Um símbolo da história vencedora do Grêmio sucumbe em Porto Alegre. Era para a morte ser rápida e indolor, turbinada por toneladas de dinamite e uma implosão. Mas o Estádio Olímpico agoniza com o abandono do clube e da parceira OAS, corroído pelo tempo, e se transformou também em símbolo dos ruídos no convívio entre as duas partes na parceria de pouco êxito. Vive semidestruído, devido à demolição iniciada e interrompida. Vive sem jogos há dois anos. Mas ainda vive. A ponto de, curiosamente, ter recebido uma improvável reforma para receber treinamentos de seleções da Copa do Mundo, em maio passado.
Algo que, na prática, nunca ocorreu. A Holanda foi a que mais perto esteve de ir ao estádio para trabalhar, mas mudou os planos de último hora e rumou ao Humaitá, para a Arena que substituiu o Olímpico também neste ponto. O Grêmio investiu R$ 250 mil em pintura e mudanças na arquibancada do Velho Casarão para corresponder às expectativas de uma contrapartida ao Governo Federal. Um ano depois, o movimento inexiste pelos lados do bairro da Azenha, segundo constatou a reportagem do GloboEsporte.com em visita recente ao local.
Gramado do Estádio Olímpico está completamente comprometido (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Tentativas de furtos e vandalismo
Menos de dez seguranças são os habitantes da antiga casa gremista - além das tradicionais pombas. Evitam falar e não deixam ninguém entrar no pátio do estádio. Estão ali também para impedir que invasores entrem para saquear materiais, como cabos de cobre. Quem caminha no entorno do estádio pode observar janelas quebradas e ferros retorcidos. Há lixo acumulado em diversos pontos. A grama alta toma conta dos pontos com jardim, reforçando o abandono.
A demolição parou na metade. A Ramos Andrade, contratada pela OAS para iniciar o processo de destruição do estádio, já se retirou do terreno. Não há máquinas, não há operários, não há trabalho para acabar com o Monumental e dar vida às torres residenciais e comerciais que estão planejadas para o local. Hoje, a empresa teria de retomar todas as licenças para a implosão, que não deve acontecer nos próximos dois anos. Estava prevista, inicialmente, para março de 2013.
A dor para os gremistas que passam pelo bairro é latente. Mas o Olímpico tem papel importante atualmente na discussão para a compra da gestão Arena com a OAS, construtora que ergueu a Arena no fim de 2012. O velho estádio não foi entregue para a empreiteira. É decisivo objeto de barganha para diminuir o preço pedido pela construtora. Não fosse a antiga casa, o Tricolor pouco teria para negociar neste momento.
Exemplo de pichação no Estádio Olímpico (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Até o maior rival é lembrado nas pichações (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
"Ônus do progresso", diz dirigente
O Grêmio também não cederá o Olímpico enquanto não receber a Arena desonerada dos bancos. As conversas entre Grêmio e OAS para que o clube compre a gestão total da Arena estão estagnadas - a Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal, impactou no negócio. O principal responsável pela negociação, Fábio Koff, está internado em UTI de hospital de Porto Alegre. Enquanto não se recuperar, as tratativas não andarão. Não há conversa sem a presença do ex-presidente.
- É o ônus do progresso. Temos um dos estádios mais modernos do Brasil, senão o mais moderno. A vida continua. Antes de qualquer situação da demolição, temos que acertar uma coisa antes, que é o contrato com a OAS da Arena. Antes disso, não sai nada - destacou o vice-presidente do clube, Marcos Hermann, ao GloboEsporte.com.
Então, por que começou a demolição, em meados de 2013? Naquela época, houve o acerto de um aditivo no contrato entre Grêmio e OAS e um final feliz entre as partes se desenhava. Assim, foi autorizado o ingresso das máquinas da Ramos Andrade e a progressiva destruição do histórico concreto, com direito à derrubada das torres dos camarotes e à retirada do letreiro de Campeão do Mundo.
