Novo capitão do Grêmio leva Ceni de exemplo: 'Quero ficar para a história'

De criticado no São Paulo a titular incontestável no clube gaúcho, Maicon fala sobre herança da faixa de capitão após saída de Rhodolfo em entrevista exclusiva na Arena


Fonte: GloboEsporte

Novo capitão do Grêmio leva Ceni de exemplo: Quero ficar para a história
A saída de Rhodolfo promoveu uma mudança automática no status do volante Maicon no Grêmio. Antes “segundo capitão” do elenco, o camisa 19 passou a desfilar com a faixa amarela nos jogos desde que o zagueiro ficou fora de algumas partidas. O meio-campista, de fala tranquila e cadenciada como seu estilo de jogo, revelou inspiração no goleiro Rogério Ceni, seu companheiro por três anos no São Paulo, para exercer o posto no Tricolor. Com estilo de se aproximar para conversar com os companheiros, Maicon volta a exercer a função feita no Madureira e no Figueirense.

Ceni é o modelo usado pelo volante, que concedeu entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com na Arena, na véspera do duelo com o Sport, às 19h30 deste sábado, pela 15ª rodada do Brasileirão. É quem inspira a maneira de chegar e conversar com os colegas ao pé do ouvido, sem gestos expansivos. E também divide a responsabilidade com outros jogadores experientes no grupo, como o goleiro Marcelo Grohe, o meia Douglas e o atacante Braian Rodríguez.

- Convivi três anos lá no São Paulo e o Rogério é um cara que, pô, não sei quantos anos jogando e capitão, não escolhe jogo, é um cara vencedor. Aprendi bastante lá as coisas boas que ele passava para o grupo, na hora de fechar, no dia a dia - revelou o jogador, que viveu momentos de vaias e críticas no São Paulo, antes da boa fase em solo gaúcho.

Contratado no início de março, Maicon estreou dia 14. Há pouco mais de quatro meses no Grêmio, o volante ascendeu rapidamente no elenco. Tanto que era o segundo capitão, escolhido por Roger, ao lado de Rhodolfo. Quando o zagueiro deixou o clube, era natural que assumisse a braçadeira, ainda que em tão pouco tempo. São 28 jogos disputados no ano, 27 como titular. Só ficou no banco no empate com o São José, no Gauchão, quando Felipão poupou titulares. E entrou na etapa final.


Maicon é o novo capitão gremista (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)

> Confira a entrevista com o novo capitão:

GloboEsporte.com: Que responsabilidade você acha que traz a mais, ou acha que já era líder e não muda muito o papel?
Maicon: Mudar, não muda. Independente de estar com a faixa de capitão, sempre procuro estar conversando dentro do grupo, passando algumas coisas para os mais novos, e até compartilhando algumas coisas com os mais experientes. Gosto de estar falando, essas coisas, até porque a comunicação é importante em campo. Isso ajuda muito. Não tem muita diferença de estar com a faixa. Claro que tem uma liderança mais, às vezes é até colocado com mais responsabilidade com isso, mas estou tranquilo e encaro com naturalidade. É até, por pouco tempo de clube, uma conquista bem rápida. Você de repente se tornar capitão com pouco tempo de clube, mas estou tranquilo. Tenho que me comportar como sempre foi por onde passei, por outras equipes também falava bastante. É super tranquilo.

E como foi o momento em que o Roger passou que seria o capitão?
Então, quando vamos para os jogos, na preleção, ele sempre coloca dois. O Rhodolfo já era o capitão e eu era o segundo. Teoricamente, como o Rhodolfo estava para sair, já esperava que fosse me tornar o capitão. mas é tranquilo, continuar como sempre fiz por onde passei, estou muito feliz aqui no clube, pelo pouco tempo aqui já ter me adaptado muito bem e estar jogando, que é o mais importante. Você estar jogando, podendo ajudar os companheiros em campo e a equipe a vencer.

