Andrés Sanchez, na mesa do seu gabinete, em Brasília
"Você viu o Marin? Vai ser ainda pior. Pode esperar". É a primeira frase dita por Andrés Sanchez, em Brasília, por volta das 9h da manhã, momento em que a reportagem o encontra para acompanhá-lo durante todo o seu dia no Congresso Nacional, onde exerce o cargo de deputado federal. Seria um dia comum, não fosse pelo fato de um dos maiores escândalos da história do futebol ter sido notícia horas antes, na última quarta-feira de maio.
"Eu sei quem está vazando tudo isso. É o J. Hawilla. Muita coisa vai aparecer", diz o ex-presidente corintiano, enquanto se desloca para o gabinete da liderança do PT na Câmara, à procura de Vicente Cândido, sócio de Marco Polo Del Nero e diretor da CBF. Ele vai entrando, abrindo portas, até chegar no colega. Os dois cochicham em uma sala de reunião sobre o assunto.
"Ele [Vicente] está preocupado. Tem como não estar? Um monte de coisas acontecendo", comenta, na saída. Em tempo, faz uma brincadeira com dois quadros colocados na parede, de Lula e de Dilma, com os funcionários que ali trabalham. "Já disse que não é pra deixar um do lado do outro, vai dar problema qualquer dia".
Andrés sai, enquanto as atividades não começam, para fumar o primeiro cigarro da quarta-feira. "Tem como você não colocar isso na matéria? Eu não gosto de fumar, e estou melhorando". E faz o primeiro desabafo: "Estou sofrendo muito aqui. Você não imagina, mas eu estou sofrendo. Isso aqui não é pra mim. Não é o meu perfil. É uma vez só na vida. Não me candidato nunca mais".
Toca o telefone pela primeira vez. Do Corinthians. Edu Gaspar, gerente de futebol, por volta das 9h51. "Alô, oi. Vocês falaram com os empresários? Então, libera. Tá certo. Quando ele parar de jogar, a gente faz uma despedida pra ele. Viu a entrevista do Carrile? É...". Sobre a decisão da liberação do peruano Paolo Guerrero, que não teve o contrato renovado, e, irritado, sobre o que disse o auxiliar de Tite, Fabio Carrile, sobre a não permanência de Emerson Sheik.
Toca de novo. "Você falou com o pessoal do Futebol? Tem que falar com eles, não é comigo. Não atendem? Vou pedir pra atender. Quanto ele tá pedindo?", com um empresário que fala sobre Lucas Barrios no time alvinegro. Andrés liga de novo para Edu e pede para atender o agente, dando o final do telefone. "Camila, empresário é assim, você tem que atender. Tem que ouvir. Quem contrata é o Tite, e é o Edu Gaspar que faz essa ligação com a comissão".
Hoje superintendente de Futebol, Andrés tem força e influência dentro do clube. Há quem diga que é ele quem segue dando as cartas. "Quem manda hoje é o Roberto de Andrade. É só ele. Não é justo comigo, tudo que acontece de errado cai em cima de mim. Tudo é culpa minha. O Gobbi se isolou de todo mundo, não falava com ninguém e mesmo assim sobrava tudo pra mim. Se o Roberto melhorar as coisas, o mérito é todo dele. Se ele piorar, é dele sozinho também".
O Corinthians teve que, no ano passado, buscar quase R$ 30 milhões no mercado para pagar impostos atrasados e acabar com o andamento de uma ação na Justiça na qual Sanchez, Roberto de Andrade e mais dois dirigentes viraram réus por reterem e não repassarem tributos do clube ao governo. Por isso, por sua forte influência nos bastidores do Parque São Jorge, pela engenharia financeira do estádio é que muitos o responsabilizam pelas coisas que lá acontecem.
O deputado Alessandro Molon (PT/RJ) passa, cumprimenta Andrés e comemora vitória da noite anterior na votação da Reforma Política. Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara, fora derrotado no assunto de financiamento privado de campanha. Andrés entra de novo no Congresso, desta vez em direção à Comissão de Tributos e Finanças, da qual ele é titular.
No meio do caminho, um homem para Sanchez. "Pode tirar uma foto comigo?". A cena se repetiu contadas 28 vezes em quase 15 horas de trabalho. Algumas delas dentro do plenário, no meio de votações importantes.
"Escuta: o Corinthians vai pagar o estádio e vai ser tranquilo. Vai entrar, cedo ou tarde, os naming rights. Os CIDs a gente já começou a vender. A Odebrecht comprou cerca de R$ 50 milhões agora", disse. "É esse valor, sim, perto de R$ 50 milhões. Tenho certeza. Eu não tiro minha responsabilidade das coisas que não dão certo. O naming right está atrasado e é um fato".
Ainda no caminho da Comisssão: "Aqui a gente anda muito, né? Tem um monte de mulher bonita pelo menos", enquanto passam duas mulheres, uma loira e uma morena.
"Nada começa no horário, tá vendo? Era às 10h [relógio marca 10h25]". Ele tira mais uma foto com um torcedor. Alguns farmacêuticos se aproximam e pedem ajuda de Andrés para um projeto. "Aqui tudo é assim. Tudo é lobby. Eu acho que tinha que ser legalizado".
Apesar de estar lá no Congresso como deputado, todos lhe chamam da mesma forma: presidente. "É curioso isso". Mesmo os que não são muito chegados, aproveitam para uma brincadeira, cantando o hino do Corinthians, lembrando de resultados do futebol.
Nada da reunião começar. "Sabe quanto o clube economizou de fevereiro até agora? R$ 3 milhões. Acha que é pouco? Não é. Só com cortes e contenção".
Andrés se lembra que tem uma reunião em seu gabinete. A sala 939 no anexo amarelo tem três pessoas trabalhando, uma delas é Flávio Menezes, assessor político do deputado. "Nessa conversa você não vai poder ficar", diz Sanchez para a reportagem, no momento em que Luiz Bueno, diretor-superintendente da Odebrecht, entra.