O próprio clube começou a fazer ações de marketing, retirando pedaços do gramado para vender a torcedores e leiloar peças do estádio, que vão de móveis a quadros e utensílios de jogo, com bancos de reserva. A empresa responsável pela demolição prefere não se manifestar até que seja solicitada novamente a recomeçar o trabalho, que estava 60% concluído.
Muito por isso, chamou a atenção de todos quando, em abril passado, surgiu a informação de que o Olímpico seria reformado, apesar de ter metade tomada por entulhos, para, quem sabe, receber craques do quilate de Messi. Há um ano, em maio de 2014, o Olímpico era fechado e não poderia ser utilizado pelo elenco e pelo então técnico, Enderson Moreira - o novo CT do clube só seria inaugurado em setembro do ano passado.
O Olímpico ficaria sob os cuidados da Fifa, que o tinha como um dos palcos para treinos na capital gaúcha. Houve adequações na pintura externa, além de troca do campo e colocação de mesas na social, onde a imprensa assistiria aos treinos. Mas tudo em vão.
Estádio Olímpico é dividido ao meio, entre o que resiste e o que foi demolido (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Abandono chama atenção nas ruas
Inaugurado em setembro de 1954 e completamente concluído com o anel superior em 1980, o Olímpico foi palco e protagonista de glórias diversas dos tricolores. Recebeu cores tradicionais em decisões, como a final da Libertadores de 1983, quando o Grêmio superou o Peñarol por 2 a 1, com gols de Caio e César. Ou as Copas do Brasil de 1989 e 1994, sobre Sport e Ceará, respectivamente. A final do Brasileirão de 1996 é um capítulo à parte, com explosão e êxtase quando os minutos já escorriam às mãos. Ailton deu a vitória sobre a Portuguesa e correu tresloucado para a história.
O estádio está dividido em dois: o espaço onde começou a demolição, que apresenta entulhos, material de construção e cenário de destruição, e a parte em que ainda há pintura, cores além do cinza e aspecto bem cuidado. O Monumental, sobrenome adquirido após o fechamento do anel superior, chama atenção no bairro.
Enquanto o GloboEsporte.com esteve no local, alguns transeuntes passavam, olhar fixo na grande construção que tomba estando de pé. Dois conversavam sobre o estado do estádio e comentavam que "nem parecia" que aquele tinha sido local de conquistas pelo clube. Outros apenas descem do ônibus - há uma parada bem em frente do estádio, na Avenida Carlos Barbosa -, e contemplam o entulho e as obras inacabadas antes de seguir caminho.
Olímpico está em processo de demolição (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Tudo atrasado e longa novela à vista
A demolição estava marcada inicialmente para março de 2013. Atrasou por conta das dificuldades do Grêmio deixar a estrutura do estádio no dia a dia. Só em setembro inaugurou o CT Luiz Carvalho, que absorveu vestiários, salas de dirigentes e demais espaços que os jogadores usam no dia a dia, como academia e sala de fisioterapia. A mudança definitiva também da parte administrativa do Olímpico para a Arena ocorreu apenas no final de 2014 - a expectativa inicial era de realizar todos esses trâmites ainda em 2013.
A prefeitura de Porto Alegre havia delimitado um raio de 200m de segurança, o que implicaria em moradores do bairro da Azenha evacuando suas residências - seriam afetadas diretamente 3 mil pessoas. O planejamento traçado pela OAS era de demolir o estádio com máquinas e só depois partir para a implosão, que atingiria apenas o "esqueleto" do Olímpico. E a posterior retirada dos entulhos para que as torres comerciais e residenciais fossem construídas no local. Mas todo este processo está atrasado, parado. E, apesar do abandono visível, muito longe de acontecer.