Justamente esta questão do pouco tempo aqui, com a importância do Maicon, que em pouco tempo não saiu mais do time desde que chegou. Como está sendo isso de tão rápido ganhar esse espaço e importância no elenco?
A vida é feita de desafios. Eu não pensei duas vezes antes de aceitar o convite do Grêmio. Até tive outras equipes, mas sempre friso da maneira que o Rui (Costa, diretor de futebol) conversou comigo, foi muito importante, me passou bastante confiança, falando que eu ia gostar, que ia me dar bem aqui. E, graças a Deus, as coisas estão acontecendo. Espero cada vez mais estar sempre melhorando, não me acomodar com a situação. Quero ganhar títulos. É assim que você fica marcado na história do clube. Mesmo com as dificuldades, que todos os clubes estão passando também, eu vim e vim feliz, quando você vem desta maneira, as coisas podem demorar, mas no momento certo, dão certo. A gente vive um bom momento aqui, não só eu, mas todos os jogadores. Esperamos cada vez mais fortalecer a confiança, as vitórias, cada vez mais trazer o torcedor para o estádio. Temos a oportunidade de lotar a Arena aí amanhã (sábado) em um jogo importante, de seis pontos, e vamos precisar da força da torcida.

A questão de ser capitão traz alguma situação a mais na prática?
Acho que aqui no grupo é bom, tem outros jogadores experientes, a gente divide muito. Isso é importante. Não só ficar em cima do capitão ou do treinador. E motivação não tem coisa melhor, nossa profissão é a melhor que tem. A gente faz o que a gente gosta, tem o prazer de entrar em campo e jogar, tem muita gente nos assistindo. É muito prazeroso. Não tem que o capitão ou diretor ou presidente ficar motivando. A nossa motivação maior é vestir a camisa vitoriosa do Grêmio. E o grupo ali, desde os mais novos com experientes, a gente divide muito as palavras, para conversar, para fechar, ou no treinamento para ajustar algo. Não fica só em cima do capitão.

Seu estilo é mais de conversa, você disse. Chega e fala individualmente com cada um, quando precisa, é isso?
É, porque não gosto muito de ficar conversando, não. Ficar falando... Às vezes as pessoas acabam entendendo de uma maneira errada, de repente você está passando sua responsabilidade para alguém. E não é assim. Eu prefiro fazer meu trabalho, treinar e jogar, me dedicar ao máximo, sair esgotado, mas vencedor. De vez em quando a gente conversa, com um ou com outro, “melhor fazer assim”, aí o jogador dá a opinião dele, e a gente acaba chegando a um acordo no que é melhor para a gente em campo. É mais em relação a isso.

Já usou a braçadeira antes?
Fui capitão no Madureira, tinha 20 anos, é um clube pequeno, mas fomos para final, fomos campeões da Taça Rio. Tinham alguns jogadores experientes, Djair, Odvan, Marquinhos. E fui no Figueirense, também.

E tem algum exemplo de líder, de capitão, para ti?
Convivi três anos lá no São Paulo e o Rogério é um cara que, pô, não sei quantos anos jogando e capitão, não escolhe jogo, é um cara vencedor. Aprendi bastante lá as coisas boas que ele passava para o grupo, na hora de fechar, no dia a dia.

Dá para dizer que o Rogério o inspirou, então?
Em termos de liderança, de grupo, ele é muito importante. Não é à toa que ganhou o que ganhou, que é o jogador que é.


Ceni é exemplo para Maicon (sentado, ao fundo) (Foto: Marcos Ribolli)

E essa fase com o Roger, o Grêmio nas cabeças, como está sentindo e dá para manter até o final do ano?
O trabalho está sendo muito bem feito, cada dia estamos acrescentando coisas importantes que levamos para o jogo. Ele é muito capacitado, vem provando a cada treinamento e jogo. Dá moral para todos os jogadores, não tem preferência, a dele é o resultado em campo. Quem estiver melhor, vai jogar. Ele sempre fala isso. É uma competição sadia entre os jogadores da posição para querer jogar. Temos tudo para brigar até o final, sabemos que temos um grupo de qualidade. São bastante jogos, mas estamos preparados para ir forte até o final e buscar o objetivo.

O Grêmio foi menosprezado?
Sempre quando vai começar o campeonato, a imprensa tira parâmetro pelo Estadual. E com o elenco. Às vezes você forma o elenco com muitos jogadores de nome, experiente, e não dá certo. Às vezes monta um grupo com jovens, meio desacreditado, e ali está todo mundo com muita vontade para vencer, alguns novos, que não jogaram muito no Estadual e estão jogando agora. Quando começa o campeonato, que a bola rola, é diferente. E estamos provando isso. Não só a nossa equipe, mas como outros que as pessoas falaram que não iam chegar;. Claro que tem muita coisa para acontecer ainda, mas quando você sai na frente, você consegue chegar até o final na frente. E se sai atrás, está disputando cada jogo é uma decisão, não pode perder, já distancia. Estamos no caminho certo, vamos respeitando os adversários, com os pés no chão e humildade, como estamos fazendo agora. Procuramos fazer nosso trabalho da melhor maneira, esperamos que a gente continue nesta batida forte, vamos fazer de tudo para continuar nesta batida, para a gente conquistar o título.