A reunião acontece, às portas fechadas, com 20 minutos de duração, único momento do dia que Andrés não quis compartilhar.
No caminho de volta à Comissão, eles comentam também sobre a derrota de Cunha na noite anterior, enquanto, já no elevador, um homem diz: "Virei corintiano por causa de você. Obrigado por tudo que fez".
"Mulheres", respondeu sorrindo, ao ser perguntado sobre o tema da conversa, quando Bueno já havia ido embora. "A Odebrecht está abrindo conversas para vender os naming rights. Estão tentando nos ajudar. Ele veio me falar sobre uma empresa que estão conversando", se esquivou.
Chegando à Comissão de volta, Andrés recebe a notícia de que não teve a reunião. "Tá vendo? As coisas são assim aqui". O deputado Silvio Torres (PSDB-SP) o chama de lado e pede que lidere o pedido de abertura de uma CPI da CBF. "Romário já está fazendo isso", responde. Foi o que falou a todos que perguntaram, causando estranheza a muitos.
Sanchez tem como principal desafeto no futebol brasileiro Marco Polo Del Nero, presidente da CBF. Chegou a criar um movimento com clubes e federações para lançar uma oposição na eleição do ano passado, mas não houve apoio suficiente. Andrés se sentiu traído na troca de técnicos da Seleção Brasileira, Mano Menezes por Luiz Felipe Scolari, quando ainda era diretor de Seleções e não fora consultado.
Andrés foi recentemente convidado para um jantar com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, e Walter Feldman, secretário-geral da CBF.
"Não tem essa de fazer as pazes. Não tem nada a ver. Meu problema sempre foi com o Marco Polo, que quis me fazer de Rainha da Inglaterra. Eu nunca me afastei da CBF, nunca. Me afastei das pessoas. Eu vou sempre ajudar no que eu puder, mas não vou liderar isso. Uma coisa eu garanto, você nunca vai me ver falando com o Marco Polo, no máximo um aperto de mão".
Deputados passam, falam do assunto com Andrés, cobram alguma ação e brincam com a reportagem. Segundo seus pares, o corintiano vai ser presidente da entidade máxima do futebol brasileiro e tem articulado isso nos bastidores, o que poderia ser um dos motivos para se poupar neste momento. "Não tenho mais esse sonho. Isso já foi mais forte dentro de mim. Todo mundo sabe o que tem de fazer para mudar. Tem que se indispor com muita gente", negando.
Apuração da reportagem é de que o grupo que o apoiou antes da eleição em 2013, já conversa de novo para que a iniciativa seja retomada o quanto antes.
Enquanto almoça um strogonoff de frango, com batata palha e arroz, seu telefone toca pela sétima vez de um número bloqueado. "Desconhecidos eu não atendo. Sempre é algum amigo seu da imprensa".
Havia ainda quatro votações da Reforma Política para aquela noite. "Não vai mudar nada, infelizmente. Tinha que acabar com a coligação, acabar com a reeleição, mas vai ser difícil ter acordo para isso. Antes eu era contra o plebiscito da constituinte, mas estou me convencendo que pode ser a melhor coisa".
Na TV do restaurante da Câmara, imagens de Vanderlei Luxemburgo. "Sabe quem vai ser o técnico [do Flamengo]? Eduardo Batista. Eu acho. Dessa nova safra, é um dos melhores", comentou, antes de saber da contratação de Cristóvão Borges.
"Tenho falado com o Lula, sim. A relação é muito boa. Ele está preocupado com os rumos do país. Mas está bem. Você percebe que a gente tem muita coisa em comum? Ele saiu já faz cinco anos e tudo que acontece é culpa dele. É a mesma coisa comigo. A nossa história é parecida. Ele foi o melhor presidente da história do Brasil", disse Andrés, perguntado. "Eu acho que fui um dos melhores da história do Corinthians, sim", respondeu.
O assunto muda logo, chega a Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, com quem teve problemas no ano passado. "Tudo bem, tudo tranquilo. Ele já está falando menos, percebeu como está o futebol de agora. Você imagina se eu assino um contrato de comissão com uma namorada minha? Já imaginou isso? Eu saio preso, de camburão. O Corinthians é assim".
"Se eu tivesse feito alguma sacanagem, estava ferrado". Alguns conselheiros da oposição, que não se identificam, acusam frequentemente Andrés de fazer negócios com jogadores, nos bastidores. "Isso é roubo. Não é legal fazer isso. Se fosse documentado, seria legal, mas imoral. Não existe isso no Corinthians. Sabia que tem jornalista que ganha dinheiro nos clubes? É quase um patrocínio. Tem dirigente no futebol que deve fazer. Cada um tem a sua moral. Eu não faço".
"Só [dirigente] burro ganha dinheiro com jogador. Na primeira vez que algo der errado, vão entregar quem fez e já era tudo", argumenta Andrés. "Eu vivo do meu salário daqui [que é de R$ 33 mil brutos]. Tenho minhas empresas, meus postos de gasolinas. Tenho bares e restaurantes também, que ninguém precisa saber o nome. Se o Corinthians perder, vão querer ir lá".
"Eu mais perdi do que ganhei desde que entrei no futebol", responde, ao ser perguntado se o futebol o ajudou de alguma forma a construir sua vida e abrir negócios. "Trabalho desde os meus 11 anos. Não preciso de nada de ninguém. Não devo nada a ninguém. Graças a Deus".
O almoço acaba e Andrés se dirige ao "melhor lugar do Congresso". A varanda que dá de frente para o lago e para a rua das bandeiras. Uma bela vista para os que ali vão fumar.