O Olímpico teve sua despedida "oficial" em dezembro de 2012, quando recebeu o Gre-Nal que fechou o Campeonato Brasileiro. A partida terminou em 0 a 0, com confusão em campo. Só que no início de 2013, sediou mais quatro partidas do Campeonato Gaúcho. O Tricolor só passou a mandar jogos exclusivamente na Arena a partir do fim do Estadual daquele ano.
Estádio Olímpico agora rivaliza espaço com o avanço do matagal (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
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Algo que, na prática, nunca ocorreu. A Holanda foi a que mais perto esteve de ir ao estádio para trabalhar, mas mudou os planos de último hora e rumou ao Humaitá, para a Arena que substituiu o Olímpico também neste ponto. O Grêmio investiu R$ 250 mil em pintura e mudanças na arquibancada do Velho Casarão para corresponder às expectativas de uma contrapartida ao Governo Federal. Um ano depois, o movimento inexiste pelos lados do bairro da Azenha, segundo constatou a reportagem do GloboEsporte.com em visita recente ao local.
Gramado do Estádio Olímpico está completamente comprometido (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Tentativas de furtos e vandalismo
Menos de dez seguranças são os habitantes da antiga casa gremista - além das tradicionais pombas. Evitam falar e não deixam ninguém entrar no pátio do estádio. Estão ali também para impedir que invasores entrem para saquear materiais, como cabos de cobre. Quem caminha no entorno do estádio pode observar janelas quebradas e ferros retorcidos. Há lixo acumulado em diversos pontos. A grama alta toma conta dos pontos com jardim, reforçando o abandono.
A demolição parou na metade. A Ramos Andrade, contratada pela OAS para iniciar o processo de destruição do estádio, já se retirou do terreno. Não há máquinas, não há operários, não há trabalho para acabar com o Monumental e dar vida às torres residenciais e comerciais que estão planejadas para o local. Hoje, a empresa teria de retomar todas as licenças para a implosão, que não deve acontecer nos próximos dois anos. Estava prevista, inicialmente, para março de 2013.
A dor para os gremistas que passam pelo bairro é latente. Mas o Olímpico tem papel importante atualmente na discussão para a compra da gestão Arena com a OAS, construtora que ergueu a Arena no fim de 2012. O velho estádio não foi entregue para a empreiteira. É decisivo objeto de barganha para diminuir o preço pedido pela construtora. Não fosse a antiga casa, o Tricolor pouco teria para negociar neste momento.
Exemplo de pichação no Estádio Olímpico (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Até o maior rival é lembrado nas pichações (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
"Ônus do progresso", diz dirigente
O Grêmio também não cederá o Olímpico enquanto não receber a Arena desonerada dos bancos. As conversas entre Grêmio e OAS para que o clube compre a gestão total da Arena estão estagnadas - a Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal, impactou no negócio. O principal responsável pela negociação, Fábio Koff, está internado em UTI de hospital de Porto Alegre. Enquanto não se recuperar, as tratativas não andarão. Não há conversa sem a presença do ex-presidente.
- É o ônus do progresso. Temos um dos estádios mais modernos do Brasil, senão o mais moderno. A vida continua. Antes de qualquer situação da demolição, temos que acertar uma coisa antes, que é o contrato com a OAS da Arena. Antes disso, não sai nada - destacou o vice-presidente do clube, Marcos Hermann, ao GloboEsporte.com.
Então, por que começou a demolição, em meados de 2013? Naquela época, houve o acerto de um aditivo no contrato entre Grêmio e OAS e um final feliz entre as partes se desenhava. Assim, foi autorizado o ingresso das máquinas da Ramos Andrade e a progressiva destruição do histórico concreto, com direito à derrubada das torres dos camarotes e à retirada do letreiro de Campeão do Mundo.
O próprio clube começou a fazer ações de marketing, retirando pedaços do gramado para vender a torcedores e leiloar peças do estádio, que vão de móveis a quadros e utensílios de jogo, com bancos de reserva. A empresa responsável pela demolição prefere não se manifestar até que seja solicitada novamente a recomeçar o trabalho, que estava 60% concluído.
