A forma como o futebol é pensado no Brasil é um tanto ingrata com seus treinadores. Em derrotas, eliminações, momentos de crise em um geral, são eles os primeiros a levarem a culpa, e tradicionalmente pagam com seus cargos pela falta de resultados dentro de campo. Algumas vezes, inclusive, com um raciocínio bastante "amador", digamos assim, daqueles que argumentam a favor da demissão dizendo que "qualquer um é melhor", não importando se a culpa realmente é do técnico ou não.
A última vítima foi o gringo Diego Aguirre, desligado da função de técnico do Atlético-MG após a terceira eliminação na temporada (Primeira Liga, Campeonato Mineiro e Copa Libertadores). A versão oficial é de que o uruguaio pediu demissão, o qual eu custo a acreditar, visto que a pressão vinda da torcida sobre ele era grande, e parece ter influenciado a cúpula atleticana a ceder e realizar a mudança no corpo técnico. Marcelo Oliveira assume em seu lugar.
Como já foi dito, Aguirre caiu após o Galo sofrer três eliminações na temporada, mesmo número (e nas mesmas competições) que o Grêmio. Nesse caso, Roger Machado deveria ter seu cargo colocado em risco? Qual a diferença entre um caso e outro?
Pesa sobre Aguirre a repetição dos mesmos defeitos da época em que era treinador do Internacional, onde implantou o famoso rodízio de jogadores, o que irritou ambas as torcidas e diretorias pela falta de continuidade, fator cujo dizem ser importante no desempenho de um atleta, e pela ausência de convicções quanto a um esquema de jogo. Com tantas trocas, ninguém sabia qual era o time titular, nem qual era o esquema tático e a forma de jogar. Assim, impossível haver entrosamento entre os atletas, que ficavam em constante período de adaptação aos colegas que alternavam entre a condição de titular e reserva.
Já com Roger Machado, a prática é outra. Em seu melhor período até então, todos sabiam exatamente como o Grêmio se portaria diante dos adversários, e a forma consagrada de jogar futebol apresentava resultados que elevaram o clube que não tinha pretensão alguma no Brasileirão, até ser candidato ao título.
Contudo, esse aumento de expectativa fez com que todos, inclusive nós gremistas, olhássemos para Roger de uma maneira diferente, passando a esperar mais dele e do seu time, esperando que o bom futebol se repetisse e fosse ainda mais melhorado, nos dando a esperança de títulos já no início do ano. Ao invés disso, vieram as três eliminações.
Em defesa do treinador, apesar da manutenção da grande maioria do elenco do ano de 2015, Erazo e Galhardo, dois titulares que não permaneceram, fizeram muita falta. O Grêmio falhou na contratação de peças de reposição e viu a defesa, seu ponto forte, se tornar ponto fraco.
Seria culpa do treinador? Não, creio que não, visto que a metodologia de trabalho seguiu a mesma, mas os jogadores simplesmente não corresponderam a altura e todo o sistema defensivo foi comprometido. Agora, com o diagnóstico de que falhou nos reforços para o setor, o Grêmio volta ao mercado e busca corrigir tais falhas.
O meio campo não repete o domínio do jogo que executava em 2015. Culpa do treinador? Talvez sim, em um primeiro momento que tentou fazer de Walace e Maicon, volantes titulares, jogadores que chegassem ao ataque, o que acabou expondo a a defesa. Porém, ao perceber que a tentativa não deu certo, resgatou o posicionamento típico dos dois e fez com que voltassem a atuar da mesma forma como fizeram na temporada passada. Daí em diante, não é culpa do treinador se os dois exageram nos erros de passe, recomposição defensiva e saída de jogo, pois basta acompanhar os treinos pela mídia ou pessoalmente que qualquer um verá que tais fundamentos costumam ser treinados com frequência.
Ofensivamente o Grêmio evoluiu, e chegou a ter o melhor ataque do país por algum tempo. Roger conseguiu fazer o Grêmio mais criativo na hora de marcar gols, mas agora vê o clube passar por um momento de seca após a queda de desempenho de alguns atletas. Culpa sua? Sim, em partes, pois insistiu em escalar Bolaños como homem de frente, sabendo que o equatoriano não rende ao jogar de costas pra defesa, e que seu bom futebol pode ser explorado quando ele arma a jogada e chega para finalizar, basta ver a boa atuação que fez contra o Corinthians quando atuou mais recuado. Talvez também tenha pecado por insistir em manter Douglas como titular, mesmo vendo a equipe perder intensidade e velocidade na transição entre defesa e ataque, além das trocas de passes e e rápida chegada ao gol adversário, o que fez com que muitas equipes fossem pegas de surpresa em 2015. Contudo, foi mais um problema que identificou e corrigiu, mostrando não se omitir na casamata.