"A Dilma é boa pessoa, mas tem errado politicamente. Alguns auxiliares no governo são o caos. Eu me guio pelo partido, mas não digo sim pra tudo. Aquilo que eu tenho consciência de que é bom para o país, eu voto. Claro que eu questiono o partido. Se discute um monte de coisa lá dentro. Não significa que eu esteja certo em tudo também", comenta.
Sobre os escândalos envolvendo o PT, ele diz que não há desmoralização. "Isso são pessoas, não é o partido. E tem de pagar por isso quem fez. Sou a favor da investigação em tudo. Mas não pode por todo mundo no mesmo saco. Não é assim que funciona".
Se no futebol Sanchez tem livre acesso e é conhecido em todos os lugares, na política ainda está começando. "Tenho trânsito bom até demais aqui, por ser a primeira vez, pelo que me falam. Isso é por causa do futebol. Todo mundo me conhece". Os mais próximos: Silvio Costa, Esperidião Amin e Guilherme Mussi, além de Romário, no Senado.
Deputado Pastor Eurico (PSB-PE) fala mal do Lula no plenário. Relaciona o diabo, a cachaça e o ex-presidente. Suficiente para irritar Andrés. Deputado Valmir Assunção (PT-BA) é o próximo a falar. Sanchez o chama de longe: "Vai defender o presidente, né?". Valmir gesticula que sim, sobe e faz a defesa. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) ainda brinca com Andrés sobre a fala do Pastor, dizendo que não valia nem a pena responder, e que "uns bebem vinho, outros água". Ele responde: "Eu bebo whisky".
Na entrada do plenário, um bolo de papeis. Trata-se do texto de uma emenda, com centenas de páginas. Andrés questiona. "Para que isso? É um desperdício. Quem lê? Eu virei relator de um assunto outro dia, e pedi o texto inteiro para me informar. Foram me levar no gabinete: mais de 3 mil páginas. Mandei devolver", disse, sorrindo.
No caminho da Comissão do Esporte, Andrés olha seu Twitter. Se desconcentra. "Me irrita, estou louco para sair". O ex-presidente do time alvinegro tem recebido cobranças frequentes pela página, com o que não estava antes tão acostumado.
Tempo rápido de ligar mais uma vez para Edu Gaspar e saber da coletiva que acabara de dar para falar da liberação de Guerrero. 30 segundos de chamada.
É Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, quem vai dar audiência pública na Comissão. Sanchez o cumprimenta e deixa a sala para mais um cigarro, enquanto não começa. "Se vocês acham que na Copa tem muita coisa, vocês não sabem das Olimpíadas". Sentado, escutando o discurso, faz brincadeiras com colegas, característica marcante do corintiano, ao menos na frente da reportagem.
Andrés pede a palavra, depois de outros colegas: "Ninguém perguntar sobre corrupção é um avanço. Está todo mundo de parabéns por isso.
Quando tiver algo concreto sobre, falaremos, e a gente vem com esse assunto aqui", disse, apesar da frase anterior. "O importante é falar de legado. E sobre a Guanabara, o que eu tenho pra falar é que a gente tem de limpar não por causa dos Jogos, mas por causa dos moradores do Rio, por causa da cidade. Isso é o mais importante".
Antes das votações começarem, é tempo de uma água e (mais) um cigarro. Uma cena engraçada. Um senhor humilde sai correndo atrás de Andrés. "Você é o presidente do Corinthians?", Andrés diz que não e segue andando. "Nossa, mas você é muito parecido". Ele responde: "Sou o ex-presidente". O senhor responde, esbaforido. "Ah, bom. Não era possível tanta semelhança. Quem é o presidente, então? Tira uma foto comigo?".
O plenário começa a pegar fogo. Eduardo Cunha propõe de novo a votação sobre financiamento privado de campanha. Andrés se inteira rapidamente do que está acontecendo. "Estão tentando colocar de novo em votação uma coisa que já não passou ontem. Eles querem aprovar o financiamento empresarial para campanhas. E estão tentando uma manobra pra isso".
Cunha fala e a bancada do PT se revolta. Andrés olha tudo a sua volta: "Imagino quem está vendo isso de casa. O que deve estar pensando... Deve achar que aqui só tem ladrão fazendo bagunça". Sanchez faz questão de ficar bem no centro, onde ficam os deputados em pé. "Isso já votou, não devia ser votado de novo". Ele conversa com outros colegas de bancada, comentam especialmente sobre o presidente da Câmara. Alguns ainda tentam falar da CBF.
Mais uma pausa para um café e outro cigarro, o décimo segundo. A essa altura do campeoanto, no lugar preferido de Andrés, a bancada dos fumantes já está reunida - nome dado de brincadeira pelos mais de 15 deputados que ali frequentam, e que elegeram o corintiano como líder, também de brincadeira.
Recebe ligação de Edu Gaspar, assunto é o Guerrero. Aproveita para perguntar sobre o treino. "Edilson ou Fagner? E no ataque, Romero e Mendoza? Estão bravos por quê? [sobre empresários do peruano]". Enquanto estavam na ligação, deputados o interrompem, perguntando sobre sua posição nas votações que aconteceriam mais tarde. "Sou contra financiamento e sou contra coligação também, já vou avisando". Volta ao telefone, desliga e continua o debate.
Outro deputado chega, vê Andrés e dispara: Marin foi preso. Andrés: "Você está surpreso?". A conversa sobre futebol se estende. "Se fez, vai ter que pagar. Mas no futebol é assim: cartola é sempre ladrão, não importa o que faça. Se o time está ganhando, é ladrão pé quente. Se está perdendo, é ladrão pé frio. Roubando ou não, é assim que funciona. Eu fui o único diretor da história a pedir demissão da CBF. Por que vocês acham?".
Andrés vai para a reunião com a bancada do PT, discutir posicionamento para a disputa com Eduardo Cunha. Na volta, Sibá Machado, líder do partido na Câmara, sobe para falar. Andrés conversa com ele. Durante a fala do deputado, Sanchez manda um recado escrito com duas coisas que estavam faltando no discurso. Sibá atende ao pedido.
