Adelar Marques vai acordar cedo no sábado e rumar para as imediações do Beira-Rio. Torcedor colorado, ele é proprietário de um bar em frente ao estádio e sabe que, em dias de Gre-Nal, a clientela aumenta e é preciso se preparar. Do outro lado da cidade, nos arredores da Arena, a gremista Maria Helena Gonçalves estará ansiosa para mais um clássico na casa do rival. Um Gre-Nal especial, que marca o retorno da rivalidade ao Rio Grande do Sul. Os dois torcedores não se conhecem, mas têm muito em comum. Adelar tem 53 anos. Maria Helena, 69. Um morava no Menino Deus, a outra mora no Humaitá. Dois bairros afetados pela enchente de maio. Como milhares de gaúchos, viram suas casas e negócios tomados pela água. Viram os estádios de seus clubes irreconhecíveis. Perderam móveis, documentos e dinheiro. Mas não perderam a esperança, nem abandonaram suas maiores paixões. – Fui escolhida, assim como um monte de gente, para testar a minha fé – disse Maria Helena.
Figura frequente nas cadeiras na Arena, a professora aposentada precisou deixar seu apartamento às pressas quando a água subiu sem aviso. Pegou alguns objetos pessoais e foi buscar refúgio na casa de familiares. No caminho, viu mães com crianças de colo com água pela cintura, pessoas usando colchões como barcos em busca de refúgio e sentiu uma tristeza profunda. A professora conta que sentiu algo semelhante em outras duas ocasiões naqueles dias. Quando a água baixou, voltou para casa e encontrou o quarto decorado com as cores e itens do Grêmio revirado pela lama. E quando passou em frente à Arena e viu o tamanho dos estragos em sua segunda casa. – A minha tristeza triplicou. Triplicou porque, para mim, o Grêmio é a minha casa. É a minha segunda casa. Eu tenho uma história de amor com o Grêmio muito grande e a gente se entrelaçou mesmo no barro, na lama e na água – definiu ela.
A relação de Adelar com o Beira-Rio é tão intensa quanto e com certeza mais antiga. Ele nasceu em 6 de abril de 1971, exatamente dois anos após a fundação do estádio. Lembra de ter ido ver o Inter jogar pela primeira vez aos quatro anos, levado por um padrinho. E conta que daquele dia em diante o amor pelo Colorado só cresceu. Foi dentro do Beira-Rio que o comerciante abriu o primeiro bar em 2017, ano em que o Inter enfrentou as agruras da segunda divisão.
O comerciante perdeu tudo que tinha no bar. Balcões, cadeiras, geladeiras. Tudo foi levado pela água. Conseguiu salvar alguns alimentos perecíveis, que doou para um asilo próximo ao estádio. Entre o que foi destruído e o que deixou de ganhar com o bar fechado durante cerca de um mês e meio, calcula um prejuízo próximo dos R$ 300 mil. Mas não se abateu. E quando o estádio reabriu no jogo contra o Vasco, no começo de julho, agradeceu aos céus. – Obrigado, meu Deus. Obrigado. Foi um momento de redenção. Não só para mim, mas também para um ambulante que fica na rua ali. Foi para todo mundo. Eu nunca pensei só na minha barriga, no bar. Nós aqui fortalecemos todos os bares – relatou.
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