Falando em omissão, outro aspecto criticado no comandante gremista foi sua apatia durante algumas derrotas. O senso comum nos faz pensar que se ele estivesse na beira do gramado gritando com seus jogadores as coisas seriam diferentes, pois isso passa o sentimento de indignação e anima até mesmo os torcedores, digo isso porque eu mesmo critiquei o técnico nesse ponto. Porém, será que mesmo após diversos treinamentos que antecedem as partidas, vai ser o grito do treinador que vai fazer o time jogar bem? Pode ser que o incentivo faça o atleta ficar mais "antenado", como se diz aqui pelo Sul, mas não vai fazer com que ele tire um coelho da cartola e corrija seus defeitos em 20, 30, 90 minutos que seja. Precisamos repensar nossas cobranças. Feito isso, sairemos do pensamento tradicional e veremos que nem sempre o culpado é o técnico. Além disso, se um atleta precisa continuidade para melhorar seu desempenho, o mesmo serve para os treinadores.
Roger tem crédito, pois pegou um time desacreditado e transformou em aspirante ao título, tudo isso com a nítida demonstração da aplicação de seus conceitos técnicos e táticos. Mudar agora seria jogar fora tudo aquilo que foi construído, e contratar alguém para chegar e recomeçar tudo de novo o processo de formação de um time.
Nós temos um time, uma forma de jogar, e é absolutamente normal que o desempenho individual e coletivo sofra variações. O que não é normal é não ter um técnico capaz de diagnosticar as falhas da equipe com o objetivo de corrigi-las, ou então não ter coragem para fazer as mudanças necessárias. Roger já provou o contrário, percebe quando algo está errado e não se importa em mudar aquilo que acha necessário.
Por tudo isso, merece nossa confiança. É evidente que os resultados são importantes, e se não vierem, continuarão pesando contra o técnico, mas Roger tem a confiança da diretoria e da torcida. Confiança de que fará a diferença e manterá o Grêmio entre os principais do Brasileirão. E mesmo sendo difícil pedir calma para quem já espera por 15 anos, não são 15 anos de Roger Machado, muitos outros passaram por aqui e não ganharam nada, isso não é culpa dele. Que ele seja cobrado pelo seu próprio trabalho, mas que tenha em mente da necessidade de encerrar essa era de vacas magras, e que faça seu time jogar para levantar um caneco, assim como fez e surpreendeu o país. Mantendo isso, manteremos o apoio, a confiança, e seguiremos em defesa de nosso comandante.
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A última vítima foi o gringo Diego Aguirre, desligado da função de técnico do Atlético-MG após a terceira eliminação na temporada (Primeira Liga, Campeonato Mineiro e Copa Libertadores). A versão oficial é de que o uruguaio pediu demissão, o qual eu custo a acreditar, visto que a pressão vinda da torcida sobre ele era grande, e parece ter influenciado a cúpula atleticana a ceder e realizar a mudança no corpo técnico. Marcelo Oliveira assume em seu lugar.
Como já foi dito, Aguirre caiu após o Galo sofrer três eliminações na temporada, mesmo número (e nas mesmas competições) que o Grêmio. Nesse caso, Roger Machado deveria ter seu cargo colocado em risco? Qual a diferença entre um caso e outro?
Pesa sobre Aguirre a repetição dos mesmos defeitos da época em que era treinador do Internacional, onde implantou o famoso rodízio de jogadores, o que irritou ambas as torcidas e diretorias pela falta de continuidade, fator cujo dizem ser importante no desempenho de um atleta, e pela ausência de convicções quanto a um esquema de jogo. Com tantas trocas, ninguém sabia qual era o time titular, nem qual era o esquema tático e a forma de jogar. Assim, impossível haver entrosamento entre os atletas, que ficavam em constante período de adaptação aos colegas que alternavam entre a condição de titular e reserva.
Já com Roger Machado, a prática é outra. Em seu melhor período até então, todos sabiam exatamente como o Grêmio se portaria diante dos adversários, e a forma consagrada de jogar futebol apresentava resultados que elevaram o clube que não tinha pretensão alguma no Brasileirão, até ser candidato ao título.
Contudo, esse aumento de expectativa fez com que todos, inclusive nós gremistas, olhássemos para Roger de uma maneira diferente, passando a esperar mais dele e do seu time, esperando que o bom futebol se repetisse e fosse ainda mais melhorado, nos dando a esperança de títulos já no início do ano. Ao invés disso, vieram as três eliminações.