No meio da sessão, vem outro fã querer uma foto com a camisa do Corinthians. Andrés não deixou de atender nenhum pedido. "Hoje até que foi pouco, mas fico feliz com isso".
Nada se decide, mais uma pausa no plenário. Saída para outro café (e um cigarro). Um colega se aproxima, apresentando um prefeito da Bahia. Andrés logo pergunta: "Que time você torce?". A autoridade responde: "Bahia". "E qual time grande?", rebate. "Bahia, rapá". E todos dão risada.
A discussão volta a ser sobre coligação, no lado de fora da Câmara. Sanchez faz dessa sua bandeira, provocando seus amigos deputados. Quase nenhum concorda. "Vocês não gostam, mas corrupção só vai acabar quando não tiver mais coligação. É isso que precisam mudar. Vou começar a fazer campanha disso".
Outro deputado muda de assunto e faz uma pergunta, com muito cuidado ao corintiano. "Uma pergunta, mas não leva a mal. Aquela Gaivotas existe mesmo?", sobre a torcida organizada gay do time alvinegro. "Existe, o cara diz que existe. Normal, somos maioria em todos os segmentos, dos viados, dos cristãos, dos ateus, dos ricos, dos pobres. É assim. Mas a fama é do são-paulino", responde e brinca.
Toca o telefone. "Tá bom. Ok. (pausa) Oi, presidente. Tudo bem?" E se distancia. Na volta, enrola para responder e depois diz: "Era o Lula. Queria saber sobre a CBF. Das notícias. E saber daqui, como estava repercutindo e o que eu ia fazer".
Lula foi um dos maiores apoiadores da sua candidatura à CBF no ano passado. No entanto, na avaliação do ex-presidente, o corintiano errou ao se confrontar com as federações e sempre defendeu que ele tentasse estabelecer a melhor das relações com as entidades estaduais, colégio eleitoral para chegar ao maior cargo do futebol brasileiro. Andrés nunca escutou o conselho na época, mas já dá sinais de que entendeu que deve fazer isso.
O assunto da prisão se Marin segue quente. Ele tenta ligar para Romário. Ouve mais cobranças para fazer uma fala sobre o tema. Escuta também perguntas se ele acha que é verdade as propinas e os subornos, acusações que atingem a entidade máxima do futebol brasileiro.
"Não tenho problema nenhum de que me investiguem. É o pederasta do blog que cria essas coisas [em referência ao Paulinho do Blog]. Pode investigar. Querem investigar mais do que já investigaram? Meu telefone é o mesmo desde sempre, minha vida está aí", responde, sobre se teme alguma investigação nas contas dele.
Recentemente, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, autorizou a abertura de um inquérito na Procuradoria-Geral da República para investigar um suposto crime eleitoral cometido por ele, envolvendo a omissão de bens na declaração feita de patrimônio feita à Justiça Eleitoral no registro de sua candidatura.
Nas últimas semanas, mesmo diante da crise financeira e da saída de jogadores por conta da difícil situação dos cofres corintianos, pelo menos três pessoas do Parque São Jorge próximas ao ex-presidente falaram para a reportagem sobre a vontade de Andrés em ter de volta o argentino Carlitos Tevez. "As pessoas não falaram pra você que era brincadeira? Deve ter faltado isso. Se essas pessoas te falaram isso, checa com elas".
"Sonho em ter o Tevez de volta", respondeu Andrés, logo em seguida, ao ser perguntado sobre um sonho que tem de contratação de jogador. "A gente não se dá nem bom dia. Mas se eu pudesse, eu traria ele de volta. Brigamos com o fim da parceria".
Mais confusão no plenário. Presidente da Câmara abre mais tempo para fala, outras bancadas tentam encerrar. "Todo dia é assim, essa confusão. Eles estão brigando porque estão deixando as falas abertas para ganhar tempo. Eles acham que não estão todos aqui, estão esperando os outros entrarem, para ganharem a votação". Ele vota contra o financiamento privado de campanha para partidos, assim como todo o PT, mas a proposta vencedora é a outra, que mantém a forma como hoje acontece.
Saída para mais um cigarro, o vigésimo. "Eduardo Cunha está um trator. Acho que está perdendo apoio mesmo dos mais próximos", comenta. Os outros concordam. Um deputado fala: "Foi todo mundo na sala do Cunha hoje, ele assumiu que errou na votação de ontem e garantiu que passaria hoje o financiamento privado. Garantiu. E mais: falou que colocaria a reeleição de qualquer jeito para ser votada hoje, pra não terminar com a imprensa falando da manobra". Andrés continua a conversa.
Bancadas discutem com Cunha para encerrar a sessão. O presidente não abre mão e diz que vai votar de qualquer forma o item sobre reeleição - como havia dito o deputado na bancada dos fumantes, aliás. Enquanto isso, o ex-judoca João Derly passa com a lista da CPI da CBF. Andrés assina e ajuda a pegar mais algumas, pelo menos sete.
"Eu voto contra reeleição de qualquer jeito, não importa o que o PT vote. É um principio meu e eu vou votar contra". Sibá Machado pede o adiamento da votação, argumenta que ainda não discutiu o assunto com a bancada, mas é vencido por Cunha. O líder do partido na Câmara conversa com Sanchez, pergunta a opinião, ouve outros que estão por perto, e acaba anunciando o voto a favor do fim da reeleição, bem como todos os partidos.
Fim da sessão. Mas ainda não é o fim do dia para Andrés, que vai para a mansão do senador José Perrela (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro.
"Agora vou para a casa do Zezé Perrela. Vou tentar pegar o fim do jogo do Cruzeiro [eliminado naquela noite da Copa Libertadores pelo River Plate] lá. Ele me convidou, disse que vão 30 senadores também e achou que era importante eu ir. Para esse também não vou te convidar", explica o ex-presidente corintiano.