Muito por isso, chamou a atenção de todos quando, em abril passado, surgiu a informação de que o Olímpico seria reformado, apesar de ter metade tomada por entulhos, para, quem sabe, receber craques do quilate de Messi. Há um ano, em maio de 2014, o Olímpico era fechado e não poderia ser utilizado pelo elenco e pelo então técnico, Enderson Moreira - o novo CT do clube só seria inaugurado em setembro do ano passado.
O Olímpico ficaria sob os cuidados da Fifa, que o tinha como um dos palcos para treinos na capital gaúcha. Houve adequações na pintura externa, além de troca do campo e colocação de mesas na social, onde a imprensa assistiria aos treinos. Mas tudo em vão.
Estádio Olímpico é dividido ao meio, entre o que resiste e o que foi demolido (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Abandono chama atenção nas ruas
Inaugurado em setembro de 1954 e completamente concluído com o anel superior em 1980, o Olímpico foi palco e protagonista de glórias diversas dos tricolores. Recebeu cores tradicionais em decisões, como a final da Libertadores de 1983, quando o Grêmio superou o Peñarol por 2 a 1, com gols de Caio e César. Ou as Copas do Brasil de 1989 e 1994, sobre Sport e Ceará, respectivamente. A final do Brasileirão de 1996 é um capítulo à parte, com explosão e êxtase quando os minutos já escorriam às mãos. Ailton deu a vitória sobre a Portuguesa e correu tresloucado para a história.
O estádio está dividido em dois: o espaço onde começou a demolição, que apresenta entulhos, material de construção e cenário de destruição, e a parte em que ainda há pintura, cores além do cinza e aspecto bem cuidado. O Monumental, sobrenome adquirido após o fechamento do anel superior, chama atenção no bairro.
Enquanto o GloboEsporte.com esteve no local, alguns transeuntes passavam, olhar fixo na grande construção que tomba estando de pé. Dois conversavam sobre o estado do estádio e comentavam que "nem parecia" que aquele tinha sido local de conquistas pelo clube. Outros apenas descem do ônibus - há uma parada bem em frente do estádio, na Avenida Carlos Barbosa -, e contemplam o entulho e as obras inacabadas antes de seguir caminho.
Olímpico está em processo de demolição (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Tudo atrasado e longa novela à vista
A demolição estava marcada inicialmente para março de 2013. Atrasou por conta das dificuldades do Grêmio deixar a estrutura do estádio no dia a dia. Só em setembro inaugurou o CT Luiz Carvalho, que absorveu vestiários, salas de dirigentes e demais espaços que os jogadores usam no dia a dia, como academia e sala de fisioterapia. A mudança definitiva também da parte administrativa do Olímpico para a Arena ocorreu apenas no final de 2014 - a expectativa inicial era de realizar todos esses trâmites ainda em 2013.
A prefeitura de Porto Alegre havia delimitado um raio de 200m de segurança, o que implicaria em moradores do bairro da Azenha evacuando suas residências - seriam afetadas diretamente 3 mil pessoas. O planejamento traçado pela OAS era de demolir o estádio com máquinas e só depois partir para a implosão, que atingiria apenas o "esqueleto" do Olímpico. E a posterior retirada dos entulhos para que as torres comerciais e residenciais fossem construídas no local. Mas todo este processo está atrasado, parado. E, apesar do abandono visível, muito longe de acontecer.
O Olímpico teve sua despedida "oficial" em dezembro de 2012, quando recebeu o Gre-Nal que fechou o Campeonato Brasileiro. A partida terminou em 0 a 0, com confusão em campo. Só que no início de 2013, sediou mais quatro partidas do Campeonato Gaúcho. O Tricolor só passou a mandar jogos exclusivamente na Arena a partir do fim do Estadual daquele ano.
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