Em defesa do treinador, apesar da manutenção da grande maioria do elenco do ano de 2015, Erazo e Galhardo, dois titulares que não permaneceram, fizeram muita falta. O Grêmio falhou na contratação de peças de reposição e viu a defesa, seu ponto forte, se tornar ponto fraco.
Seria culpa do treinador? Não, creio que não, visto que a metodologia de trabalho seguiu a mesma, mas os jogadores simplesmente não corresponderam a altura e todo o sistema defensivo foi comprometido. Agora, com o diagnóstico de que falhou nos reforços para o setor, o Grêmio volta ao mercado e busca corrigir tais falhas.
O meio campo não repete o domínio do jogo que executava em 2015. Culpa do treinador? Talvez sim, em um primeiro momento que tentou fazer de Walace e Maicon, volantes titulares, jogadores que chegassem ao ataque, o que acabou expondo a a defesa. Porém, ao perceber que a tentativa não deu certo, resgatou o posicionamento típico dos dois e fez com que voltassem a atuar da mesma forma como fizeram na temporada passada. Daí em diante, não é culpa do treinador se os dois exageram nos erros de passe, recomposição defensiva e saída de jogo, pois basta acompanhar os treinos pela mídia ou pessoalmente que qualquer um verá que tais fundamentos costumam ser treinados com frequência.
Ofensivamente o Grêmio evoluiu, e chegou a ter o melhor ataque do país por algum tempo. Roger conseguiu fazer o Grêmio mais criativo na hora de marcar gols, mas agora vê o clube passar por um momento de seca após a queda de desempenho de alguns atletas. Culpa sua? Sim, em partes, pois insistiu em escalar Bolaños como homem de frente, sabendo que o equatoriano não rende ao jogar de costas pra defesa, e que seu bom futebol pode ser explorado quando ele arma a jogada e chega para finalizar, basta ver a boa atuação que fez contra o Corinthians quando atuou mais recuado. Talvez também tenha pecado por insistir em manter Douglas como titular, mesmo vendo a equipe perder intensidade e velocidade na transição entre defesa e ataque, além das trocas de passes e e rápida chegada ao gol adversário, o que fez com que muitas equipes fossem pegas de surpresa em 2015. Contudo, foi mais um problema que identificou e corrigiu, mostrando não se omitir na casamata.
Falando em omissão, outro aspecto criticado no comandante gremista foi sua apatia durante algumas derrotas. O senso comum nos faz pensar que se ele estivesse na beira do gramado gritando com seus jogadores as coisas seriam diferentes, pois isso passa o sentimento de indignação e anima até mesmo os torcedores, digo isso porque eu mesmo critiquei o técnico nesse ponto. Porém, será que mesmo após diversos treinamentos que antecedem as partidas, vai ser o grito do treinador que vai fazer o time jogar bem? Pode ser que o incentivo faça o atleta ficar mais "antenado", como se diz aqui pelo Sul, mas não vai fazer com que ele tire um coelho da cartola e corrija seus defeitos em 20, 30, 90 minutos que seja. Precisamos repensar nossas cobranças. Feito isso, sairemos do pensamento tradicional e veremos que nem sempre o culpado é o técnico. Além disso, se um atleta precisa continuidade para melhorar seu desempenho, o mesmo serve para os treinadores.
Roger tem crédito, pois pegou um time desacreditado e transformou em aspirante ao título, tudo isso com a nítida demonstração da aplicação de seus conceitos técnicos e táticos. Mudar agora seria jogar fora tudo aquilo que foi construído, e contratar alguém para chegar e recomeçar tudo de novo o processo de formação de um time.
Nós temos um time, uma forma de jogar, e é absolutamente normal que o desempenho individual e coletivo sofra variações. O que não é normal é não ter um técnico capaz de diagnosticar as falhas da equipe com o objetivo de corrigi-las, ou então não ter coragem para fazer as mudanças necessárias. Roger já provou o contrário, percebe quando algo está errado e não se importa em mudar aquilo que acha necessário.
Por tudo isso, merece nossa confiança. É evidente que os resultados são importantes, e se não vierem, continuarão pesando contra o técnico, mas Roger tem a confiança da diretoria e da torcida. Confiança de que fará a diferença e manterá o Grêmio entre os principais do Brasileirão. E mesmo sendo difícil pedir calma para quem já espera por 15 anos, não são 15 anos de Roger Machado, muitos outros passaram por aqui e não ganharam nada, isso não é culpa dele. Que ele seja cobrado pelo seu próprio trabalho, mas que tenha em mente da necessidade de encerrar essa era de vacas magras, e que faça seu time jogar para levantar um caneco, assim como fez e surpreendeu o país. Mantendo isso, manteremos o apoio, a confiança, e seguiremos em defesa de nosso comandante.
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