu time de coração na infância. Aos 15, porém, acabou dispensado por ser muito mirrado. "Minha puberdade veio mais tarde, aos 16, e antes não tinha essa mentalidade de esperar o jogador amadurecer como hoje", lamenta o jogador.
Sem saber se viraria jogador, já mostrou pensar no futuro e se matriculou em um curso de eletro-eletrônica no Senai. "Trabalhei com isso por um bom tempo. Era eletricista e encanador lá em Campinas, com um amigo chamado Divino", recorda.
Aos finais de semana, jogava bola na várzea para se divertir. Até o dia em que foi visto por um empresário, que o levou para o Independente de Limeira, para jogar um torneio de juniores. Agradou e se profissionalizou em 2002, pela Inter de Limeira, passando na sequência por Campinas FC e Primavera. Quando conheceu o técnico Roberto Fernandes, foi levado para o Ceará, em 2005. A partir daí, deslanchou.
O primeiro grande clube foi o Vasco, que o contratou em 2010, após se destacar no Avaí. Em São Januário, ficou famoso por suas "bombas" de fora da área, que lhe renderam muitos gols pelo Cruz-Maltino.
"O Vasco foi especial na minha carreira, um tempo muito bacana. Teve uma época que joguei muito bem, fiz vários gols. Quando saí do Vasco, só tinha menos gols que o Dodô e o Elton. Nem o Philippe Coutinho e o Carlos Alberto tinham o mesmo tanto de gols que eu", recorda.
Depois que o técnico PC Gusmão assumiu o clube, porém, as chances de Léo Gago diminuíram, e o volante foi jogador no Coritiba. Com atuações de destaque, ganhou uma Série B, um Paranaense e foi vice da Copa do Brasil. Chamou a atenção do Grêmio, que o levou em 2012. Desse tempo, guarda na memória o comando de Vanderlei Luxemburgo e sua paixão pelos vinhos.
"Uma vez, num jogo contra o Barcelona de Guayaquil, pela Copa Sul-Americana, eu tirei uma bola em cima da linha e salvei o time. O Luxa ficou tão feliz que me ofereceu para tomar um vinho com ele depois da partida para comemorar. Como eu não bebo, tive que recusar, mas agradeci (risos). Ele é uma figura!", diverte-se.
Em 2013, Léo Gago foi para o Palmeiras, na troca de vários atletas pelo atacante Hernán Barcos, realizando um sonho de sua família, que torcia pela equipe alviverde.
"Era um sonho jogar lá, porque meu padrinho é palmeirense doente, meu deu até uma camisa quando eu era mais novo, mas eu era ponte-pretano. Ele tentou me fazer virar palmeirense de todo jeito (risos). Era um sonho jogar em um grande de São Paulo, fui muito bem recebido no Palmeiras, do presidente ao cortador de grama todos me trataram muito bem", elogia.
"Só lamento não ter tido uma sequência maior lá, porque machuquei o pé bem quando estava na minha melhor fase. Tinha chegado por recomendação do Luxemburgo, mas, infelizmente, quando vivia meu melhor momento, tinha feito um golaço, acabei ficando seis meses parado. Nosso time estava voando na Série B, aí ninguém me deu brecha pra voltar aos titulares", relembra.
O meio-campista, aliás, tem esse apelido por de fato ser gago desde criança. Apesar do bullying desde os tempos de escola, ele garante que nem liga mais para as brincadeiras.
"Eu era muito zoado na escola, todo mundo me chamava de 'gaguinho', aí eu ficava nervoso e não saía nada mesmo (risos). Mas com o passar dos anos eu fui ficando maduro e vi que brigar não levava a nada. Eu vou controlando, e quanto menos nervoso eu fico, menos gaguejo", conta o atleta, que ganhou o apelido de seu empresário.
"Eu era só Léo até 2008, quando fui pro Avaí. Na apresentação, o meu empresário, Luiz Alberto, me apresentou como Léo Gago. Falei: 'Pô, Luiz, é só Léo', e ele mandou: 'Relaxa, vai pegar bem', até porque tinha o Gago, volante da Argentina e do Real Madrid. De fato pegou mesmo, e hoje todos me chamam assim", salienta, antes de finalizar.
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