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"Você viu o Marin? Vai ser ainda pior. Pode esperar". É a primeira frase dita por Andrés Sanchez, em Brasília, por volta das 9h da manhã, momento em que a reportagem o encontra para acompanhá-lo durante todo o seu dia no Congresso Nacional, onde exerce o cargo de deputado federal. Seria um dia comum, não fosse pelo fato de um dos maiores escândalos da história do futebol ter sido notícia horas antes, na última quarta-feira de maio.
"Eu sei quem está vazando tudo isso. É o J. Hawilla. Muita coisa vai aparecer", diz o ex-presidente corintiano, enquanto se desloca para o gabinete da liderança do PT na Câmara, à procura de Vicente Cândido, sócio de Marco Polo Del Nero e diretor da CBF. Ele vai entrando, abrindo portas, até chegar no colega. Os dois cochicham em uma sala de reunião sobre o assunto.
"Ele [Vicente] está preocupado. Tem como não estar? Um monte de coisas acontecendo", comenta, na saída. Em tempo, faz uma brincadeira com dois quadros colocados na parede, de Lula e de Dilma, com os funcionários que ali trabalham. "Já disse que não é pra deixar um do lado do outro, vai dar problema qualquer dia".
Andrés sai, enquanto as atividades não começam, para fumar o primeiro cigarro da quarta-feira. "Tem como você não colocar isso na matéria? Eu não gosto de fumar, e estou melhorando". E faz o primeiro desabafo: "Estou sofrendo muito aqui. Você não imagina, mas eu estou sofrendo. Isso aqui não é pra mim. Não é o meu perfil. É uma vez só na vida. Não me candidato nunca mais".
Toca o telefone pela primeira vez. Do Corinthians. Edu Gaspar, gerente de futebol, por volta das 9h51. "Alô, oi. Vocês falaram com os empresários? Então, libera. Tá certo. Quando ele parar de jogar, a gente faz uma despedida pra ele. Viu a entrevista do Carrile? É...". Sobre a decisão da liberação do peruano Paolo Guerrero, que não teve o contrato renovado, e, irritado, sobre o que disse o auxiliar de Tite, Fabio Carrile, sobre a não permanência de Emerson Sheik.
Toca de novo. "Você falou com o pessoal do Futebol? Tem que falar com eles, não é comigo. Não atendem? Vou pedir pra atender. Quanto ele tá pedindo?", com um empresário que fala sobre Lucas Barrios no time alvinegro. Andrés liga de novo para Edu e pede para atender o agente, dando o final do telefone. "Camila, empresário é assim, você tem que atender. Tem que ouvir. Quem contrata é o Tite, e é o Edu Gaspar que faz essa ligação com a comissão".
Hoje superintendente de Futebol, Andrés tem força e influência dentro do clube. Há quem diga que é ele quem segue dando as cartas. "Quem manda hoje é o Roberto de Andrade. É só ele. Não é justo comigo, tudo que acontece de errado cai em cima de mim. Tudo é culpa minha. O Gobbi se isolou de todo mundo, não falava com ninguém e mesmo assim sobrava tudo pra mim. Se o Roberto melhorar as coisas, o mérito é todo dele. Se ele piorar, é dele sozinho também".
O Corinthians teve que, no ano passado, buscar quase R$ 30 milhões no mercado para pagar impostos atrasados e acabar com o andamento de uma ação na Justiça na qual Sanchez, Roberto de Andrade e mais dois dirigentes viraram réus por reterem e não repassarem tributos do clube ao governo. Por isso, por sua forte influência nos bastidores do Parque São Jorge, pela engenharia financeira do estádio é que muitos o responsabilizam pelas coisas que lá acontecem.
O deputado Alessandro Molon (PT/RJ) passa, cumprimenta Andrés e comemora vitória da noite anterior na votação da Reforma Política. Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara, fora derrotado no assunto de financiamento privado de campanha. Andrés entra de novo no Congresso, desta vez em direção à Comissão de Tributos e Finanças, da qual ele é titular.
No meio do caminho, um homem para Sanchez. "Pode tirar uma foto comigo?". A cena se repetiu contadas 28 vezes em quase 15 horas de trabalho. Algumas delas dentro do plenário, no meio de votações importantes.
"Escuta: o Corinthians vai pagar o estádio e vai ser tranquilo. Vai entrar, cedo ou tarde, os naming rights. Os CIDs a gente já começou a vender. A Odebrecht comprou cerca de R$ 50 milhões agora", disse. "É esse valor, sim, perto de R$ 50 milhões. Tenho certeza. Eu não tiro minha responsabilidade das coisas que não dão certo. O naming right está atrasado e é um fato".
Ainda no caminho da Comisssão: "Aqui a gente anda muito, né? Tem um monte de mulher bonita pelo menos", enquanto passam duas mulheres, uma loira e uma morena.
"Nada começa no horário, tá vendo? Era às 10h [relógio marca 10h25]". Ele tira mais uma foto com um torcedor. Alguns farmacêuticos se aproximam e pedem ajuda de Andrés para um projeto. "Aqui tudo é assim. Tudo é lobby. Eu acho que tinha que ser legalizado".
Apesar de estar lá no Congresso como deputado, todos lhe chamam da mesma forma: presidente. "É curioso isso". Mesmo os que não são muito chegados, aproveitam para uma brincadeira, cantando o hino do Corinthians, lembrando de resultados do futebol.
Nada da reunião começar. "Sabe quanto o clube economizou de fevereiro até agora? R$ 3 milhões. Acha que é pouco? Não é. Só com cortes e contenção".
Andrés se lembra que tem uma reunião em seu gabinete. A sala 939 no anexo amarelo tem três pessoas trabalhando, uma delas é Flávio Menezes, assessor político do deputado. "Nessa conversa você não vai poder ficar", diz Sanchez para a reportagem, no momento em que Luiz Bueno, diretor-superintendente da Odebrecht, entra.