Qual tem maior desafio agora no Grêmio?
Por onde passei, sempre joguei. Aqui, estou tendo uma sequência maior. No Figueirense, joguei cento e poucos jogos direto, não fiquei no banco. No São Paulo, foram 161, mas alternou de ser titular e não jogar. E agora estou em uma sequência boa, joguei 20 e poucos jogos seguidos. É importante, espero jogar 50, 100, o máximo que puder. Tenho contrato até o final do ano, tenho mais um ano de contrato lá no São Paulo. Espero fazer um grande ano aqui, se Deus quiser com título, para que eu possa permanecer, que é meu objetivo.

Pensa em ficar mais aqui, então?
Ficar no clube, fui muito bem recebido. E a paixão do torcedor também, a gente conversa bastante que precisamos dar uma alegria para o torcedor, ganhar um campeonato. Tenho isso como objetivo, como meta aqui. A gente vai se fortalecendo a cada dia para conseguir isso. Com certeza é ficar no clube.

No estilo de agradar mais nestes seis meses e permanecer no Grêmio...
Nem, agradar. Vem para cá, tem que fazer o melhor, teoricamente, dar a vida no clube. Porque é um clube grande, é uma estrutura muito boa. Uma torcida apaixonada, que está sempre apoiando o time. Não tem coisa melhor que fazer parte da história do clube assim. Fica marcado com conquistar, se vencer, e meu objetivo é esse aqui. Procuro cada dia melhorar para alcançar. Vamos ver, o clube vai saber o momento certo se permaneço aqui ou não.


Em breve o Grêmio vai ter que dividir o foco entre Copa do Brasil e Brasileirão. Qual a receita para ir bem?
Enquanto estivermos no Brasileiro, temos que focar no Brasileiro. Viemos de um jogo difícil, nos pênaltis, que perdemos em casa e vencemos fora. O jogo é só em agosto, quando a gente entrar na semana, vamos ter jogado contra os clubes. Vai saber mais ou menos. Não temos que escolher adversário, o que enfrentarmos serão jogos difíceis e temos que estar preparados para enfrentar de igual para igual. ser inteligente para jogar, estudar o adversário, como fazemos com todos. Não é porque jogamos com o Corinthians e depois vamos pegar o Joinville, que não está bem, que não precisa. Esses jogos são os mais difíceis. Na hora da Copa do Brasil muda o foco, pensa naquele confronto, que são 180 minutos, e temos que jogar com inteligência. E vamos vendo, cada jogo, o que vai acontecendo.

Você falou em busca de título. Nesta temporada, qual o principal rival na luta por uma taça?Se fala muito em Atlético-MG...
Está com um elenco entrosado, que joga junto há dois ou três anos, ganharam a Copa do Brasil, a Libertadores. É um time qualificado, contratou o que precisava. Mas tem outras equipes, Fluminense, Corinthians, São Paulo, Palmeiras que está subindo. Os jogos vão ser difíceis, a disputa vai ser até o final, não acredito que ninguém vai dar uma arrancada como nos últimos dois anos com o Cruzeiro no Brasileiro. Esperamos brigar até o final, vamos ver, espero que a gente esteja lá na frente.

Também é papel do líder deixar o elenco, que tem bastante jovens, mais enturmado, bem entrosado. Como fazer também para que os jovens não sintam quando recebem a chance, como com o Thyere agora...
Ele está preparado, com certeza vai fazer um grande jogo, vai nos ajudar. É uma partida boa, estádio cheio, ele está se preparando há bastante tempo. Tem a confiança de todos os jogadores e treinador. Mas o convívio é tranquilo, com o momento que a gente vive, o garoto entra mais tranquilo para jogar. Não tem aquela pressão de que tem que resolver. Como tem a divisão, no vestiário a gente se dá bem e brinca com todo mundo. Não é porque é mais novo que não pode brincar comigo. A parceria que a gente tem fora de campo, a gente leva para o campo e isso ajuda bastante.


Maicon na classificação do Grêmio na Copa do Brasil contra o Criciúma (Foto: Lucas Uebel/Divulgação)

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