A reunião acontece, às portas fechadas, com 20 minutos de duração, único momento do dia que Andrés não quis compartilhar.
No caminho de volta à Comissão, eles comentam também sobre a derrota de Cunha na noite anterior, enquanto, já no elevador, um homem diz: "Virei corintiano por causa de você. Obrigado por tudo que fez".
"Mulheres", respondeu sorrindo, ao ser perguntado sobre o tema da conversa, quando Bueno já havia ido embora. "A Odebrecht está abrindo conversas para vender os naming rights. Estão tentando nos ajudar. Ele veio me falar sobre uma empresa que estão conversando", se esquivou.
Chegando à Comissão de volta, Andrés recebe a notícia de que não teve a reunião. "Tá vendo? As coisas são assim aqui". O deputado Silvio Torres (PSDB-SP) o chama de lado e pede que lidere o pedido de abertura de uma CPI da CBF. "Romário já está fazendo isso", responde. Foi o que falou a todos que perguntaram, causando estranheza a muitos.
Sanchez tem como principal desafeto no futebol brasileiro Marco Polo Del Nero, presidente da CBF. Chegou a criar um movimento com clubes e federações para lançar uma oposição na eleição do ano passado, mas não houve apoio suficiente. Andrés se sentiu traído na troca de técnicos da Seleção Brasileira, Mano Menezes por Luiz Felipe Scolari, quando ainda era diretor de Seleções e não fora consultado.
Andrés foi recentemente convidado para um jantar com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, e Walter Feldman, secretário-geral da CBF.
"Não tem essa de fazer as pazes. Não tem nada a ver. Meu problema sempre foi com o Marco Polo, que quis me fazer de Rainha da Inglaterra. Eu nunca me afastei da CBF, nunca. Me afastei das pessoas. Eu vou sempre ajudar no que eu puder, mas não vou liderar isso. Uma coisa eu garanto, você nunca vai me ver falando com o Marco Polo, no máximo um aperto de mão".
Deputados passam, falam do assunto com Andrés, cobram alguma ação e brincam com a reportagem. Segundo seus pares, o corintiano vai ser presidente da entidade máxima do futebol brasileiro e tem articulado isso nos bastidores, o que poderia ser um dos motivos para se poupar neste momento. "Não tenho mais esse sonho. Isso já foi mais forte dentro de mim. Todo mundo sabe o que tem de fazer para mudar. Tem que se indispor com muita gente", negando.
Apuração da reportagem é de que o grupo que o apoiou antes da eleição em 2013, já conversa de novo para que a iniciativa seja retomada o quanto antes.
Enquanto almoça um strogonoff de frango, com batata palha e arroz, seu telefone toca pela sétima vez de um número bloqueado. "Desconhecidos eu não atendo. Sempre é algum amigo seu da imprensa".
Havia ainda quatro votações da Reforma Política para aquela noite. "Não vai mudar nada, infelizmente. Tinha que acabar com a coligação, acabar com a reeleição, mas vai ser difícil ter acordo para isso. Antes eu era contra o plebiscito da constituinte, mas estou me convencendo que pode ser a melhor coisa".
Na TV do restaurante da Câmara, imagens de Vanderlei Luxemburgo. "Sabe quem vai ser o técnico [do Flamengo]? Eduardo Batista. Eu acho. Dessa nova safra, é um dos melhores", comentou, antes de saber da contratação de Cristóvão Borges.
"Tenho falado com o Lula, sim. A relação é muito boa. Ele está preocupado com os rumos do país. Mas está bem. Você percebe que a gente tem muita coisa em comum? Ele saiu já faz cinco anos e tudo que acontece é culpa dele. É a mesma coisa comigo. A nossa história é parecida. Ele foi o melhor presidente da história do Brasil", disse Andrés, perguntado. "Eu acho que fui um dos melhores da história do Corinthians, sim", respondeu.
O assunto muda logo, chega a Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, com quem teve problemas no ano passado. "Tudo bem, tudo tranquilo. Ele já está falando menos, percebeu como está o futebol de agora. Você imagina se eu assino um contrato de comissão com uma namorada minha? Já imaginou isso? Eu saio preso, de camburão. O Corinthians é assim".
"Se eu tivesse feito alguma sacanagem, estava ferrado". Alguns conselheiros da oposição, que não se identificam, acusam frequentemente Andrés de fazer negócios com jogadores, nos bastidores. "Isso é roubo. Não é legal fazer isso. Se fosse documentado, seria legal, mas imoral. Não existe isso no Corinthians. Sabia que tem jornalista que ganha dinheiro nos clubes? É quase um patrocínio. Tem dirigente no futebol que deve fazer. Cada um tem a sua moral. Eu não faço".
"Só [dirigente] burro ganha dinheiro com jogador. Na primeira vez que algo der errado, vão entregar quem fez e já era tudo", argumenta Andrés. "Eu vivo do meu salário daqui [que é de R$ 33 mil brutos]. Tenho minhas empresas, meus postos de gasolinas. Tenho bares e restaurantes também, que ninguém precisa saber o nome. Se o Corinthians perder, vão querer ir lá".
"Eu mais perdi do que ganhei desde que entrei no futebol", responde, ao ser perguntado se o futebol o ajudou de alguma forma a construir sua vida e abrir negócios. "Trabalho desde os meus 11 anos. Não preciso de nada de ninguém. Não devo nada a ninguém. Graças a Deus".
O almoço acaba e Andrés se dirige ao "melhor lugar do Congresso". A varanda que dá de frente para o lago e para a rua das bandeiras. Uma bela vista para os que ali vão fumar.
"A Dilma é boa pessoa, mas tem errado politicamente. Alguns auxiliares no governo são o caos. Eu me guio pelo partido, mas não digo sim pra tudo. Aquilo que eu tenho consciência de que é bom para o país, eu voto. Claro que eu questiono o partido. Se discute um monte de coisa lá dentro. Não significa que eu esteja certo em tudo também", comenta.
Sobre os escândalos envolvendo o PT, ele diz que não há desmoralização. "Isso são pessoas, não é o partido. E tem de pagar por isso quem fez. Sou a favor da investigação em tudo. Mas não pode por todo mundo no mesmo saco. Não é assim que funciona".
Se no futebol Sanchez tem livre acesso e é conhecido em todos os lugares, na política ainda está começando. "Tenho trânsito bom até demais aqui, por ser a primeira vez, pelo que me falam. Isso é por causa do futebol. Todo mundo me conhece". Os mais próximos: Silvio Costa, Esperidião Amin e Guilherme Mussi, além de Romário, no Senado.
Deputado Pastor Eurico (PSB-PE) fala mal do Lula no plenário. Relaciona o diabo, a cachaça e o ex-presidente. Suficiente para irritar Andrés. Deputado Valmir Assunção (PT-BA) é o próximo a falar. Sanchez o chama de longe: "Vai defender o presidente, né?". Valmir gesticula que sim, sobe e faz a defesa. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) ainda brinca com Andrés sobre a fala do Pastor, dizendo que não valia nem a pena responder, e que "uns bebem vinho, outros água". Ele responde: "Eu bebo whisky".
Na entrada do plenário, um bolo de papeis. Trata-se do texto de uma emenda, com centenas de páginas. Andrés questiona. "Para que isso? É um desperdício. Quem lê? Eu virei relator de um assunto outro dia, e pedi o texto inteiro para me informar. Foram me levar no gabinete: mais de 3 mil páginas. Mandei devolver", disse, sorrindo.
No caminho da Comissão do Esporte, Andrés olha seu Twitter. Se desconcentra. "Me irrita, estou louco para sair". O ex-presidente do time alvinegro tem recebido cobranças frequentes pela página, com o que não estava antes tão acostumado.
Tempo rápido de ligar mais uma vez para Edu Gaspar e saber da coletiva que acabara de dar para falar da liberação de Guerrero. 30 segundos de chamada.
É Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, quem vai dar audiência pública na Comissão. Sanchez o cumprimenta e deixa a sala para mais um cigarro, enquanto não começa. "Se vocês acham que na Copa tem muita coisa, vocês não sabem das Olimpíadas". Sentado, escutando o discurso, faz brincadeiras com colegas, característica marcante do corintiano, ao menos na frente da reportagem.
Andrés pede a palavra, depois de outros colegas: "Ninguém perguntar sobre corrupção é um avanço. Está todo mundo de parabéns por isso.
Quando tiver algo concreto sobre, falaremos, e a gente vem com esse assunto aqui", disse, apesar da frase anterior. "O importante é falar de legado. E sobre a Guanabara, o que eu tenho pra falar é que a gente tem de limpar não por causa dos Jogos, mas por causa dos moradores do Rio, por causa da cidade. Isso é o mais importante".
Antes das votações começarem, é tempo de uma água e (mais) um cigarro. Uma cena engraçada. Um senhor humilde sai correndo atrás de Andrés. "Você é o presidente do Corinthians?", Andrés diz que não e segue andando. "Nossa, mas você é muito parecido". Ele responde: "Sou o ex-presidente". O senhor responde, esbaforido. "Ah, bom. Não era possível tanta semelhança. Quem é o presidente, então? Tira uma foto comigo?".
O plenário começa a pegar fogo. Eduardo Cunha propõe de novo a votação sobre financiamento privado de campanha. Andrés se inteira rapidamente do que está acontecendo. "Estão tentando colocar de novo em votação uma coisa que já não passou ontem. Eles querem aprovar o financiamento empresarial para campanhas. E estão tentando uma manobra pra isso".
Cunha fala e a bancada do PT se revolta. Andrés olha tudo a sua volta: "Imagino quem está vendo isso de casa. O que deve estar pensando... Deve achar que aqui só tem ladrão fazendo bagunça". Sanchez faz questão de ficar bem no centro, onde ficam os deputados em pé. "Isso já votou, não devia ser votado de novo". Ele conversa com outros colegas de bancada, comentam especialmente sobre o presidente da Câmara. Alguns ainda tentam falar da CBF.
Mais uma pausa para um café e outro cigarro, o décimo segundo. A essa altura do campeoanto, no lugar preferido de Andrés, a bancada dos fumantes já está reunida - nome dado de brincadeira pelos mais de 15 deputados que ali frequentam, e que elegeram o corintiano como líder, também de brincadeira.
Recebe ligação de Edu Gaspar, assunto é o Guerrero. Aproveita para perguntar sobre o treino. "Edilson ou Fagner? E no ataque, Romero e Mendoza? Estão bravos por quê? [sobre empresários do peruano]". Enquanto estavam na ligação, deputados o interrompem, perguntando sobre sua posição nas votações que aconteceriam mais tarde. "Sou contra financiamento e sou contra coligação também, já vou avisando". Volta ao telefone, desliga e continua o debate.
Outro deputado chega, vê Andrés e dispara: Marin foi preso. Andrés: "Você está surpreso?". A conversa sobre futebol se estende. "Se fez, vai ter que pagar. Mas no futebol é assim: cartola é sempre ladrão, não importa o que faça. Se o time está ganhando, é ladrão pé quente. Se está perdendo, é ladrão pé frio. Roubando ou não, é assim que funciona. Eu fui o único diretor da história a pedir demissão da CBF. Por que vocês acham?".
Andrés vai para a reunião com a bancada do PT, discutir posicionamento para a disputa com Eduardo Cunha. Na volta, Sibá Machado, líder do partido na Câmara, sobe para falar. Andrés conversa com ele. Durante a fala do deputado, Sanchez manda um recado escrito com duas coisas que estavam faltando no discurso. Sibá atende ao pedido.
No meio da sessão, vem outro fã querer uma foto com a camisa do Corinthians. Andrés não deixou de atender nenhum pedido. "Hoje até que foi pouco, mas fico feliz com isso".
Nada se decide, mais uma pausa no plenário. Saída para outro café (e um cigarro). Um colega se aproxima, apresentando um prefeito da Bahia. Andrés logo pergunta: "Que time você torce?". A autoridade responde: "Bahia". "E qual time grande?", rebate. "Bahia, rapá". E todos dão risada.
A discussão volta a ser sobre coligação, no lado de fora da Câmara. Sanchez faz dessa sua bandeira, provocando seus amigos deputados. Quase nenhum concorda. "Vocês não gostam, mas corrupção só vai acabar quando não tiver mais coligação. É isso que precisam mudar. Vou começar a fazer campanha disso".
Outro deputado muda de assunto e faz uma pergunta, com muito cuidado ao corintiano. "Uma pergunta, mas não leva a mal. Aquela Gaivotas existe mesmo?", sobre a torcida organizada gay do time alvinegro. "Existe, o cara diz que existe. Normal, somos maioria em todos os segmentos, dos viados, dos cristãos, dos ateus, dos ricos, dos pobres. É assim. Mas a fama é do são-paulino", responde e brinca.
Toca o telefone. "Tá bom. Ok. (pausa) Oi, presidente. Tudo bem?" E se distancia. Na volta, enrola para responder e depois diz: "Era o Lula. Queria saber sobre a CBF. Das notícias. E saber daqui, como estava repercutindo e o que eu ia fazer".
Lula foi um dos maiores apoiadores da sua candidatura à CBF no ano passado. No entanto, na avaliação do ex-presidente, o corintiano errou ao se confrontar com as federações e sempre defendeu que ele tentasse estabelecer a melhor das relações com as entidades estaduais, colégio eleitoral para chegar ao maior cargo do futebol brasileiro. Andrés nunca escutou o conselho na época, mas já dá sinais de que entendeu que deve fazer isso.
O assunto da prisão se Marin segue quente. Ele tenta ligar para Romário. Ouve mais cobranças para fazer uma fala sobre o tema. Escuta também perguntas se ele acha que é verdade as propinas e os subornos, acusações que atingem a entidade máxima do futebol brasileiro.
"Não tenho problema nenhum de que me investiguem. É o pederasta do blog que cria essas coisas [em referência ao Paulinho do Blog]. Pode investigar. Querem investigar mais do que já investigaram? Meu telefone é o mesmo desde sempre, minha vida está aí", responde, sobre se teme alguma investigação nas contas dele.
Recentemente, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, autorizou a abertura de um inquérito na Procuradoria-Geral da República para investigar um suposto crime eleitoral cometido por ele, envolvendo a omissão de bens na declaração feita de patrimônio feita à Justiça Eleitoral no registro de sua candidatura.
Nas últimas semanas, mesmo diante da crise financeira e da saída de jogadores por conta da difícil situação dos cofres corintianos, pelo menos três pessoas do Parque São Jorge próximas ao ex-presidente falaram para a reportagem sobre a vontade de Andrés em ter de volta o argentino Carlitos Tevez. "As pessoas não falaram pra você que era brincadeira? Deve ter faltado isso. Se essas pessoas te falaram isso, checa com elas".
"Sonho em ter o Tevez de volta", respondeu Andrés, logo em seguida, ao ser perguntado sobre um sonho que tem de contratação de jogador. "A gente não se dá nem bom dia. Mas se eu pudesse, eu traria ele de volta. Brigamos com o fim da parceria".
Mais confusão no plenário. Presidente da Câmara abre mais tempo para fala, outras bancadas tentam encerrar. "Todo dia é assim, essa confusão. Eles estão brigando porque estão deixando as falas abertas para ganhar tempo. Eles acham que não estão todos aqui, estão esperando os outros entrarem, para ganharem a votação". Ele vota contra o financiamento privado de campanha para partidos, assim como todo o PT, mas a proposta vencedora é a outra, que mantém a forma como hoje acontece.
Saída para mais um cigarro, o vigésimo. "Eduardo Cunha está um trator. Acho que está perdendo apoio mesmo dos mais próximos", comenta. Os outros concordam. Um deputado fala: "Foi todo mundo na sala do Cunha hoje, ele assumiu que errou na votação de ontem e garantiu que passaria hoje o financiamento privado. Garantiu. E mais: falou que colocaria a reeleição de qualquer jeito para ser votada hoje, pra não terminar com a imprensa falando da manobra". Andrés continua a conversa.
Bancadas discutem com Cunha para encerrar a sessão. O presidente não abre mão e diz que vai votar de qualquer forma o item sobre reeleição - como havia dito o deputado na bancada dos fumantes, aliás. Enquanto isso, o ex-judoca João Derly passa com a lista da CPI da CBF. Andrés assina e ajuda a pegar mais algumas, pelo menos sete.
"Eu voto contra reeleição de qualquer jeito, não importa o que o PT vote. É um principio meu e eu vou votar contra". Sibá Machado pede o adiamento da votação, argumenta que ainda não discutiu o assunto com a bancada, mas é vencido por Cunha. O líder do partido na Câmara conversa com Sanchez, pergunta a opinião, ouve outros que estão por perto, e acaba anunciando o voto a favor do fim da reeleição, bem como todos os partidos.
Fim da sessão. Mas ainda não é o fim do dia para Andrés, que vai para a mansão do senador José Perrela (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro.
"Agora vou para a casa do Zezé Perrela. Vou tentar pegar o fim do jogo do Cruzeiro [eliminado naquela noite da Copa Libertadores pelo River Plate] lá. Ele me convidou, disse que vão 30 senadores também e achou que era importante eu ir. Para esse também não vou te convidar", explica o ex-presidente corintiano.
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